segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A ESCRITURA


A Escritura

Temos estabelecido que a Escritura é a autoridade última no sistema cristão, e que nosso conhecimento de Deus depende dela. Portanto, é apropriado começar o estudo da teologia examinando os atributos da Escritura.

A NATUREZA DA ESCRITURA


Devemos enfatizar a natureza verbal ou proposicional da revelação bíblica. Num tempo em que muitos menosprezam o valor de palavras, a favor de imagens e sentimentos, devemos notar que Deus escolheu Se revelar através de palavras de linguagem humana. A comunicação verbal é um meio adequado de transmitir informação de e sobre Deus. Isto não somente afirma o valor da Escritura como uma revelação divina significante, mas também afirma o valor da pregação e da escrita como meios para comunicar a mente de Deus, como apresentada na Bíblia.
A própria natureza da Bíblia como uma revelação proposicional, testifica contra as noções populares de que a linguagem humana é inadequada para falar sobre Deus, que imagens são superiores às palavras, que música tem valor maior do que pregação, ou que experiência religiosa pode ensinar mais a uma pessoa, sobre as coisas divinas, do que os estudos doutrinais.
Alguns argumentam que a Bíblia fala numa linguagem que produz vívidas imagens na mente do leitor. Contudo, esta é somente uma descrição da reação de alguns leitores; outros leitores podem não responder do mesmo modo às mesmas passagens, embora eles possam captar a mesma informação delas. Assim, isto não conta contra o uso de palavras como a melhor forma de comunicação teológica.
Se imagens são superiores, então, por que a Bíblia não contém nenhum desenho? Não seria a sua inclusão a melhor maneira de se assegurar que ninguém formasse imagens mentais errôneas, se as imagens são deveras um elemento essencial na comunicação teológica? Mesmo se imagens fossem importantes na comunicação teológica, o fato de que Deus escolheu usar palavras-imagens ao invés de desenhos reais, implica que as palavras são suficientes, se não superiores. Mas além de palavras-imagens, a Escritura também usa palavras para discutir as coisas de Deus em termos abstratos, não associados com quaisquer imagens.
Uma imagem não é mais digna do que mil palavras. Suponha que apresentemos um desenho da crucificação de Cristo a uma pessoa sem nenhuma base cristã. Sem qualquer explicação verbal, seria impossível para ela constatar a razão para Sua crucificação e o significado dela para a humanidade. A imagem em si mesma não mostra nenhuma relação entre o evento com qualquer coisa espiritual ou divina. A imagem não mostra se o evento foi histórico ou fictício. A pessoa, ao olhar para o desenho, não sabe se o ser que foi morto era culpado de algum crime, e não haveria como saber as palavras que ele falou enquanto na cruz. A menos que haja centenas de palavras explicando a figura, a imagem, por si só, não tem nenhum significado teológico. Mas, uma vez que há muitas palavras para explicá-la, alguém dificilmente necessitará de imagem.
A visão que exalta a música acima da comunicação verbal sofre a mesma crítica. É impossível derivar qualquer significado religioso da música, se ela é executada sem palavras. É verdade que o Livro de Salmos consiste de uma grande coleção de cânticos, nos provendo com uma rica herança para adoração, reflexão e doutrina. Contudo, as melodias originais não acompanharam as palavras dos salmos; nenhuma nota musical acompanhou qualquer um dos cânticos na Bíblia. Na mente de Deus, o valor dos salmos bíblicos está nas palavras, e não nas melodias. Embora a música desempenhe um papel na adoração cristã, sua importância não se aproxima das palavras da Escritura ou do ministério da pregação.
Com respeito às experiências religiosas, até mesmo uma visão de Cristo não é mais digna do que mil palavras da Escritura. Alguém não pode provar a validade de uma experiência religiosa, seja uma cura miraculosa ou uma visitação angélica, sem conhecimento da Escritura. Os encontros sobrenaturais mais espetaculares são vazios de significado sem a comunhão verbal para informar a mente.
O episódio inteiro de Êxodo não poderia ter ocorrido, se Deus permanecesse silente quando Ele apareceu para Moisés, através da sarça ardente. Quando Jesus apareceu num resplendor de luz, na estrada de Damasco, o que teria acontecido se Ele recusasse responder quando Saulo de Tarso Lhe perguntou: “Quem és, Senhor?” A única razão pela qual Saulo percebeu quem estava falando com ele, foi porque Jesus respondeu com as palavras: “Eu sou Jesus, a quem persegues” (Atos 9:3-6). As experiências religiosas são sem significado, a menos que acompanhadas pela comunicação verbal, transmitindo conteúdo intelectual.
Outra percepção errônea com respeito à natureza da Bíblia é considerar a Escritura como um mero registro de discursos e eventos revelatórios, e não a revelação de Deus em si mesma. A pessoa de Cristo, Suas ações, e Seus milagres revelam a mente de Deus, mas é um engano pensar que a Bíblia é meramente um relato escrito dela. As próprias palavras da Bíblia constituem a revelação de Deus para nós, e não somente os eventos aos quais elas se referem.
Alguns temem que a forte devoção à Escritura, implica em estimar mais o registro de um evento revelatório do que o evento em si mesmo. Mas, se a Escritura possui o status de revelação divina, então, esta preocupação não tem fundamento. Paulo explica que “Toda Escritura é inspirada por Deus” (2 Timóteo 3:16). A própria Escritura foi inspirada por Deus. Embora os eventos que a Bíblia registra possam ser revelatórios, a única revelação objetiva com a qual temos contato direto é a Bíblia.
Visto que a alta visão da Escritura que advogamos aqui é somente a que a própria Bíblia afirma, os cristãos devem rejeitar toda doutrina proposta da Escritura que compromisse nosso acesso à revelação infalível de Deus. Sustentar uma visão menor da Escritura destrói a revelação como a autoridade última de alguém, e, então, é impossível superar o problema de epistemologia resultante. [1]
Enquanto uma pessoa negar que a Escritura é a revelação divina em si mesma, ela permanece sendo “apenas um livro”, e esta pessoa hesita em lhe dar reverência completa, como se fosse possível adorá-la excessivamente. Há supostos ministros cristãos que urgem os crentes a olhar para “o Senhor do livro, e não para o livro do Senhor”, ou algo com esse objetivo. Mas, visto que as palavras da Escritura foram inspiradas por Deus, e aquelas palavras são a única revelação objetiva e explícita de Deus, é impossível olhar para o Senhor sem olhar para o Seu livro. Visto que as palavras da Escritura são as próprias palavras de Deus, alguém está olhando para o Senhor somente até onde ele estiver olhando para as palavras da Bíblia. Nosso contato com Deus é através das palavras da Escritura. Provérbios 22:17-21 indica que confiar no Senhor é confiar em Suas palavras:
Inclina o teu ouvido e ouve as palavras dos sábios, e aplica o teu coração ao meu conhecimento. Porque será coisa suave, se os guardares no teu peito, se estiverem todos eles prontos nos teus lábios. Para que a tua confiança esteja no SENHOR, a ti tos fiz saber hoje, sim, a ti mesmo. Porventura não te escrevi excelentes coisas acerca dos conselhos e do conhecimento, para te fazer saber a certeza das palavras de verdade, para que possas responder com palavras de verdade aos que te enviarem?
Deus governa Sua igreja através da Bíblia; portanto, nossa atitude para com ela reflete nossa atitude para com Deus. Ninguém que ama a Deus não amará as Suas palavras da mesma forma. Aqueles que reivindicam amá-Lo, devem demonstrar isso por uma obsessão zelosa para com as Suas palavras:
Oh! quanto amo a tua lei! ela é a minha meditação o dia todo...Oh! quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! mais doces do que o mel à minha boca.
(Salmo 119:97,103)
O temor do Senhor é limpo, e permanece para sempre; os juízos do Senhor são verdadeiros e inteiramente justos. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o que goteja dos favos.
(Salmo 19:9-10)
Uma pessoa ama a Deus somente até onde ela ama a Escritura. Pode haver outras indicações do amor de alguém para com Deus, mas o amor por Sua palavra é um elemento necessário, pelo qual os outros aspectos da nossa vida espiritual são mensurados.

