O Ministério Profético
"Quanto
a nós [os apóstolos,] nos consagraremos à oração e ao ministério da
palavra" (Atos 6.4).
"A uns
estabeleceu Deus na Igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar,
profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois,
dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Porventura, são todos
apóstolos? Ou, todos profetas? São todos mestres? (...) Entretanto, procurai,
com zelo, os melhores dons. (...) Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros
para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres"
(1 Coríntios 12.28-31; Efésios 4.11).
"Havia na
igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Niger,
Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo" (Atos
13.1).
"Segui o
amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que
profetizeis. Pois quem fala em outra
língua não fala a
homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala
mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e
consolando. O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que
profetiza edifica a igreja" (1 Coríntios 14.1-4).
Com
relação aos dons, Deus enfatiza mais fortemente os dons de expressão, tais como
profecia e ensino, do que os dons de ação, como curas e milagres. Como o
apóstolo disse pelo Espírito: "Quanto a nós, nos consagraremos à oração e
ao ministério da Palavra".
Existem
dois tipos de dom para a Igreja: os dons de fatos, como milagres, curas,
línguas, etc, e os dons de pessoas para ministrar, como profetas, os pastores e
mestres e os evangelistas. Esses dons - de pessoas - têm relação com o
ministério da Palavra de Deus.
Os
dons de cura e milagres não nos dão mais da vida de Cristo interiormente. Eles
atestam a Palavra de Deus, e isso é tudo; relacionam-se com questões exteriores
e não interiores. O ministério da Palavra de Deus, entretanto, pelo dom de
profetas, mestres e outros, edifica a vida espiritual interior da Igreja.
PROFETAS
E MESTRES
Creio
que o Senhor deseja que examinemos particularmente os ministérios de profeta e
mestre. No Antigo Testamento, vemos dois tipos de profeta: os que predisseram
acontecimentos futuros, como Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, e outros,
como Elias e Eliseu, dos quais a maior parte da obra não foi revelar
acontecimentos futuros, mas explicar os de seu tempo. Eles deviam expressar
qual era o pensamento de Deus em Seus atos naquele tempo, por que estava
fazendo e o que estava fazendo. Eles deviam explicar as ações de Deus, por
assim dizer, e, à luz do que Deus estava fazendo e do que estava em Sua mente,
deviam exortar o povo. João Batista foi o mais proeminente desses profetas no
Novo Testamento. Como outros antes dele, João expressou a mente atual de Deus.
Desse modo, os profetas tinham um lugar distinto; ninguém poderia ser mais
importante do que eles.
Os
mestres, por sua vez, tomam a Palavra de Deus e a colocam diante do povo,
explicando-a. Eles nunca são mencionados sozinhos; geralmente são acompanhados
pelos profetas ou pastores. Deus não designou os homens para serem apenas
mestres. Deus não quer nenhuma doutrina ou ensinamento que tenha apenas valor
acadêmico e não valor espiritual. Sim, Ele tem usado alguns como mestres, mas
este é um ministério limitado, pois visa apenas a dar entendimento e luz na
Palavra e ser capaz de passar isso claramente aos outros, partindo a Palavra em
pedaços ou juntando suas partes num todo.
Tudo
isso é objetivo; é um entendimento que veio do exterior, da Palavra, e não a
luz que veio de um conhecimento real de Deus e de andar com Ele. Esse
entendimento da Bíblia e a transmissão dele conduz a muitas dificuldades
mentais e a um estudo incessante visando a solução delas. Isso, porém, não é
vida.
Mas
haverá um dia quando o Senhor tomará você e lhe mostrará que o verdadeiro
problema não é a Bíblia, mas você mesmo; que tudo o que você pesquisou e achou
foi exterior, mental, sem valor, na esfera do conhecimento e não na esfera da
vida.
Para
que você seja um profeta, três coisas são necessárias e indispensáveis:
1. A preparação como vaso: o Espírito quebrando
você, tratando você, aplicando a cruz, levando-o à morte e operando dentro de
você a vida de Cristo. Em outras palavras, uma história secreta com Deus.
2. Um encargo interior, dado por Deus: um
pensamento que se torna um encargo.
3. Condições para expressar tal encargo,
expressão para aquele pensamento: uma interpretação e expressão nítidas dele.
