sexta-feira, 10 de junho de 2022

Revelação do Propósito Eterno de Deus

 

Revelação do

Propósito Eterno de Deus

 

"Disse o Senhor: Ocultarei a Abraão o que estou para fazer?" (Gênesis 18.17).

"Teve José um sonho e o relatou a seus irmãos (...) Teve ainda outro sonho e o referiu a seus irmãos" (Gênesis 375, 9).

"Chamou Jacó a seus filhos e disse: Ajuntai-vos, e eu vos farei saber o que vos há de acontecer nos dias vindouros" (Gênesis 49.1).

"Segundo tudo o que Eu [Deus] te mostrar [a Moisés] para modelo do tabernáculo e para modelo de todos os seus mó­veis, assim mesmo o fareis" (Êxodo 25.9).

"[Deus] e ensina aos mansos o Seu caminho. (...) A intimi­dade do Senhor é para os que O temem, aos quais Ele dará a conhecer a Sua aliança" (Salmos 25.9, 14).

"[Eu, Paulo,] jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus" (Atos 20.27).

"[Eu, Paulo,] em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministé­rio que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus" (Atos 20.24).

"Tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim [Paulo] confiada para vós outros; pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente (...) do qual fui constituído mi­nistro conforme o dom da graça de Deus a mim concedida segundo a força operante do Seu poder" (Efésios 3.2, 3, 7).

 

O propósito eterno de Deus nunca pode ser entendido ou alcançado pela mente. Ele precisa ser revelado. Todo o serviço para Deus começa com consagração ou é baseado na entrega. Mas tal consagração ou entrega só vem por meio da revelação. Na verdade, a obra de Deus (não nossa obra, mas a obra de Deus através de nós) só começa quando há revelação. Exteriormente é a visão celestial; inte­riormente é a revelação.

Deus não quer que façamos uma espécie de trabalho ge­nérico ou uma miscelânea de obras para Ele. Ele deseja que conheçamos todo o Seu plano e trabalhemos com Ele em di­reção a um plano e propósito claros. Pois não somos apenas Seus servos, mas também Seus amigos (Jo 15:15).

Toda entrega e consagração é valiosa, mas, falando franca­mente, só depois da revelação é que a entrega e a consagração podem ser de muito valor, pois somente assim podem ser com­pletas. Nossa entrega antes dessa revelação só tem em vista a salvação. "Ele me comprou com Seu sangue, Seu amor por mim é indescritível. Por isso, devo dar a mim mesmo a Ele. Eu devo dar a mim mesmo e tudo o que tenho por causa do Seu amor e graça salvadora." Mas depois da revelação, isso é totalmente diferente. Quando vemos o eterno propósito de Deus, faz-se necessária uma tremenda entrega de nós mesmos para este propósito, com uma entrega que nunca antes sonhamos; algo mais profundo e absoluto. Paulo disse: "Não fui desobediente à visão celestial" (At 26.19). Ele podia passar por qualquer coisa e suportar tudo por causa da visão celestial.

José foi uma prefiguração perfeita do povo de Deus, reu­nindo em si mesmo todos aqueles que foram antes dele. Mas a crise veio para José quando ele teve seus sonhos. Isso foi sua revelação, na qual viu o propósito de Deus e sua própria parte nele. Isso foi o início da obra de Deus por meio dele. Moisés teve de subir ao cume do monte a fim de receber o padrão para a vida do povo de Deus: os Dez Mandamentos e toda a lei de Deus. Mais tarde, ele precisou obter o modelo do tabernáculo: "Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado no monte" (Hb 8.5).

A parte mais insignificante da obra que fazemos para Deus temos de fazê-la segundo o modelo a nós mostrado no monte, isto é, de acordo com a revelação que Deus nos deu do Seu pro­pósito e plano eternos. Mas a revelação que José, Moisés e outros tiveram foi individual. Mas não é assim hoje. Hoje a revelação é para a Igreja. Não é uma revelação diferente para cada indivíduo, mas a mesma revelação é dada para a Igreja inteira.

