sexta-feira, 10 de junho de 2022

O Ministério Profético

 

O Ministério Profético

 

 "Quanto a nós [os apóstolos,] nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra" (Atos 6.4).

"A uns estabeleceu Deus na Igreja, primeiramente, após­tolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mes­tres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Porventura, são todos apóstolos? Ou, todos profetas? São todos mestres? (...) Entretanto, procurai, com zelo, os melhores dons. (...) Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres" (1 Coríntios 12.28-31; Efésios 4.11).

"Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Niger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo" (Atos 13.1).

"Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis. Pois quem fala em outra

língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando. O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja" (1 Coríntios 14.1-4).

 

Com relação aos dons, Deus enfatiza mais fortemente os dons de expressão, tais como profecia e ensino, do que os dons de ação, como curas e milagres. Como o apóstolo disse pelo Espírito: "Quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da Palavra".

Existem dois tipos de dom para a Igreja: os dons de fatos, como milagres, curas, línguas, etc, e os dons de pessoas para ministrar, como profetas, os pastores e mestres e os evangelis­tas. Esses dons - de pessoas - têm relação com o ministério da Palavra de Deus.

Os dons de cura e milagres não nos dão mais da vida de Cristo interiormente. Eles atestam a Palavra de Deus, e isso é tudo; relacionam-se com questões exteriores e não interiores. O ministério da Palavra de Deus, entretanto, pelo dom de profetas, mestres e outros, edifica a vida espiritual interior da Igreja.

 

PROFETAS E MESTRES

Creio que o Senhor deseja que examinemos particularmente os ministérios de profeta e mestre. No Antigo Testamento, vemos dois tipos de profeta: os que predisseram acontecimen­tos futuros, como Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, e outros, como Elias e Eliseu, dos quais a maior parte da obra não foi revelar acontecimentos futuros, mas explicar os de seu tempo. Eles deviam expressar qual era o pensamento de Deus em Seus atos naquele tempo, por que estava fazendo e o que estava fazendo. Eles deviam explicar as ações de Deus, por assim dizer, e, à luz do que Deus estava fazendo e do que estava em Sua mente, deviam exortar o povo. João Batista foi o mais proemi­nente desses profetas no Novo Testamento. Como outros antes dele, João expressou a mente atual de Deus. Desse modo, os profetas tinham um lugar distinto; ninguém poderia ser mais importante do que eles.

Os mestres, por sua vez, tomam a Palavra de Deus e a co­locam diante do povo, explicando-a. Eles nunca são mencio­nados sozinhos; geralmente são acompanhados pelos profetas ou pastores. Deus não designou os homens para serem apenas mestres. Deus não quer nenhuma doutrina ou ensinamento que tenha apenas valor acadêmico e não valor espiritual. Sim, Ele tem usado alguns como mestres, mas este é um ministério limitado, pois visa apenas a dar entendimento e luz na Palavra e ser capaz de passar isso claramente aos outros, partindo a Palavra em pedaços ou juntando suas partes num todo.

Tudo isso é objetivo; é um entendimento que veio do exterior, da Palavra, e não a luz que veio de um conhecimento real de Deus e de andar com Ele. Esse entendimento da Bíblia e a trans­missão dele conduz a muitas dificuldades mentais e a um estudo incessante visando a solução delas. Isso, porém, não é vida.

Mas haverá um dia quando o Senhor tomará você e lhe mostrará que o verdadeiro problema não é a Bíblia, mas você mesmo; que tudo o que você pesquisou e achou foi exterior, mental, sem valor, na esfera do conhecimento e não na esfera da vida.

Para que você seja um profeta, três coisas são necessárias e indispensáveis:

1.  A preparação como vaso: o Espírito quebrando você, tratando você, aplicando a cruz, levando-o à morte e operando dentro de você a vida de Cristo. Em outras palavras, uma história secreta com Deus.