Existe
o dom de profecia que pode se manifestar por meio de línguas ou declarações
sobrenaturais, sob o Espírito derramado, mas isso é uma forma temporária de
Deus agir quando não há ninguém com profundidade, história e maturidade
espirituais a quem possa usar como vaso inteligente para a edificação da
Igreja.
Ministrar em Vida
"Pelo que,
tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não
desfalecemos; pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se
ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos
recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela
manifestação da verdade. (...) Temos, porém, este tesouro em vasos de barro,
para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos
atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados;
perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando
sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em
nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa
de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal.
De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida. (...) Por isso, não
desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa,
contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia" (2 Coríntios 4.
1,2, 7-12, 16).
A
Segunda Carta aos Coríntios é um livro muito importante, pois nos fala como
deve ser a pessoa que serve a Deus. Por exemplo: os capítulos 8 e 9 nos falam,
entre outras coisas, qual deve ser a atitude do servo do Senhor em relação ao
dinheiro. Também vemos em 2 Coríntios o que significa ministrar em vida.
De
todas as epístolas de Paulo, 1 Coríntios é a mais rasa e superficial, pois
trata principalmente com o certo e o bom - por isso, não é tão profunda.
Entretanto, 2 Coríntios é a mais profunda de todas as epístolas (sem dúvida,
Efésios é a mais elevada, mas 2 Coríntios é a mais profunda). Primeira
Coríntios trata bastante de questões e problemas exteriores, mas no meio de
tudo isso uma porção de realidades espirituais interiores vitais de grande
preciosidade se destacam. Uma delas é que Deus escolheu as coisas fracas deste
mundo, as desprezadas, as ignorantes e tolas, as que nada são e os que são
nada, para envergonhar as sábias, a fim de que nenhuma carne se glorie aos Seus
olhos. Outra coisa importante é que tudo o que temos recebemos de Deus, para
que ninguém fique orgulhoso. Outro assunto de destaque é o comentário de Paulo
sobre os vários dons e o valor deles. Além disso, ele traz o maravilhoso
capítulo sobre o amor. Depois, no meio do capítulo que trata sobre o véu, Paulo
nos dá o tremendo princípio de que a Igreja deve se colocar debaixo da
autoridade conforme o arranjo de Deus: Cristo sob Deus, o homem sob Cristo e a
mulher sob o homem. E, no início da carta, a grande questão da unidade é
tratada, mostrando como toda a nossa unidade depende do tratamento drástico da
carne.
ENSINOS
BASEADOS NA VIDA
Embora
tudo em 1 Coríntios seja simples, fácil de entender e não tão profundo, Deus
planejou que esta não fosse a única carta escrita; Ele fez planos para que 2
Coríntios fosse acrescentada a ela. Na Segunda Carta vemos o tipo de pessoa
que nos deu a Primeira, e é isso que dá a ela o seu valor. Primeira Coríntios é
construída sobre a vida espiritual pessoal daquele que escreveu 2
Coríntios, e isso faz toda a diferença.
O
ensino sobre dinheiro em 1 Coríntios só tem o devido valor por causa da própria
atitude de Paulo em relação ao dinheiro, manifestada em 2 Coríntios. Ele disse
que nunca havia recebido dinheiro deles, mas havia trabalhado com as próprias
mãos a fim de poupá-los, como faria uma mãe.
O
ensinamento sobre a ressurreição em 1 Coríntios tem seu valor por ser uma
experiência viva para ele. Ele conhecia a vida de ressurreição de Cristo nele
mesmo, conforme sua declaração: "Também nós cremos; por isso, também
falamos, sabendo que Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos
ressuscitará com Jesus e nos apresentará convosco" (2 Co 4.13, 14). Em
outro lugar, ele afirmou: "Já em nós mesmos tivemos a sentença de morte,
para que não confiemos em nós e sim no Deus que ressuscita os mortos"
(1.9), e "sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor (...)
preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor" (2 Co 5.6, 8).