 

A OBRA ESPIRITUAL TEM COMO BASE A REVELAÇÃO

Toda obra espiritual para Deus surge da revelação. A parte da revelação do propósito eterno de Deus não pode haver verdadeira obra espiritual. Pode haver obra para Deus espalhada e misturada, e que é abençoada por Ele, mas não pode ser verdadeiramente chamada obra espiritual ou trabalho conjunto com Ele, a menos que surja da revelação quanto ao propósito eterno de Deus. Deve ser revelação e não apenas compreensão mental; entender e ver intelectualmente é de nenhum valor. É preciso ser um "ver" em seu espírito: ver qual é a esfera e limite da operação de Deus.

Somente a revelação pode tratar tanto com a obra como com o obreiro. Essa luz do céu nos esmaga e faz em pedaços a nós e à nossa obra. Se ela for mera doutrina ou ensino, ela nos deixará depois de algum tempo. Ela se vai, se evapora, por assim dizer. Mas se for luz ou revelação, ela é a nossa vida e não poderemos nos livrar dela.

Um dia o Senhor Jesus disse: "Quem comer a Minha carne e beber o Meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia (...) Quem comer a Minha carne e beber o Meu sangue permanece em Mim, e Eu, nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e igualmente Eu vivo pelo Pai, também quem de Mim se alimenta por Mim viverá" (Jo 6.54, 56, 57). Muitos ficaram escandalizados com isso e O deixaram. Mas os discípulos, quando lhes perguntou se eles também O queriam deixar, responderam: "Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna" (v. 68).

Quando vemos a luz, ela se torna nossa vida, e não temos mais alternativa. Não temos outro caminho, pois é nossa pró­pria vida. Se não pudermos seguir aquele caminho, morremos. Mas, graças ao Senhor, não é algo que tenhamos de lembrar ou tentar recordar. Se vimos, vimos e sempre veremos. Nunca nos deixa. Descobrimos que o Corpo responde a tudo[1]: é nossa própria vida. Não podemos viver fora do Corpo.

 

A Quem Foi Revelado?

Cada item espiritual que possuímos chegou a nós através da revelação. Ele chega a nós nesta ordem: (1) luz, (2) revelação, (3) vida, isto é, a vida de Deus, (4) todas as riquezas Dele, tudo o que Ele é.

Se Deus quiser fazer uma coisa nova, algo especial, em Xangai, na China ou em qualquer outro lugar no mundo, Ele revelará isso a você ou esconderá de você? Quantos existem em Xangai nos quais Ele pode confiar caso decida fazer algo ali?

Tenhamos clareza de que é somente aos Seus amigos mais íntimos e queridos que o Senhor revelará Seus segredos e pla­nos. Isso deveria ser algo para todos nós considerarmos sole­nemente.

 

 A Vida Edifica

 

 "A graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. (...) E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do Corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, a medida da estatura da plenitude de Cristo" (Efésios 4-7, 11-43).

"A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso. Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento; a outro, no mesmo Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las. Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente (1 Coríntios 12.7-11).

"O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja. Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação" (1 Coríntios 14:4, 5).

"Não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiên­cia vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica" (2 Coríntios 3.5, 6).

"Tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos (...) Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, porém não angustia­dos; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a Sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal. De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida" (2 Coríntios 4.1, 7-12).

 

Se não virmos o propósito eterno de Deus, nunca veremos qual é a obra de Deus. A obra inteira de Deus deve ser feita na Igreja e através da Igreja. Tal obra tem como alvo formar e edificar o Corpo de Cristo; esta obra deve ser feita por todo o Corpo e não apenas por indivíduos ou missões isoladas ou por atuações independentes da Igreja. Tal obra da Igreja deve vir inteiramente de Deus e ser para Seu Filho.

