terça-feira, 21 de junho de 2022

CASAMENTO FELIZ

 Quando o Casamento Está à Beira da Ruptura

 

EM 1988, uma mulher italiana chamada Lúcia estava muito deprimida. Depois de dez anos, seu casamento estava acabando. Ela tentou muitas vezes se reconciliar com o marido, mas tudo em vão. Assim, ela se separou por incompatibilidade, e sobrou-lhe a tarefa de criar sozinha duas filhas. Recordando o passado, ela diz: “Eu tinha certeza de que nada salvaria o nosso casamento.”

 

2 Se você tiver problemas no casamento, talvez se identifique com Lúcia. Seu casamento talvez seja turbulento, e você duvida de que possa ser salvo. Neste caso, achará útil perguntar-se: Apliquei todos os bons conselhos que Deus dá na Bíblia para ajudar a tornar bem-sucedido o casamento? — Salmo 119:105.

 

3 Quando as tensões entre marido e mulher são enormes, dissolver o casamento pode parecer o caminho mais fácil. Mas, mesmo com um aumento assustador de rupturas de família em muitos países, estudos recentes indicam que uma grande porcentagem de divorciados lamenta o rompimento. Muitos destes têm mais problemas de saúde física ou mental do que aqueles que preservam o seu casamento. A confusão e a infelicidade de filhos do divórcio muitas vezes duram anos. Pais e amigos da família rompida também sofrem. E como será que Deus, o Originador do casamento, vê a situação?

 

4 Como já mencionado em capítulos anteriores, Deus queria que o casamento fosse um vínculo para toda a vida. (Gênesis 2:24) Por que, então, tantos casamentos se rompem? Isso nem sempre acontece da noite para o dia. Em geral, há sinais alertadores. Pequenos problemas conjugais podem agravar-se ao ponto de parecerem intransponíveis. Mas, se esses problemas forem resolvidos prontamente com a ajuda da Bíblia, muitos fracassos conjugais serão evitados.

 

SEJA REALISTA

 

5 Um fator que pode dar problemas são as possíveis expectativas irrealísticas de um ou de ambos os cônjuges. Romances, revistas, programas de TV e filmes podem criar esperanças e sonhos muito distantes da realidade. Quando esses sonhos não se realizam, a pessoa talvez se sinta fraudada, descontente e até mesmo amargurada. Mas como podem duas pessoas imperfeitas encontrar felicidade no casamento? Exige esforço conseguir uma relação bem-sucedida.

 

6 A Bíblia é prática. Ela reconhece as alegrias do casamento, mas também alerta que os que se casarem “terão tribulação na sua carne”. (1 Coríntios 7:28) Como já mencionado, os dois cônjuges são imperfeitos, e têm inclinações pecaminosas. A formação mental e emocional e a criação de cada um dos dois são diferentes. Os casais às vezes discordam sobre dinheiro, filhos e parentes. Tempo insuficiente para fazer coisas juntos e problemas sexuais podem também gerar conflitos. Leva tempo para acertar esses assuntos, mas anime-se! A maioria dos casais encara esses problemas e encontra soluções mutuamente aceitáveis.

 

DISCUTAM AS DIVERGÊNCIAS

 

7 Muitos acham difícil ficar calmos quando discutem sentimentos feridos, mal-entendidos ou falhas pessoais. Em vez de dizer objetivamente: “Eu acho que fui mal compreendido”, o cônjuge talvez se exalte e exagere o problema. Muitos dirão: “Você só pensa em você”, ou: “Você não me ama.” Querendo evitar uma discussão, o outro talvez se cale.

 

8 Um proceder melhor é acatar o conselho bíblico: “Ficai furiosos, mas não pequeis; não se ponha o sol enquanto estais encolerizados.” (Efésios 4:26) Perguntou-se a um casal feliz, no seu 60.° aniversário de casamento, qual era o segredo de seu bom casamento. O marido respondeu: “Aprendemos a não ir dormir sem primeiro resolver as divergências, não importa quão pequenas sejam.”

 

9 Quando o marido e a esposa discordam, ambos devem ser ‘rápidos no ouvir, vagarosos no falar, vagarosos no furor’. (Tiago 1:19) Depois de ouvir atentamente, ambos talvez vejam a necessidade de se desculpar. (Tiago 5:16) Dizer sinceramente: “Lamento tê-lo ofendido” exige humildade e coragem. Mas, essa maneira de resolver divergências ajudará muito o casal, não só a resolver seus problemas, mas também a desenvolver uma cordialidade e intimidade que aumentará o prazer da convivência.

 

CONCEDA OS DIREITOS CONJUGAIS

 

10 Escrevendo aos coríntios, o apóstolo Paulo recomendou o casamento “por causa da prevalência da fornicação”. (1 Coríntios 7:2) A situação atual do mundo é tão ruim, ou até pior, do que a da Corinto antiga. Os temas imorais que as pessoas do mundo discutem abertamente, a maneira imodesta de se vestir e as matérias sensuais de revistas e livros, da TV e do cinema, contribuem para incitar desejos sexuais ilícitos. Para os coríntios que viviam num ambiente similar, o apóstolo Paulo disse: “É melhor casar-se do que estar inflamado de paixão.” — 1 Coríntios 7:9.

 

11 De modo que a Bíblia ordena aos cristãos casados: “O marido renda à esposa o que lhe é devido; mas, faça a esposa também o mesmo para com o marido.” (1 Coríntios 7:3) Note que a ênfase é em dar — não em exigir. A intimidade física no casamento só é realmente satisfatória quando cada parceiro se preocupa com o bem-estar do outro. Por exemplo, a Bíblia ordena os maridos a tratar a esposa “segundo o conhecimento”. (1 Pedro 3:7) Isso é especialmente assim no que se refere a dar e a receber os direitos conjugais. A esposa que não é tratada com ternura pode achar difícil usufruir esse aspecto do casamento.

 

12 Há ocasiões em que um dos cônjuges talvez tenha de privar o outro dos direitos conjugais. Isso pode acontecer com a esposa em certos períodos do mês, ou quando ela está muito cansada. (Note Levítico 18:19.) Pode acontecer com o marido, quando ele enfrenta um problema sério no trabalho e se sente emocionalmente esgotado. A melhor maneira de resolver essa suspensão temporária dos direitos conjugais é os dois discutirem francamente o assunto e chegarem a um “consentimento mútuo”. (1 Coríntios 7:5) Isso evitará que um dos dois tire erroneamente conclusões precipitadas. Mas, se a esposa deliberadamente privar disso o marido, ou se o marido propositadamente deixar de render os direitos conjugais de maneira amorosa, o cônjuge prejudicado pode ficar exposto à tentação. Nessa situação, podem surgir problemas no casamento.

