A ORAÇÃO PRIMITIVA
"Todos estes perseveravam unanimemente em oração,
com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus"
Atos 1:14
Neste texto temos um relato das últimas
palavras de Cristo aos seus discípulos. Reuniram-se a Seu pedido e Ele
encontrou-os e "e falou-lhes das coisas concernentes ao reino de Deus e
estando com eles, ordenou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que
esperassem a promessa do Pai, a qual (disse ele) de Mim ouvistes. Porque, na
verdade, João baptizou em água, mas vós sereis baptizados no Espírito Santo,
dentro de poucos dias". E logo de seguida foi retirado deles. Voltaram
para Jerusalém, entregando-se à oração e súplica e "perseveravam
unanimemente em oração". Estas são resumidamente as instâncias sobre esta
solene reunião de oração. Proponho, pois,
1. Ver qual a razão de ser desta reunião de oração
2. As suas muitas características
3. Os seus muitos resultados
I. O objectivo principal desta reunião de oração seria tão
só a derramamento do Espírito Santo sobre todos eles. Havia sido prometido
desde Abraão, passando pelos tempos dos profetas de Deus, que dentro do
contexto do advento salvador de Cristo o Espírito Santo fosse derramado sobre
toda a carne. Cristo relembrou aos seus muitos discípulos desta grande
promessa, instigando-os a permanecerem em Jerusalém até que a Promessa do Pai
se cumprisse. Já os havia comissionado a que fossem pelo mundo inteiro pregar o
evangelho a toda a criatura. Mas foi assim que lhes deu a entender que não se
atrevessem a sair sem Seu Espírito e que não saíssem de Jerusalém sem que
houvessem sido selados pelo poder do Espírito Santo. Para que melhor
entendessem os mistérios deste baptismo de fogo, Ele referiu-se ainda ao
baptismo de João Baptista, dizendo-lhes que "João baptizou em água, mas
vós sereis baptizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias".
Esta assembleia instituída para a oração, prolongou-se por
dez longos dias. Desde a Páscoa, Cristo encontra-se com Seus discípulos durante
quarenta dias seguidos. Depois subiu aos céus. A festa de Pentecostes, como nos
sugere o nome, dava-se cinquenta dias depois da Páscoa. O intervalo desde a
ascensão a Pentecostes, dez dias, foi quanto durou esta fabulosa reunião de
oração. Lemos que até aquele dia de Pentecostes, eles "perseveravam
unanimemente em oração".
II. Sobe as características principais desta reunião de
oração, a primeira que se realça, é que as irmãs e os irmãos estariam
conjuntamente presentes. Este é um facto proeminente e merece realce e destaque
prontamente. O historiador sagrado que escreveu para nós este relato daquilo
que lá se passou, parece querer revelar-nos isso mesmo. "Naqueles dias
levantou-se Pedro no meio dos irmãos, sendo o número de pessoas ali reunidas
cerca de cento e vinte". "Todos estes (juntamente com os onze)
perseveravam unanimemente em oração, com as mulheres e Maria mãe de Jesus e com
os irmãos dele". Ninguém faltava ali. Que supõe você passaria na cabeça de
Cristo se apenas dois ou três comparecessem para orar e os outros estivessem ocupados
com aquilo que achariam ser de legitima responsabilidade sua? Se fossem
indiferentes às necessidades do Reino de Deus por estarem interessados demais
em seus próprios afazeres por o tempo ser curto e escasso? Mas, este não foi o
caso, seguramente. Deus foi honrado nesta reunião.