2.  Um encargo interior, dado por Deus: um pensamento que se torna um encargo.

3.  Condições para expressar tal encargo, expressão para aquele pensamento: uma interpretação e expressão ní­tidas dele.

Existe o dom de profecia que pode se manifestar por meio de línguas ou declarações sobrenaturais, sob o Espírito derramado, mas isso é uma forma temporária de Deus agir quando não há ninguém com profundidade, história e maturidade espirituais a quem possa usar como vaso inteligente para a edificação da Igreja.


 Ministrar em Vida

 

"Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos; pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. (...) Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal. De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida. (...) Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia" (2 Coríntios 4. 1,2, 7-12, 16).

 

A Segunda Carta aos Coríntios é um livro muito impor­tante, pois nos fala como deve ser a pessoa que serve a Deus. Por exemplo: os capítulos 8 e 9 nos falam, entre outras coisas, qual deve ser a atitude do servo do Senhor em relação ao dinheiro. Também vemos em 2 Coríntios o que significa ministrar em vida.

De todas as epístolas de Paulo, 1 Coríntios é a mais rasa e superficial, pois trata principalmente com o certo e o bom - por isso, não é tão profunda. Entretanto, 2 Coríntios é a mais profun­da de todas as epístolas (sem dúvida, Efésios é a mais elevada, mas 2 Coríntios é a mais profunda). Primeira Coríntios trata bastante de questões e problemas exteriores, mas no meio de tudo isso uma porção de realidades espirituais interiores vitais de grande preciosidade se destacam. Uma delas é que Deus escolheu as coisas fracas deste mundo, as desprezadas, as ignorantes e tolas, as que nada são e os que são nada, para envergonhar as sábias, a fim de que nenhuma carne se glorie aos Seus olhos. Outra coisa importante é que tudo o que temos recebemos de Deus, para que ninguém fique orgulhoso. Outro assunto de destaque é o comentário de Paulo sobre os vários dons e o valor deles. Além disso, ele traz o maravilhoso capítulo sobre o amor. Depois, no meio do capítulo que trata sobre o véu, Paulo nos dá o tremendo princípio de que a Igreja deve se colocar debaixo da autoridade conforme o arranjo de Deus: Cristo sob Deus, o homem sob Cristo e a mulher sob o homem. E, no início da carta, a grande questão da unidade é tratada, mostrando como toda a nossa unidade depende do tratamento drástico da carne.

 

ENSINOS BASEADOS NA VIDA

Embora tudo em 1 Coríntios seja simples, fácil de entender e não tão profundo, Deus planejou que esta não fosse a única carta escrita; Ele fez planos para que 2 Coríntios fosse acres­centada a ela. Na Segunda Carta vemos o tipo de pessoa que nos deu a Primeira, e é isso que dá a ela o seu valor. Primeira Coríntios é construída sobre a vida espiritual pessoal daquele que escreveu 2 Coríntios, e isso faz toda a diferença.

O ensino sobre dinheiro em 1 Coríntios só tem o devido valor por causa da própria atitude de Paulo em relação ao di­nheiro, manifestada em 2 Coríntios. Ele disse que nunca havia recebido dinheiro deles, mas havia trabalhado com as próprias mãos a fim de poupá-los, como faria uma mãe.

O ensinamento sobre a ressurreição em 1 Coríntios tem seu valor por ser uma experiência viva para ele. Ele conhecia a vida de ressurreição de Cristo nele mesmo, conforme sua declaração: "Também nós cremos; por isso, também falamos, sabendo que Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos ressuscitará com Jesus e nos apresentará convosco" (2 Co 4.13, 14). Em outro lugar, ele afirmou: "Já em nós mesmos tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós e sim no Deus que ressuscita os mortos" (1.9), e "sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor (...) preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor" (2 Co 5.6, 8).

Tome também o ensinamento de Paulo sobre o amor. De todas as igrejas, a que estava em Corinto foi a mais rude de todas em seu tratamento com Paulo. Os crentes em Corinto o atacaram, interpretaram-no erradamente, tiveram pouca consi­deração para com ele, criticaram-no ferozmente, cometeram todo tipo de injustiça com ele e o feriram profundamente; todavia, em 2 Coríntios vemos como Paulo recebeu tudo com mansidão e graça. Ele disse: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É Ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consola­ção com que nós mesmos somos contemplados por Deus" (2 Co 1.3, 4). Ele reagiu com amor, não com repreensões, com terna compreensão e lágrimas, muitas orações e muito perdão.