 

13 Como todos os cristãos, os servos de Deus casados têm de evitar a pornografia, que pode criar desejos impuros e desnaturais. (Colossenses 3:5) Precisam também vigiar seus pensamentos e ações nos seus contatos com pessoas do sexo oposto. Jesus alertou: “Todo aquele que persiste em olhar para uma mulher, a ponto de ter paixão por ela, já cometeu no coração adultério com ela.” (Mateus 5:28) Aplicar os conselhos bíblicos sobre sexo ajuda os casais a não caírem em tentação e cometerem adultério. Poderão continuar a usufruir a deleitosa intimidade num casamento em que o sexo é prezado como dádiva sadia do Originador do casamento, Jeová. — Provérbios 5:15-19.

 

BASE BÍBLICA PARA DIVÓRCIO

 

14 Felizmente, na maioria dos casamentos cristãos, é possível resolver os problemas que surgem. Às vezes, porém, isso não acontece. Visto que os humanos são imperfeitos e vivem num mundo pecaminoso controlado por Satanás, alguns casamentos chegam ao ponto de ruptura. (1 João 5:19) Como devem os cristãos enfrentar essa situação provadora?

 

15 Como mencionado no capítulo 2 deste livro, a fornicação é a única base bíblica para divórcio com possibilidade de novo casamento. (Mateus 19:9) Se há prova conclusiva de que seu cônjuge foi infiel, você tem uma decisão difícil a tomar. Continuará casado ou se divorciará? Não há regras. Alguns cristãos perdoaram plenamente o cônjuge genuinamente arrependido, e o casamento preservado acabou dando certo. Outros decidiram não se divorciar por causa dos filhos.

 

16 Por outro lado, o pecado pode ter resultado em gravidez ou em doença sexualmente transmissível. Ou talvez os filhos precisem de proteção contra abusos sexuais em casa. Obviamente, há muito a considerar antes de decidir-se. Se, no entanto, sabendo da infidelidade do cônjuge você voltar a ter relações sexuais com ele, estará indicando que o perdoou e que deseja continuar casado com ele. Neste caso, a base bíblica para o divórcio com possibilidade bíblica de novo casamento não mais existe. Ninguém deve intrometer-se na sua vida e tentar influenciar a sua decisão, tampouco devia alguém criticar a sua decisão depois de tomada. Você terá de conviver com as conseqüências de sua decisão. “Cada um levará a sua própria carga.” — Gálatas 6:5.

 

MOTIVOS PARA SEPARAÇÃO

 

17 Há situações que justifiquem a separação ou possivelmente o divórcio de um cônjuge mesmo que este não tenha cometido fornicação? Sim, mas, neste caso, o cristão não está livre para procurar outro parceiro para se casar. (Mateus 5:32) A Bíblia, embora dê margens para tal separação, estipula que aquele que se afasta deve ‘permanecer sem se casar, ou, senão, que se reconcilie’. (1 Coríntios 7:11) Que situações extremas poderiam tornar aconselhável a separação?

 

18 Bem, a família pode ficar na miséria devido à extrema preguiça e maus hábitos do marido. Talvez ele gaste no jogo a renda da família ou use-a para custear o vício das drogas ou do álcool. A Bíblia diz: “Se alguém não fizer provisões para os . . . membros de sua família, tem repudiado a fé e é pior do que alguém sem fé.” (1 Timóteo 5:8) Se esse homem não mudar de comportamento, talvez chegando até mesmo a financiar seus vícios com o dinheiro que a esposa ganha, esta pode decidir proteger o bem-estar dela e de seus filhos obtendo uma separação legal.

 

19 Pode-se também pensar em tal ação legal caso um cônjuge seja extremamente violento, talvez espancando freqüentemente o outro, a ponto de pôr em risco a sua saúde ou até mesmo a sua vida. Além disso, se um cônjuge constantemente tenta forçar o outro a de alguma maneira violar os mandamentos de Deus, o cônjuge ameaçado pode também cogitar a separação, em especial se o assunto chegar ao ponto de pôr em risco a vida espiritual. O cônjuge em perigo talvez conclua que a única maneira de “obedecer a Deus como governante antes que aos homens” seja obter uma separação legal. — Atos 5:29.

 

20 Em todos os casos de extremo abuso conjugal, ninguém devia pressionar o cônjuge inocente a separar-se ou a permanecer casado. Embora amigos maduros e anciãos possam dar apoio e conselhos bíblicos, é impossível que conheçam todos os detalhes do que se passa entre marido e esposa. Apenas Jeová pode ver isso. Naturalmente, a esposa cristã não estaria honrando a instituição divina do casamento se usasse desculpas triviais para livrar-se de um casamento. Mas, se uma situação extremamente perigosa persiste, ninguém deve criticá-la por preferir separar-se. Exatamente o mesmo pode-se dizer do marido cristão que procura a separação. “Nós todos ficaremos postados diante da cadeira de juiz de Deus.” — Romanos 14:10.

 

COMO UM CASAMENTO ROMPIDO FOI SALVO

 

21 Três meses depois que Lúcia, mencionada no início, separou-se do marido, ela conheceu as Testemunhas de Jeová e passou a estudar a Bíblia com elas. “Para minha grande surpresa”, diz ela, “a Bíblia tinha soluções práticas para o meu problema. Depois de apenas uma semana de estudo eu já queria fazer as pazes com o meu marido imediatamente. Hoje, posso dizer que Jeová sabe como salvar casamentos em crise porque seus ensinamentos ajudam os casais a aprender como sentir estima um pelo outro. Não é verdade, como alguns afirmam, que as Testemunhas de Jeová dividem as famílias. No meu caso, aconteceu exatamente o contrário.” Lúcia aprendeu a aplicar os princípios bíblicos na sua vida.

 

22 Lúcia não é uma exceção. O casamento deve ser uma bênção, não uma carga. Para esse fim, Jeová providenciou a melhor fonte de conselhos sobre o casamento já escrita: a sua preciosa Palavra. A Bíblia pode tornar “sábio o inexperiente”. (Salmo 19:7-11) Já salvou muitos casamentos à beira da ruptura e melhorou muitos outros que tinham problemas sérios. Que todos os casais confiem plenamente nos conselhos de Jeová Deus sobre o casamento. Eles realmente funcionam!

 

[Nota(s) de rodapé]

 

O nome foi mudado.

Alguns desses aspectos foram considerados em capítulos anteriores.

O termo bíblico traduzido por “fornicação” inclui adultério, homossexualismo, bestialidade e outros atos ilícitos deliberados envolvendo o uso dos órgãos sexuais.

Isso não inclui situações em que o marido, embora bem-intencionado, não consiga sustentar a família por razões além de seu controle, como doença ou falta de oportunidades de emprego.

 

COMO PODEM ESTES PRINCÍPIOS BÍBLICOS AJUDAR . . .