Todos eles eram unânimes em glorificá-Lo. Todos estariam
unânimes num só objectivo. Isto é inteiramente manifesto pelo facto de que
todos, unanimemente, compareceram num mesmo local; e não em locais diferentes;
e ali permaneceram fielmente até que uma resposta a uma promessa houvesse sido
dada. Não apenas compareceram na reunião, como também lá ficaram, perseverando
sempre unanimemente, durante estas longas sessões. Isto revela a seriedade
daquilo que estaria em seus corações. Eles esperavam de dentro de si mesmos uma
resposta a qualquer momento. Sabiam muito bem Quem havia prometido e eles
creram n'Ele. É de esperar que a sua fé se transformasse numa grande
expectativa muito bem definida, muito viva, muito coerente em plenitude de
regalias de expectativa.
Acima de tudo transparece a sua união, unanimidade em
tudo. Vezes sem conta nos é transmitido que estavam em uníssono entre eles
mesmos, unidos e munidos dum mesmo desejo ardente e conclusivo, mas que podia e
tinha porque ser atendido por Deus. As motivações desta oração de todos era
pura e unânime em todos, transparecendo desde logo aquela união e unanimidade
de coração e alma entre todos. Mas a unanimidade sem pureza de motivação nada
é, de facto. Estavam também unidos na confiança que ali os detinha. Não vemos
nenhum atalho para a incredulidade, entre eles; toda a sua comunhão era
profunda e sadia. Todos perseveravam unânimes e sem qualquer hesitação. Eram
instantâneos na perseverança, na oração, nos motivos, na confiança que tinham e
por isso o seu objectivo foi alcançado também unanimemente. Não teriam como
pensar sequer em abandonar seus postos de vigília sem que aquela promessa
houvesse sido derramada sobre todos eles. Seus corações diziam "não Te
deixaremos sem que nos hajas dado Tua bênção!" Que poderiam eles fazer sem
o Espírito Santo de Deus?
E para além do mais, Cristo expressamente lhes houvera
incumbido isso, de permanecerem ali até que houvesse chovido sobre eles aquilo
que fora prometido desde longa data.
Já mencionei que os irmãos e as irmãs estavam lá todos.
Isto seria contrariado por muitas doutrinas e práticas dos judeus de então, tal
como hoje ainda é em muitos círculos. Muitos não admitem que as mulheres se
sentem perto dos homens, durante as orações. É-lhes permitido sentarem-se nas
muitas galerias das igrejas luxuosas, onde as põem como meras espectadoras de
tudo o que se passa, como que com poder de as excluir do Reino de Sua graça sem
fim. Nos actos públicos de devoção até serão aceites, mas nas grandes reuniões
de grande importância, não. Porém, sob o Evangelho de Cristo não é assim. Aqui
ninguém tem consciência de ser mulher ou homem, pois tudo o que se passa
pessoalmente em seus corações unânimes é um anseio comum ma mesma proporção, na
mesma liberdade e libertação de preconceitos e pecados de luxúria. Escravos e
livres, mulheres e homens, amigos e inimigos, tornam-se unânimes sob a tutela
de Cristo, quando esta é real. Todas as práticas e preconceitos hebraicos
desvaneceram sob Cristo. É isto que acontece nos corações de quem de tudo foi
liberto. Até Cristo, nada de igual se havia passado assim entre eles, onde
estivessem totalmente livres de preconceitos e de tentações da carne. A
particularidade deste facto é de realce e legítimo, revelando que uma nova era
chegara, tanto na prática das coisas, como dentro dos corações dos homens.
Observem como não havia ninguém entregue a ser sectário,
ninguém se separava de ninguém, ninguém se juntava a alguém &endash; e isto
de comum acordo, sem que houvesse sido estipulado que assim fosse, sequer!
Todos estavam de comum acordo como que por natureza, como se fossem um só
coração, uma só alma movendo-se numa mesma direcção. Já imaginou se a igreja
hoje tivesse razões de união, de coração e nunca por se aceitarem em pecado e
criminalidade comum? A divisão entre membros de igreja era então, naquela
época, coisa desconhecida. Nada se sobrepunha ao único desejo de seus mútuos
corações, pois pulsavam num mesmo sentido. Deixaram der ser homem, de ser
mulher ou criança para se entenderem? Apenas deixaram o pecado, cada um o seu!