Em 1 Coríntios Paulo nos mostra que Deus escolheu as coisas fracas, tolas e ignorantes, que ele, Paulo, é tão tolo e fraco como eles. Mas em 2 Coríntios ele diz: "Somos realmente fracos, totalmente fracos, mas existe algo em que se gloriar: Cristo em nós não é fraco. Ele é forte, Ele é poderoso, Ele é todo-suficiente". "Minha graça te basta", disse o Senhor a Pau­lo, "porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, portanto", respondeu Paulo, "mais me gloriarei nas fraquezas para que sobre mim repouse o poder de Cristo" (12.9).

Paulo disse em 1 Coríntios que eles deviam estar dispostos a sofrer perdas nas questões financeiras, e para nunca irem ao tribunal, mas em 2 Coríntios ele se mostra como alguém que nunca se levanta pelos seus próprios direitos, mas aceita qualquer perda, pobreza ou prova que chegar a ele.

 

A CRUZ: A BASE DO MINISTÉRIO DE VIDA

A Segunda Carta aos Coríntios é, acima de tudo, um livro de sofrimento. Ali vemos o servo de Deus, Seu vaso escolhido, passando por terríveis provas de fogo e sofrendo como, talvez, nenhum outro apóstolo ou servo do Senhor jamais tenha expe­rimentado. O sofrimento está gravado no livro todo: sofrimento físico, mental e espiritual; alguns foram passageiros e outros permanentes. Mas ele mostra o motivo para esses sofrimentos ao dizer: "Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a Sua vida se manifeste em nosso corpo" (4.10). Essa é a base de todo o ministério em vida. E preciso haver so­frimento e dor; é preciso haver a cruz, se a vida de Cristo tiver de ser manifestada. "De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida."

Sempre que houver um afastamento da cruz, uma fuga do Calvário, uma recusa do caminho da dor e do sofrimento, uma indisposição para pagar o preço e sofrer dor e perda, en­tão haverá pobreza, morte, superficialidade e vazio que nada nos dará para ministrarmos aos filhos de Deus. "Que a morte nunca cesse de operar em mim, para que a vida também nunca cesse de fluir para os outros."[1]

Qual é a explicação para a superficialidade e pobreza tão marcantes no ministério nestes dias? E porque os ministros mesmos experimentaram muito pouco. Eles deram um jeito de escapar da cruz sempre que Deus a ofereceu ou designou a eles. Sempre existe um meio de escape, outro caminho cujo preço não seja tão alto, um caminho inferior e não o caminho da cruz. Quão raros e poucos são os realmente ricos espiritualmente. E por quê? Porque seus sofrimentos não foram abundantes.

Os arranjos de Deus são perfeitos. Ele sabe que tipo de sofrimento cada um precisa: se é físico, material, mental ou espiritual. Quando Deus em Sua sabedoria os faz chegar a nós, porque vê que precisamos deles, regozijemo-nos e pro­curemos ver o Senhor neles. Vamos aceitá-los com alegria, reconhecendo que somos totalmente fracos e incapacitados para eles, mas que Ele é graciosamente capaz. Ele realmente é, e, na circunstância, nós O encontramos em Sua plenitude e suficiência. Conhecemos a Deus de forma real porque O en­contramos fazendo em nós e por nós o que não podemos fazer. Assim somos capacitados a ministrá-Lo em vida aos outros, a edificar o Corpo, a espalhar vida - Sua vida - aonde quer que formos. Sempre que a morte estiver realmente operando em nós, então, e só então, é que a vida pode verdadeiramente fluir para os outros.


Ministério Sacerdotal

 

"Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Niger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado" (Atos 13.1, 2).