A INSPIRAÇÃO DA ESCRITURA
A Bíblia é a revelação verbal ou proposicional de Deus. É Deus falando a nós. É a voz do próprio Deus. A própria natureza da Bíblia indica que a comunicação verbal é a melhor maneira de transmitir a revelação divina. Nenhum outro modo de se conhecer a Deus é superior ao estudo da Escritura, e nenhuma outra fonte de informação sobre Deus é mais precisa, acurada e compreensiva.
O apóstolo Paulo diz:
Toda Escritura é soprada por Deus e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra (2 Timóteo 3:16-17).
Todas as palavras da Bíblia foram sopradas por Deus. [2] Tudo que podemos chamar de Escritura foi inspirado por Deus. Que a Escritura é “soprada por Deus” refere-se a sua origem divina. Tudo da Escritura procede de Deus; portanto, podemos corretamente chamar a Bíblia de “a palavra de Deus”. Esta é a doutrina da INSPIRAÇÃO DIVINA.
O conteúdo da Escritura consiste de todo o Antigo e Novo testamentos, sessenta e seis documentos no total, funcionando como um todo orgânico. O apóstolo Pedro dá endosso explícito aos escritos de Paulo, reconhecendo seu status como Escritura inspirada:
Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; como faz também em todas as suas epístolas, nelas falando acerca destas coisas, mas quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, como o fazem também com as outras Escrituras, para sua própria perdição (2 Pedro 3:15-16).
Pedro explica que os homens que escreveram a Escritura foram “inspirados pelo Espírito Santo”, para que nenhuma parte dela fosse “produzida por vontade de homem algum” ou pela “interpretação particular do profeta” (2 Pedro 1:20-21).
A Bíblia é uma revelação verbal exata de Deus, a ponto de Jesus dizer que “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido” (Mateus 5:18). Deus exerceu tal controle preciso sobre a produção da Escritura para que o seu conteúdo, na própria letra, fosse o que Ele desejava colocar em escrito.
Esta visão alta da inspiração escriturística não implica ditação. Deus não ditou Sua palavra aos profetas e apóstolos como um patrão dita suas cartas para uma secretária. A princípio, alguém pode tender a pensar que a ditação seria a mais alta forma de inspiração, mas esta não o é. Um patrão pode ditar suas palavras à secretária, mas ele não pode ter controle sobre os detalhes diários da vida dela — seja passado, presente ou futuro — e tem ainda menos poder sobre os pensamentos da secretária.
Em contraste, a Bíblia ensina que Deus exercita controle total e preciso sobre cada detalhe de Sua criação, a tal extensão que até mesmo os pensamentos dos homens estão sob o Seu controle. [3]
Isto é verdade com respeito a todo indivíduo, incluindo os escritores bíblicos. Deus de uma tal forma ordenou, dirigiu e controlou as vidas e pensamentos [4] de Seus instrumentos escolhidos que, quando o tempo chegou, suas personalidades e os seus cenários eram perfeitamente adequados para escrever aquelas porções da Escritura que Deus tinha designado para eles: [5]
E disse-lhe o SENHOR: Quem fez a boca do homem? ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o SENHOR? Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar” (Êxodo 4:11-12).
Assim veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta...E estendeu o SENHOR a sua mão, e tocou-me na boca; e disse-me o SENHOR: Eis que ponho as minhas palavras na tua boca” (Jeremias 1:4-5,9).
Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo...Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei a carne nem o sangue” (Gálatas 1:11-12, 15-16).

Então, no tempo da escrita, o Espírito de Deus supervisionou o processo para que o conteúdo da Escritura fosse além do que a inteligência natural dos escritores poderia conceber. [6] O produto foi a revelação verbal de Deus, e ela foi literalmente o que Ele desejava pôr em escrito. Deus não encontrou as pessoas certas para escrever a Escritura; Ele fez as pessoas certas para escrevê-las, e então, supervisionou o processo de escrita. [7]

Portanto, a inspiração da Escritura não se refere somente aos tempos quando o Espírito Santo exerceu controle especial sobre os escritores bíblicos, embora isto tenha deveras acontecido, mas a preparação começou antes da criação do mundo. A teoria da ditação, a qual a Bíblia não ensina, é, em comparação com a da inspiração, uma visão menor, atribuindo a Deus um controle menor sobre o processo.
Esta visão da inspiração, explica o assim-chamado e evidente “elemento humano” na Escritura. Os documentos bíblicos refletem vários cenários sociais, econômicos e intelectuais dos autores, suas diferentes possibilidades, e seu vocabulário e estilo literário único. Este fenômeno é o que alguém poderia esperar, dada a visão bíblica da inspiração, na qual Deus exerceu controle total sobre a vida dos escritores, e não somente sobre o processo de escrita. O “elemento humano” da Escritura, portanto, não danifica a doutrina da inspiração, mas é consistente com ela e explicado pela mesma.

A UNIDADE DA ESCRITURA
A inspiração da Escritura implica a unidade da Escritura. Que as palavras da Escritura procedem de uma única mente divina, implica que a Bíblia deve exibir uma coerência perfeita. Isto é o que encontramos na Bíblia. Embora a personalidade distinta de cada escritor bíblico seja evidente, o conteúdo da Bíblia como um todo, exibe uma unidade e designa que procede de um único autor divino. A consistência interna caracteriza os vários documentos escriturísticos, de forma que uma parte não contradiz outra.
Jesus assume a coerência da Escritura quando ele responde à seguinte tentação de Satanás:
Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra. Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus” (Mateus 4:5-7).
Satanás encoraja Jesus a pular do templo citando Salmo 91:11-12. Jesus replica com Deutoronômio 6:16, implicando que o uso de Satanás da passagem contradiz a instrução de Deuteronômio, e, portanto, é uma má-aplicação. Quando alguém entende ou aplica uma passagem da Escritura de uma maneira que contradiz outra passagem, ele manejou mal o texto. O argumento de Cristo aqui, assume a unidade da Escritura, e nem mesmo o diabo pôde contestá-la.
Numa outra ocasião, quando Jesus tratava com os fariseus, Seu desafio para com eles assume a unidade da Escritura e a lei da não-contradição:
“E, estando reunidos os fariseus, interrogou-os Jesus, dizendo: Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Eles disseram-lhe: De Davi. Disse-lhes ele: Como é então que Davi, falando pelo Espírito, lhe chama Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, Até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés? Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é seu filho? E ninguém podia responder-lhe uma palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-lo (Mateus 22:41-46).

Visto que Davi estava “falando pelo Espírito”, ele não poderia ter errado. Mas, se o Cristo haveria de ser um descendente de Davi, como Ele poderia ser Seu Senhor ao mesmo tempo? Que isto colocou um problema significa, em primeiro lugar, que tanto Jesus como Sua audiência assumiam a unidade da Escritura e a lei da não-contradição. Se eles reconhecessem que a Escritura se contradiz, ou que alguém pode afirmar duas proposições contraditórias, então, Jesus não estaria fazendo uma declaração significante, de forma alguma. A resposta aqui é que o Messias é tanto divino como humano e, portanto, tanto “Senhor” como “filho” de Davi.