Não havia sequelas e dissensão, questões para discutir &endash; tudo era
comum mesmo na diferença que sabemos que existia de facto. Diótrefes ainda não
havia entrado na igreja para causar e ensinar a causar divisões. Podem-me
censurar por haver já dito que a ambição para liderar sem ser por Deus com Seu
aval e bênção, ganha terreno nos divisionismos e faz com que os sectários se
multipliquem. Embora não seja este o assunto que nos traz aqui, quem não sabe
quão verdade são estas coisas! Antes fossem mentira! Antes estivesse eu errado
acerca disto!
Mais ainda &endash; não havia nem sombra dum porfiar,
nem ligeiro nem pesado, contra ou a favor da verdade, ou contra medidas de
justificação de quem está errado. Não havia ninguém para corrigir, todos sendo
unânimes em tudo. Nem a suspeita tinha terreno nem semente para ser cultivada a
dissenção e a má-língua. Não se ouvia ninguém a reclamar ou clamar que havia
saído pouco edificado com a oração de alguém, ou mesmo muito edificado através
da mesma. Nada importava senão que Deus ouvisse; tudo era comum porque todos
eram limpos em todos os aspectos. Todos de um só acordo, de uma só voz, juntos
num mesmo lugar por uma mesma causa com a mesma intensidade de desejo da
promessa do Pai, numa mesma esperança em recebê-la. Uma reunião onde todos se
derreteram uns com os outros por tudo aquilo que tinham em comum, por dentro e
por fora. "Quão bom é que os irmãos vivam em união!" E por fim, era
uma reunião séria, rodeada de seriedade real, nada de apatia na salvação do
mundo. Nada de piadas para manter o espírito em ânimo leve, pois o ambiente
estava saturado de seriedade leve, mas nunca leviana &endash; todos tinham
um mesmo espírito nisso. Não havia pesos mortos naquela reunião, nem uns mais
vivos que outros, pois todos eram um no essencial. Todos tinham e manifestavam
um mesmo calor de coração, com uma mesma suplica até que fosse ouvida. Não
perdiam tempo com banalidades, pois todas as promessas de Deus estavam sobre
seus ombros. Foram eles que começaram as grande dispensação na qual todo o
crente hoje tem de entrar por ele também.
III. Sobre os resultados desta oração unânime. Serei
breve, pois embora as consequências fossem tremendas, a resposta foi prática e
determinante. Três mil pessoas foram convertidas &endash; mesmo sob um
pequeno sermão. O Espírito Santo desceu sobre os discípulos com grande poder na
Sua simplicidade actuante e dali deflagrou uma continuidade com não mais parou
até haver entrado pecado na igreja. Diariamente eram acrescentados milhares de
espíritos em uníssono àquela igreja primitiva. Aquela pequena e insignificante
turma de pescadores e pecadores arrependidos logo se fez multiplicar e difundir
por toda a parte. Nada mais grandioso se havia feito debaixo do sol por
humanos. A fé tornou-se viva e comum em muita gente ao mesmo tempo.
Breves apontamentos:
Esta reunião deverá sempre ser tida em conta como um
modelo a seguir &endash; substancialmente em seu espírito empreendedor, no
seu alcance final, em como levou a que se criassem as circunstâncias para que
muitos se salvassem. Em resumo, tudo aquilo que uma reunião de oração deve ser.
Nada impede que hoje os crentes em qualquer parte do mundo consigam igual feito
ou melhor.
Mesmo assim, quem não vê que nada disto se passa hoje.
