Revelação
do
Propósito
Eterno de Deus
"Disse o
Senhor: Ocultarei a Abraão o que estou para fazer?" (Gênesis 18.17).
"Teve José
um sonho e o relatou a seus irmãos (...) Teve ainda outro sonho e o referiu a
seus irmãos" (Gênesis 375, 9).
"Chamou Jacó
a seus filhos e disse: Ajuntai-vos, e eu vos farei saber o que vos há de
acontecer nos dias vindouros" (Gênesis 49.1).
"Segundo
tudo o que Eu [Deus] te mostrar [a Moisés] para modelo do tabernáculo e para
modelo de todos os seus móveis, assim mesmo o fareis" (Êxodo 25.9).
"[Deus] e
ensina aos mansos o Seu caminho. (...) A intimidade do Senhor é para os que O
temem, aos quais Ele dará a conhecer a Sua aliança" (Salmos 25.9, 14).
"[Eu,
Paulo,] jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus" (Atos
20.27).
"[Eu, Paulo,]
em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha
carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o
evangelho da graça de Deus" (Atos 20.24).
"Tendes
ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim [Paulo] confiada para
vós outros; pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério,
conforme escrevi há pouco, resumidamente (...) do qual fui constituído ministro
conforme o dom da graça de Deus a mim concedida segundo a força operante do Seu
poder" (Efésios 3.2, 3, 7).
O
propósito eterno de Deus nunca pode ser entendido ou alcançado pela mente. Ele
precisa ser revelado. Todo o serviço para Deus começa com consagração ou é
baseado na entrega. Mas tal consagração ou entrega só vem por meio da
revelação. Na verdade, a obra de Deus (não nossa obra, mas a obra de Deus
através de nós) só começa quando há revelação. Exteriormente é a visão
celestial; interiormente é a revelação.
Deus
não quer que façamos uma espécie de trabalho genérico ou uma miscelânea de
obras para Ele. Ele deseja que conheçamos todo o Seu plano e trabalhemos com
Ele em direção a um plano e propósito claros. Pois não somos apenas Seus
servos, mas também Seus amigos (Jo 15:15).
Toda
entrega e consagração é valiosa, mas, falando francamente, só depois da
revelação é que a entrega e a consagração podem ser de muito valor, pois
somente assim podem ser completas. Nossa entrega antes dessa revelação só tem
em vista a salvação. "Ele me comprou com Seu sangue, Seu amor por mim é indescritível.
Por isso, devo dar a mim mesmo a Ele. Eu devo dar a mim mesmo e tudo o
que tenho por causa do Seu amor e graça salvadora." Mas depois da
revelação, isso é totalmente diferente. Quando vemos o eterno propósito de
Deus, faz-se necessária uma tremenda entrega de nós mesmos para este propósito,
com uma entrega que nunca antes sonhamos; algo mais profundo e absoluto. Paulo
disse: "Não fui desobediente à visão celestial" (At 26.19). Ele podia
passar por qualquer coisa e suportar tudo por causa da visão celestial.
José
foi uma prefiguração perfeita do povo de Deus, reunindo em si mesmo todos
aqueles que foram antes dele. Mas a crise veio para José quando ele teve seus
sonhos. Isso foi sua revelação, na qual viu o propósito de Deus e sua própria
parte nele. Isso foi o início da obra de Deus por meio dele. Moisés teve de
subir ao cume do monte a fim de receber o padrão para a vida do povo de Deus:
os Dez Mandamentos e toda a lei de Deus. Mais tarde, ele precisou obter o modelo
do tabernáculo: "Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo que
te foi mostrado no monte" (Hb 8.5).
A
parte mais insignificante da obra que fazemos para Deus temos de fazê-la
segundo o modelo a nós mostrado no monte, isto é, de acordo com a revelação que
Deus nos deu do Seu propósito e plano eternos. Mas a revelação que José,
Moisés e outros tiveram foi individual. Mas não é assim hoje. Hoje a revelação
é para a Igreja. Não é uma revelação diferente para cada indivíduo, mas a mesma
revelação é dada para a Igreja inteira.