Para sermos co-obreiros com Deus devemos ter revelação, caso contrário não estaremos trabalhando em Seu propósito eterno e para Seu propósito eterno. O início de toda a obra para Deus é uma entrega e oferta de nós mesmos que aconteça como resultado da revelação. A razão pela qual é necessário que se tenha revelação é porque a luz de Deus mata tudo o que não vem Dele, tudo o que vem do homem. Quando a revelação chega, descobrimos que não há alternativa nem outro caminho para seguir. Ou seguimos este caminho ou morremos.

 

 

DUAS FORMAS DE EDIFICAR O CORPO

Como podemos ser co-obreiros com Deus e edificar o Cor­po? Se nossa obra é apenas salvar pessoas, o obreiro que estiver fazendo isso vai dar a impressão de estar realizando algo im­portante. Em certo sentido, vai parecer que é uma obra para o homem. Mas se nossa obra tem como propósito edificar o Corpo, então o homem está completamente cortado; porque o Corpo é Cristo. Tudo é para Cristo e, portanto, nada do homem pode entrar.

Em 1 Coríntios 12 temos o registro dos muitos dons do Es­pírito, e Paulo enfatiza tanto as palavras quanto os atos. Mas em 2 Coríntios 4 só temos atos. Existem duas formas diferentes de edificar a Igreja. Na verdade, qual é o valor desses dons do espírito na edificação da Igreja? O que é esse valor compara- do ao valor da vida no Espírito? Paulo, em 2 Coríntios, capítulos 3 a 10, enfatiza o que é o ministério da nova aliança. Esse minis­tério não está nos dons, mas na suprema grandeza do tesouro contido no vaso de barro, isto é, Cristo dentro dele.

Em 2 Coríntios lemos: "Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a Sua vida se manifeste em nosso corpo. (...) De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida" (4.10, 12). Isso é totalmente diferente de Roma­nos 6, pois a idéia aqui é da contínua operação da morte. A morte de Cristo opera e continua operando dia a dia em nós, resultando na vida que flui para os outros. Assim a Igreja é edificada.

Aqui também temos duas maneiras pelas quais a Igreja é edificada: (a) em 1 Coríntios 12, pelos dons do Espírito; e (b) em 2 Coríntios 4, pela operação da morte em nós, para que a vida possa operar nos outros.

Qual das duas mais tem edificado você? Sua vida interior tem sido edificada mais pelos dons do Espírito ou por aqueles que você sabe que conhecem a aplicação da cruz na vida in­terior e levam sempre neles o morrer de Jesus para que a vida de Jesus seja manifestada? Isso é carregar a cruz. Que a morte nunca cesse de operar em você e em mim, para que também a vida nunca cesse de fluir para os outros.

Vemos pessoas ricas no uso dos dons: dom de cura, dom de expulsar demônios, dom de eloqüência ou de falar em línguas. E pensamos no quão ricas, abençoadas e usadas por Deus são tais pessoas. Mas isso é realmente assim? Estes são os dons da meninice. Eles são para o estágio de bebê, útil e necessário para aquele período, mas devemos crescer.

O que realmente edifica e mais ajuda não são os dons ou eloqüência daqueles que os possuem, mas a vida daqueles que conhecem profundamente a cruz, que a conhecem no íntimo e diariamente, e com os quais entramos em contato. Tome, por exemplo, um grupo de cristãos recém-salvos. Nos primeiros anos o Senhor pode lhes conceder dons, para que fiquem maravilhados com Seu poder e glória, e para fortalecer sua fraca fé. Mas uma vez que ela esteja suficientemente forte, Ele removerá os dons e trará a cruz. Existem graves perigos associados com os dons, e o maior deles é o orgulho espiritual. Alguém pode se levantar no Espírito (isto é, o Espírito derramado[2]) e pronunciar umas poucas frases maravilhosas que ninguém mais pode pronunciar. Então, ele pensa: "Sou mesmo importante!". Todavia, sua vida interior pode ser in­fantil comparada com outro crente que não tem os dons, mas conhece profundamente a cruz.