Seriam as pessoas diferentes das que existem hoje? Há mais prostitutas que as
que estavam naquela reunião de oração? Maria e Madalena estavam lá,
indiscutivelmente. Mas nada nos leva a ver que precisamente o oposto de tudo
isto ocorre connosco, sendo nós seus iguais. Que se vê, que resultados, que
consequências se vêem nas muitas reuniões de oração que se tutelam de
"orar para salvar o mundo" ou "os pecadores"? Alguns
gatos-pingados se acercam destas reuniões &endash; se é que as há
&endash; com o resto da igreja a contestar tal reunião se for séria. É
fácil depreender que a maioria das reuniões de oração são uma ofensa a Cristo,
uma afronta sem igual &endash; só que ninguém nota e toma apontamentos
sobre tudo isso. As reuniões ou não são estabelecidas, ou são ridicularizadas
se convocadas, a menos que se convoque algum sumo-sacerdote conhecido para as
embelezar! Se alguém importante e de renome atender ou administrar a dita
reunião, todos atendem, mas que ridículo que nada de dentro do coração leve as
mesmas pessoas a unirem-se em uníssono. Até dos jornais hoje em dia se faz uso
para promover reuniões que em nada dão. As pessoas não comparecem a menos que
haja um pretexto e uma razão de maior. É óbvio que nada pode ser mais desagradável
a Deus que uma reunião onde o tema é um jantar, um homem conhecido. Que maior
insulto pode haver contra um Deus Santo? Se mesmo quando se convida as pessoas
e elas não comparecem, acha que o Senhor Jesus comparecerá nelas? Porque razão
agirá Ele distintamente? Não existe união nem uníssono no próprio convite; como
haverá naquela reunião? Nem sequer são unânimes em endereçar o convite a Ele,
como virá? Talvez diga retorquindo que não era a sua intenção prevenir que
Jesus em pessoa comparecesse naquela reunião, mas sabe, talvez a sua ausência
dela queira dizer isso mesmo, a tal coisa da qual você agora tenta a todo o
custo escapar ileso de culpa. Que vale escapar ileso da culpa quem a tem, se a
carrega consigo para todo lado?
Necessita de alguém importante na reunião para participar
dela em uníssono com outros corações? Que tal o criador do mundo? Se por acaso
a reunião fosse convocada e o general Washington comparecesse nela? E se se
desse o caso de ninguém vir àquela reunião mesmo assim? Mandam-lhe cartas de
desculpas pela falta de comparências, porque estariam muito ocupados com
questões essenciais à sua vida; uns que estavam doentes, outros que tinham
familiares enfermos na cama; Que tinham muita consideração por ele mesmo assim
e mais uns quantos blá, blá, blás! A que levariam as suas desculpas? Que
resultados teriam essa reunião no espírito do general? Acho que seria um
insulto, depois de o convidarem para a reunião, ninguém comparecer lá para
ouvi-lo! Alguém se atreveria a fazer tal coisa com um mero homem importante?
Que igreja obterá sucesso diante de Deus se apenas uma minoria está interessada
em convidar Seu Espírito a descender sobre eles? Como podem fazer tal coisa com
Deus, o ser mais conhecido, mais importante de todo o universo, de toda a eternidade?
Mas, será que tudo isto tem alguma coisa de verdade em si?
Claro que sim! Qualquer reunião de oração é um convite directo e direccionado
ao próprio Deus! Ele é que é o visado das reuniões de oração, para o chamarmos
de Emanuel, Deus connosco! Será importante saber quem quer que Ele apareça de
facto; quantos serão aqueles que assim desejam; porque assim desejam; e como
pretendem que tudo isso se processe! A convocação duma reunião deste género
será precisamente para nos elucidarmos sobre todos estes aspectos. Que os
pastores não temam convocá-las, pois expondo a sua congregação podem vir a
fazer algo delas. Se os resultados forem precários, as respostas também serão.
Não foi assim com Pentecostes, pois durante, antes e depois desses dias, nada
disso se passou. Ou acha que o Espírito Santo desceria sobre eles nas condições
que acabo de enumerar?