Tome
também o ensinamento de Paulo sobre o amor. De todas as igrejas, a que estava
em Corinto foi a mais rude de todas em seu tratamento com Paulo. Os crentes em
Corinto o atacaram, interpretaram-no erradamente, tiveram pouca consideração
para com ele, criticaram-no ferozmente, cometeram todo tipo de injustiça com
ele e o feriram profundamente; todavia, em 2 Coríntios vemos como Paulo recebeu
tudo com mansidão e graça. Ele disse: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É Ele
que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que
estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos
contemplados por Deus" (2 Co 1.3, 4). Ele reagiu com amor, não com
repreensões, com terna compreensão e lágrimas, muitas orações e muito perdão.
Em 1
Coríntios Paulo nos mostra que Deus escolheu as coisas fracas, tolas e
ignorantes, que ele, Paulo, é tão tolo e fraco como eles. Mas em 2 Coríntios
ele diz: "Somos realmente fracos, totalmente fracos, mas existe algo em
que se gloriar: Cristo em nós não é fraco. Ele é forte, Ele é poderoso,
Ele é todo-suficiente". "Minha graça te basta", disse o Senhor a
Paulo, "porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade,
portanto", respondeu Paulo, "mais me gloriarei nas fraquezas para que
sobre mim repouse o poder de Cristo" (12.9).
Paulo
disse em 1 Coríntios que eles deviam estar dispostos a sofrer perdas nas
questões financeiras, e para nunca irem ao tribunal, mas em 2 Coríntios ele se
mostra como alguém que nunca se levanta pelos seus próprios direitos, mas
aceita qualquer perda, pobreza ou prova que chegar a ele.
A
CRUZ: A BASE DO MINISTÉRIO DE VIDA
A
Segunda Carta aos Coríntios é, acima de tudo, um livro de sofrimento. Ali vemos
o servo de Deus, Seu vaso escolhido, passando por terríveis provas de fogo e
sofrendo como, talvez, nenhum outro apóstolo ou servo do Senhor jamais tenha
experimentado. O sofrimento está gravado no livro todo: sofrimento físico,
mental e espiritual; alguns foram passageiros e outros permanentes. Mas ele
mostra o motivo para esses sofrimentos ao dizer: "Levando sempre no corpo
o morrer de Jesus, para que também a Sua vida se manifeste em nosso corpo"
(4.10). Essa é a base de todo o ministério em vida. E preciso haver
sofrimento e dor; é preciso haver a cruz, se a vida de Cristo tiver de
ser manifestada. "De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a
vida."
Sempre
que houver um afastamento da cruz, uma fuga do Calvário, uma recusa do caminho
da dor e do sofrimento, uma indisposição para pagar o preço e sofrer dor e
perda, então haverá pobreza, morte, superficialidade e vazio que nada nos dará
para ministrarmos aos filhos de Deus. "Que a morte nunca cesse de operar
em mim, para que a vida também nunca cesse de fluir para os outros."[1]
Qual
é a explicação para a superficialidade e pobreza tão marcantes no ministério
nestes dias? E porque os ministros mesmos experimentaram muito pouco. Eles
deram um jeito de escapar da cruz sempre que Deus a ofereceu ou designou a
eles. Sempre existe um meio de escape, outro caminho cujo preço não seja tão
alto, um caminho inferior e não o caminho da cruz. Quão raros e poucos são os
realmente ricos espiritualmente. E por quê? Porque seus sofrimentos não foram
abundantes.
Os
arranjos de Deus são perfeitos. Ele sabe que tipo de sofrimento cada um
precisa: se é físico, material, mental ou espiritual. Quando Deus em Sua
sabedoria os faz chegar a nós, porque vê que precisamos deles, regozijemo-nos e
procuremos ver o Senhor neles. Vamos aceitá-los com alegria, reconhecendo que
somos totalmente fracos e incapacitados para eles, mas que Ele é graciosamente
capaz. Ele realmente é, e, na circunstância, nós O encontramos em Sua plenitude
e suficiência. Conhecemos a Deus de forma real porque O encontramos fazendo em
nós e por nós o que não podemos fazer. Assim somos capacitados a ministrá-Lo em
vida aos outros, a edificar o Corpo, a espalhar vida - Sua vida - aonde quer
que formos. Sempre que a morte estiver realmente operando em nós, então, e só
então, é que a vida pode verdadeiramente fluir para os outros.