Deus concede soberanamente os dons a alguém aqui e ali para que possam servir como Seus porta-vozes por algum tempo, pois neste período nada mais será entendido porque são bebês, e Ele não tem como encontrar-nos em outro nível qualquer. Na verdade, Ele usará qualquer boca, até mesmo a de um jumento. Mas este c um ministério limitado, do tipo "jardim-de-infância", e é propenso à vaidade.

O que Deus realmente quer e está aguardando e traba­lhando para obter somos nós, os vasos nos quais as palavras dadas por Ele para as expressarmos sejam tomadas por Seu Espírito e entretecidas no mais íntimo do nosso ser pela cruz, até se tornarem nossa vida; somente então nosso ministério será de vida, vida que flui sempre da morte que opera em nós continuamente. Sendo assim, todos os que confiam nos dons são tolos, porque estes dons não mudam o homem interior. Uma igreja que procura se edificar por meio dos dons sempre acabará sendo uma igreja carnal, porque esta não é a forma de Deus para edificar a Igreja, a não ser no estágio da tenra infância2.

 

SEU MÉTODO É VIDA

O método de Deus é: vida e por meio da vida. Muitas vezes vamos a uma reunião e certo irmão sem cultura e iletrado ora ou se levanta e diz algumas palavras. Talvez o que ele fala não seja tão significativo, entretanto você se sente abençoado no mais íntimo do seu ser. "Um abismo chama outro abismo" (Sl 42.7). O que aconteceu é que você tocou a vida e, assim, foi edificado, fortalecido e ajudado. Aquele irmão ministrou vida a você.

Os cristãos que estão "inteiros" ou "intactos" nunca podem ministrar vida, pois apenas os que foram quebrados podem ministrá-la. Somente através do quebrantamento deles é que a vida pode manifestar-se. Esse é o método perfeito de Deus. Que o Senhor derrube todo aquele que é orgulhoso; que Ele nos quebre, quebre e nos quebre de novo. Que Ele trate com toda a nossa vida natural. Que a cruz seja aplicada drástica e profundamente, a fim de que a vida seja ministrada aos ne­cessitados do Senhor.

  

5 - O Quebrantamento Libera a Vida

 

 "O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará" (l Coríntios 13.8).

"Cresçamos em tudo Naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o Corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor" (Efésios 4.16).

"Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. (...) Nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem (...) as que se não vêem são eternas" (2 Coríntios 47, 17,18).

 

Existem duas maneiras de servir o Corpo: uma, através do dom, é objetiva; e a outra, através da cruz, trabalhada, lavrada interiormente pelo Espírito, é subjetiva. Em algumas igrejas locais1, Deus precisa usar uma dessa maneiras e, em outras igrejas locais, Ele pode usar a outra. O dom espiritual pode ser chamado de "empréstimo Divino": o Senhor empresta Seu próprio poder e dons a você. Isso é algo realmente fora de você, separado de você. Tomemos Sansão como exemplo: ele podia fazer muitas coisas incomuns, coisas bem singulares e diferentes de todas as outras; todavia, o homem mesmo não era de modo algum incomum aos olhos de Deus. Deus simplesmente empresta Seu poder a pessoas comuns por algum tempo porque Ele tem uma necessidade especial, mas isso não significa que o indivíduo é uma pessoa de santidade ou de valor espiritual especial. Na verdade, mais tarde ele pode até dar provas de ser o contrário disso.

 

NÃO FAZER, MAS SER

Hoje a igreja organizada enfatiza o que a pessoa diz e o que faz, mas presta pouca atenção àquilo que a pessoa é. Muitos obreiros jovens desejam ardentemente falar com poder e elo­qüência, anseiam falar de forma brilhante a fim de mover e ajudar as pessoas. Eles falham em reconhecer que este não é o ponto vital. A questão vital é: quem e o que você é? O que tem valor, a questão de superior importância não é que você tenha recebido um dom e, por isso, seja capaz de falar, mas sim que você conhece o Senhor e, por isso, pode falar.