Quanto mais grave será ainda o caso duma igreja moderna
numa reunião de oração modernizada, onde muitos atendem mas nunca pelos mesmos
motivos que aqueles que moviam as cento e vinte pessoas que fizeram abrir os
Céus! Quantas vezes vemos que os céus nem se abrem e vivemos como se nada
demais se estivesse a passar! Eles não manifestam o seu desagrado total por
nunca serem visitados pelo principal Convidado da reunião. Imagine que uma
reunião é convocada vezes sem conta porque uma ilustre pessoa é o principal
convidado dessa reunião. Essa ilustre pessoa nunca comparece nela. As pessoas
nem notam a sua ausência. Acharia isso normal? Não se esforçam nem sofrem para que
tal pessoa compareça. Se essa pessoa é o principal motivo da reunião, não
comparecendo, ou as pessoas deixam de ser normais, ou elas não estarão
verdadeiramente interessadas em que ele compareça nelas! Nem é de admirar que
tais reuniões produzam tão poucos resultados!
As orações são oferecidas com muito pouco de expectativa
da parte de quem ora. Não acham anormal que nunca haja respostas coerentes com
os seus pedidos? Ninguém com fé desse tamanho espere poder vir a agradar Deus
com ela!
As pessoas pensam ter pouca disponibilidade para uma
oração contínua, daquelas que só pára perante resultados concretos. Manter uma
reunião de oração nesses termos por uma semana inteira é um absurdo para
muitos, motivo de chacota para outros, motivo de sobra para se ensoberbecer
quem dela participante é. Muitos nem sequer estarão mesmo interessados em que
se obtenham resultados concretos e visíveis, que se ore até que uma bênção à
altura de Deus seja prontamente derramada. Nunca se vê qualquer género de
seriedade na oração, no motivo, na motivação. Fazem transparecer que nada de
sério é ter ou querer ter Deus por perto, na dimensão da bênção da Sua presença
real. Acham que estarão bem desde que se ore um pouco uma vez por semana em
conjunto, quando a igreja primitiva fazia muito uma semana de cada vez! Não
existe nenhuma seriedade naquilo que oram, no tempo que usam com a finalidade
de obter tão só resultados concretos. Seja honesto: que poderemos esperar de
tais reuniões mesmo? Talvez nada haja de unânime nessas reuniões a menos que as
pessoas se tornem frívolas e engraçadinhas. É este o verdadeiro panorama de
muitas e muitas igrejas que se acham vivas e luz dos gentios!
Mesmo quando reuniões de oração no geral tenham como
frutificar e ser mantidas durante um longo período de tempo, começam a existir
reuniões paralelas e pouco unânimes e amistosas entre elas. Muitas alienações e
muitos mais motivos para se alienarem, sangue impulsivo e cabeça quente serão
apenas os pequenos deveres e aperitivos de muita gente que lidera e participa
de muitas reuniões de oração. Que diferentes são daquela assembleia do dia de
Pentecostes. Lá estariam irmãos e irmãs em uníssono eterno e se a resposta
tardasse um ano, um mês, eles lá estariam em seus postos. Que unidade de
espírito, que pretensão santa a deles! Quando as lágrimas raramente se secam,
quando as faces nem têm como permanecer secas durante muito tempo. Pedro ainda
estava contrito e dorido, Tomé ainda a chorar porque não crera; mesmo assim,
nada destas coisas os deteve em não obterem aquilo que Jesus lhes prometera.
Mortificaram-se e não mais se ressentiam pela grandiosidade da vida da
esperança que os munia e dirigia. Não será, pois, de admirar que hajam obtido
tão grandes resultados nos seus muitos efeitos! Quão hipócritas são aqueles que
são tidos como santos nas suas muitas igrejas! Quão hipócrita é a sua fé, que
ofensa é a Sião de hoje a Deus!