Mas, é popular o encorajamento para se tolerar as contradições na teologia. Alister McGrath escreve em seu livro Understanding Doctrine [Compreendendo Doutrinas]:
O fato de que algo é paradoxal e até mesmo auto-contraditório, não o invalida...Aqueles de nós que têm trabalhado no campo científico estão muitíssimos conscientes da absoluta complexidade e misteriosidade da realidade. Os eventos por detrás da teoria quântica, as dificuldades de se usar modelos na explicação científica — para nomear apenas dois fatores que posso lembrar claramente do meu próprio tempo como um cientista natural — apontam para a inevitabilidade do paradoxo e da contradição em tudo, exceto no engajamento mais superficial com a realidade....[8]
Isto não tem sentido. Assumindo que McGrath conhece ciência o suficiente para falar sobre o assunto, [9] este é um testemunho contra a ciência, e não um argumento para se tolerar contradições na teologia. Ele assume a confiança da ciência e julga todas as outras disciplinas por ela. Para parafraseá-lo, se há contradições na ciência, então, as contradições devem ser aceitas, e uma pessoa pode tolerá-las quando esta surgir também numa reflexão teológica.
Contudo, uma razão para rejeitar a confiança da ciência é precisamente porque ela freqüentemente se contradiz. A ciência é uma disciplina pragmática, útil para manipular a natureza e avançar a tecnologia, mas que não pode descobrir nada sobre a realidade. O conhecimento sobre a realidade vem somente de deduções válidas da revelação bíblica, e nunca de métodos científicos ou empíricos. [10] McGrath não nos dá nenhum argumento para ignorar ou tolerar as contradições na ciência; ele apenas assume a confiança da ciência, a despeito das contradições. Mas, ele não dá nenhuma justificação para assim o fazer.
O que faz da ciência o padrão último pelo qual devemos julgar todas as outras disciplinas? O que dá à ciência o direito de criar as regras para todos os outros campos de estudo? McGrath declara que a ciência aponta “para a inevitabilidade do paradoxo e da contradição em tudo, exceto no engajamento mais superficial com a realidade”. Mas, a ciência não é teologia. Além de ser “o engajamento mais superficial com a realidade” — embora eu negue a confiança da ciência até mesmo em tal nível — a ciência gera contradições e desmoronamentos, mas isto não significa que a teologia sofra o mesmo destino.
A teologia trata com Deus, que tem o direito e poder para governar tudo da vida e do pensamento. Deus conhece a natureza da realidade, e a comunica para nós através da Bíblia. Portanto, é a teologia que cria as regras da ciência, e um sistema bíblico de teologia não contém paradoxos ou contradições.
Qualquer proposição afirmando uma coisa, é, necessariamente, uma negação do seu oposto. Afirmar X é negar não-X, e afirmar não-X é afirmar X. Para simplificar, assuma que o oposto de X é Y, de forma que Y=não-X. Então, afirmar X é negar Y, e afirmar Y é negar X. Ou, X=não-Y, e Y=não-X. Visto que afirmar uma proposição é, ao mesmo tempo, negar o seu oposto, afirmar X e Y é, ao mesmo tempo, equivalente a afirmar não-Y e não-X. Afirmar duas proposições contrárias é, na realidade, negar ambas. Mas afirmar tanto não-Y como não-X, é afirmar também X e Y, que significa novamente negar Y e X. E, assim, toda a operação se torna sem sentido. É impossível afirmar duas proposições contrárias ao mesmo tempo.
Afirmar a proposição, “Adão é um homem” (X) é, ao mesmo tempo, negar a proposição contrária, “Adão não é um homem” (Y, ou não-X). Da mesma forma, afirmar a proposição , “Adão não é um homem” (Y), é negar a proposição contrária, “Adão é um homem” (X). Agora, afirmar tanto “Adão é um homem” (X) como “Adão não é um homem” (Y) não é nada mais do que negar ambas as proposições na ordem inversa. Isto é, é equivalente a negar “Adão não é um homem” (Y) e negar “Adão é um homem” (X). Mas então, isto é o mesmo que voltar a afirmar as duas proposições na ordem reversa novamente. Quando afirmamos ambas, negamos ambas; quando negamos ambas, afirmamos ambas. Afirmar duas proposições contrárias, portanto, não gera nenhum significado inteligível. É o mesmo que não dizer nada.
Assuma que a soberania divina e a liberdade humana sejam contraditórias. Alguns teólogos, reivindicando que a Bíblia ensina ambas, encoraja seus leitores a afirmar ambas. Contudo, se afirmar a soberania divina é negar a liberdade humana, e afirmar a liberdade humana é negar a soberania divina, então, afirmar ambas significa rejeitar tanto a soberania divina (na forma de uma afirmação da liberdade humana) como a liberdade humana (na forma de uma afirmação da soberania divina). Neste exemplo, visto que a Bíblia afirma a soberania divina e nega a liberdade humana, não há contradição — nem mesmo uma aparente. [11]
Por outro lado, quando incrédulos alegam que a encarnação de Cristo exige uma contradição, a qual é o contexto da passagem acima de McGrath, o cristão não tem a opção de negar a deidade ou a humanidade de Cristo. Antes, ele deve articular e clarificar a doutrina como a Bíblia a ensina, e mostrar que não há contradição. O mesmo se aplica à doutrina da Trindade.
É fútil dizer que estas doutrinas estão em perfeita harmonia na mente de Deus, e somente parece haver contradições para os seres humanos. Enquanto permanecerem contradições, seja somente na aparência ou não, não podemos afirmar ambas as coisas. E como alguém pode distinguir entre uma contradição real e uma apenas aparente? Se devemos tolerar as contradições aparentes, então, devemos tolerar todas as contradições. Visto que sem conhecer a resolução, uma aparente contradição parece ser o mesmo que uma real, saber que uma “contradição” o é somente na aparência significa que alguém já a resolveu, e, então, o termo não mais se aplica.
Cientistas e incrédulos podem se dedicar às contradições, mas os cristãos não devem tolerá-las. Pelo contrário, ao invés de abandonar a unidade da Escritura e a lei da não-contradição, como uma “defesa” contra aqueles que acusam as doutrinas bíblicas de serem contraditórias, devem afirmar e demonstrar a coerência destas doutrinas. Por outro lado, os cristãos devem expor a incoerência das crenças não-cristãs, e desafiar seus aderentes a abandoná-las.

A INFALIBILIDADE DA ESCRITURA
A infalibilidade bíblica acompanha necessariamente a inspiração e a unidade da Escritura. A Bíblia não contém erros; ela é correta em tudo o que declara. Visto que Deus não mente ou erra, e a Bíblia é a Sua palavra, segue-se que tudo escrito nela deve ser verdade. Jesus disse, “a Escritura não pode ser anulada” (João 10:35), e que “E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei” (Lucas 16:17).
A INFALIBILIDADE da Escritura se refere a uma incapacidade para errar — a Bíblia não pode errar. INERRÂNCIA, por outro lado, enfatiza que a Bíblia não erra. A primeira diz respeito ao potencial, enquanto a última mostra o estado real do assunto. Estritamente falando, infalibilidade é a palavra mais forte, e ela exige a inerrância, mas algumas vezes as duas são intercambiáveis no uso.
É possível para uma pessoa ser falível, mas produzir um texto que é livre de erro. Pessoas que são capazes de cometer enganos, apesar de tudo, não estão errando constantemente. Contudo, há aqueles que rejeitam a doutrina da inerrância, mas ao mesmo tempo desejam afirmar a perfeição de Deus e a Bíblia como a Sua palavra, e como resultado, mantém a impossível posição de que a Bíblia é deveras infalível, mas errante. Algumas vezes, o que eles querem dizer é que a Bíblia é infalível num sentido, talvez quando ela relata as coisas espirituais, enquanto que contém erros em outro sentido, talvez quando relata acontecimentos históricos.
Contudo, as declarações bíblicas sobre as coisas espirituais estarão inseparavelmente unidas às declarações bíblicas sobre a história, de forma que é impossível afirmar uma enquanto se rejeita a outra. Por exemplo, ninguém pode separar o que a Escritura diz sobre a ressurreição como um evento histórico e o que ela diz sobre seu significado espiritual. Se a ressurreição não aconteceu como a Bíblia diz, o que ela diz sobre seu significado espiritual não pode ser verdade.
O desafio para aqueles que rejeitam a infalibilidade e a inerrância bíblica é que eles não têm nenhum princípio epistemológico autoritativo, pelo qual possam julgar uma parte da Escritura ser acurada e a outra parte ser inacurada. Visto que a Escritura é a única fonte objetiva de informação à partir da qual todo o sistema cristão é construído, alguém que considera qualquer porção ou aspecto da Escritura como falível ou errante, deve rejeitar todo o Cristianismo. Novamente, este é o porquê não há um princípio epistemológico mais alto para julgar uma parte da Escritura como sendo correta e outra parte como sendo errada.
Alguém não pode questionar ou rejeitar a autoridade última de um sistema de pensamento e ainda reivindicar lealdade a ele, visto que a autoridade última em qualquer sistema define o sistema inteiro. Uma vez que uma pessoa questiona ou rejeita a autoridade última de um sistema, ele não é mais um aderente do sistema, mas, pelo contrário, é alguém que adere ao princípio ou autoridade pelo qual ele questiona ou rejeita a autoridade última do sistema, que ele simplesmente deixou para trás. Ter uma outra autoridade última além da Escritura, é rejeitar a Escritura, visto que a própria Bíblia reivindica infalibilidade e supremacia. Alguém que rejeita a infalibilidade e a inerrância bíblica, assume a posição intelectual de um incrédulo, e deve prosseguir para defender e justificar sua cosmovisão pessoal contra os argumentos dos crentes a favor da fé cristã.
A confusão permeia o presente clima teológico; portanto, é melhor afirmar tanto a infalibilidade como a inerrância bíblica, e explicar o que queremos dizer por estes termos. Deus é infalível, e visto que a Bíblia é a Sua palavra, ela não pode e não contém nenhum erro. Nós afirmamos que a Bíblia é infalível em todo sentido do termo, e, portanto, ela deve ser também inerrante em todo sentido do termo. A Bíblia não pode e não contém erros, seja quando falando de coisas espirituais, históricas ou outros assuntos. Ela é correta em tudo o que afirma.
A AUTORIDADE DA ESCRITURA
Precisamos determinar a extensão da autoridade da Bíblia, para verificar o nível de controle que ela deve ter sobre as nossas vidas. A inspiração, unidade e infalibilidade da Escritura implicam que ela possui autoridade absoluta. Visto que a Escritura é a própria palavra de Deus, ou Deus falando, a conclusão necessária é que ela carrega a autoridade de Deus. Portanto, a autoridade da Escritura é idêntica à autoridade de Deus.
Os escritores bíblicos algumas vezes se referem a Deus e a Escritura como se os dois fossem intercambiáveis. Como Warfield escreve, “Deus e as Escrituras são trazidos em tal conjunção para mostrar que na questão de autoridade, nenhuma distinção foi feita entre eles”. [12]
Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:1-3).
Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti” (Gálatas 3:8).
Então disse o SENHOR a Moisés: Levanta-te pela manhã cedo, e põe-te diante de Faraó, e dize-lhe: Assim diz o SENHOR Deus dos hebreus: Deixa ir o meu povo, para que me sirva;Porque esta vez enviarei todas as minhas pragas sobre o teu coração, e sobre os teus servos, e sobre o teu povo, para que saibas que não há outro como eu em toda a terra.Porque agora tenho estendido minha mão, para te ferir a ti e ao teu povo com pestilência, e para que sejas destruído da terra;Porque agora tenho estendido minha mão, para te ferir a ti e ao teu povo com pestilência, e para que sejas destruído da terra” (Êxodo 9:13-16).
Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra” (Romanos 9:17).
Enquanto a passagem de Gênesis diz que foi “o Senhor” que falou a Abraão, Gálatas diz, “A Escritura previu....[A Escritura] anunciou...”. A passagem de Êxodo declara que foi “o Senhor” quem disse a Moisés o que falar a Faraó, mas Romanos diz, “a Escritura diz a Faraó...”.
Visto que Deus possui autoridade absoluta e última, a Bíblia sempre carrega autoridade absoluta e última. Visto que não há diferença entre Deus falando e a Bíblia falando, não há diferença entre obedecer a Deus e obedecer a Bíblia. Crer e obedecer a Bíblia é crer e obedecer a Deus; não crer e desobedecer a Bíblia é não crer e desobedecer a Deus. A Bíblia não é apenas um instrumento através do qual Deus nos fala; antes, as palavras da Bíblia são as próprias palavras que Deus está falando — não há diferença. A Bíblia é a voz de Deus para a humanidade, e a autoridade da Bíblia é total.