Ministério Sacerdotal
"Havia na
igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Niger,
Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo
eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e
Saulo para a obra a que os tenho chamado" (Atos 13.1, 2).
"Coré, filho
de Isar, filho de Coate, filho de Leví, tomou consigo a Datã e a Abirão,
filhos de Eliabe, e a Om, filho de Pelete, filhos de Rúben. Levantaram-se
perante Moisés com duzentos e cinqüenta homens dos filhos de Israel, príncipes
da congregação, eleitos por ela, varões de renome, e se ajuntaram contra
Moisés e contra Arão e lhes disseram: Basta! Pois que toda a congregação é
santa, cada um deles é santo, e o SENHOR está no meio deles; por que, pois, vos
exaltais sobre a congregação do SENHOR? (...) Coré fez ajuntar contra eles
todo o povo à porta da tenda da congregação; então, a glória do SENHOR apareceu
a toda a congregação. Disse o SENHOR a Moisés e a Arão: Apartai-vos do meio
desta congregação, e Os consumirei num momento. Mas eles se prostraram
sobre o seu rosto e disseram: Ó Deus, Autor e Conservador de toda a vida,
acaso, por pecar um só homem, indignar-te-ás contra esta congregação? (...)
Eles e todos que lhes pertenciam desceram vivos ao abismo; a terra os cobriu, e
pereceram do meio da congregação" (Números 16.1-3, 19-21, 33).
"A vara do
homem que Eu escolher, essa florescerá; assim, farei cessar de sobre Mim as
murmurações que os filhos de Israel proferem contra vós (...) No dia seguinte,
Moisés entrou na tenda do Testemunho, e eis que a vara de Arão, pela casa de
Leví, brotara, e, tendo inchado os gomos, produzira flores, e dava amêndoas.
(...) Todo aquele que se aproximar do tabernáculo do SENHOR, morrerá; acaso
expiraremos todos?" (Números 17.5, 8, 13).
Todos
os que servem à Igreja servem, em primeiro lugar e antes de tudo, ao Senhor.
Algumas vezes eles são chamados de ministros de Cristo e, outras, de ministros
de Deus. Profetas e mestres são especialmente chamados de pessoas que servem ou
ministram ao Senhor. Servir à Igreja ou ministrar ao povo é diferente de
ministrar ao Senhor, e servir ao povo sem servir ao Senhor é relativamente de
pouco valor para Deus. Freqüentemente existe a necessidade do evangelho, de
obreiros e de coisas assim; mas Deus também tem Sua necessidade. Se houver
necessidade de obra ou de obreiros, e ela for satisfeita sem, todavia, ser um
trabalho com Deus, a satisfação da necessidade de Deus ou um ministério ao
Senhor em resposta à Sua necessidade e chamamento terá falhado.
Se
houver ministério profético sem o ministério sacerdotal ao mesmo tempo, ele
será sem valor e não poderá edificar a Igreja. Se minha mão esquerda quiser
ajudar minha mão direita por estar ela ferida e doendo, minha mão esquerda não
poderá ajudá-la diretamente. Ela terá que fazer isso através da cabeça. Ela só
pode se comunicar com a outra mão por meio da cabeça. A mão esquerda vem em
auxílio da outra mão não por si mesma, mas através da cabeça, isto é, para
satisfazer a necessidade da cabeça. Portanto, qualquer ministério que não seja
realizado por meio da Cabeça (Cristo) e para a Cabeça não tem valor e só nos
leva a ter problemas com os outros membros.
Todo
ministério que perdeu sua ênfase sacerdotal acima de todas as coisas já
fracassou. Se alguém não foi à presença de Deus, em primeiro lugar, ele não
pode sair da presença de Deus com qualquer mensagem ou serviço de valor. Se não
ficamos na presença de Deus como sacerdotes, toda a nossa obra, testemunho,
movimentação e esgotamento serão apenas um ministério ao homem e não ao Senhor.