A EVITAR A RUPTURA DO CASAMENTO?

 

O casamento é fonte tanto de alegria como de tribulação. — Provérbios 5:18, 19; 1 Coríntios 7:28.

As divergências devem ser resolvidas logo. — Efésios 4:26.

Na comunicação, ouvir é tão importante quanto falar. — Tiago 1:19.

Deve-se render os direitos conjugais num espírito de altruísmo e ternura. — 1 Coríntios 7:3-5.

 

[Perguntas de Estudo]

 

1, 2. Quando o casamento está sob tensão, que pergunta se deve fazer?

 3. Embora o divórcio tenha se tornado comum, que reação se registra entre muitos divorciados e seus familiares?

 4. Como se deve tratar os problemas do casamento?

 5. Que situação realista deve-se encarar em todo casamento?

 6. (a) Que conceito equilibrado sobre casamento apresenta a Bíblia? (b) Cite algumas razões de desacordos no casamento.

7, 8. Se houver sentimentos feridos ou mal-entendidos entre o casal, qual é a maneira bíblica de tratar disso?

 9. (a) Que parte vital da comunicação identificam as Escrituras? (b) O que os cônjuges muitas vezes precisam fazer, mesmo que isso exija coragem e humildade?

10. Que proteção, recomendada por Paulo aos cristãos coríntios, pode-se aplicar aos cristãos hoje?

11, 12. (a) O que o marido e a esposa devem um ao outro, e com que atitude deve-se render isso? (b) Como proceder caso os direitos conjugais tenham de ser temporariamente suspensos?

13. O que podem os cristãos fazer para manter pensamentos puros?

14. Que situação triste às vezes se apresenta? Por quê?

15. (a) Qual é a única base bíblica para divórcio com possibilidade de novo casamento? (b) Por que alguns decidiram não se divorciar do cônjuge infiel?

16. (a) Que fatores induziram alguns a se divorciar do cônjuge culpado? (b) Quando o cônjuge inocente decide divorciar-se ou não, por que ninguém deve criticar a decisão?

17. Se não houver fornicação, que limitações as Escrituras estabelecem para a separação ou o divórcio?

18, 19. Que situações extremas talvez levem o cônjuge a pesar a conveniência da separação legal ou do divórcio, mesmo não sendo possível um novo casamento?

20. (a) Em caso de ruptura familiar, o que amigos maduros e anciãos podem fazer, mas o que não devem fazer? (b) Os casados não devem usar as alusões da Bíblia à separação e ao divórcio como desculpa para fazer o quê?

21. Que exemplo mostra que os conselhos bíblicos sobre o casamento funcionam?

22. Em que devem todos os casais confiar?

 

Resolva prontamente os problemas. Não permita que o sol se ponha enquanto você está encolerizado

 

 

 

Capítulo 14

 

 

Envelhecer Juntos com Dignidade

 

O ENVELHECIMENTO causa muitas mudanças. O enfraquecimento físico mina a nossa vitalidade. Uma olhada no espelho revela novas rugas e uma gradativa perda da tonalidade dos cabelos — e dos próprios cabelos. Talvez soframos alguns lapsos de memória. Desenvolvem-se novas relações com o casamento dos filhos, e de novo com a chegada dos netos. Para alguns, a aposentadoria muda a sua rotina de vida.

 

2 Na verdade, a idade avançada pode ser provadora. (Eclesiastes 12:1-8) Mesmo assim, considere os servos de Deus dos tempos bíblicos. Embora acabassem sucumbindo à morte, eles adquiriram sabedoria e entendimento que lhes trouxe grande satisfação na velhice. (Gênesis 25:8; 35:29; Jó 12:12; 42:17) Como conseguiram envelhecer sem perder a alegria? Com certeza foi por viverem em harmonia com os princípios que hoje estão registrados na Bíblia. — Salmo 119:105; 2 Timóteo 3:16, 17.

 

3 Na sua carta a Tito, o apóstolo Paulo deu boas orientações para os que estão envelhecendo. Ele escreveu: “Os homens idosos sejam moderados nos hábitos, sérios, ajuizados, sãos na fé, no amor, na perseverança. Igualmente, as mulheres idosas sejam reverentes no comportamento, não caluniadoras, nem escravizadas a muito vinho, instrutoras do que é bom.” (Tito 2:2, 3) Acatar essas palavras pode ajudá-lo a enfrentar os desafios do envelhecimento.

 

ADAPTE-SE À INDEPENDÊNCIA DOS FILHOS

 

4 Mudanças de papel exigem adaptabilidade. Quão veraz isso é quando filhos adultos saem de casa para se casar! Para muitos pais, este é o primeiro lembrete de que estão envelhecendo. Embora contentes de que seus filhos se tornaram adultos, muitos pais se preocupam quanto a se fizeram todo o possível para prepará-los para a independência. E talvez sintam a falta deles em casa.

 

5 É compreensível que os pais continuem interessados no bem-estar dos filhos, mesmo depois de estes terem saído de casa. “Se pelo menos eu recebesse notícias deles com freqüência, para ter certeza de que estão bem — isso me alegraria”, disse certa mãe. Um pai relata: “Quando a nossa filha saiu de casa, passamos por um período muito difícil. Isso deixou um grande vazio na nossa família, pois sempre fazíamos as coisas juntos.” Como enfrentaram esses pais a falta dos filhos? Em muitos casos, dedicando-se a ajudar outras pessoas.

 

6 Quando os filhos se casam, o papel dos pais muda. Gênesis 2:24 declara: “O homem deixará seu pai e sua mãe, e tem de se apegar à sua esposa, e eles têm de tornar-se uma só carne.” Reconhecer os princípios piedosos da chefia e da boa ordem ajudará os pais a manter as coisas na perspectiva correta. — 1 Coríntios 11:3; 14:33, 40.

 

7 Depois que suas duas filhas se casaram e saíram de casa, certo casal sentiu um vazio na sua vida. De início, o marido ressentiu-se dos genros. Mas, ao refletir sobre o princípio da chefia, ele se deu conta de que os maridos das filhas eram agora os responsáveis pelas suas respectivas famílias. Assim, quando as filhas pediam sugestões, ele lhes perguntava qual era a opinião do marido delas, daí fazia o possível para apoiar essa opinião. Seus genros agora o encaram como amigo e apreciam seus conselhos.

 

8 Que dizer se os filhos recém-casados, embora não façam nada contrário à Bíblia, não fazem aquilo que os pais acham ser o melhor? “Sempre os ajudamos a ver o ponto de vista de Jeová”, explica um casal que tem filhos casados, “mas se não concordamos com uma decisão deles, nós a aceitamos e damos o nosso apoio e encorajamento”.