"Coré, filho de Isar, filho de Coate, filho de Leví, tomou consi­go a Datã e a Abirão, filhos de Eliabe, e a Om, filho de Pelete, filhos de Rúben. Levantaram-se perante Moisés com duzentos e cinqüenta homens dos filhos de Israel, príncipes da congre­gação, eleitos por ela, varões de renome, e se ajuntaram contra Moisés e contra Arão e lhes disseram: Basta! Pois que toda a congregação é santa, cada um deles é santo, e o SENHOR está no meio deles; por que, pois, vos exaltais sobre a congre­gação do SENHOR? (...) Coré fez ajuntar contra eles todo o povo à porta da tenda da congregação; então, a glória do SENHOR apareceu a toda a congregação. Disse o SENHOR a Moisés e a Arão: Apartai-vos do meio desta congregação, e Os consumirei num momento. Mas eles se prostraram sobre o seu rosto e disseram: Ó Deus, Autor e Conservador de toda a vida, acaso, por pecar um só homem, indignar-te-ás contra esta congregação? (...) Eles e todos que lhes pertenciam desceram vivos ao abismo; a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação" (Números 16.1-3, 19-21, 33).

"A vara do homem que Eu escolher, essa florescerá; assim, farei cessar de sobre Mim as murmurações que os filhos de Israel proferem contra vós (...) No dia seguinte, Moisés entrou na tenda do Testemunho, e eis que a vara de Arão, pela casa de Leví, brotara, e, tendo inchado os gomos, produzira flores, e dava amêndoas. (...) Todo aquele que se aproximar do tabernáculo do SENHOR, morrerá; acaso expiraremos todos?" (Números 17.5, 8, 13).

 

Todos os que servem à Igreja servem, em primeiro lugar e antes de tudo, ao Senhor. Algumas vezes eles são chamados de ministros de Cristo e, outras, de ministros de Deus. Profetas e mestres são especialmente chamados de pessoas que servem ou ministram ao Senhor. Servir à Igreja ou ministrar ao povo é diferente de ministrar ao Senhor, e servir ao povo sem servir ao Senhor é relativamente de pouco valor para Deus. Freqüentemente existe a necessidade do evange­lho, de obreiros e de coisas assim; mas Deus também tem Sua necessidade. Se houver necessidade de obra ou de obreiros, e ela for satisfeita sem, todavia, ser um trabalho com Deus, a satisfação da necessidade de Deus ou um ministério ao Senhor em resposta à Sua necessidade e chamamento terá falhado.

Se houver ministério profético sem o ministério sacerdotal ao mesmo tempo, ele será sem valor e não poderá edificar a Igreja. Se minha mão esquerda quiser ajudar minha mão di­reita por estar ela ferida e doendo, minha mão esquerda não poderá ajudá-la diretamente. Ela terá que fazer isso através da cabeça. Ela só pode se comunicar com a outra mão por meio da cabeça. A mão esquerda vem em auxílio da outra mão não por si mesma, mas através da cabeça, isto é, para satisfazer a necessidade da cabeça. Portanto, qualquer ministério que não seja realizado por meio da Cabeça (Cristo) e para a Cabeça não tem valor e só nos leva a ter problemas com os outros membros.

Todo ministério que perdeu sua ênfase sacerdotal acima de todas as coisas já fracassou. Se alguém não foi à presença de Deus, em primeiro lugar, ele não pode sair da presença de Deus com qualquer mensagem ou serviço de valor. Se não ficamos na presença de Deus como sacerdotes, toda a nossa obra, testemunho, movimentação e esgotamento serão apenas um ministério ao homem e não ao Senhor.

 

A CHAMADA E A QUALIFICAÇÃO DO SACERDOTE

Que tipo de pessoa pode chegar a presença de Deus como sacerdote? Esse assunto é igual tanto no Antigo como no Novo Testamento. Devemos ser um reino de sacerdotes, reis e sacerdotes para Deus. Embora este seja o plano original de Deus, Israel falhou com respeito a ele. Quando Moisés desceu do Monte com os Dez Mandamentos, os israelitas já estavam adorando o bezerro de ouro. Então Deus disse: "Cada um cin-ja a espada sobre o lado, passai e tornai a passar pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, cada um, a seu amigo, e cada um, a seu vizinho" (Êx 32.37). Entretanto, apenas os levitas obedeceram; e daquela ocasião em diante o ministério sacerdotal foi concedido a eles.