A
CHAMADA E A QUALIFICAÇÃO DO SACERDOTE
Que
tipo de pessoa pode chegar a presença de Deus como sacerdote? Esse assunto é
igual tanto no Antigo como no Novo Testamento. Devemos ser um reino de
sacerdotes, reis e sacerdotes para Deus. Embora este seja o plano original de
Deus, Israel falhou com respeito a ele. Quando Moisés desceu do Monte com os
Dez Mandamentos, os israelitas já estavam adorando o bezerro de ouro. Então
Deus disse: "Cada um cin-ja a espada sobre o lado, passai e tornai a
passar pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, cada um, a
seu amigo, e cada um, a seu vizinho" (Êx 32.37). Entretanto, apenas os
levitas obedeceram; e daquela ocasião em diante o ministério sacerdotal foi
concedido a eles.
No
caso dos filhos de Coré (Nm 16), o que estava em questionamento era quem era
santo e quem podia servir a Deus.
Eles
reivindicaram que todos eram santos e todos podiam igualmente servir a Deus.
Mas Deus os julgou. A terra se abriu e engoliu todos os homens que pertenciam a
Coré, junto com todos os seus bens, e fogo saiu de diante do Senhor e devorou
os duzentos e cinqüenta homens que haviam oferecido incenso. Disso podemos ver
que existe vida para aqueles que são designados por Deus para servi-Lo, mas
para aqueles que não são chamados e, ainda assim, se apresentam e tentam
servi-Lo por sua própria iniciativa, simplesmente porque assim desejam fazer ou
por ser bom de ser feito, para eles há apenas destruição. Isso não é algo sem
importância, sobre o qual Deus possa passar por cima; não, isso é algo grande:
é uma questão de vida ou morte.
Ainda
é verdade que todos os filhos de Deus são sacerdotes. Aleluia, ainda é verdade!
Todavia, é igualmente verdadeiro que não podemos executar este oficio sem
qualificações especiais. Não podemos exercitar nossa função designada como
sacerdotes de acordo com o que naturalmente somos. Espiritualmente falando,
apenas Moisés, Arão e os levitas podem executar esse ofício. Vemos esse
princípio no caso de Coré, Datã e Abirão. Quando os duzentos e cinqüenta
príncipes da congregação ofereceram fogo falso nos incensários, eles foram
consumidos.
Logo
depois, a vara de Arão e as varas representativas das outras tribos foram
colocadas no tabernáculo. No dia seguinte, apenas a vara de Arão floresceu.
Isso, sem dúvida, significa ressurreição, a vida que sai da morte. Somente os
que passaram pela morte e entraram na vida de ressurreição podem ministrar ao
Senhor. Eles precisam conhecer a morte da cruz.
Não
há possibilidade de você tomar algo da velha criação e colocar no tabernáculo,
no ministério do Senhor: nem sua velha mente, sua inteligência ou seu talento,
sua eloqüência ou qualquer tipo de força da velha criação. Tudo isso tem de ir
direto para a morte e sair na vida de ressurreição. Se sua vara não florescer,
você não pode servir a Deus. Resumindo, você não pode servir a Deus se conhece[2]
apenas o sangue, mas não conhece9 a cruz.
DA
MORTE PARA A VIDA
E
verdade que, em posição, todos nós, cristãos, somos sacerdotes, mas é só
depois que aceitamos a obra subjetiva da cruz e permitimos que nossa vida
natural seja completa e absolutamente tratada que podemos desempenhar o
ministério sacerdotal.
A
ressurreição tem apenas um significado, este: a pessoa passou pela morte e recebeu nova
vida. A ressurreição que vemos em Filipenses 3 é o aspecto positivo. Não se
trata de algo que passa pela morte e sai vivo. Não, ressurreição é vida
entrando na morte e emergindo em nova vida. Tudo o que é bom e ativo em
nós, tudo o que vem do novo nascimento, a vida nascida de novo, pura e nova que
Deus nos deu: tudo isso tem de descer à morte e passar pela morte, e
ser purificado novamente pela morte, purificado três vezes pelos três dias (que
tipificam plenitude, perfeição e inteireza da morte) e sair em vida. Isto é,
de fato, vida de ressurreição: é a vida que, tendo passado pela morte - a morte
que consome tudo o que essa vida reuniu do ego e do mundo , nunca mais pode ser
tocada pela morte. Isso é a vida na qual não existe morte.