 

9 Em certos países asiáticos, algumas mães acham especialmente difícil aceitar a independência de seus filhos homens. Contudo, quando elas respeitam o arranjo e a chefia cristã, verificam que as fricções com as noras diminuem. Certa senhora cristã acha que a saída de seus filhos homens do lar tem sido uma “fonte de sempre crescente gratidão”. Ela se emociona com a habilidade deles de cuidar da nova família. E isso, por sua vez, alivia a carga física e mental que ela e seu marido precisam carregar à medida que envelhecem.

 

REVIGORE SEU VÍNCULO CONJUGAL

 

10 A reação das pessoas à chegada da meia-idade varia. Alguns homens mudam o estilo de roupa, para parecer mais jovens. Muitas mulheres se preocupam com as mudanças que vêm com a menopausa. Infelizmente, algumas pessoas de meia-idade provocam ressentimento e ciúme no seu cônjuge flertando com pessoas mais jovens do sexo oposto. Homens idosos tementes a Deus, porém, são “ajuizados”, coibindo desejos impróprios. (1 Pedro 4:7) Da mesma forma, mulheres maduras esforçam-se em manter a estabilidade de seu casamento, por amor ao marido e desejo de agradar a Jeová.

 

11 Sob inspiração, o Rei Lemuel registrou louvor à “esposa capaz” que recompensa seu marido “com o bem e não com o mal, todos os dias da sua vida”. O marido cristão não ignorará a luta da esposa contra os problemas emocionais da meia-idade. Seu amor o induzirá a ‘louvá-la’. — Provérbios 31:10, 12, 28.

 

12 Durante os atarefados anos da criação dos filhos, talvez o casal de bom grado tenha relegado seus desejos pessoais em favor das necessidades dos filhos. Depois de sua partida, é tempo de repensar a sua vida de casados. “Quando minhas filhas saíram de casa”, diz certo marido, “voltei a namorar a minha esposa”. Outro marido diz: “Ficamos de olho na saúde um do outro e lembramos um ao outro da necessidade de fazer exercícios.” Para afastar a solidão, ele e sua esposa são hospitaleiros para com outros da congregação. Sim, interessar-se pelos outros traz bênçãos. Além do mais, agrada a Jeová. — Filipenses 2:4; Hebreus 13:2, 16.

 

13 Não permita que se desenvolva uma brecha na comunicação entre você e seu cônjuge. Conversem francamente. (Provérbios 17:27) “Chegamos a nos conhecer mais profundamente mostrando interesse e consideração”, diz certo marido. Sua esposa concorda, dizendo: “À medida que envelhecemos, viemos a gostar de tomar chá juntos, conversar e cooperar um com o outro.” A franqueza e a candura ajudam a cimentar o vínculo conjugal, dando-lhe uma resistência que frustrará os ataques de Satanás, o destruidor de casamentos.

 

APRECIE A COMPANHIA DOS NETOS

 

14 Os netos são “a coroa” dos idosos. (Provérbios 17:6) A companhia dos netos pode ser verdadeiramente prazerosa — animada e reanimadora. A Bíblia elogia Lóide, uma avó que, junto com a sua filha Eunice, ensinou as suas crenças ao seu netinho Timóteo. Esse jovem cresceu sabendo que tanto a mãe como a avó prezavam a verdade bíblica. — 2 Timóteo 1:5; 3:14, 15.

 

15 Eis, portanto, um aspecto especial em que os avós podem dar uma valiosíssima contribuição. Vocês, avós, já transmitiram seus conhecimentos sobre os propósitos de Jeová aos filhos. Agora podem fazer o mesmo com mais uma geração. Muitas criancinhas vibram ao ouvir seus avós contar histórias bíblicas. Naturalmente, vocês não assumirão a responsabilidade do pai de inculcar as verdades bíblicas nos filhos. (Deuteronômio 6:7) Estarão apenas complementando isso. Orem como o salmista: “Não me abandones mesmo até a velhice e as cãs, ó Deus, até que eu possa informar a geração sobre o teu braço, todos os que estão para vir, sobre a tua potência.” — Salmo 71:18; 78:5, 6.

 

16 Infelizmente, alguns avós mimam os netinhos a ponto de surgirem tensões entre os avós e seus filhos adultos. Contudo, a bondade sincera dos avós talvez facilite aos netos lhes fazerem confidências quando não estiverem dispostos a revelar certos assuntos aos pais. Às vezes os jovens esperam que seus indulgentes avós tomem o seu partido contra os pais. Que fazer? Usem de sabedoria e incentivem seus netos a serem francos com os pais. Expliquem que isso agrada a Jeová. (Efésios 6:1-3) Se necessário, poderão oferecer-se para mediar a aproximação com os pais. Sejam francos com os netos a respeito do que vocês aprenderam com os anos. Sua honestidade e candura poderão beneficiá-los.

 

ADAPTE-SE À IDADE

 

17 Com os anos, você verá que não consegue mais fazer tudo o que fazia ou que gostaria de fazer. Como enfrentar isso? Mentalmente você talvez se sinta com 30 anos de idade, mas uma olhada no espelho revela uma outra realidade. Não se desanime. O salmista suplicou a Jeová: “Não me lances fora no tempo da velhice; não me deixes quando meu poder falhar.” Imite a determinação do salmista. Ele disse: “Esperarei constantemente, e vou acrescentar a todo o teu louvor.” — Salmo 71:9, 14.

 

18 Muitos se prepararam antecipadamente para aumentar seus louvores a Jeová depois da aposentadoria. “Eu planejei com antecedência o que faria quando a nossa filha saísse da escola”, explica um pai que agora é aposentado. “Decidi que entraria no ministério de pregação por tempo integral, de modo que vendi a minha firma a fim de ficar livre para servir a Jeová mais plenamente. Orei a Deus pedindo orientação.” Se você estiver perto de se aposentar, console-se com a declaração do nosso Grandioso Criador: “Mesmo até a velhice da pessoa, eu sou o Mesmo; e até as cãs da pessoa, eu mesmo continuarei a sustentar.” — Isaías 46:4.

 

19 Adaptar-se à vida de aposentado pode não ser fácil. O apóstolo Paulo aconselhou os homens idosos a serem “moderados nos hábitos”. Isto exige um refreamento geral, não ceder à inclinação de querer levar uma vida folgada. Depois da aposentadoria, a necessidade de rotina e autodisciplina pode ser ainda maior do que antes. Fique atarefado, portanto, “tendo sempre bastante para fazer na obra do Senhor, sabendo que o [seu] labor não é em vão em conexão com o Senhor”. (1 Coríntios 15:58) Expanda as suas atividades de ajudar outros. (2 Coríntios 6:13) Muitos cristãos fazem isso pregando zelosamente as boas novas num ritmo compatível com a idade. À medida que envelhecer, seja ‘são na fé, no amor, na perseverança’. — Tito 2:2.