Mais, em alguns locais, em algumas igrejas, até há
reuniões de oração que são abandonadas, onde os corações dos presentes se
ressentem uns contra os outros até; onde a confiança nem sequer está presente,
quanto mais prevalecer! Mais grave ainda será que aqueles que ficam, nem
suplicam por aqueles que os abandonam, pois acham-se muito bonzinhos para não
verem tal coisa ocorrer diante de seus próprios olhos. Sião está deplorável,
desfeita e ninguém clama, ninguém chama. Casos há quando muitos ainda se
interrogam de como convocarão uma reunião de oração para que haja avivamento
real, mas não existe nem amor entre eles senão apenas um sentir religioso e sem
fundo. Muitas vezes até reuniões familiares de oração estrangulam-se em coisas
do género. A alienação e incompetência assumem papéis determinantes e
preconceituosos demais. Nada faz prever o derramamento duma real bênção da
presença do próprio Deus. Nem um pouco de consideração têm uns pelos outros,
quanto mais por Deus. Sob tais circunstâncias adversas, não se pode esperar
nada mais do que uma desunião e alienação profunda do coração em relação àquilo
que deveria ser mais que mero dever. Nem mais se edificam, nem mais se amam,
pois a simpatia mútua deixa de existir e se tal coisa ocorre, como poderá haver
uma uniformidade, que é seguramente algo muito aquém de união e unanimidade, na
oração? Como poderá subsistir ou prevalecer uma qualquer edificação espiritual
duma reunião desse porte? Se somos notificados de reuniões desse género, onde
todos sejam rapidamente envolvidos numa edificação espontânea mas apenas
através daquela oração duma pessoa que ora, mas nunca da outra que participa
activamente da mesma reunião. Quando alguém ora, ouvem-se suspiros e lágrimas,
mas quando outro se levanta para orar, tudo acaba. Que unanimidade será esta?
Que corações unidos serão estes?
Nota-se que muitos perderam aquela confiança necessária
num líder duma reunião de oração. Até num ambiente familiar se nota logo quando
alguém perdeu a confiança em alguém. Se os corações nunca pulsam num mesmo
sentir, numa mesma confiança e esperança, algo de muito errado se passa. Se as
pessoas perderam aquela confiança em seu líder, como podem orar e esperar de
Deus que confie e deposite nele o Seu Espírito? Como pode esse mesmo Espírito
promover um tal espírito de oração que faça estremecer a terra uma vez mais, se
a desunião é semeada e promovida, se o pecado impera, a dissensão dimensiona
tudo o que ali se faz? Ninguém tem como orar em conjunto, pois nada têm em
comum. Alienam-se uns dos outros e persistem naquela oração escondendo seus
muitos pecados uns dos outros, defraudando-se mutuamente de honestidade. Irmãos
e irmãs em Cristo: não vêem nada disto? Será que uma vez mais os cegos guiam
outros tantos cegos?
Muitas vezes mais, quando as pessoas não subscrevem certas
reuniões de oração, nunca dizem porquê, as verdadeiras razões porque as
deixaram de subscrever e apoiar. São hipócritas na maneira como lidam uns com
os outros, manifestam pouco amor na quantidade de honestidade nos verdadeiros
motivos que os levam a não participarem nas reuniões de oração. Talvez até
tenham razões sérias para não participarem, mas muitas vezes escondem essas
razões uns dos outros como se nada de importante fosse.
Naquele dia de Pentecostes, todos negligenciaram e
deixaram para trás os seus negócios, as suas pescarias e as suas muitas mágoas
e remorsos. Mesmo sendo o mais pobre dos pobres, nada se importaram com isso,
conquanto nunca deixassem de orar e vigiar. Por certo nenhum deles se
encontrava ocioso naquele ofício de encontrar o tesouro da promessa do Pai.
Seus corações eram preparados, vasculhados de cima para baixo, dum lado para o
outro; nada os faria rejeitar ou abandonar tal reunião. Suponhamos que algum de
entre eles se levantasse e dissesse "eu acho que não será necessário que
todos fiquemos aqui a orar sendo que há coisas importantes a fazer". Acha
que havendo tal desculpa, tal consideração por um Deus vivo se alcançaria a
desejada promessa? Se não tivessem como cumprir as condições duma resposta,
como poderiam esperar cumpri-las no adquirir da mesma? Se não fossem fiéis no
mínimo, como o poderiam vir a ser no muito?