No caso dos filhos de Coré (Nm 16), o que estava em ques­tionamento era quem era santo e quem podia servir a Deus.

Eles reivindicaram que todos eram santos e todos podiam igual­mente servir a Deus. Mas Deus os julgou. A terra se abriu e engoliu todos os homens que pertenciam a Coré, junto com todos os seus bens, e fogo saiu de diante do Senhor e devo­rou os duzentos e cinqüenta homens que haviam oferecido incenso. Disso podemos ver que existe vida para aqueles que são designados por Deus para servi-Lo, mas para aqueles que não são chamados e, ainda assim, se apresentam e tentam servi-Lo por sua própria iniciativa, simplesmente porque assim desejam fazer ou por ser bom de ser feito, para eles há apenas destruição. Isso não é algo sem importância, sobre o qual Deus possa passar por cima; não, isso é algo grande: é uma questão de vida ou morte.

Ainda é verdade que todos os filhos de Deus são sacerdotes. Aleluia, ainda é verdade! Todavia, é igualmente verdadeiro que não podemos executar este oficio sem qualificações especiais. Não podemos exercitar nossa função designada como sacerdo­tes de acordo com o que naturalmente somos. Espiritualmente falando, apenas Moisés, Arão e os levitas podem executar esse ofício. Vemos esse princípio no caso de Coré, Datã e Abirão. Quando os duzentos e cinqüenta príncipes da congregação ofe­receram fogo falso nos incensários, eles foram consumidos.

Logo depois, a vara de Arão e as varas representativas das outras tribos foram colocadas no tabernáculo. No dia seguinte, apenas a vara de Arão floresceu. Isso, sem dúvida, significa ressurreição, a vida que sai da morte. Somente os que passaram pela morte e entraram na vida de ressurreição podem ministrar ao Senhor. Eles precisam conhecer a morte da cruz.

Não há possibilidade de você tomar algo da velha criação e colocar no tabernáculo, no ministério do Senhor: nem sua velha mente, sua inteligência ou seu talento, sua eloqüência ou qualquer tipo de força da velha criação. Tudo isso tem de ir direto para a morte e sair na vida de ressurreição. Se sua vara não florescer, você não pode servir a Deus. Resumindo, você não pode servir a Deus se conhece[2] apenas o sangue, mas não conhece9 a cruz.

 

DA MORTE PARA A VIDA

E verdade que, em posição, todos nós, cristãos, somos sa­cerdotes, mas é só depois que aceitamos a obra subjetiva da cruz e permitimos que nossa vida natural seja completa e ab­solutamente tratada que podemos desempenhar o ministério sacerdotal.

A ressurreição tem apenas um significado, este: a pessoa  pas­sou pela morte e recebeu nova vida. A ressurreição que vemos em Filipenses 3 é o aspecto positivo. Não se trata de algo que passa pela morte e sai vivo. Não, ressurreição é vida entrando na morte e emergindo em nova vida. Tudo o que é bom e ativo em nós, tudo o que vem do novo nascimento, a vida nascida de novo, pura e nova que Deus nos deu: tudo isso tem de descer à morte e passar pela morte, e ser purificado novamente pela morte, purificado três vezes pelos três dias (que tipificam ple­nitude, perfeição e inteireza da morte) e sair em vida. Isto é, de fato, vida de ressurreição: é a vida que, tendo passado pela morte - a morte que consome tudo o que essa vida reuniu do ego e do mundo , nunca mais pode ser tocada pela morte. Isso é a vida na qual não existe morte.