A
OBRA ESPIRITUAL TEM COMO BASE A REVELAÇÃO
Toda
obra espiritual para Deus surge da revelação. A parte da revelação do propósito
eterno de Deus não pode haver verdadeira obra espiritual. Pode haver obra para
Deus espalhada e misturada, e que é abençoada por Ele, mas não pode ser
verdadeiramente chamada obra espiritual ou trabalho conjunto com Ele, a menos
que surja da revelação quanto ao propósito eterno de Deus. Deve ser revelação e
não apenas compreensão mental; entender e ver intelectualmente é de nenhum
valor. É preciso ser um "ver" em seu espírito: ver qual é a esfera e
limite da operação de Deus.
Somente
a revelação pode tratar tanto com a obra como com o obreiro. Essa luz do céu
nos esmaga e faz em pedaços a nós e à nossa obra. Se ela for mera
doutrina ou ensino, ela nos deixará depois de algum tempo. Ela se vai, se
evapora, por assim dizer. Mas se for luz ou revelação, ela é a nossa vida e
não poderemos nos livrar dela.
Um
dia o Senhor Jesus disse: "Quem comer a Minha carne e beber o Meu sangue
tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia (...) Quem comer a Minha
carne e beber o Meu sangue permanece em Mim, e Eu, nele. Assim como o Pai, que
vive, Me enviou, e igualmente Eu vivo pelo Pai, também quem de Mim se alimenta
por Mim viverá" (Jo 6.54, 56, 57). Muitos ficaram escandalizados com isso
e O deixaram. Mas os discípulos, quando lhes perguntou se eles também O queriam
deixar, responderam: "Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de
vida eterna" (v. 68).
Quando
vemos a luz, ela se torna nossa vida, e não temos mais alternativa. Não temos
outro caminho, pois é nossa própria vida. Se não pudermos seguir aquele
caminho, morremos. Mas, graças ao Senhor, não é algo que tenhamos de lembrar ou
tentar recordar. Se vimos, vimos e sempre veremos. Nunca nos deixa. Descobrimos
que o Corpo responde a tudo[1]: é
nossa própria vida. Não podemos viver fora do Corpo.
A
Quem Foi Revelado?
Cada
item espiritual que possuímos chegou a nós através da revelação. Ele chega a
nós nesta ordem: (1) luz, (2) revelação, (3) vida, isto é, a vida de Deus, (4)
todas as riquezas Dele, tudo o que Ele é.
Se
Deus quiser fazer uma coisa nova, algo especial, em Xangai, na China ou em
qualquer outro lugar no mundo, Ele revelará isso a você ou esconderá de você?
Quantos existem em Xangai nos quais Ele pode confiar caso decida fazer algo
ali?
Tenhamos
clareza de que é somente aos Seus amigos mais íntimos e queridos que o Senhor
revelará Seus segredos e planos. Isso deveria ser algo para todos nós
considerarmos solenemente.
A Vida Edifica
"A graça
foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. (...) E
Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento
dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do Corpo de Cristo,
até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de
Deus, à perfeita varonilidade, a medida da estatura da plenitude de
Cristo" (Efésios 4-7, 11-43).
"A
manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso.
Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; e a outro,
segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento; a outro, no mesmo
Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; a outro, operações
de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um,
variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las. Mas um só e o
mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada
um, individualmente (1 Coríntios 12.7-11).
"O que fala
em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja. Eu
quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que
profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas,
salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação" (1 Coríntios
14:4, 5).
"Não que,
por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de
nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou
para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito;
porque a letra mata, mas o espírito vivifica" (2 Coríntios 3.5, 6).
"Tendo este
ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos (...) Temos,
porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de
Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, porém não angustiados;
perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados;
abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para
que também a Sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos,
somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de
Jesus se manifeste em nossa carne mortal. De modo que, em nós, opera a morte,
mas, em vós, a vida" (2 Coríntios 4.1, 7-12).
Se
não virmos o propósito eterno de Deus, nunca veremos qual é a obra de Deus. A
obra inteira de Deus deve ser feita na Igreja e através da Igreja. Tal obra tem
como alvo formar e edificar o Corpo de Cristo; esta obra deve ser feita por
todo o Corpo e não apenas por indivíduos ou missões isoladas ou por atuações
independentes da Igreja. Tal obra da Igreja deve vir inteiramente de Deus e ser
para Seu Filho.
