Santificação,
um processo de contínuo aperfeiçoamento
Na semana passada, estudamos sobre a
santificação como um ato pelo qual o Senhor, no exercício de sua autoridade e
soberania, manifestou o seu amor por nós “separando-nos” para si, fazendo-nos
santos. Neste sentido a santificação é um ato, que se dá de uma vez por todas e
que se concretizou em nossas vidas num momento específico de nossa história,
mas que se deu (enquanto escolha) antes de tudo que existe (Ef. 1:04). No
estudo de hoje, refletiremos sobre um outro aspecto da santificação. Aquele que
se caracteriza por ser não uma realidade “ponto”, mas “linha”, ou seja, não um
ato, mas um processo.
Jesus veio ao mundo para nos trazer a
salvação, no entanto, ao fazê-lo ele nos deu outros presentes que acompanharam
esta grande libertação das forças das trevas e da morte. Ele nos ensinou a
viver enquanto transcorriam os anos de sua existência terrena; ele nos mostrou
como amar através do seu exemplo; nos fez ver que quando a vida tem sentido a
morte não se torna uma realidade tão terrível; foi um modelo de compaixão,
empenho no ministério, pureza e sensibilidade.
Este exemplo de Cristo precisa ser
seguido por nós. Paulo diz que devemos ser seus imitadores como ele foi de
Jesus (I Cor. 11:01). O próprio Mestre nos disse que basta ao servo ser igual
ao seu senhor e ao discípulo ser igual ao seu discipulador (Mt. 10:25). Estas
passagens nos apontam como tarefa sermos semelhantes a Jesus. O fato de ele ter
tomado sobre si a natureza humana é muito importante neste sentido. Ao fazê-lo,
nos mostrou que um homem, usando somente as forças que estão disponíveis a
qualquer um de nós, pode ser sal e luz, pode ser manancial de paz e virtude,
pode levantar os caídos e fazer convergir no tempo e no espaço todas as forças
dos céus e da terra.
Eu não estou dizendo que Jesus era
somente homem, como se estivesse a negar a sua natureza divina, longe de mim
tal intento. O que estou dizendo é que Jesus além da natureza divina tinha uma
natureza humana, e que quando houve a “encarnação do Verbo” (Jo. 1:1-3), ou
seja, quando ele que vivia em glória eterna ao lado do Pai, passou pela
humilhação de se fazer como uma de suas criaturas (Fp. 2:7 e 8), estava nos
oferecendo um modelo de humanidade a ser reproduzido em cada um de seus irmãos,
que somos nós (Hb. 2:17).
A grande questão que precisa ser
respondida é como este processo de “assemelhamento” a Cristo se dá e o que
podemos fazer para desenvolvê-lo em nossas vidas? Em primeiro lugar é bom que
se diga que “ser como Cristo” é um sentido para onde devemos seguir e não um
lugar a que chegaremos nesta vida. Assim como o navegador que se orienta pela
bússola sabe onde é o Norte e pode direcionar o seu barco para lá, sem que
jamais possa dizer: “pronto, cheguei ao Norte” (Fp. 3:13 e 14). Desta maneira,
devemos em cada dia de nossas vidas voltarmo-nos para o modelo de Jesus, sem
que tenhamos a presunção de que aqui iremos ser perfeitos como ele foi.
A nossa velha natureza ainda está
presente em nós, muito embora já não lhe sejamos mais escravos, posto que temos
agora uma nova natureza, nascida segundo o Espírito que, guerreando contra
aquela, deseja fazer a vontade de Deus. Esta nova natureza nos foi dada com a
conversão, quando nascemos de novo e recebemos a Jesus como nosso único e
suficiente Salvador. A presença recalcitrante desta natureza antiga e inclinada
ao pecado é uma das razões pelas quais nós somos incapazes de alcançar uma
obediência perfeita durante esta vida, mas não podemos por isso desistir de
lutar contra ela.