 

COMO ENFRENTAR A PERDA DO CÔNJUGE

 

20 É um fato triste mas real que, no presente sistema, a morte por fim separa o casal. Cônjuges cristãos enlutados sabem que seu amado agora dorme, e confiam que o verão de novo. (João 11:11, 25) Mas, mesmo assim, a perda é dolorosa. Como pode o sobrevivente enfrentá-la?

 

21 Lembrar-se do que fez certo personagem bíblico será de ajuda. Ana enviuvou depois de apenas sete anos de casada, e quando lemos a seu respeito, ela estava com 84 anos. Com certeza sofreu com a perda do marido. Como enfrentou a situação? Ela prestava serviços sagrados a Jeová Deus no templo, noite e dia. (Lucas 2:36-38) A vida de serviço devoto de Ana era, sem dúvida, um grande antídoto contra a tristeza e a solidão que ela sentia como viúva.

 

22 “Meu maior desafio tem sido não ter com quem conversar”, explica uma senhora de 72 anos, que ficou viúva dez anos atrás. “Meu marido era um bom ouvinte. Conversávamos sobre a congregação e o nosso ministério cristão.” Outra viúva diz: “Embora o tempo cure, acho ser mais correto dizer que o uso que a pessoa faz do tempo é o que ajuda a curar. Você tem melhores condições de ajudar outros.” Um viúvo de 67 anos concorda, dizendo: “Uma maneira excelente de enfrentar a perda é dar de si para consolar outros.”

 

DEUS PREZA OS IDOSOS

 

23 Embora a morte roube um cônjuge amado, Jeová permanece sempre fiel, sempre de confiança. “Uma coisa pedi a Jeová”, cantou o Rei Davi da antiguidade, “é o que procurarei: morar na casa de Jeová todos os dias da minha vida, para contemplar a afabilidade de Jeová e olhar com apreciação para o seu templo”. — Salmo 27:4.

 

24 “Honra as viúvas que são realmente viúvas”, exorta o apóstolo Paulo. (1 Timóteo 5:3) O conselho que vem depois dessa ordem indica que as viúvas dignas que não tivessem parentes próximos poderiam precisar de ajuda material da congregação. Não obstante, o sentido da ordem de ‘honrá-las’ inclui a idéia de tê-las em alta estima. Que consolo as viúvas e os viúvos tementes a Deus podem derivar de saber que Jeová os têm em alta estima e os sustentará! — Tiago 1:27.

 

25 “O esplendor dos anciãos são as suas cãs”, diz a inspirada Palavra de Deus. “São uma coroa de beleza quando se acham no caminho da justiça.” (Provérbios 16:31; 20:29) Portanto, quer casado, quer novamente só, continue a priorizar o serviço de Jeová na sua vida. Terá assim um bom nome perante Deus agora e a perspectiva de vida eterna num mundo em que as dores da velhice não mais existirão. — Salmo 37:3-5; Isaías 65:20.

 

COMO PODEM ESTES PRINCÍPIOS BÍBLICOS AJUDAR . . .

 

O CASAL QUE ENVELHECE?

 

Os netos são uma “coroa” para os avós. — Provérbios 17:6.

A idade avançada pode trazer novas oportunidades para servir a Jeová. — Salmo 71:9, 14.

Os idosos são incentivados a ser “moderados nos hábitos”. — Tito 2:2.

Cônjuges enlutados, embora profundamente tristes, podem encontrar consolo na Bíblia. — João 11:11, 25.

Jeová preza os idosos fiéis. — Provérbios 16:31.

 

[Perguntas de Estudo]

 

1, 2. (a) Que mudanças ocorrem com a aproximação da velhice? (b) Como os homens piedosos dos tempos bíblicos encontravam satisfação na velhice?

 3. Que conselho deu Paulo a homens e mulheres idosos?

4, 5. Como reagem muitos pais quando seus filhos saem de casa, e como alguns se ajustam à nova situação?

 6. O que ajuda a manter as relações familiares na sua devida perspectiva?

 7. Que excelente atitude desenvolveu certo pai quando suas filhas saíram de casa para se casar?

8, 9. Como alguns pais se adaptaram à independência de seus filhos adultos?

10, 11. Que conselho bíblico ajudará as pessoas a evitarem alguns dos laços da meia-idade?

12. Como podem os casais se achegar mais com o passar dos anos?

13. Qual é o papel da franqueza e da honestidade à medida que o casal envelhece?

14. Que parte evidentemente desempenhou a avó de Timóteo no seu desenvolvimento como cristão?

15. Com respeito aos netos, que valiosa contribuição podem dar os avós, mas o que devem evitar?

16. Como podem os avós evitar ser causadores de tensões na família?

17. Que determinação do salmista devem os cristãos idosos imitar?

18. Como pode o cristão maduro aproveitar bem a sua condição de aposentado?

19. Que conselho se dá aos que estão envelhecendo?

20, 21. (a) No presente sistema, o que por fim separa o casal? (b) Que excelente exemplo deu Ana para cônjuges enlutados?

22. Como alguns viúvos e viúvas enfrentam a solidão?

23, 24. Que grande consolo a Bíblia dá para os idosos, particularmente aos enviuvados?

25. Que alvo ainda existe para os idosos?

 

sexta-feira, 10 de junho de 2022

Um Cântico na Agonia

 

Um Cântico na Agonia

Se você tivesse certeza absoluta do que lhe aconteceria nos próximos dias, qual seria a sua atitude?

Qual foi a atitude de Jesus Cristo antes de sua  crucificação, já sabendo o que O esperava no dia seguinte?

Participou da Ceia com os apóstolos e depois cantou um hino de louvor.

Tribulações irão surgir, quase que diariamente, mas saiba manter-se tranqüilo ao ponto de poder cantar um hino de louvor, Um Cântico na Agonia.

 Tragédias não escolhem hora, lugar ou pessoas. Simplesmente se abatem sobre nós. Diariamente temos contato ou conhecimento delas.

A diferença consiste em como enfrentá-las, contorná-las e vencê-las. Seguindo o exemplo de Cristo, nós como cristãos devemos observar os seus derradeiros atos em nosso meio. Diante das mais terríveis adversidades, Jesus enfrentou-as com extrema paz e fé nas promessas do Pai.

"Viver é correr risco da tragédia". E seja capaz de sempre poder entoar um Cântico na Agonia.

O que você faria hoje, se soubesse que amanhã se encontraria preso a mais terrível e indescritível crise existencial? 

Se amanhã você se desse conta de que seu melhor e mais íntimo amigo lhe houvesse faltado ao dever humano e fraternal de solidariedade? 

O que você faria se, de repente, aquela pessoa de quem você nem de longe desconfiara, na qual você tanto investiu e que tanto usufruiu de sua cultura, seus afetos, inclinações e bens maiores o traísse?