Tudo
o que temos naturalmente como dons e tudo o que Deus nos deu como dons do
Espírito deve passar pela morte. Se somos pessoas dotadas para conversar
ou falar, podemos constatar o desaparecimento de tudo isso quando passamos pela
morte. Pois, embora as conversações tenham sido boas, úteis e
"espirituais", elas não vinham inteiramente do Espírito de Deus. Na
verdade, era uma mistura e, por esta causa, será purificada ao passar pela
morte. Nossa força e capacidade natural nunca emergirão da morte. Todo o nosso
poder intelectual precisa passar pela morte, caso contrário nunca poderá servir
a Deus. E essa morte não é a morte de Romanos 6 e Gálatas 2.20; é algo além
disso! Essa morte e ressurreição é a base, e a única base, para o
ministério sacerdotal.
Graças
a Deus, nós recusamos todo serviço que seja apenas ao homem. Não servimos ao
homem, servimos a Deus, pois somos em primeiro lugar ministros de Cristo e,
depois, do homem, da Igreja. Mas a base de tudo isso é morte e ressurreição
que resulta num ministério sacerdotal voltado para Deus, e depois no
ministério ao homem. Que o Senhor nos conceda graça para entrarmos no Santo dos
Santos, porque tudo o que é do ego e do homem, toda a mistura e tudo o que é da
terra foi destruído na morte, enquanto o que é indestrutível e não pode morrer
emergiu na vida de ressurreição.
9 - A Iniqüidade do Nosso Ministério
Leitura: "Quando
chegaram à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus e a segurou, porque
os bois tropeçaram. Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e Deus o
feriu ali junto à arca de Deus (...) Temeu Davi ao SENHOR, naquele dia, e disse:
Como virá a mim a arca do SENHOR?" (2 Samuel 6.6, 7, 9).
"O sacerdote
Azarias (...) com oitenta sacerdotes do Senhor, homens da maior firmeza (...)
resistiram ao rei Uzias e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar
incenso perante o Senhor, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são
consagrados para este mister; sai do santuário, porque transgrediste; nem será
isso para honra tua da parte do Senhor Deus. Então, Uzias se indignou; tinha o
incensário na mão para queimar incenso; indignando-se ele, pois, contra os
sacerdotes, a lepra lhe saiu na testa perante os sacerdotes, na Casa do
Senhor, junto ao altar do incenso. Então, o sumo sacerdote Azarias e todos os
sacerdotes voltaram-se para ele, e eis que estava leproso na testa, e
apressadamente o lançaram fora; até ele mesmo se deu pressa em sair, visto que
o Senhor o ferira. Assim, ficou leproso o rei Uzias até ao dia da sua morte; e
morou, por ser leproso, numa casa separada, porque foi excluído da Casa do
Senhor; e Jotão, seu filho, tinha a seu cargo a casa do rei, julgando o povo da
terra" (2 Crônicas 26.18-21).
"Disse o
Senhor a Arão: Tu, e teus filhos, e a casa de teu pai contigo levareis sobre
vós a iniqüidade relativamente ao santuário; tu e teus filhos contigo levareis
sobre vós a iniqüidade relativamente ao vosso sacerdócio. Também farás chegar
contigo a teus irmãos, a tribo de Leví, a tribo de teu pai, para que se ajuntem
a ti e te sirvam, quando tu e teus filhos contigo estiverdes perante a tenda do
Testemunho. Farão o serviço que lhes é devido para contigo e para com a tenda;
porém não se aproximarão dos utensílios do santuário, nem do altar; para que
não morram, nem eles, nem vós. Ajuntar-se-ão a ti e farão todo o serviço da
tenda da congregação; o estranho, porém, não se chegará a vós outros. Vós,
pois, fareis o serviço do santuário e o do altar, para que não haja outra vez
ira sobre os filhos de Israel (...) Mas tu e teus filhos contigo atendereis ao
vosso sacerdócio em tudo concernente ao altar, e ao que estiver para dentro do
véu, isto é, vosso serviço; Eu vos tenho entregue o vosso sacerdócio por ofício
como dádiva; porém o estranho que se aproximar morrerá. Disse mais o Senhor a
Arão:Eis que Eu te dei o que foi separado das Minhas ofertas, com todas as
coisas santificadas dos filhos de Israel; dei-as por direito perpétuo como
porção a ti e a teus filhos" (Números 18.1-5, 7, 8).