Tudo o que temos naturalmente como dons e tudo o que Deus nos deu como dons do Espírito deve passar pela morte. Se somos pessoas dotadas para conversar ou falar, podemos constatar o desaparecimento de tudo isso quando passamos pela morte. Pois, embora as conversações tenham sido boas, úteis e "espirituais", elas não vinham inteiramente do Espírito de Deus. Na verdade, era uma mistura e, por esta causa, será purificada ao passar pela morte. Nossa força e capacidade natu­ral nunca emergirão da morte. Todo o nosso poder intelectual precisa passar pela morte, caso contrário nunca poderá servir a Deus. E essa morte não é a morte de Romanos 6 e Gálatas 2.20; é algo além disso! Essa morte e ressurreição é a base, e a única base, para o ministério sacerdotal.

Graças a Deus, nós recusamos todo serviço que seja apenas ao homem. Não servimos ao homem, servimos a Deus, pois somos em primeiro lugar ministros de Cristo e, depois, do ho­mem, da Igreja. Mas a base de tudo isso é morte e ressurreição que resulta num ministério sacerdotal voltado para Deus, e depois no ministério ao homem. Que o Senhor nos conceda graça para entrarmos no Santo dos Santos, porque tudo o que é do ego e do homem, toda a mistura e tudo o que é da terra foi destruído na morte, enquanto o que é indestrutível e não pode morrer emergiu na vida de ressurreição.

 

 

9 - A Iniqüidade do Nosso Ministério

 

Leitura: "Quando chegaram à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus e a segurou, porque os bois tropeçaram. Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali junto à arca de Deus (...) Temeu Davi ao SENHOR, naquele dia, e disse: Como virá a mim a arca do SENHOR?" (2 Samuel 6.6, 7, 9).

"O sacerdote Azarias (...) com oitenta sacerdotes do Se­nhor, homens da maior firmeza (...) resistiram ao rei Uzias e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar incenso perante o Senhor, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são consagrados para este mister; sai do santuário, porque transgrediste; nem será isso para honra tua da parte do Se­nhor Deus. Então, Uzias se indignou; tinha o incensário na mão para queimar incenso; indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu na testa perante os sacerdo­tes, na Casa do Senhor, junto ao altar do incenso. Então, o sumo sacerdote Azarias e todos os sacerdotes voltaram-se para ele, e eis que estava leproso na testa, e apressadamente o lançaram fora; até ele mesmo se deu pressa em sair, visto que o Senhor o ferira. Assim, ficou leproso o rei Uzias até ao dia da sua morte; e morou, por ser leproso, numa casa separada, porque foi excluído da Casa do Senhor; e Jotão, seu filho, tinha a seu cargo a casa do rei, julgando o povo da terra" (2 Crônicas 26.18-21).

"Disse o Senhor a Arão: Tu, e teus filhos, e a casa de teu pai contigo levareis sobre vós a iniqüidade relativamente ao santuário; tu e teus filhos contigo levareis sobre vós a ini­qüidade relativamente ao vosso sacerdócio. Também farás chegar contigo a teus irmãos, a tribo de Leví, a tribo de teu pai, para que se ajuntem a ti e te sirvam, quando tu e teus filhos contigo estiverdes perante a tenda do Testemunho. Farão o serviço que lhes é devido para contigo e para com a tenda; porém não se aproximarão dos utensílios do san­tuário, nem do altar; para que não morram, nem eles, nem vós. Ajuntar-se-ão a ti e farão todo o serviço da tenda da congregação; o estranho, porém, não se chegará a vós outros. Vós, pois, fareis o serviço do santuário e o do altar, para que não haja outra vez ira sobre os filhos de Israel (...) Mas tu e teus filhos contigo atendereis ao vosso sacerdócio em tudo concernente ao altar, e ao que estiver para dentro do véu, isto é, vosso serviço; Eu vos tenho entregue o vosso sacerdócio por ofício como dádiva; porém o estranho que se aproximar morrerá. Disse mais o Senhor a Arão:Eis que Eu te dei o que foi separado das Minhas ofertas, com todas as coisas santificadas dos filhos de Israel; dei-as por direito perpétuo como porção a ti e a teus filhos" (Números 18.1-5, 7, 8).