O que você faria se a religião na qual você foi criado, em meio a qual foi inspirado, dentro da qual foi instruído, subitamente, estabelecesse uma penalidade contra você?

Como você reagiria se, de hábito, se visse escarnecido, vilipendiado, com a honra enxovalhada, a dignidade exposta a uma situação de zombaria, motejo, galhofa e ironia?

O que faria se fosse alvo de grave violência física, de um estupro, por exemplo, ou de uma surra absurda?

Qual seria a sua atitude se você tivesse certeza absoluta do que lhe aconteceria nos próximos dias?

Houve um dia, na vida de Jesus, quando, olhando adiante, ele só conseguia ver coisas absurdas e semelhantes a essas a que acabo de me referir. Seu dia seguinte seria o dia do Getsêmani; dia da depressão, da agonia; dia do encaramujar da alma; dia da vertiginosa descida à região mais abissal; dia do choro, gemido, solidão profunda.

O dia seguinte seria aquele no qual faltaria a solidariedade dos amigos. Ele gemeria, choraria, pediria, reclamaria; solicitaria apoio, companhia, mas os amigos estariam dormindo. Voltaria a eles e em vão questionaria: "Não pudestes vigiar comigo?

Não pudestes investir em mim sequer alguns minutos? Não conseguistes vencer o sono? Será que a minha dor é menos importante que o conforto e o sossego? Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar comigo uma hora? (Marcos 14:37)

O dia seguinte também foi dia de traição, dia no qual Judas Iscariotes -discípulo, apóstolo, amigo, amado - o troca por dinheiro. Judas que fora investido de autoridade, aquele a quem se descortina o reino de Deus, a quem é permitido sonhar com os que sonham na intervenção de Deus na história; alguém aquinhoado com poder divino para realizar curas, prodígios, expulsão de demônios; aquele que vivenciara realidades concretas da chegada e da demonstração do Reino. 

E justamente ele que, em função de um bom negócio, trai a amizade; é esse Judas que beija e apunhala. É ele que dá um susto - não um susto no coração de quem não sabia o que ocorreria, mas um susto naquele que, mesmo ciente do que iria suceder, reserva-se, ainda assim, o direito de enfrentar cada momento da vida como cada momento da vida, com seus temores, sonhos e ambigüidades.

O dia seguinte é o dia no qual a religião judaica - segundo a qual foi criado, na qual aprendeu a ler (porque naqueles dias aprendia-se a ler nas escolas rabínicas, lendo a Torá, ou Escrituras), sendo instruído desde a mais tenra infância - após o julgamento, o acusa de herético, não recebe sua mensagem, rejeita sua proposta, considera-o demoníaco, expurga-o.

O dia seguinte é o dia da negação, negação de um dos melhores amigos, amigo que diante de uma situação pública afirma jamais tê-lo conhecido, não ter com ele a menor relação, não guardar a lembrança de nenhum encontro; não haver história entre eles, hipótese alguma de cumplicidade. Amigo que declara: "Não sei quem é esse homem; jamais o vi, nunca lhe ouvi o nome; tampouco andei com ele." Amigo que nega a fraternidade, o compromisso, a paixão e o sonho comum.

O dia seguinte seria dia de preterição, de troca: "Que preferes, a Jesus, chamado Cristo, ou ao ladrão?" Seria dia no qual o poder público faria opção pelo corrupto, em vez do justo; pela devassidão, e não pela integridade. Seria dia no qual os sistemas e a máquina governamental, por questões políticas, entregariam o inocente para ser condenado e libertariam - com todas as condições de libertação e seus privilégios - o assassino. 

Dia, pois, de ser trocado de maneira vil; de ser escarnecido - soldados lhe poriam uma coroa de espinhos na cabeça para brincar com a sua realeza (realeza, sim, mas de dor). Colocar-lhe-iam na mão um caniço quebrável, como a dizer que o seu cetro é o cetro da fraqueza. Vesti-lo-iam com um manto aparatoso, para significar que tipo de rei era ele: rei-momo; rei-palhaço; rei do festival; debochariam dele expondo-o a cenas ridículas. Para honrá-lo, cuspir-lhe-iam. A fim de declararem sua sapiência profética, fechar-lhe-iam os olhos para lhe perguntar: "Quem foi que te bateu?"

Sarcasmo, ironia. O dia seguinte é o dia da cruz. Dia da violação. Dia da profanação física. Dia da agressão. Dia de ser trespassado. Dia de ser objeto.

O que você faria, se soubesse que os três próximos dias da sua vida seriam dessa qualidade? O que você faria, se soubesse que o que o aguarda é a depressão, a facada, a traição, o agravo, a perfídia, a barganha, o julgamento, a exclusão da instituição, o desprezo, a rejeição, a falta de solidariedade e ingratidão dos que se afirmavam amigos?

O que você faria se nos próximos dias você perdesse o emprego, ou lhe roubassem a posição em favor do maior corrupto, de pessoas mais convenientes àquela posição? O que faria você, se amanhã fosse o dia do escárnio, do desdém, da injúria, do descrédito, do enodoamento do seu nome, de sua imagem e do seu caráter?

O que você faria, se amanhã, ao entrar no táxi, fosse vítima de um ato sádico, um assalto pavoroso, um seqüestro? Ou fosse dia no qual seu marido chegasse bêbado a casa, e tomado pelo machismo arrebentasse seu rosto, esmurrasse-a, atirasse-a ao chão, enchendo-a de hematomas, ferindo-lhe os ouvidos com palavrões e impropérios?

Tenho certeza de que não estou sendo irreal, nem estou falando de coisas que não lhe digam respeito. Porque todos nós, de um modo ou de outro, corremos sempre o risco de estarmos na iminência de sofrer algo desse tipo.

Viver é correr o risco de tragédia. Estar vivo é estar assistindo à possibilidade de conflito, traição, preterimento, negação, fraude, injustiça, roubo, desonra, calúnia, violência, depressão e "ilhamento".

Hoje, não sabemos o que nos pode acontecer amanhã ou depois. Mas o Cristo ao qual me refiro conhecia o futuro - se bem que não do ponto de vista de uma exacerbada onisciência, que lhe tirasse o direito e o privilégio de rir e de chorar, de alegrar-se ou de sofrer a cada instante, a ponto de a cada nova situação poder afirmar: "Eu já estava esperando que isso acontecesse..."

 Porque o paradoxo da onisciência de Jesus é que ele sabe tudo, mas vive tudo o que lhe acontece como se ignorasse que lhe ocorreria. É o mistério que só se explica em Deus: saber tudo, e, no entanto, viver tudo com a surpresa da chegada de cada coisa.

E qual a atitude de Jesus na véspera do tudo mal? Na véspera do trágico? Na véspera do tudo-nada? 