Para
sermos co-obreiros com Deus devemos ter revelação, caso contrário não estaremos
trabalhando em Seu propósito eterno e para Seu propósito eterno.
O início de toda a obra para Deus é uma entrega e oferta de nós mesmos que
aconteça como resultado da revelação. A razão pela qual é necessário que se
tenha revelação é porque a luz de Deus mata tudo o que não vem Dele, tudo o que
vem do homem. Quando a revelação chega, descobrimos que não há alternativa nem
outro caminho para seguir. Ou seguimos este caminho ou morremos.
DUAS
FORMAS DE EDIFICAR O CORPO
Como
podemos ser co-obreiros com Deus e edificar o Corpo? Se nossa obra é apenas
salvar pessoas, o obreiro que estiver fazendo isso vai dar a impressão de estar
realizando algo importante. Em certo sentido, vai parecer que é uma obra para
o homem. Mas se nossa obra tem como propósito edificar o Corpo, então o homem
está completamente cortado; porque o Corpo é Cristo. Tudo é para Cristo
e, portanto, nada do homem pode entrar.
Em 1
Coríntios 12 temos o registro dos muitos dons do Espírito, e Paulo enfatiza
tanto as palavras quanto os atos. Mas em 2 Coríntios 4 só temos atos. Existem
duas formas diferentes de edificar a Igreja. Na verdade, qual é o valor desses
dons do espírito na edificação da Igreja? O que é esse valor compara- do ao
valor da vida no Espírito? Paulo, em 2 Coríntios, capítulos 3 a 10, enfatiza o
que é o ministério da nova aliança. Esse ministério não está nos dons, mas na
suprema grandeza do tesouro contido no vaso de barro, isto é, Cristo dentro
dele.
Em 2
Coríntios lemos: "Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que
também a Sua vida se manifeste em nosso corpo. (...) De modo que, em nós, opera
a morte, mas, em vós, a vida" (4.10, 12). Isso é totalmente diferente de
Romanos 6, pois a idéia aqui é da contínua operação da morte. A morte de
Cristo opera e continua operando dia a dia em nós, resultando na vida que flui
para os outros. Assim a Igreja é edificada.
Aqui
também temos duas maneiras pelas quais a Igreja é edificada: (a) em 1 Coríntios
12, pelos dons do Espírito; e (b) em 2 Coríntios 4, pela operação da morte em
nós, para que a vida possa operar nos outros.
Qual
das duas mais tem edificado você? Sua vida interior tem sido edificada mais
pelos dons do Espírito ou por aqueles que você sabe que conhecem a aplicação da
cruz na vida interior e levam sempre neles o morrer de Jesus para que a vida
de Jesus seja manifestada? Isso é carregar a cruz. Que a morte nunca cesse de
operar em você e em mim, para que também a vida nunca cesse de fluir para os
outros.
Vemos
pessoas ricas no uso dos dons: dom de cura, dom de expulsar demônios, dom de
eloqüência ou de falar em línguas. E pensamos no quão ricas, abençoadas e
usadas por Deus são tais pessoas. Mas isso é realmente assim? Estes são os dons
da meninice. Eles são para o estágio de bebê, útil e necessário para aquele
período, mas devemos crescer.
O
que realmente edifica e mais ajuda não são os dons ou eloqüência daqueles que
os possuem, mas a vida daqueles que conhecem profundamente a cruz, que a
conhecem no íntimo e diariamente, e com os quais entramos em contato. Tome, por
exemplo, um grupo de cristãos recém-salvos. Nos primeiros anos o Senhor pode
lhes conceder dons, para que fiquem maravilhados com Seu poder e glória, e para
fortalecer sua fraca fé. Mas uma vez que ela esteja suficientemente forte, Ele
removerá os dons e trará a cruz. Existem graves perigos associados com os dons,
e o maior deles é o orgulho espiritual. Alguém pode se levantar no Espírito
(isto é, o Espírito derramado[2]) e
pronunciar umas poucas frases maravilhosas que ninguém mais pode pronunciar.