Não reunimos um grupo de jovens obreiros aqui[3] visando ensinar doutrinas e até mesmo a Bíblia a eles, ou para ensinar-lhes a pregar o evangelho ou a buscar dons e mesmo o poder, mas para ajudá-los a ser melhores homens e mulheres, aprender a cruz. Existem muitos lugares aos quais eles poderão ir em busca dos dons ou para aprender a pregar, mas não onde possam aprender a cruz. Se a esperança deles é adquirir mais conhecimento e dons a fim de ajudar os outros, então aqui[4] não é o lugar.

Os dons são necessários? Sim, eles são, até certo ponto. To­davia, não devem continuar além do ponto em que o Senhor busca interrompê-los para trazer a operação da cruz, o que­brantamento, o enfraquecimento e o conhecimento do Senhor - nesse sentido não precisamos de expressões sobrenaturais. Pelo fato de a boca falar do que está cheio o coração, e porque Cristo foi trabalhado interiormente pelo Espírito Santo que ha­bita interiormente, é que posso expressar a vida interior Dele. Podemos dizer hoje exatamente a mesma coisa que dissemos dez ou quinze anos atrás, mas será algo totalmente diferente. "Sim, eu conhecia e cria nestas coisas, mas agora elas foram interiormente trabalhadas no meu próprio ser. Sou eu, isto é, Cristo em mim."

 

O QUEBRANTAMENTO PRODUZ O MINISTÉRIO

Isaque representa aquele que tinha tudo por meio dos dons. Observe que tudo o que ele recebeu veio do seu pai. Era algo objetivo para ele, algo fora dele. Até mesmo quando Isaque abençoou os filhos, ele ficou bastante confuso, pois estava quase cego e confundiu os rapazes.

Não foi assim com Jacó, pois ele foi quebrado e realmente despedaçado pelo Senhor; e o Espírito de Deus trabalhou interiormente a própria vida de Deus nele, até que ele disse: "A Tua salvação espero, ó Senhor!" (Gn 49.18). Quando abençoou seus filhos, ou melhor, os filhos de José, Jacó sabia exatamente o que estava fazendo. Ele o fez com inteligência. Ele disse: "Eu sei, meu filho, eu o sei" (48.19). Jacó tinha luz, Jacó tinha revelação, porque havia sido quebrado.

Muitos perguntam: "Por que muitos servos bastante usados por Deus falham ou terminam sendo colocados de lado, isto é, não são mais usados por Ele?" Quem pode dizer que Deus já os havia usado? E se Ele usou, foi apenas concedendo os dons. Deus, em Seu direito soberano, escolheu alguém para lhe conceder um dom temporário, para ser usado por ele durante algum tempo, porque o homem não era interiormente digno de qualquer outro ministério.

"Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós" (2 Co 4.7). O Senhor nos conduz através de provas de fogo as quais não poderíamos suportar nem por elas passar, situações em que não seríamos vitoriosos e nas quais seríamos liquidados; todavia, é exatamente aí que descobrimos que aquilo que é precioso em nosso interior funciona. 

Por causa daquilo que é precioso dentro do vaso, por causa da vida de Cristo no interior, nós seguimos até o fim. Somos vitoriosos onde não poderíamos ser. Levamos no corpo o morrer de Jesus e, conseqüentemente, a vida de Jesus se torna manifesta.

Você só pode ajudar as pessoas na proporção em que você mesmo tenha sofrido. Quanto maior o preço pago, mais você pode ajudar os outros; quanto menor o preço, menos você pode ajudar os outros. A medida que você passa por provas de fogo, testes, aflições, perseguições e conflitos, e à medida que você permite ao Espírito Santo operar o morrer de Jesus em você, a vida, a vida de Cristo, fluíra para os outros.


WATCHMAM NEE

 

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