A NECESSIDADE DA ESCRITURA

A Bíblia é necessária para a informação precisa e autoritativa sobre as coisas de Deus. Visto que a teologia é central para tudo da vida e do pensamento, a Escritura é necessária como um fundamento para tudo da civilização humana. Aqueles que rejeitam a autoridade bíblica, contudo, continuam a assumir as pressuposições cristãs para governar suas vidas e pensamentos, embora eles recusem admitir isto. Uma tarefa do apologista cristão é expor a suposição implícita do incrédulo das premissas bíblicas, a despeito de sua explícita rejeição delas. Mas, à extensão que qualquer cosmovisão consistentemente exclui as premissas bíblicas, ela se degenera em ceticismo e barbarismo.
A infalibilidade bíblica é o único princípio justificável do qual alguém pode deduzir informação sobre assuntos últimos, tais como metafísica, epistemologia e ética. Conhecimento pertencente às categorias subsidiárias, tais como política e matemática, são também limitados pelas proposições deduzíveis da revelação bíblica. Sem a infalibilidade bíblica como o ponto de partida do pensamento de alguém, o conhecimento não é possível, de forma alguma; qualquer outro princípio falha em se justificar, e assim, um sistema que depende dele não pode nem mesmo começar. Por exemplo, sem uma revelação verbal de Deus, não há razão universal e autoritativa para proibir o assassinato e o roubo. A Bíblia é necessária para todas proposições significativas.
A Escritura é necessária para definir todo conceito e atividade cristã. Ela governa cada aspecto da vida espiritual, incluindo pregação, oração, adoração e direção. A Escritura é também necessária para a salvação ser possível, visto que a informação necessária para a salvação está revelada na Bíblia, e deve ser conduzida ao indivíduo por ela, para receber a salvação. Paulo escreve, “as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3:15).
Uma seção anterior deste livro aponta que todos os homens sabem que o Deus cristão existe, e que Ele é o único Deus. Os homens nascem com este conhecimento. Embora este conhecimento seja suficiente para tornar a incredulidade culpável, é insuficiente para salvação. Alguém adquire conhecimento sobre a obra de Cristo diretamente da Escritura, ou indiretamente da pregação ou escrita de outro. Portanto, a Escritura é necessária para o conhecimento que conduz à salvação, as instruções que levam ao crescimento espiritual, as respostas às questões últimas, e sobre qualquer conhecimento sobre a realidade. Ela é a pré-condição necessária para todo o conhecimento.

A CLAREZA DA ESCRITURA
Há dois extremos, com respeito à clareza da Escritura, que os cristãos devem evitar. Um é manter que o significado da Escritura é totalmente obscuro à pessoa comum — somente um grupo de indivíduos de elite e escolhidos pode interpretá-la. A outra visão reivindica que a Escritura é tão clara que não há parte dela que seja difícil de ser entendida, e que nenhum treinamento em hermenêutica é requerido para manusear o texto. Por extensão, a interpretação de um teólogo maduro não é mais confiável do que a opinião de uma pessoa não treinada.
A primeira posição isola o uso da Escritura do povão em geral, e impede qualquer pessoa de contestar o entendimento bíblico de profissionais estabelecidos, mesmo quando eles estão enganados. A Bíblia não é tão fácil de entender que qualquer pessoa possa interpretá-la com igual competência. Mesmo o apóstolo Pedro, quando se referindo ao escritos de Paulo, diz, “Suas cartas contêm algumas coisas que são difíceis de entender”. Ele adverte que “as pessoas ignorantes e instáveis distorcem” o significado das palavras de Paulo, “assim como eles fazem com outras Escrituras, para a sua própria destruição” (2 Pedro 3:16).
Muitas pessoas gostariam de pensar sobre si mesmas como competentes, em assuntos importantes tais como teologia e hermenêutica, mas, ao invés de orarem por sabedoria e estudarem as Escrituras, elas assumem que são tão capazes quanto os teólogos ou os seus pastores. Este modo de pensar convida o desastre e a confusão. Diligência, treinamento e capacitação divina, tudo isso, contribui para a capacidade de alguém interpretar e aplicar a Bíblia.
Embora muitas passagens na Bíblia sejam fáceis de entender, algumas delas requerem diligência extra e sabedoria especial para serem interpretadas acuradamente. É possível para uma pessoa ler a Escritura e adquirir dela entendimento e conhecimento suficientes para salvação, embora algumas vezes alguém possa precisar de um crente instruído até para isso:
E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse” (Atos 8:30-31).
É possível também aprender os princípios básicos da fé cristã, simplesmente lendo a Bíblia. Mas há passagens na Bíblia que são, em diferentes graus, difíceis de entender. Nestes casos, alguém pode solicitar o auxílio de ministros e teólogos para explicarem as passagens, de forma a evitar a distorção da palavra de Deus.
Neemias 8:8 afirma o lugar do ministério de pregação: “E leram no livro, na lei de Deus; e declarando, e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse”. Contudo, a autoridade final descansa nas palavras da própria Escritura, e não na interpretação dos eruditos. A Escritura nunca está errada, embora nosso entendimento e indiferenças para com ela possam estar, algumas vezes, equivocados. Este é o motivo pelo qual toda igreja deveria treinar seus membros na teologia, na hermenêutica e na lógica, de forma que eles possam manusear melhor a palavra da verdade.
Portanto, embora a doutrina da clareza da Escritura conceda a cada pessoa o direito de ler e interpretar a Bíblia, ela não elimina a necessidade de mestres na igreja, mas, antes, afirma a sua necessidade. Paulo escreve que um dos ofícios ministeriais que Deus estabeleceu foi o de mestre, e Ele apontou indivíduos para desempenhar tal função (1 Coríntios 12:28). Mas Tiago adverte que nem todos deveriam ansiar assumir tal ofício: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo” (Tiago 3:1). Em outro lugar, Paulo escreve, “Digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação...” (Romanos 12:3).
Aqueles escolhidos por Deus para serem ministros da doutrina são capazes de interpretar as passagens mais difíceis da Escritura, e podem também extrair valiosos insights que podem evitar outras dificuldades das passagens mais simples também. Efésios 4:7-13 se refere a este ofício como um dos dons de Cristo à sua igreja, e, portanto, os cristãos devem valorizar e respeitar aqueles que estão em tal ministério.
Vivemos numa geração na qual pessoas desprezam a autoridade; elas detestam ouvir o que devem fazer ou crer. [13] A maioria nem mesmo respeita a autoridade bíblica, para não citar a autoridade eclesiástica. Elas consideram as suas opiniões tão boas quanto as dos apóstolos, ou, no mínimo, dos teólogos e pastores; sua religião é democrática, não autoritária. Mas a Escritura ordena os crentes a obedecerem aos seus líderes: “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil”. Todo crente tem o direito de ler a Bíblia por si mesmo, mas isto não deve se traduzir em desafio ilegítimo [14] contra os sábios ensinos de eruditos ou contra a autoridade dos líderes da igreja.