Então, ele pensa: "Sou mesmo importante!". Todavia, sua vida interior
pode ser infantil comparada com outro crente que não tem os dons, mas conhece
profundamente a cruz.
Deus
concede soberanamente os dons a alguém aqui e ali para que possam servir como
Seus porta-vozes por algum tempo, pois neste período nada mais será entendido
porque são bebês, e Ele não tem como encontrar-nos em outro nível qualquer. Na
verdade, Ele usará qualquer boca, até mesmo a de um jumento. Mas este c um
ministério limitado, do tipo "jardim-de-infância", e é propenso à
vaidade.
O
que Deus realmente quer e está aguardando e trabalhando para obter somos nós,
os vasos nos quais as palavras dadas por Ele para as expressarmos sejam tomadas
por Seu Espírito e entretecidas no mais íntimo do nosso ser pela cruz, até se
tornarem nossa vida; somente então nosso ministério será de vida, vida
que flui sempre da morte que opera em nós continuamente. Sendo assim, todos os
que confiam nos dons são tolos, porque estes dons não mudam o homem interior.
Uma igreja que procura se edificar por meio dos dons sempre acabará sendo uma
igreja carnal, porque esta não é a forma de Deus para edificar a Igreja, a não
ser no estágio da tenra infância2.
SEU
MÉTODO É VIDA
O
método de Deus é: vida e por meio da vida. Muitas vezes vamos a uma reunião e
certo irmão sem cultura e iletrado ora ou se levanta e diz algumas palavras.
Talvez o que ele fala não seja tão significativo, entretanto você se sente
abençoado no mais íntimo do seu ser. "Um abismo chama outro abismo"
(Sl 42.7). O que aconteceu é que você tocou a vida e, assim, foi edificado,
fortalecido e ajudado. Aquele irmão ministrou vida a você.
Os
cristãos que estão "inteiros" ou "intactos" nunca podem
ministrar vida, pois apenas os que foram quebrados podem ministrá-la. Somente
através do quebrantamento deles é que a vida pode manifestar-se. Esse é o
método perfeito de Deus. Que o Senhor derrube todo aquele que é orgulhoso; que
Ele nos quebre, quebre e nos quebre de novo. Que Ele trate com toda a nossa
vida natural. Que a cruz seja aplicada drástica e profundamente, a fim de que a
vida seja ministrada aos necessitados do Senhor.
5 - O Quebrantamento Libera a Vida
"O amor
jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão;
havendo ciência, passará" (l Coríntios 13.8).
"Cresçamos
em tudo Naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o Corpo, bem ajustado e
consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada
parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor"
(Efésios 4.16).
"Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e
não de nós. (...) Nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno
peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se
vêem, mas nas que se não vêem (...) as que se não vêem são eternas" (2
Coríntios 47, 17,18).
Existem
duas maneiras de servir o Corpo: uma, através do dom, é objetiva; e a outra,
através da cruz, trabalhada, lavrada interiormente pelo Espírito, é subjetiva.
Em algumas igrejas locais1, Deus precisa usar uma dessa maneiras e,
em outras igrejas locais, Ele pode usar a outra. O dom espiritual pode ser
chamado de "empréstimo Divino": o Senhor empresta Seu próprio poder e
dons a você. Isso é algo realmente fora de você, separado de você. Tomemos
Sansão como exemplo: ele podia fazer muitas coisas incomuns, coisas bem
singulares e diferentes de todas as outras; todavia, o homem mesmo não era de
modo algum incomum aos olhos de Deus. Deus simplesmente empresta Seu poder a
pessoas comuns por algum tempo porque Ele tem uma necessidade especial, mas
isso não significa que o indivíduo é uma pessoa de santidade ou de valor
espiritual especial. Na verdade, mais tarde ele pode até dar provas de ser o
contrário disso.
NÃO
FAZER, MAS SER
Hoje
a igreja organizada enfatiza o que a pessoa diz e o que faz, mas presta pouca
atenção àquilo que a pessoa é. Muitos obreiros jovens desejam ardentemente
falar com poder e eloqüência, anseiam falar de forma brilhante a fim de mover
e ajudar as pessoas. Eles falham em reconhecer que este não é o ponto vital. A
questão vital é: quem e o que você é? O que tem valor, a questão de superior
importância não é que você tenha recebido um dom e, por isso, seja capaz de
falar, mas sim que você conhece o Senhor e, por isso, pode falar.