Marcos conta, no cap. 14, v.22 e 23 que, partindo o pão, ele disse: "Isto é o meu corpo"; e tomando o cálice, acrescenta: "Isto é o meu sangue" - prova de que estava plenamente consciente do que o aguardava. O v.26 diz mais:

"Tendo cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras".

O que esperava por Jesus era o ser ele partido, rasgado, moído, ultrajado, usado. No entanto, ele canta um hino! E que hino era esse? Era justamente o hino que o judeu cantava na Páscoa, o Salmo 115, que afirma o amparo de Deus; salmo que admoesta:

"Não confieis em ídolos. Têm boca e não falam; têm olhos e não vêem; têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta".

Ele exorta a que se confie no Senhor, em quem há amparo, refúgio, conforto, segurança.

Parece ironia cantar um hino desses à véspera do que Cristo sabia ser a moenda da sua alma, o trilhar do seu corpo, o lacerar e escalpelar da sua carne. Sim, Jesus foi neste planeta o único homem que soube crer no que Paulo articularia teologicamente mais tarde:

"Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8:28).

Qualquer um só faz arremedar essa prática, somente Jesus de Nazaré cantou antes da agonia; cantou louvores no gemido. E diga-se: em Cristo, o cantar, antes de tudo, equivale a cantar depois. Porque ele canta não antes da surpresa absoluta, mas sabendo o que está por vir. O que significa terminar a cruz em louvor.

O que estará a vida fazendo em nós? Que estará ela fazendo de nós? O que o chicotear, o deprimir, o esmagar, o humilhar, o tripudecer, o caluniar, o escarnecer, o decepcionar, o desacreditar, o roubar, o espatifar de ilusões estarão criando em nós?

Será que os gestos, jeitos, modos, palavras e tudo mais que a vida nos negou, não estariam gerando em nosso ser uma alma desértica, um coração duro, frio, incapaz do amor, da dádiva, da troca, do sossego e da paz? Será que não teria arrancado de nós a capacidade de sonhar, de crer, de renunciar e de ser grato? Ou ainda não teriam criado em nós uma mente inepta, paralisada ao fervor e à adoração?

Será que os fatos e as ocorrências do dia seguinte estão gerando em nós a idéia de que Deus tem o braço encolhido? Que ele é um Deus impotente, inoperante e alienado; um Deus-ídolo?

Ou será que, por sua graça, seremos capazes de enfrentar o que vier, chorando e gemendo com louvor, com gratidão, na certeza de que aquilo que dói em nós, magoa e fere fundo; aquilo que nos embaraça e tonteia pelo impacto; que nos surpreende, decepciona e assusta, de maneira nenhuma revela e retrata a inoperância e pouco-caso de Deus, que não traduz sua fuga ou omissão. 

Ao contrário, espelha a certeza de que, por trás do que se pode chamar bueiro da dor, espasmo da decepção, negrume da solidão, haverá finalmente a estrada em direção ao único Pai - o único Amigo - e à única vitória e certeza.

Certeza que nos capacita a viver apesar do desamor e abandono, da aflição da perda irrecuperável; apesar do nojo e horror do amigo traiçoeiro e traidor, do tédio da eterna criatividade vestida de pavão e corpo de gralha; enfim, apesar da tristeza de tanto que iria ser e nunca foi, ou parece ser e não é - nem nunca será.

Cristo canta a ressurreição. Ele canta a intervenção, celebra a vitória antes dela.

Meu grande desejo é que, de alguma forma, o Espírito do Senhor nos ajude a cantar um hino e sair... Sair para lutar! Sair para batalhar pela felicidade, alegria e independência a que temos direito. Sair, enfim, para viver a própria vida! Faça a vida a careta que fizer, use contra nós as armas que usar, empunhe em nossa direção as foices traiçoeiras e devastadoras que quiser. Pois, apoiados ao muro da esperança, em Deus, iremos de peito aberto contra todo choque e toda cilada, celebrando de antemão a vitória, a interferência e o amparo do Todo-Poderoso, em meio à agonia.

Saia para glorificar o nome de Jesus, cantando antes, durante e depois!


O Sopro do Espírito

 

O Sopro do Espírito

 "O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito."(João 3:8).

Eu nasci e cresci no Alto de Nazaré no Amazonas e soltava papagaio. Você sabe o que é papagaio? É pipa em Niterói, é cafifa em alguns lugares, é pião em outros lugares e lá no Amazonas é papagaio.

E havia um ritual no meio da garotada. Geralmente o vento parava, mas a garotada não parava de soprar no desejo de soltar papagaio.

E como é que a gente fazia prá soltar papagaio quando não havia vento? Nós nos reuníamos, aquele grupo de garotos, e começávamos a fazer alguma coisa mais ou menos como que chamando o vento, assobiando para chamar o vento. De repente o vento começava a soprar.

Não me peça explicações científicas para o fenômeno porque eu não tenho. Mas nós soprávamos numa coisa meio encantada, meio religiosa esperando que o vento viesse. Daqui a pouco o vento soprava e a garotada ficava felicíssima porque o vento tinha vindo e nós podíamos agora empinar os nossos papagaios.

Eu quero dizer que sem o vento do Espírito o papagaio da igreja não sobe.

Sem o vento do Espírito o papagaio da igreja não sobe!

E eu estou escrevendo este livro prá convocar esta multidão do povo de Deus a darmos as mãos e a chamarmos o vento do Espírito sobre este país em nome de Jesus.

Vamos juntos, em nome de Jesus, como os meninos do Amazonas, de mãos dadas.

Vem vento, vem oh, vento do Espírito e sopra sobre nós; Sopra sobre nossas casas; Sopra sobre nossos casamentos; Sopra sobre nossos filhos; Sopra sobre nossas famílias; Sopra sobre nossos ministérios; Sopra sobre nossas mentes; Sopra sobre nossas emoções; Sopra sobre nossos relacionamentos; Sopra sobre nós; Sopra sobre este país; Sopra sobre o Palácio do Planalto; Sopra sobre nossos governadores; Sopra sobre nosso povo simples da rua; Oh, Espírito sopra!

O que nós queremos é ser profundamente atingidos por uma tempestade do Espírito. O vento sopra onde quer.

Este verso da Escritura, palavra de Jesus a Nicodemos traz consigo quatro verdades que são absolutamente revolucionárias em nossa maneira de enxergar o Espírito.

Em primeiro lugar: Jesus associa o Espírito Santo também a um vento que sopra. E pensando no vento, Jesus atribui ao Espírito três qualidades sem cuja compreensão, sem cujo conhecimento, eu e você não temos como discernir, perceber ou nos largamos no Sopro do Espírito no mundo, na história, na igreja.

