sexta-feira, 10 de junho de 2022

O que é a Obra de Deus?

 

O que é a Obra de Deus?

 

"Prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo,para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Filipenses 3.12-14).

 

"E nós na qualidade de cooperadores com Ele" (2 Coríntios 6A).

 

Deus tem Sua obra. Essa não é a sua nem a minha obra, tampouco é a obra desta missão ou daquele grupo. É a obra do próprio Deus. Gênesis 1 nos diz que Deus trabalhou e, depois, descansou. No início, Deus criou a luz, os seres vivos, o homem e assim por diante. Ninguém, a não ser Ele, poderia realizar essa obra da criação. E hoje Ele tam­bém tem Sua obra, que não é a obra de homem algum e que homem algum pode fazer. A obra de Deus não pode ser feita por ninguém, a não ser pelo próprio Deus. Quanto mais cedo aprendermos isso, melhor, porque as obras, as idéias, os métodos, o zelo, a seriedade, os esforços e as atividades incansáveis do homem não têm qualquer lugar no que Deus está fazendo. O homem não pode ter mais parte na obra de Deus hoje do que poderia ter nos tempos remotos da criação.

Aos filipenses, Paulo diz: "Prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus". O Senhor Jesus tem um propósito especial e específico ao nos alcançar, e é esse propósito específico que desejamos alcançar. Ele tem um propósito, e esse propósito é que ele nos ganhe a fim de sermos cooperadores, co-obreiros com Ele. Entretanto, ainda é verdade que não podemos fazer a obra de Deus, visto que toda ela é absoluta e totalmente Dele.

No entanto, nós somos Seus co-obreiros. De modo que, por um lado, devemos reconhecer que não podemos tocar, nem mesmo com o dedo mínimo, a obra de Deus e, por outro, somos chamados para ser co-obreiros com Ele! E foi com este fim que Ele nos alcançou. O Senhor tem um propósito definido na salvação - e um propósito claro e específico ao nos salvar -, que é nos ter como Seus co-obreiros.

O que, então, é a obra de Deus? Efésios nos mostra isso de forma mais clara que qualquer outro livro no Novo Testamento. O capítulo 1 diz: "Assim como nos escolheu Nele antes da fun­dação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele" (v. 4); no capítulo 2 lemos: "Para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da Sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus" (v. 7). Lemos também no primeiro capítulo: "Desvendando-nos o mistério da Sua vontade, segun­do o Seu beneplácito que propusera em Cristo" (v. 9)

Em todas as reuniões da igreja freqüentemente há aqueles que se levantam e falam de acordo com sua própria mente. Eles não estão falando no Espírito, mas estão "fora do tom". O que dizem é de pouco ou nenhum valor. Mas na criação de Deus, conforme Ele determinou, não existe nada fora do tom.

Tudo é para o Filho, tudo vem de Cristo e para Cristo. Nada está fora Dele, pois Deus incluiu tudo em Cristo. "Nele foram criadas todas as coisas (...) Tudo foi criado por meio Dele e para Ele" (Cl 1.16). Tudo está em perfeita harmonia no plano de Deus. E Deus vai levar tudo em Sua criação a este nível e a este lugar de perfeita harmonia. Nesse sentido, não podemos fazer nada - Deus está fazendo tudo e tudo Ele fará.

 

QUEM É O CO-OBREIRO DE DEUS?

O co-obreiro de Deus é a Igreja. Em dois versículos de Efé­sios citados anteriormente temos um vislumbre das duas eter­nidades[1]: (1) "Nos escolheu Nele antes da fundação do mundo" e (2) "Para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da Sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus". E o nome do vaso por meio do qual isto é feito é "o Corpo de Cristo", que é o recipiente de Cristo.

Quem é, então, um co-obreiro de Deus? Bem, não é al­guém que deseja trabalhar para Deus, alguém que vê uma necessidade e deseja atendê-la; não é nem mesmo alguém que conduz pessoas à salvação; antes, é aquele que faz o que Deus lhe designou em Seu eterno propósito, e ele faz apenas isso. Se enxergarmos realmente aquilo para o que fomos conquistados por Cristo Jesus, todos os nossos labores, todas as nossas obras formais para Ele serão esmagados e feitos em pedaços.

O alvo e objetivo de Deus em tudo é revelar Seu Filho, manifestar Seu Filho, mostrar a suprema riqueza da Sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Este é Seu eterno propósito. Este é o objetivo que você tem na obra que está fazendo agora? Se for menos do que isso, então você não é um co-obreiro, um cooperador com Deus.