Não
reunimos um grupo de jovens obreiros aqui[3]
visando ensinar doutrinas e até mesmo a Bíblia a eles, ou para ensinar-lhes a
pregar o evangelho ou a buscar dons e mesmo o poder, mas para ajudá-los a ser
melhores homens e mulheres, aprender a cruz. Existem muitos lugares aos quais
eles poderão ir em busca dos dons ou para aprender a pregar, mas não onde possam
aprender a cruz. Se a esperança deles é adquirir mais conhecimento e dons a fim
de ajudar os outros, então aqui[4]
não é o lugar.
Os
dons são necessários? Sim, eles são, até certo ponto. Todavia, não devem
continuar além do ponto em que o Senhor busca interrompê-los para trazer a
operação da cruz, o quebrantamento, o enfraquecimento e o conhecimento do
Senhor - nesse sentido não precisamos de expressões sobrenaturais. Pelo fato de
a boca falar do que está cheio o coração, e porque Cristo foi trabalhado
interiormente pelo Espírito Santo que habita interiormente, é que posso
expressar a vida interior Dele. Podemos dizer hoje exatamente a mesma coisa que
dissemos dez ou quinze anos atrás, mas será algo totalmente diferente.
"Sim, eu conhecia e cria nestas coisas, mas agora elas foram interiormente
trabalhadas no meu próprio ser. Sou eu, isto é, Cristo em mim."
O
QUEBRANTAMENTO PRODUZ O MINISTÉRIO
Isaque
representa aquele que tinha tudo por meio dos dons. Observe que tudo o que ele
recebeu veio do seu pai. Era algo objetivo para ele, algo fora dele. Até mesmo
quando Isaque abençoou os filhos, ele ficou bastante confuso, pois estava quase
cego e confundiu os rapazes.
Não
foi assim com Jacó, pois ele foi quebrado e realmente despedaçado pelo Senhor;
e o Espírito de Deus trabalhou interiormente a própria vida de Deus nele, até
que ele disse: "A Tua salvação espero, ó Senhor!" (Gn 49.18). Quando
abençoou seus filhos, ou melhor, os filhos de José, Jacó sabia exatamente o que
estava fazendo. Ele o fez com inteligência. Ele disse: "Eu sei, meu filho,
eu o sei" (48.19). Jacó tinha luz, Jacó tinha revelação, porque havia sido
quebrado.
Muitos
perguntam: "Por que muitos servos bastante usados por Deus falham ou terminam
sendo colocados de lado, isto é, não são mais usados por Ele?" Quem pode
dizer que Deus já os havia usado? E se Ele usou, foi apenas concedendo os dons.
Deus, em Seu direito soberano, escolheu alguém para lhe conceder um dom
temporário, para ser usado por ele durante algum tempo, porque o homem não era
interiormente digno de qualquer outro ministério.
"Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós" (2 Co 4.7). O Senhor nos conduz através de provas de fogo as quais não poderíamos suportar nem por elas passar, situações em que não seríamos vitoriosos e nas quais seríamos liquidados; todavia, é exatamente aí que descobrimos que aquilo que é precioso em nosso interior funciona.
Por causa
daquilo que é precioso dentro do vaso, por causa da vida de Cristo no interior,
nós seguimos até o fim. Somos vitoriosos onde não poderíamos ser. Levamos no
corpo o morrer de Jesus e, conseqüentemente, a vida de Jesus se torna
manifesta.
Você
só pode ajudar as pessoas na proporção em que você mesmo tenha sofrido. Quanto
maior o preço pago, mais você pode ajudar os outros; quanto menor o preço,
menos você pode ajudar os outros. A medida que você passa por provas de fogo,
testes, aflições, perseguições e conflitos, e à medida que você permite ao
Espírito Santo operar o morrer de Jesus em você, a vida, a vida de Cristo,
fluíra para os outros.
WATCHMAM NEE
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