O facto que se realça, irmãos, é que nas nossas reuniões modernas e pouco primitivas nada disto se passa. Os crentes já não são gente séria, movida por seriedade em questões como eternidade de vida. Não podem agonizar mais, a menos que seja por suas próprias coisas. As suas almas não têm condições de se contristarem, de sentirem verdadeiras dores de parto, de ansiarem por águas vivas como um cervo o faz, pois não acham que necessitam dela a menos que seja por causas egoístas. Já não têm como obter esta profunda comunhão com Deus que é o equivalente a uma condição e a um ingrediente imprescindível para que qualquer oração tenha como prevalecer. Sabemos que um peso sente-se apenas quando uma alma se contrista por algo importante. E se o pecado do mundo não é a coisa que move os crentes a orarem, se as suas lágrimas caem por si e por suas faltas quotidianas e que mais, então será de esperar que achem justo abandonarem seus postos de vigília para se alimentarem do mundo exigindo até aquele aval de Deus nisso. Quando o orgulho do homem é abatido, existe uma lacuna na unanimidade na oração. É a lei terrena que impede e impera, pois é ela que sustém as orações de muito boa gente.
Mas seria de desejar que as pessoas penetrassem fundo no coração uns dos outros, para que suspirassem uns pelos outros, uns com os outros por uma mesma causa justa. Será por essa razão que se ouve por aí dizer que temos muito a aprender com os metodistas. De facto, se não abusarem mas fizerem uso verdadeiro dessa prática comum entre eles, esse corresponder que se vê hoje na Igreja de Inglaterra, poderão sempre ajudar a suster responsivamente a oração uns dos outros. Um Congregacionalista disse uma vez que desejaria muito que as pessoas de outras denominações aprendessem com os metodistas aquilo que não sabem fazer.
Eu nunca concordei com barulhos estranhos numa reunião de oração, mas uma sincera expressão de sentir nunca pode ser prejudicial a uma resposta de oração. Existe uma grande diferença entre quando as pessoas se emocionam por ninharias e quando o Espírito Santo se encontra presente. Já presenciei reuniões de oração onde uma congregação inteira se prostrou diante de Deus em uníssono com uma mesma oração geral. Os corações de todos presentes moviam-se como as árvores duma floresta sob tutela dum forte vento tempestuoso. Será em ocasiões dessa envergadura que nenhum líder necessita pronunciar algo a menos que guiado pelo Espírito Santo. Todas as palavras carregam uma sobrecarga de energia celestial, um enorme peso de poder e aprovação geral em todos conscientemente.
Nada disto
pode e tem como ser ficcionado ou alterado. Todos sabem, todos sentem que Deus
está deveras ali presente. Todos sem excepção sentem o mesmo, pois uma Santa
presença muito poderosa e realmente doce e poderosa invade todos os corações
presentes. Ninguém tem medo mas todos temem, ninguém incita mas todos confiam
grandemente e entregam-se a Ele e uns aos outros espontaneamente. A confiança
prevalece em esperança e todos em conjunto despejam literalmente todo o
conteúdo de todo seu coração diante de Deus de facto. Isto é tudo aquilo que é
uma oração conjunta; nada mais. Uma união absoluta e incondicional diante de
Deus, perante Seu trono de abundante graça e santidade. O Espírito Santo
assistindo através de gemidos inexprimíveis em conjunto com quem ora e suplica
para que todas as suas súplicas sejam deveras atendidas. Toda e qualquer
reunião de oração deveria ser assim, deste feito, moldada apenas conforme o
assunto a prevalecer distintamente, conforme a ocasião do pedido a efectuar.
CHARLES G. FINNEY
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