Você pode perguntar: "Como saberei se estou trabalhando junto com Deus?". Isso pode ser facilmente respondido. Você está satisfeito com o que está fazendo? Se você não satisfaz o coração de Deus, você mesmo não poderá se sentir satisfeito. Não se trata de comparar sua obra com a de qualquer outro. A questão é se tudo o que você realiza é bom, isto é, bom aos olhos de Deus, aceitável a Ele ou que procede Dele e é alinhado com Seu eterno propósito.

Paulo declara: "Prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus". Não precisamos olhar ao redor e criticar os outros, desejando saber se é possível que todo o resto esteja errado e nós, poucos, estejamos certos. Isso não tem qualquer valor e é prejudicial. Não se incomode com os outros. Asseguremo-nos de nós mesmos estarmos pros­seguindo "para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus".

 

O QUE É A IGREJA?

Quando começamos a procurar aqui na terra por alguma coisa - uma igreja, um testemunho, um movimento, uma dou­trina, uma coisa exterior visível e tangível, descobrimos que ela se torna imediatamente mais outro "cristianismo técnico". E apenas uma coisa terrena, morta e sem utilidade. O Corpo de Cristo, entretanto, é vivo e espiritual. Mas quando está morto, se torna imediatamente apenas uma coisa.

Devemos ser simplesmente um grão de trigo que cai na terra e morre e produz muito fruto. Isso é seguidamente repetido através das eras. É um assunto sempre e para sempre celestial; nunca existe o toque da terra nele. A Igreja não é uma coleção de judeus, gentios, brasileiros, americanos, chineses e outros. Por acaso não está escrito em Colossenses: "O novo homem (...) no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos" (3.11)?

Muitos acham que o que nos permitirá cruzar os portões do céu é ter um pedaço de Cristo em nós. Esse é um conceito hor­rível, porque na entrada do céu está a cruz, e nesta cruz você e eu e todos os outros seres humanos fomos crucificados. Todo judeu, grego, brasileiro, americano, chinês, e qualquer outro, foi pregado naquela cruz e nunca chegará ao céu. Somente o que entra é Cristo; nada de nós jamais entrará. Isso é a Igreja. Qualquer coisa em nós e sobre nós que seja Cristo ou de Cristo é a Igreja; tudo o que em nós teve origem em nós - qualquer coisa que não seja o próprio Cristo em nós - não é a Igreja e nunca entrará no céu; pelo contrário, será destruído.

Aquilo em nós que é a vida sem mistura de Cristo é o que Deus eternamente reconhecerá e é com isso que Ele contará para trabalhar. E somente esse elemento é que poderá trabalhar junto com Deus.

 2 - A Obra de Deus nesta Dispensação


 "A graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo (...) E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do Corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilida­de, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo Na­quele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o Corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor" (Efésios 4-7, 11-16).

 

Vamos considerar agora o seguinte assunto: o que é a obra de Deus nesta dispensação? Encontramos a resposta na passa­gem de Efésios citada acima: a obra de Deus nesta dispensação é formar o Corpo de Cristo. E a obra da Igreja é exatamente a mesma, isto é, formar o Corpo de Cristo: "Todo o Corpo (...) efetua o seu aumento para a edificação de si mesmo em amor". Nenhuma missão, escola bíblica, grupo evangelístico ou coisa semelhante pode jamais tomar o lugar da Igreja ou fazer a obra da Igreja.

 

PARA O APERFEIÇOAMENTO DOS SANTOS

A típica Igreja de hoje está preocupada principalmente com a salvação de almas, mas no Novo Testamento, como em Efésios, não vemos isso. Cristo deu alguns para serem apóstolos, alguns para serem profetas, outros para serem evangelistas e outros para pastores e mestres. Por quê? Para o aperfeiçoamento dos santos. A principal preocupação da Igreja hoje parece ser salvar os homens do inferno, da punição, da dor e da perda. Isso é bom, mas não é o propósito de Deus para a Igreja. Não é Sua obra para a Igreja.

A tarefa que Ele designou para a Igreja é "o aperfeiçoamento dos santos", porque a obra de Deus e a obra da Igreja é a formação e edificação do Corpo. É-nos dito que, tendo em vista a encarnação do Senhor Jesus, Deus formou um Corpo para Ele, Cristo; mesmo assim, o Senhor Deus está também preparando um Corpo para Ele hoje. Os apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres são dados à Igreja para edificarem o Corpo, isto é, eles, como membros do Corpo, são para a edificação do Corpo. Os membros do Corpo são para o Corpo. Os dons para a Igreja, que são membros do Cor­po, são para o Corpo. O Corpo é para edificar o Corpo.