 

Ministério sacerdotal no Antigo Testamento sempre significa ministério ao Senhor. Esse ministério é a base de todos os outros ministérios. Se alguém não tem esse ministério, todos os outros ministérios são vazios e inúteis, não podem agradar ao Senhor nem ser aceitos por Ele. No Novo Testamento, vemos que o ministério profético é o grande ministério. Mas aqui também notamos que esse ministério tem como base o ministério sacerdotal e, sem ele, o ministério profético se torna exterior e vazio, voltado apenas para o homem e não para o Senhor. Devemos observar que existem dois tipos de serviço: o serviço para Deus e o servi­ço a Deus. Nunca se esqueça disto: só o serviço a Ele Lhe é aceitável.

 

 

A INIQÜIDADE DO SANTUÁRIO

Deus disse a Arão: (1) "Tu, e teus filhos, e a casa de teu pai contigo levareis sobre vós a iniqüidade relativamente ao santuário"; (2) "[Eles (a tribo de Levi)] farão o serviço que lhes é devido (...) porém não se aproximarão dos utensílios do santuário, nem do altar"; (3) "O estranho, porém, não se chegará a vós."

Deus nos mostra muito claramente o que Ele pensa do pe­cado e passa por toda a lista; todavia, aqueles pecados não são punidos pela morte. Mas "a iniqüidade do santuário", a iniqüi­dade do ministério, só é punida com a morte, sem possibilidade de escape ou perdão. Esse tipo de iniqüidade, diferentemente de mentir ou matar, da soberba ou da quebra da lei de alguma forma, não é fácil de ser expiado. Esse pecado, a iniqüidade do ministério, não deve ser perdoado. Esse tipo de coisa simples­mente não deve ser permitido, tolerado ou perdoado. Qualquer outro pecado pode ser purificado e perdoado, mas este não.

O que são esses pecados do santuário? Precisamos voltar atrás e ver novamente o que é o ministério. Vimos que todo ministério é resultado de morte e ressurreição. A vara morta de Arão devia ser colocada diante de Deus e passar pela mor­te. A vara não tinha vida em si mesma, era uma coisa morta. Precisamos reconhecer que nós, como a vara, somos coisas mortas: inúteis, definitivamente inúteis, sem qualquer coisa para oferecer, sem esperança, sem o menor fragmento para oferecer a um mundo necessitado, sem um átomo de nada de valor para Deus ou que Ele possa usar.

Mas quando Deus tomou essa vara morta e a fez passar pela morte, ela brotou. Ela simplesmente tem de ser depositada diante do Senhor, para que Ele possa colocar Sua própria vida nela. No vaso de barro, Ele deposita aquele tesouro de grande valor: Sua própria vida que passou, ela mesma, pela morte e ressurreição. É a Sua morte e a Sua ressurreição que Ele nos leva a experimentar, como é mencionado em Filipenses 3. Por exemplo: tome alguém inteligente que tenta servir o Senhor com sua inteligência. Um ministério como este não resulta em vida. Pelo contrário, tudo o que ele toca resulta em morte porque ele mesmo não passou pela morte de Filipenses 3.

Qual é, então, a iniqüidade do santuário? E levar para o serviço do Senhor algo além da vida de ressurreição. Muitos são fervorosos pelo Senhor, mas apenas de forma natural; eles trazem seu próprio entusiasmo acalorado para o serviço ao Senhor. Isso é uma iniqüidade do santuário. Muitos servos de Deus trazem sua vontade forte para o serviço do Senhor. Isso é um pecado do santuário. Outros centralizam tudo na mente: a mente deles é clara e forte, e eles captam as coisas rapidamen­te; têm grande desejo de estar nos círculos espirituais e com pessoas espirituais e gostam de ouvir mensagens espirituais. Mas eles estão, por assim dizer, apenas assistindo tudo através de uma janela; aquilo nunca se tornou vida para eles. Deus nunca tocou verdadeiramente o espírito deles nem lhes deu revelação. Nunca passaram pela morte tudo o que neles é bom, forte e natural. Eles, pelo contrário, trazem a mente natural, talentos e tudo quanto é natural para o serviço de Deus. Isso é abominável para Ele e é o pecado do santuário.