A SUFICIÊNCIA DA ESCRITURA
Muitos cristãos reivindicam afirmar a suficiência da Escritura, mas, seu real pensamento e prática negam-na. A doutrina afirma que a Bíblia contém informação suficiente para alguém, não somente para encontrar a salvação em Cristo, mas para subseqüentemente receber instrução e direção em todo aspecto da vida e pensamento, seja por declarações explícitas da Escritura, ou por inferências necessárias dela.
A Bíblia contém tudo que é necessário para construir uma cosmovisão cristã compreensiva que nos capacite a ter uma verdadeira visão da realidade. [15] A Escritura nos transmite, não somente a vontade de Deus em assuntos gerais da fé e conduta cristã, mas, ao se aplicar preceitos bíblicos, podemos também conhecer Sua vontade em nossas decisões específicas e pessoais. Tudo que precisamos saber como cristãos é encontrado na Bíblia, seja no âmbito familiar, do trabalho ou da igreja.
Paulo escreve que a Escritura não é somente divina na origem, mas é também abrangente no escopo:
Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça. Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2 Timóteo 3:16-17).
A implicação necessária é que os meios de direção extra-bíblicos, tais como visões e profecias, são desnecessários, embora Deus possa ainda fornecê-los, quando Ele se agradar. Os problemas ocorrem quando os cristãos sustentam uma posição que equivale a negar a suficiência da Escritura em fornecer abrangente instrução e direção. Alguns se queixam que na Bíblia falta informação específica que alguém precisa para fazer decisões pessoais; à luz da palavra de Deus, deve-se entender que a falta reside nestes indivíduos, e não no fato de que a Bíblia é insuficiente.
Aqueles que negam a suficiência da Escritura carecem da informação que eles necessitam, por causa da sua imaturidade espiritual e negligência. A Bíblia é deveras suficiente para dirigi-los, mas eles negligenciam o estudo dela. Alguns também exibem forte rebelião e impiedade. Embora a Bíblia trate das suas situações, eles recusam se submeter aos seus mandamentos e instruções. Ou, eles se recusam a aceitar o próprio método de receber direção da Escritura no geral, e exigem que Deus os dirija através de visões, sonhos e profecias, quando Ele já lhes deu tudo o que eles necessitam, através da Bíblia.
Quando Deus não atende às suas demandas ilegítimas de direção extra-bíblica, alguns decidem até mesmo procurá-la através de métodos proibidos, tais como astrologia, adivinhação e outras práticas ocultas. A rebelião deles é tal que, se Deus não fornecer a informação desejada nos moldes prescritos por eles, eles estão determinados a obtê-la do próprio diabo.
O conhecimento da vontade de Deus não vem de direção extra-bíblica, mas de uma compreensão intelectual e de uma aplicação da Escritura. [16] O apóstolo Paulo escreve:
E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2).

A teologia cristã deve afirmar, sem reservas, a suficiência da Escritura como uma fonte abrangente de informação, instrução e direção. A Bíblia contém toda a vontade de Deus, incluindo a informação que alguém precisa para salvação, desenvolvimento espiritual e direção pessoal. Ela contém informação suficiente, de forma que, se alguém a obedece completamente, ele estará cumprindo a vontade de Deus em cada detalhe da vida. Mas, ele comete pecado à extensão em que ele falha em obedecer à Escritura. Embora nossa obediência nunca alcance perfeição nesta vida, todavia, não há nenhuma informação que precisemos para viver uma vida cristã perfeita, que já não esteja na Bíblia.



Vincent Cheung 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

A PROMESSA DE DEUS PARA OS ÚLTIMOS DIAS


A Promessa de Deus para os Últimos Dias


Deus tem uma promessa para cada dispensação de tempo. De acordo com sua promessa, nações surgem e nações caem. Cada incidente na história e cada evento na nossa vida pessoal é um cumprimento do que Deus prometeu que aconteceria como consequência do homem crer ou não crer nele. Deus age na sua soberania, para o pavor do incrédulo, mas para o regozijo do crente. Ao que crê, Deus assegura que a vontade dele será feita assim na terra como no céu. Ao desobediente, Deus promete dúvidas, ira, e frustração. O destino do homem é determinado pelo fato dele crer ou não na promessa que Deus lhe dá na sua dispensação específica.
Para cada época, Deus na sua soberania faz uma promessa. Qual é a promessa de Deus ao seu povo nestes “últimos dias”? É uma promessa tão certa quanto todas as outras que tem feito desde o princípio do tempo.
Depois de criar o homem, Deus lhe prometeu: “Dou-te cada planta que produz semente na face da terra, e cada árvore com fruto e semente. Serão tuas, para tua alimentação. Estás livre para comer de qualquer árvore no jardim, com uma exceção. Não poderás comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois se comeres, morrerás!”
Quando Adão e Eva comeram da árvore do conhecimento do bem e do mal, Deus colocou inimizade entre o bem e o mal, conforme prometera. A morte prenunciada lançou Adão e Eva para fora do Jardim do Éden, e separou seus filhos da presença de Deus.
Caim não gostou da soberania de Deus. Ficou tão irado com Deus por cumprir sua palavra, que acabou sendo amaldiçoado por ele. Daquele dia em diante, Caim não só teve que trabalhar muito para se sustentar, mas também passou a odiar seu trabalho, e tornou-se um fugitivo e errante na terra, exatamente como Deus lhe prometera.
Na dispensação seguinte, Deus prometeu que seu Espírito não contenderia com o homem para sempre. Esta advertência não foi ouvida por aquela geração, que foi cortada repentinamente com juízo. Somente Noé creu na promessa de Deus, que o salvou com toda sua família de uma sociedade corrupta e violenta caminhando para o inferno.
Numa outra dispensação, Deus fez uma promessa de bênção a Abraão. “Farei de ti uma grande nação, e te abençoarei; e te engrandecerei o nome, e tu serás uma bênção”.
Porque Abraão creu em Deus e o obedeceu, uma grande nação nasceu em cumprimento da promessa que Deus fizera a respeito da salvação da humanidade. Desta nação, profetas de Deus se levantaram para prometer um libertador que traria salvação do pecado e da morte.
Quando a hora do seu aparecimento chegou, o Messias prometido se apresentou fazendo a seguinte leitura num sábado na sinagoga: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos pobres: enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor”.
Ele então fechou o rolo, devolveu-o ao assistente e sentou-se. Os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele, e ele começou seu discurso dizendo-lhes: “Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir”.
Quando todas as pessoas na sinagoga ouviram Jesus afirmar que ele era a promessa de Deus para aquela dispensação, ficaram furiosos. Levantaram-se, expulsaram-no da cidade, e o levaram ao cume do monte onde se localizava a cidade, para jogá-lo precipício abaixo.
Jesus veio, e Jesus foi embora de acordo com a promessa. Quando partiu, uma outra geração recebeu uma promessa para os “últimos dias” em que agora vivemos. Qual é a promessa de Deus para esta época atual?
Os discípulos queriam saber se já era o momento do reino definitivo de Deus. “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” Mas Jesus respondeu: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas...” (Atos 1.6-8). E quando esta promessa foi cumprida no dia de Pentecoste, Pedro afirmou que se tratava da promessa dos últimos dias, feita através do profeta Joel (Atos 2.14-21).
Deus cumpriu sua promessa, e enviou o Espírito Santo, não só aos apóstolos, mas sobre “toda carne”, em derramamentos maiores e posteriores (e em outros que ainda virão). Os “últimos dias” são agora, desde o dia de Pentecoste, e portanto, hoje é o dia da salvação, o dia em que Deus oferece graça a todos que crêem e que clamam pelo nome dele. Assim como nas outras épocas, todos que crêem na promessa de Deus para hoje recebem a vida, que nos nossos dias significa confessar Jesus como SENHOR, e receber a operação do Espírito Santo na sua vida. Aqueles que não crêem nem o confessam, não receberão a misericórdia de Deus.
Se o juízo de Deus caiu sobre quem não creu na promessa dada através de Noé, quanto maior será o juízo de Deus sobre todos, judeus e cristãos (Romanos 2.5-11), que rejeitarem a graça de Deus oferecida através de Jesus Cristo, e que não acreditam no derramamento do Espírito Santo!
O derramamento do Espírito foi experimentado no livro de Atos por aqueles que creram e obedeceram a mensagem de Deus, que ainda é a mesma hoje: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar... Salvai-vos desta geração perversa” (Atos 2.38-40).
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados,  a fim de que da presença do Senhor venham tempos de refrigério, e que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu retenha até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antigüidade” (Atos 3.19-21).
Conhecer a Deus o Espírito Santo é conhecer Jesus Cristo. Conhecer Jesus Cristo é amá-lo e a seus filhos. Ninguém pode conhecer Jesus até que tenha conhecido o Espírito Santo. Ouçamos com atenção, e continuemos ouvindo e crendo na sua promessa para hoje! 