 

NÃO DOUTRINA, MAS VIDA

Pode a obra de Deus estar fora da Igreja em alguma missão, grupo evangelístico ou qualquer outro órgão? Nunca! Porque tem de ser a própria Igreja - o Corpo - que faz a obra do Corpo. Isso decide as considerações sobre obreiros ou missões independentes, grandes ou pequenas, notavelmente organiza­das ou motivadas pela fé. Se estão separadas do Corpo, estão separadas da ordem de Deus[2].

Isso não é um princípio ou doutrina, mas é uma questão de vida. Se você tiver revelação em relação a isso, então, no momento em que fizer a menor coisa individualista e não re­lacionada ao Corpo, você sentirá e saberá que está errado, mesmo sendo uma coisa pequena. Não existe absolutamente qualquer lugar para a independência ou individualismo, pois isto é o ego, isto é você, não é Cristo.

Você entende isso como doutrina? Se você não tem consci­ência do Corpo, então seu entendimento está na esfera mental e não lhe vem por revelação. Se for assim, é algo que você rece­beu de fora, não é algo que veio do interior. Não é espontâneo e não é vida para você. Pelo contrário, é algo em sua mente e não uma revelação; caso contrário, você teria consciência do Corpo. Se é algo que você pode jogar fora, de que pode livrar-se ou pôr de lado, então você não tem revelação sobre o Corpo.

Se você está realmente no Corpo, como uma experiência resultante de revelação, você não tem como se livrar dele. Você não tem outro caminho, não existe outra escolha - só existe um caminho para você.

Se você não seguir este caminho, não existe outro caminho para você, simplesmente porque você viu o Corpo por revela­ção. Se for revelação será algo interior, no seu espírito, e não algo exterior, em sua mente.

Fora da Igreja, que é o Corpo de Cristo, não há possibilidade de trabalhar para Deus. Se você for a um lugar onde existe uma igreja verdadeira, isto é, uma expressão do Corpo de Cristo que é realmente Sua igreja, você não pode trabalhar separado daquela igreja, isto é, não relacionado com ela. Não abrigue a idéia de que os apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres são os únicos obreiros que Deus estabeleceu no Corpo e para o Corpo. Realmente não são os únicos; cada membro do Corpo é designado por Deus para trabalhar para Deus e para o Corpo para a edificação do Corpo. Não é que alguns são obreiros e outros são simplesmente membros do Corpo. Todos são obreiros. O Corpo de Cristo deve edificar a si mesmo. Tudo deve vir do Corpo e tudo deve ser para o Corpo.

Não estamos aqui para estabelecer algo, para estabelecer uma "coisa", para sermos um modelo de culto, para represen­tar um novo movimento. Estamos aqui para representar uma expressão da vida de Cristo em Seu Corpo. Em Xangai[3], o que quer que seja do Senhor, quem quer que seja do Senhor, qualquer coisa e qualquer um que represente uma medida da vida de Cristo, nós os consideramos como pertencendo a nós. Eles são parte de nós, quer percebam ou reconheçam isso, quer não, e nós somos parte deles.

Se não for algo vivo, não é a Igreja. Uma coisa morta não pode ser Seu Corpo.

Geralmente o que mantém unida uma missão ou obra é um conjunto de doutrinas, algumas especiais, ou o próprio fundador, que pode ter sido um homem piedoso. Que o Senhor nos livre disso, pois tudo isso é morto. O Espírito Santo não pode apoiar tal coisa ou ministrar a ela, pois é uma "coisa", e o Espírito Santo só pode usar um organismo vivo: o Corpo, a Igreja. Toda obra deve sair da Igreja e toda obra deve ser para a Igreja, para a sua edificação.

O alvo de tudo o que mencionamos é encontrado em Efé­sios 4-13: "Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à me­dida da estatura da plenitude de Cristo". Isso nunca poderá ser realizado individualmente; só pode ser realizado e alcançado como um Corpo. Portanto, pecamos a Deus para tratar conosco e cortar todo o individualismo, todo pensamento próprio, toda decisão própria e toda a ação e movimento individualistas. Nossa vida inteira deve ser vivida no Corpo. Pecamos ao Se­nhor para nos ensinar como viver no Corpo. A vida do Corpo não é algo que possamos estudar, mas é algo muitíssimo natural e espontâneo, se estamos no Corpo por revelação.


WATCHMAN NEE

 

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