A menos que nosso ministério seja aceitável a Deus, ele resulta em morte. Foi assim com Uzá quando estendeu a mão e tocou na arca de Deus, pois os bois que puxavam o carro novo sobre o qual ela estava tropeçaram e ela caía. Ele tocou o que era santo com mãos impuras e encontrou morte imediata. Em­bora fosse uma reação perfeitamente natural, não era, todavia, de acordo com a ordem de Deus. Era um serviço a Deus, mas contrário à norma de Deus, realizado à maneira do homem e na mente e força do homem. Muitas vezes estendemos a mão da carne e tentamos fazer aquilo que só Deus pode fazer. Nós falamos antes do tempo de Deus; não esperamos até que Ele realize as coisas no Seu próprio tempo e maneira e pelo Seu próprio Espírito. Tentamos fazer isso por Ele, mas o resultado é apenas morte - Deus pune tal coisa com morte.

O rei Uzias se atreveu a tomar sobre si aquilo que Deus havia designado apenas para os sacerdotes realizarem, isto é, queimar incenso a Deus. Deus respondeu imediatamente à sua atitude com a lepra: morte.

Da mesma forma, muitos hoje tentam ministrar no templo do Senhor quando, na verdade, Ele não os designou para isso. Eles querem servir ao Senhor, amam a obra cristã, encontram grande alegria nela, movimentam-se numa atividade incessante pelo Senhor, fazem sacrifícios por Ele e comem muitas coisas amargas na obra por Ele: isso pode estar errado? Deus diz que é a iniqüidade do santuário por não ter sido designado por Ele. Ele não chamou tais pessoas para realizar isso. Tal obra é feita na força do homem e não na força de Deus ou, então, essa obra nunca conheceu a cruz nem passou pela morte. A confiança em qualquer coisa da velha criação e a introdução delas na obra do Senhor - coisas tais como eloqüência, inteligência, bondade, capacidade e outras -, constituem a iniqüidade do ministério. Qualquer dependência da força própria de alguém para servir ao Senhor é um pecado do santuário.

 

DE DEUS PARA DEUS

Só podemos servir a Deus com aquilo que é de Deus. Nada a não ser aquilo que procede de Deus pode ser usado no serviço a Ele. Podemos ter reuniões anima­das em que as emoções são despertadas, mas isso pode estar totalmente no plano natural e provará ser madeira, feno e palha e nunca passará pelo fogo. Podemos até mesmo olhar para trás e louvar ao Senhor por todas as bênçãos que Ele nos permitiu ver, as quais foram concedidas aos outros no passado, mas se tal ministério não teve como base a morte e a ressurreição de Filipenses 3, ele nunca permanecerá ao passar pelo fogo.

Você precisa estar tão morto quanto a vara colocada diante do Senhor durante uma noite. Durante uma noite e não por dez minutos. Muitos de nós emergimos muito cedo. Deus nos faz deitar, mas nós deveríamos levantar somente pela manhã. Todos devem passar por esse período de morte. Tal período de morte pode durar meses ou ser até mais longo. Qual é o resultado? Nosso ministério se vai, nossa riqueza espiritual é tirada; tudo o que possuíamos e nos levava a regozijar-nos, tudo o que conhecíamos e experimentávamos foi removido; nossa vida de oração cessou e nosso testemunho foi tirado. 

De fato, tudo parece ser trevas e morte. Entretanto, estamos nas mãos de Deus, deitados diante Dele no santuário. Rejei­tamos olhar para dentro de nós mesmos e nos examinar para ver onde estamos, no sentido de distinguir o que é o ego e o que é Deus, o que é alma e o que é espírito, pois tudo o que está dentro de nós é e será sempre trevas. Assim, decidimos simplesmente manter os olhos fitos no Senhor. Sabemos que a manhã da ressurreição virá, mas retiramos as mãos da obra e deixamos o Senhor realizar Sua obra perfeita durante toda essa noite de morte para todas as coisas.

Toda obra [para Deus] deve ser um serviço a Deus. Se es­tamos servindo a Deus, se estamos testemunhando para Ele, então somos verdadeiramente sacerdotes.



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