Elmer G. Klassen


PECADO E PERDÃO


PECADO E PERDÃO

"Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor." [Romanos 6:23]
Com base nas perguntas freqüentes feitas pelos leitores, parece que a doutrina bíblica do pecado não é bem compreendida por muitas pessoas atualmente. Alguns cristãos vivem aterrorizados com a possibilidade de perderem a salvação se caírem no pecado. Ao mesmo tempo, no outro extremo, alguns pensam que têm uma boa compreensão do assunto, mas mostram sua ignorância ao insistirem que é possível chegar ao ponto da "perfeição sem pecar" nesta vida. Ambos os extremos estão totalmente errados, conforme esperamos demonstrar com base na Palavra de Deus.
A definição do Novo Testamento do pecado deriva da palavra grega hamartia, que literalmente significa "errar o alvo". Podemos pensar nisso como qualquer falha em atingir o alvo estabelecido por Deus - a 'mosca'. - a perfeição absoluta em pensamentos, palavras e ações! Ele é perfeição personificada e sua santidade exige isso de qualquer um que queira comparecer à sua presença. Portanto, onde isso nos deixa? Alguém seria tão descarado a ponto de afirmar que é perfeito e não peca? Amados, confio que todos os que estão lendo isto tenham um pouco mais de bom senso.
"Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós." [1 João 1:8]
Adão e Eva foram criados perfeitos em todos os aspectos e, aparentemente, receberam corpos glorificados exatamente como o que Jesus Cristo possui hoje. Vestidos de luz, eles foram colocados em um paraíso na Terra, chamado Éden e uma única proibição foi dada a eles - estavam proibidos de comer da "árvore do conhecimento do bem e do mal". Logicamente, Deus sabia que eles iriam desobedecer e é por isto que acrescentou a penalidade:
"Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás." [Gênesis 2:17; ênfase adicionada]
O resto, como se diz, é história. Eva foi enganada por Satanás e comeu do "fruto proibido", destarte colocando-se imediatamente em morte espiritual e iniciando o processo de morrer fisicamente. Ela cometeu o primeiro pecado praticado por um ser humano, e Adão logo seguiu o mesmo caminho (Satanás, não o homem, foi o originador do pecado por causa de sua rebelião contra Deus - veja Ezequiel 28:15). É interessante que a Bíblia nos diz que Adão não foi enganado e pecou de forma deliberada, por que quis [1 Timóteo 2:14]. Acredito que ele amava Eva e a seguiu na desobediência para evitar a separação. No entanto, independente das razões específicas para o pecado deles, imediatamente descobriram que eram criaturas caídas - mortais e nus com uma perpectiva de vida totalmente diferente dali para frente. Da perfeição, desceram à total depravação em que todos os aspectos de seu ser foram manchados pelo pecado. Essa mudança monumental é evidenciada pela tentativa deles de cobrirem sua nudez com folhas de figueira e se esconderem de Deus [Gênesis 3:7-8]. Desde então, o homem pecador tenta se esconder de Deus!
O fato da depravação humana é resumido pelo apóstolo Paulo nos seguintes versos:
"Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só." [Romanos 3:10-12]
Para aqueles que desejam saber o que a Palavra de Deus diz sobre o assunto da depravação humana, eis uma relação de versos:
Gênesis 6:5-7,11-13; Gênesis 8:21; 2 Crônicas 6:36; Jó 4:17-19; Jó 9:2-3,20,29-31; Jó 11:12; Jó 14:4; Jó 15:14-16; Jó 25:4-6; Salmos 5:9; Salmos 14:1-3; Salmos 51:5; Salmos 53:1-3; Salmos 58:1-5; Salmos 94:11; Salmos 130:3; Salmos 143:2; Provérbios 10:20; Provérbios 20:6,9; Provérbios 21:8; Eclesiastes 7:20,29; Eclesiastes 8:11; Eclesiastes 9:3; Isaías 1:5-6; Isaías 48:8; Isaías 53:6; Isaías 55:6-7; Isaías 64:6; Jeremias 2:22,29; Jeremias 6:7; Jeremias 13:23; Jeremias 16:12; Jeremias 17:9-10; Ezequiel 36:25-26; Oséias 6:7; Oséias 14:9; Miquéias 7:2-4; Mateus 7:17; Mateus 12:34-35; Mateus 15:19; Marcos 7:21-23; Lucas 1:79; João 1:10-11; João 3:19; João 8:23; João 14:17; Atos 8:23; Romanos 2:1; Romanos 3:9-19; Romanos 3:23; Romanos 5:6; Romanos 5:12-14; Romanos 6:6,17,19-20; Romanos 7:5,11-25; Romanos 8:5-8,13; Romanos 11:32; 1 Coríntios 2:14; 1 Coríntios 3:3; 1 Coríntios 5:9-10; 2 Coríntios 3:4-5; 2 Coríntios 5:14; Gálatas 3:10-11,22; Gálatas 5:17-21; Efésios. 2:1-3,11-12; Efésios. 4:17-19,22; Efésios. 5:8; Colossenses 1:13,21; Colossenses 2:13; Colossenses 3:5,7; 2 Timóteo 2:26; Tito 3:3; Tiago 3:2; 1 Pedro 1:18; 1 Pedro 2:9,25; 1 João 1:8-10; 1 João 2:16; 1 João 3:10; 1 João 5:19; Apocalipse 3:17.
Assim, descobrimos que o homem, no estado não-regenerado, está na pior situação espiritual possível. Ele está morto em ofensas e pecados [Efésios 2:1], é um escravo de Satanás [Efésios 2:2], não pode compreender aquilo que se discerne espiritualmente - a Bíblia [1 Coríntios 2:14], e não busca a Deus [Romanos 3:11]. Para que o homem seja salvo dessa situação, o próprio Deus precisa tomar a iniciativa - exatamente como fez no jardim do Éden, quando foi atrás de Adão e Eva.
No entanto, vamos avançar e discutir o pecado com relação à vida cristã. A regeneração remove a pecaminosidade do coração humano? O quanto eu gostaria que isso fosse verdade, mas não é! Nossa posição de estar "em Cristo" e justificados diante de Deus significa que nossa dívida total pelo pecado (passado, presente e futuro) está cancelada e estamos declarados como totais inocentes à vista de Deus. Mas isso está falando da nossa posição em Cristo, não na nossa condição prática - não da dura realidade da vida diária. Nossa posição como filhos de Deus está definida para sempre nos céus, mas nosso estado diário varia em proporção direta com o nível de cooperação que demonstramos à liderança do Espírito Santo. Uma vez que somos regenerados espiritualmente, o processo vitalício de santificação tem início. Ser santificado, ou santo, significa estar separado para o serviço de Deus e isso não ocorre da noite para o dia. Na verdade, haverá uma grande mudança na vida de uma pessoa após ela se converter e receber o Espírito Santo - mas a verdadeira santidade e perfeição nesta vida é o objetivo inatingível para o qual precisamos nos esforçar. Cristo é nosso padrão e somos exortados a imitá-lo, mas é claro que compreendemos que alcançar sua divina perfeição é impossível aqui na Terra. Não somos e nem podemos estar sem pecado (embora Deus nos veja assim, posicionalmente), de modo que precisamos nos esforçar com todas as fibras do nosso ser para procurar acertar o alvo e cruzar a linha de chegada) para obter o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus [Filipenses 3:14], como fez o apóstolo Paulo. O galardão celestial, e não a salvação, é o "prêmio" que precisamos nos esforçar para conquistar em nossa caminhada diária com o Senhor neste mundo.
Entretanto, algumas almas sinceras insistem que a Bíblia ensina a possibilidade de atingir um estágio de perfeição sem pecado, com base em grande parte nas seguintes palavras do apóstolo em 1 João 3:9:
"Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus." [1 João 3:9]
Entretanto, isso não significa que um cristão nunca peca! Para reforçar isso, chamo sua atenção para o que João diz no verso 8 do capítulo 1 (referido anteriormente) - "Se dissermos que não temos pecado, enganamos-nos a nós mesmos." Alguns podem tentar argumentar que João estava escrevendo para incrédulos, mas isso não cola pois toda a epístola de 1 João foi escrita para os crentes, "os filhinhos". - como vemos no verso 1 do capítulo 2. O verso 4 do capítulo 1 diz "estas coisas vos escrevo para que não pequeis..." - referindo-se aos crentes, ou "filhinhos", como João afeiçoadamente refere-se a eles depois. Essa posição é explicada por W. E. Wine em seu Expository Dictionary of New Testament Words, pg 211, sob o título de "Commit, Commission", #2 Poieo, "Nota: Em 1 João 3:4,8,9, a Versão Autorizada errôneamente traz "comete" (um significado impossível no verso 8); a Versão Revisada corretamente tem "pratica", isto é, um hábito contínuo, equivalente a prasso. O que está em vista aqui é uma ação contínua, não uma ação eventual."
Este princípio é validado pela própria experiência de Paulo, que encontramos em Romanos 7:14-25:
"Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado." [Romanos 7:14-25; ênfase adicionada]
Esse lamento do apóstolo Paulo não é verdadeiro na sua própria vida, leitor? Certamente é na minha! Sou um cristão nascido de novo, lavado no sangue do Cordeiro de Deus e o Espírito Santo me assegura que sou um filho de Deus - mas ainda experimento a realidade do pecado diariamente! Quando nasci de novo, recebi uma nova natureza, uma natureza espiritual, mas minha carne, a natureza pecaminosa depravada que herdei de Adão, não foi destruída. Muito pelo contrário, ela está bem viva e levanta sua horrenda cabeça continuamente! Por meio da oração e com a ajuda do Espírito Santo, posso agora (e espero continuar a) pecar muito menos do que pecava antes de receber a Cristo. No entanto, isso ainda está longe da perfeição. Para aqueles que ainda insistem que a perfeição seja possível, quero lembrar que não existem apenas os pecados que cometemos, mas pecados de omissão - coisas que deveríamos fazer, mas não fazemos. O padrão de Deus de perfeição e sua vontade para nossas vidas inclui muitos aspectos sobre os quais precisamos orar e pedir orientação. É somente remotamente concebível para você que devemos discernir todos e executá-los a pé da letra? Deixar de perceber e cumprir com as obrigações é pecado - o pecado da omissão. Ó, meus amigos, não podem ver que somos pecadores, tanto por natureza quanto por prática? O Espírito Santo, falando por meio de profeta Isaías deixa isso bem claro com a seguinte declaração:
"Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam." [Isaías 64:6]
Deus deseja que reconheçamos nossa excessiva pecaminosidade e, ao fazermos isso, também reconheçamos a extraordinária grandeza da sua graça, que perdoa o pecado. Posicionalmente, estamos justificados à sua vista e nossa situação é absolutamente perfeita em todos os sentidos - um lar eterno nos céus está garantido para nós. No entanto, o nível de recompensa recebido uma vez que chegarmos lá será determinado pela forma como batalhamos contra o mundo, a carne e o maligno. [1 Coríntios 3:8-15]
Devemos encarar o pecado com leviandade já que está perdoado? Não, nunca! Tenha em mente que o pecado somente está perdoado com relação ao nosso destino eterno. Cada pecado que cometemos como filhos de Deus é inescapável pois ele conhece cada detalhe de nossas vidas e, sem falha alguma, nos punirá da forma apropriada. Quando éramos crianças, conseguíamos evitar a punição dos nossos pais por que eles não tomavam conhecimento de todas as nossas infrações, mas tal nunca é o caso com Deus! Pode ter certeza que ele vai disciplinar apropriadamente aqueles a quem ama [Números 32:23 e Hebreus 12:6]. Portanto, se você é um autêntico filho de Deus, não precisa mais ficar aterrorizado com a possibilidade de perder a salvação. Transfira esse pavor à possibilidade de ser corrigido pelo seu amoroso Pai Celestial! Os esforços para ser bom não comprarão para você absolutamente nada com relação à salvação, mas ajudarão a evitar a mão corretiva de Deus. Anos atrás, as pessoas referiam-se aos cristãos como "homens e mulheres que temem a Deus" e todos nós compreendíamos a base para essa expressão. Eu temia meu pai, porque se minha mãe contasse para ele minhas travessuras, meu traseiro ficava definitivamente em risco! Esse tipo de temor é necessário e benéfico, pois tende a nos manter no "caminho estreito e apertado". [Mateus 7:14]


A QUEDA DE SATANÁS E A QUEDA DE ADÃO


A queda de Satanás e a queda de Adão

Creio não haver em toda a teologia, uma pergunta com resposta tão difícil de ser obtida como essa: Como pôde um ser santo, criado em santidade, cair?

Venho tratar aqui, de dois casos específicos: "A queda de Satanás", e "A queda de Adão". Ambos eram santos, em toda a plenitude, e em um determinado momento conceberam a primeira mácula em sua espécie. Quero dar um breve tratamento a cada um dos episódios:

A queda de Satanás

Existe uma corrente de interpretação, que não considera os textos de Is 14 e Ez 28 como sendo textos que se referem à Satanás; existe outra porém que considera, e é nessa que eu me enquadro, portanto, nesse estudo falo com base nesse princípio de interpretação.


As Escrituras tratam a queda de Satanás Como sendo um acontecimento singular. Acontecimento sem precedentes, até mesmo porque foi dele que se originou o mal. O texto bíblico demonstra que a queda do "Anjo de Luz" se deu baseada no egoísmo. O "querubim ungido", em um determinado momento "usurpou ser igual a Deus" e, foi esse sentimento de egoísmo, onde ele deixou de olhar para Deus como objeto de adoração, e passou a vê-lo como um obstáculo a ser vencido que, deu origem a toda essa era de pecado na qual vivemos.

"Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que em ti se achou iniqüidade." Ez 28.15

É neste texto bíblico que se origina, na mente do leitor, uma pergunta terrível que não consegue ser respondida de pronto:

PORQUÊ, E COMO, SE ORIGINOU O PRIMEIRO INSTANTE DE SENTIMENTO PECAMINOSO EM UM SER SANTO?"

É difícil compreender a possibilidade de nascimento de pecado em um ser santo. Para nós, santidade está absolutamente ligada a "probabilidade zero de pecado".
Cremos que um ser santo é, na verdade, um ser que impossivelmente peca. Olhamos para Deus e imaginamos Ele como sendo alguém, em cujo ser não pode haver a mínima vontade de cometer transgressão. Mas estudando esse tema eu vejo que essa compreensão é completamente errônea, e enxergo mais uma das imensas grandezas do Evangelho.