O grande evangelista norte-americano
Billy Grahan ilustrou esta luta que se dá dentro de nós como se houvesse em
cada um dois cães. Um que representa as forças da carne e das paixões
inferiores, e um outro que representa a vontade da nossa nova natureza. E disse
que estes estão combatendo um contra o outro constantemente, e lançou depois a
pergunta: qual dos dois vencerá a batalha (posto que a guerra Cristo já venceu
por nós)? E a sua resposta foi: “aquele que você alimentar mais”. Foi neste
sentido que Paulo disse certa vez “fazei pois morrer a vossa natureza terrena”
(Col. 3:05).
Ainda que nós não possamos matar de
uma vez por todas esta velha natureza, precisamos “mortificá-la”, o que
significa dizer que devemos “manter esta natureza na condição de morta”, como
quando brincamos com aqueles bonecos infláveis chamados de João-bobo, se
retirarmos a mão de cima deles eles se levantam.
Precisamos desenvolver a habilidade de
nos exercitar espiritualmente. Os exercícios espirituais são disciplinas que
estão a nossa disposição para o nosso fortalecimento e crescimento espiritual.
Práticas como a oração, a leitura bíblica, os jejuns, a meditação, o silêncio,
vigílias, são exemplos destes exercícios, e como tais, devem ser utilizados com
constância, sabedoria e prudência (exageros em disciplinas espirituais como os
jejuns podem fazer mal a saúde, o que obviamente não é o seu propósito).
Uma outra maneira de agir no caminho
da santificação é ter consciência de nossas fraquezas e pontos vulneráveis e
dar especial atenção a estas questões. Cada um de nós conhece as áreas de sua
vida que têm sido mais freqüentemente causa de pecados. Para alguns são
assuntos ligados à sexualidade, para outros com a administração das finanças,
ou ainda a maledicência etc. Não existe ninguém que seja forte em todas as
áreas da vida, e também não existe ninguém que seja tão forte e seguro em uma
determinada área, que possa afirmar que seria incapaz de cair nisto ou naquilo.
Uma atitude como esta seria arrogância espiritual, e como disse o
proverbialista “a soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda”
(Pv. 16:18).
Além destes instrumentos para a nossa
santificação, nos foram dados os sacramentos, que são meios de graça, ou seja,
são canais através dos quais Deus nos concede poder, saúde e paz, para que nos
fortaleçamos em nossa peregrinação. Os sacramentos que têm um maior destaque na
tradição cristã são o batismo e a eucaristia (ou ceia do Senhor), mas nós não
devemos nos esquecer dos demais, a saber: a confirmação, a confissão, a unção
dos enfermos, as sagradas ordens e o casamento. Diz-se que um sacramento é a
manifestação visível de uma graça invisível, ou seja, quando um sacramento é
administrado, e as pessoas que dele participam o fazem com fé e legitimamente,
ele tem a prerrogativa de derramar graça na vida de quem o recebe. Algo
misterioso acontece nas regiões celestiais em nosso favor. Esta é uma boa razão
para que não os negligenciemos em nossa vida cristã. Todos os sacramentos têm
respaldo bíblico e foram ordenados ou estabelecidos pelo próprio Deus em sua Palavra.
Infelizmente a estrada da santificação
não é nem contínua nem sempre ascendente. Não é raro que retrocedamos em nossa
caminhada, deixando um estado de maior santidade para um inferior. Isto
acontece particularmente quando relaxamos as práticas até aqui referidas. Bela
e misteriosamente o nosso crescimento espiritual é operado por Deus em nós, de
tal maneira que dele não podemos nos orgulhar, e é responsabilidade nossa, de
tal maneira que somos os únicos culpados se ele não está ocorrendo.
Questões para Reflexão:
- Ao
longo de sua vida cristã você tem crescido espiritualmente, você tem se
tornado mais semelhante a Jesus?
- Quais
os seus “segredos” que você tem utilizado para a sua santificação?
Desafio para esta
semana:
Identifique as suas áreas mais
vulneráveis e ore todos os dias para que o Senhor te “livre das tentações”.
Martorelli Dantas
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