Ministério
sacerdotal no Antigo Testamento sempre significa ministério ao Senhor. Esse
ministério é a base de todos os outros ministérios. Se alguém não tem esse
ministério, todos os outros ministérios são vazios e inúteis, não podem agradar
ao Senhor nem ser aceitos por Ele. No Novo Testamento, vemos que o ministério
profético é o grande ministério. Mas aqui também notamos que esse ministério
tem como base o ministério sacerdotal e, sem ele, o ministério profético se
torna exterior e vazio, voltado apenas para o homem e não para o Senhor.
Devemos observar que existem dois tipos de serviço: o serviço para Deus
e o serviço a Deus. Nunca se esqueça disto: só o serviço a Ele
Lhe é aceitável.
A
INIQÜIDADE DO SANTUÁRIO
Deus
disse a Arão: (1) "Tu, e teus filhos, e a casa de teu pai contigo levareis
sobre vós a iniqüidade relativamente ao santuário"; (2) "[Eles (a
tribo de Levi)] farão o serviço que lhes é devido (...) porém não se
aproximarão dos utensílios do santuário, nem do altar"; (3) "O
estranho, porém, não se chegará a vós."
Deus
nos mostra muito claramente o que Ele pensa do pecado e passa por toda a
lista; todavia, aqueles pecados não são punidos pela morte. Mas "a
iniqüidade do santuário", a iniqüidade do ministério, só é punida com a
morte, sem possibilidade de escape ou perdão. Esse tipo de iniqüidade,
diferentemente de mentir ou matar, da soberba ou da quebra da lei de alguma
forma, não é fácil de ser expiado. Esse pecado, a iniqüidade do ministério, não
deve ser perdoado. Esse tipo de coisa simplesmente não deve ser permitido,
tolerado ou perdoado. Qualquer outro pecado pode ser purificado e perdoado, mas
este não.
O
que são esses pecados do santuário? Precisamos voltar atrás e ver novamente o
que é o ministério. Vimos que todo ministério é resultado de morte e
ressurreição. A vara morta de Arão devia ser colocada diante de Deus e passar
pela morte. A vara não tinha vida em si mesma, era uma coisa morta. Precisamos
reconhecer que nós, como a vara, somos coisas mortas: inúteis, definitivamente
inúteis, sem qualquer coisa para oferecer, sem esperança, sem o menor fragmento
para oferecer a um mundo necessitado, sem um átomo de nada de valor para Deus
ou que Ele possa usar.
Mas
quando Deus tomou essa vara morta e a fez passar pela morte, ela brotou. Ela
simplesmente tem de ser depositada diante do Senhor, para que Ele possa colocar
Sua própria vida nela. No vaso de barro, Ele deposita aquele tesouro de grande
valor: Sua própria vida que passou, ela mesma, pela morte e ressurreição. É a Sua
morte e a Sua ressurreição que Ele nos leva a experimentar, como é
mencionado em Filipenses 3. Por exemplo: tome alguém inteligente que tenta
servir o Senhor com sua inteligência. Um ministério como este não resulta em
vida. Pelo contrário, tudo o que ele toca resulta em morte porque ele mesmo não
passou pela morte de Filipenses 3.
Qual
é, então, a iniqüidade do santuário? E levar para o serviço do Senhor algo
além da vida de ressurreição. Muitos são fervorosos pelo Senhor, mas apenas
de forma natural; eles trazem seu próprio entusiasmo acalorado para o serviço
ao Senhor. Isso é uma iniqüidade do santuário. Muitos servos de Deus trazem sua
vontade forte para o serviço do Senhor. Isso é um pecado do santuário. Outros
centralizam tudo na mente: a mente deles é clara e forte, e eles captam as
coisas rapidamente; têm grande desejo de estar nos círculos espirituais e com
pessoas espirituais e gostam de ouvir mensagens espirituais. Mas eles estão,
por assim dizer, apenas assistindo tudo através de uma janela; aquilo nunca se
tornou vida para eles. Deus nunca tocou verdadeiramente o espírito deles nem lhes
deu revelação. Nunca passaram pela morte tudo o que neles é bom, forte e
natural. Eles, pelo contrário, trazem a mente natural, talentos e tudo quanto é
natural para o serviço de Deus. Isso é abominável para Ele e é o pecado do
santuário.