É exatamente pelo fato de Deus ser um ser pessoal, com domínio de existência, vontade, sentimento, emoção e sensibilidade que, o fato de ele não pecar é que o torna tão belo! Se Deus fosse um ser que é dominado por uma "probabilidade zero de cometer transgressão", não haveria beleza alguma em sua santidade. Pois Ele estaria apenas cumprindo com sua natureza pré-ordenada. Mas é o maravilhoso ato de, apesar de ele ser Soberano, ser ao mesmo tempo, Responsável, que o torna Santo.

Santidade não está relacionada com obediência mecânica, mas sim com obediência volitiva. Uma árvore não pode ser santa, pois ela não tem o domínio da vontade, da mesma forma não existe santidade em um cachorro, ou em uma girafa. Quando Deus chama o homem para ser santo, ele está convocando um ser pessoal a optar pela prática do bem.

"Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas." Ef 2.10

É aqui, nessa compreensão da santidade, que encontramos a resposta para a pergunta que questiona onde, e como se originou o pecado em um anjo santo.

A santidade com a qual Deus dotou os seres celestiais (e Adão, no próximo item abordado), nunca consistiu em uma "tendência a fazer o bem", mas sim em uma NATUREZA SANTA, uma origem sem passado maculado, e que, sob ordem direta de Deus deveria ser assim preservada.

O sentimento egoísta que nasceu no coração do anjo, em nenhum momento merece ser tratado como um acontecimento inesperado, pois a obediência nunca existiu sem a margem da desobediência.

Na ocasião, todos os seres celestiais, não só Lúcifer, como também Miguel, Gabriel e todos os que enchiam as regiões espirituais estavam livres, e passivos a tomar decisões que concedessem continuidade ou uma ocasionassem uma ruptura, com a natureza de glória que gozavam.

O profeta Isaías diz:

"Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! como foste lançado por terra tu que prostravas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono; e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do norte; subirei acima das alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo." Is 14.12-14

A queda de Adão

Adão também foi criado em natureza santa. A queda de Adão tem intensidade semelhante à de Lúcifer, mas diferente quanto ao princípio. Enquanto Lúcifer disse em seu coração: "eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono", Adão ouviu "é assim que Deus disse?".

Um ponto que precisa ser considerado quando se fala na origem da humanidade, é a questão da definição de "ser humano". O gênesis bíblico relata que:

"Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou." Gn 1.27

Essencial esse ponto, a humanidade não consiste no homem separado da mulher, e nem na mulher separada do homem. Esse gênesis diz que Deus soprou o fôlego nas narinas de Adão, mas não diz que Deus fez o mesmo com Eva. Isso traz à luz o fato de a criação ter início em Adão e, a partir daí se propagar através da natureza biológica do próprio ser já criado.
A Escritura mostra que Eva foi criada a partir de uma costela de Adão, diferente do homem que foi formado do pó da terra. Ambos consistiram em um milagre, e em uma operação direta da parte do Criador. O homem não pode ser considerado raça humana ausente da mulher, e nem a mulher o pode ser considerada fora de sua origem, o homem (I Co 11.8). Essa espécie animal é que sofre a "queda" no Jardim do Éden.

Uma pergunta concernete ao juízo que Deus trouxe, devido o pecado de Adão:

PORQUE UMA DESOBEDIÊNCIA TÃO INSIGNIFICANTE GEROU CAUSAS TÃO TERRÍVEIS?

Quando analisamos a ordem dada por Deus "[...]mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás", nos parece que a desobediência dessa ordem, não poderia gerar tão grande juízo, como o que foi dado, a morte.


Talvez até mesmo Adão tenha pensado isso, doutra forma não teria feito o que fez. Mas a obediência à essa pequena ordem, para a humanidade que alí se originava, é justamente o centro da questão SANTIDADE.

Considerar Deus injusto em sua sentença, é uma atitude que, com toda a certeza não pode ser tomada aqui.

O Livro do Gênesis mostra que Deus explicou muito bem, tanto a ordem como o castigo que viria caso essa ordem fosse desobedecida.

"[...]porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás."
Gn 1.27b

Em nenhum momento o homem teve motivos para pensar como nós: "esse pecadinho não vai dar em nada...". A ordem de Deus foi tão explícita como a explicação do juízo e, se o homem não conseguiu (ou não consegue) compreender o motivo de Deus pensar assim, acerca da desobediência (por mais reles que seja), isso em nenhum momento o torna merecedor de relevação em caso de desobediência.

Acerca da Árvore do conhecimento do Bem e do Mal

A árvore foi dada não para servir de balança à humanidade, como muitos já disseram, parecendo que Deus precisava "testar a obediência humana", não. Quando Deus age, em conjunto com o homem fazendo "prova de sua fé", o objetivo nunca é Deus receber o resultado, mas sim o próprio homem receber o resultado. Se existe alguém que precisa ter sua fé provada, esse alguém é o homem, não Deus. Se existe alguém que precisa ser testado, e saber que é obediente, esse alguém é o homem, e não Deus.

Assim como a ocasião em que Deus ordena que Abraão sacrifique seu único filho. O verdadeiro beneficiado com toda essa história foi Abraão, que recebe a justificação pela fé demontrada em seu ato.

Deus, pelo óbvio de sua Onisciência, em nenhum momento precisava fazer provas para saber resultados. O homem, esse sim é beneficiado com a "prova da fé".

No Jardim, vemos que a humanidade recebe uma oportunidade de demonstrar obediência. Alí, através daquela Árvore e daquela ordem, o homem recebe uma oportunidade de manter um vínculo de adoração e serviço ao Rei.

Em nenhum momento a Escritura dá a margem para pensarmos que, Deus por maldade ou por inocência, colocou a pedra de tropeço no meio do Jardim. O que Deus colocou alí era um objeto de benção para o homem, o que causou toda a desgraça não foi a árvore em sí (prova disso é o fato de a árvore não ser má, mas dar fruto que concede conhecimento do bem), o que causou a desgraça foi a desobediência humana, diante da tentação do Diabo.

PORQUE O JUIZO DE DEUS DADO AO HOMEM FOI DIFERENTE DAQUELE APLICADO AOS ANJOS?

Ao homem, diz a Escritura, o juízo foi a perda do gozo em viver aqui na Terra e a morte:
"Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás." Gn 3.19

Aos anjos, a Palavra de Deus diz que o juizo foi a condenação eterna no lago de fogo e enxofre:

"Aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, ele os tem reservado em prisões eternas na escuridão para o juízo do grande dia." Jd 6

"[...]e o Diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados pelos séculos dos séculos." Ap 20.10

A diferença entre o julgamento é grande, salta aos olhos o fato de o homem receber um Messias, enquanto os anjos recebem o "lago de fogo e enxofre" como destino eterno. Ao homem é reservado uma remissão de transgressão, mas aos anjos é reservado um juízo eterno em condenação.

Essa diferença de julgamento é decidida na origem da transgresão.
"O servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; mas o que não a soube, e fez coisas que mereciam castigo, com poucos açoites será castigado. Daquele a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá." Lc 12.47,48

Satanás deu origem ao pecado. Nos mais altos céus "multiplicou o seu comércio" e "usurpou ser igual a Deus", aqui se dá A ORIGEM DO MAL NO UNIVERSO. Quando a raça humana é criada, o mal já está presente no cosmos, e em Adão "não se achou iniqüidade" como aconteceu com Lúcifer (c.f Ez 28.15). Adão pecou não por uma rebelião interna, mas sim por ceder a uma opressão externa. Opressão de um ser que já era mal, que já tinha sido julgado, que já tinha "criado" o pecado e, agora apenas estava passando à frente sua maldição.

Um é o Tentador, o outro é o pecador, aquele que foi chamado à santidade, mas não resistiu ao Diabo. Com absoluta certeza, se Adão tivesse resistido ao Diabo, este fugiria dele, da mesma forma que foge de nós hoje, conforme o texto de Tg 4.7

Com essa mensagem, o meu objetivo é esclarecer um pouco mais desse tema, que é tão difícil de conhecer sem se aprofundar em livros complexos de teologia, ou em estudos superficiais encontrados na .net. Espero resolver algumas dúvidas menos analisadas e, com isso edificar o leitor acerca de abordagens que talvez não tenha encontrado em outros estudos pela .net.