A
menos que nosso ministério seja aceitável a Deus, ele resulta em morte. Foi
assim com Uzá quando estendeu a mão e tocou na arca de Deus, pois os bois que
puxavam o carro novo sobre o qual ela estava tropeçaram e ela caía. Ele tocou o
que era santo com mãos impuras e encontrou morte imediata. Embora fosse uma
reação perfeitamente natural, não era, todavia, de acordo com a ordem de Deus.
Era um serviço a Deus, mas contrário à norma de Deus, realizado à
maneira do homem e na mente e força do homem. Muitas vezes estendemos a mão da
carne e tentamos fazer aquilo que só Deus pode fazer. Nós falamos antes do
tempo de Deus; não esperamos até que Ele realize as coisas no Seu próprio tempo
e maneira e pelo Seu próprio Espírito. Tentamos fazer isso por Ele, mas o
resultado é apenas morte - Deus pune tal coisa com morte.
O
rei Uzias se atreveu a tomar sobre si aquilo que Deus havia designado apenas
para os sacerdotes realizarem, isto é, queimar incenso a Deus. Deus respondeu
imediatamente à sua atitude com a lepra: morte.
Da
mesma forma, muitos hoje tentam ministrar no templo do Senhor quando, na
verdade, Ele não os designou para isso. Eles querem servir ao Senhor, amam a
obra cristã, encontram grande alegria nela, movimentam-se numa atividade incessante
pelo Senhor, fazem sacrifícios por Ele e comem muitas coisas amargas na obra
por Ele: isso pode estar errado? Deus diz que é a iniqüidade do santuário por
não ter sido designado por Ele. Ele não chamou tais pessoas para realizar isso.
Tal obra é feita na força do homem e não na força de Deus ou, então, essa obra
nunca conheceu a cruz nem passou pela morte. A confiança em qualquer coisa da
velha criação e a introdução delas na obra do Senhor - coisas tais como
eloqüência, inteligência, bondade, capacidade e outras -, constituem a
iniqüidade do ministério. Qualquer dependência da força própria de alguém para
servir ao Senhor é um pecado do santuário.
DE
DEUS PARA DEUS
Só
podemos servir a Deus com aquilo que é de Deus. Nada a não ser aquilo
que procede de Deus pode ser usado no serviço a Ele. Podemos ter reuniões
animadas em que as emoções são despertadas, mas isso pode estar totalmente no
plano natural e provará ser madeira, feno e palha e nunca passará pelo fogo.
Podemos até mesmo olhar para trás e louvar ao Senhor por todas as bênçãos que
Ele nos permitiu ver, as quais foram concedidas aos outros no passado, mas se
tal ministério não teve como base a morte e a ressurreição de Filipenses 3, ele
nunca permanecerá ao passar pelo fogo.
Você precisa estar tão morto quanto a vara colocada diante do Senhor durante uma noite. Durante uma noite e não por dez minutos. Muitos de nós emergimos muito cedo. Deus nos faz deitar, mas nós deveríamos levantar somente pela manhã. Todos devem passar por esse período de morte. Tal período de morte pode durar meses ou ser até mais longo. Qual é o resultado? Nosso ministério se vai, nossa riqueza espiritual é tirada; tudo o que possuíamos e nos levava a regozijar-nos, tudo o que conhecíamos e experimentávamos foi removido; nossa vida de oração cessou e nosso testemunho foi tirado.
De fato, tudo parece ser
trevas e morte. Entretanto, estamos nas mãos de Deus, deitados diante Dele no
santuário. Rejeitamos olhar para dentro de nós mesmos e nos examinar para ver
onde estamos, no sentido de distinguir o que é o ego e o que é Deus, o que é
alma e o que é espírito, pois tudo o que está dentro de nós é e será sempre
trevas. Assim, decidimos simplesmente manter os olhos fitos no Senhor. Sabemos
que a manhã da ressurreição virá, mas retiramos as mãos da obra e deixamos o
Senhor realizar Sua obra perfeita durante toda essa noite de morte para todas
as coisas.
Toda
obra [para Deus] deve ser um serviço a Deus. Se estamos servindo a Deus, se
estamos testemunhando para Ele, então somos verdadeiramente sacerdotes.
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