Primeiramente: O Espírito é livre! Ele diz: "o vento sopra aonde quer." E não há nada que você possa fazer a respeito, não há proibições; governos não passam decretos que proíbam o vento de soprar. Não há autoridade alguma que diga: aqui o vento não sopra; pois o vento sopra aonde quer soprar. O Papa não pode impedir do vento soprar no Vaticano, na Igreja Católica. 

O Presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil não pode impedir do vento soprar dentro da Igreja. Os líderes das denominações não podem passar decretos, fazer doutrinas para impedir do vento soprar lá. Os teólogos podem escrever os livros que quiserem negando o vento do Espírito mas o Espírito é livre; o Espírito é livre e sopra aonde quer.

Significa que frequentemente ele sopra onde a gente não quer.

Significa que frequentemente ele sopra contra a nossa vontade.

Porque o Espírito é livre.

E quando você pensa no Espírito pense em Deus, em Sua plenitude e liberdade, sem condicionamento, sem fronteiras, sem decretos, sem proibições, sem pode ou não pode.

Só para o Espírito que é proibido dizer: é proibido proibir.

O Espírito é livre e só.

Agora quando você lê, por exemplo, o livro de Atos dos Apóstolos, isso fica absolutamente claro.

É porque o Espírito é livre que ele faz ilustres desconhecidos se tornarem embaixadores de Deus no planeta.

Eu acho fantástico o que diz Atos dos Apóstolos.

A grande questão das elites religiosas de Jerusalém vindas de dezessete nações debaixo do Sol.

"– Não são estes porventura galileus os que estão nos falando as grandezas de Deus em nossa própria língua materna?"

Não era a aristocracia de Jerusalém, não eram os membros do sinédrio, não eram os teólogos.

Eram pescadores simples, mulheres incultas, gente leiga de tudo, que tinham sido banhados pelo Espírito de Deus que agora tinham a boca impregnada pelas grandezas de Deus.

O Espírito sopra onde quer e é por isso que ele frequentemente libera a palavra da salvação por meios estranhos como a perseguição.

Você vê em Atos dos Apóstolos no capítulo 8 que a Igreja enviada a pregar ao mundo inteiro se contém sublimada, perplexa, atrapalhada, embebedada com a graça de Deus, perde o caminho, não sabe mais onde o mundo está. E se comunitariza, se fecha, se apequena e fica como que curtindo as maravilhas de ser abençoada e se esquece do mundo pagão perdido.

E o Espírito Santo não convoca um congresso para decidir a evangelização do mundo. Diz a Bíblia que simplesmente Ele faz a perseguição cair forte sobre a Igreja. E o texto de Atos capítulo 8 verso 1 e 2 nos diz o seguinte:

"por causa da perseguição que veio a Estevão, a Igreja foi semeada por Samaria, Judéia, Antioquia e o mundo ouve a Palavra."

Você poderia conceber alguma coisa mais estranha do que esta?

Recentemente uma autoridade, talvez a maior autoridade católica do país visitou-me em meu escritório e estivemos conversando sobre os últimos acontecimentos entre a comunidade católica e a comunidade evangélica.

Eu disse a ele que fico preocupado com estas hostilidades, não tanto por nós, porque prá nós quanto mais pedrada melhor, porque desde as origens nós crescemos melhor debaixo de perseguição. Perseguição faz bem.

Eu ouvi há algum tempo atrás de um líder da comunidade evangélica de Angola, que a Igreja lá nunca cresceu tanto como nestes anos debaixo da opressão comunista.

Brevemente estarei indo pregar numa cruzada evangelística num estádio na Albânia. Nunca na minha vida eu pensei que estaria um dia pregando na Albânia num estádio.

Nosso programa de televisão, Pare & Pense, está entrando na Albânia. E por que isto? Porque perseguição faz bem, aduba, irriga, fertiliza, prepara, deixa as almas num estado de carência profunda.

Conquanto eu e você jamais poderíamos conceber perseguição como sendo algo útil e bom para o crescimento da Palavra de Deus no mundo e no meio da comunidade do povo de Deus.

O Espírito todavia é diferente de mim e de você, sopra onde quer. E frequentemente usa estes estados de opressão para transformá-los em adubo e irrigadores da Palavra. O Espírito é livre.

E por isso frequentemente torna os maiores perseguidores nos maiores promotores da fé.

Confira, lendo o livro de Atos capítulo 9.

Nenhuma agência de publicidade deste país e do mundo teria imaginado transformar Saulo de Tarso em apóstolo de Jesus Cristo.

Agências de publicidade que pensam em estratégias de quem seria um bom promotor de um produto, nenhuma delas ousaria apanhar Saulo e transformá-lo num apóstolo do Evangelho. Era como pedir ao Roberto Marinho para se transformar num patrocinador do Brizola. Ou ao Brizola para aparecer na Rede Globo dizendo: tente, invente, faça alguma coisa diferente, simplesmente não dá.

Agora, o Espírito é livre.

Ele vê Saulo, assanhado, alvoroçado, resfolegante, respirando ameaças e Ele olha e diz: Eu vou soprar na vida deste homem. Eu vou levá-lo para virar o mundo de cabeça prá baixo. Eu vou mostrar a ele o prazer de sofrer pelo meu nome. Eu vou mostrar a ele como é gostoso ficar cheio do Espírito Santo e viver Deus no mundo. Eu vou transformá-lo no maior promotor da fé de todos os tempos da história.

O Espírito é livre e por isso freqüentemente sopra aonde a Igreja não dá permissão nem prá Ele soprar. A igreja proibiu mas o Espírito agiu na ilegalidade.

Veja bem o que eu estou falando: Deus é um Deus ilegal! Se Deus dependesse da legalidade da Igreja, estaria perdido.

Frequentemente o povo de Deus diz não e Deus diz sim.

Limita fronteiras e diz prá Deus só agir desta forma e Deus age de todas as formas.

A Igreja de Jerusalém não podia imaginar que Cesaréia Marítima construída em homenagem a César, cheia de ídolos enormes de mármore trazidos de Roma pudesse se transformar na Catedral do Pentecoste.

Mas o Espírito estava tramando.

O Espírito trama, conspira subversivamente. A ação mais subversiva da história é a ação do Espírito Santo; acode os "status quo", deixa as nossas certezas esboroadas, perturbadas. Demole frequentemente nosso sentido de segurança.

Andar no Espírito é andar em profunda insegurança, mantendo os ouvidos abertos, os olhos atentos e o espírito livre.

E aí Ele se manifesta a um homem chamado Cornélio.

 "- Cornélio, suas orações foram ouvidas."

Eu não sei se teria coragem de dizer para um pagão como Cornélio - suas orações a Deus foram ouvidas.

Eu tenho impressão de que os teólogos cristãos iam cair matando em cima de mim se eu dissesse um negócio deste.

Deus ouve orações de pagãos.

"As tuas esmolas subiram. Agora pois manda buscar um homem chamado Pedro que está a 40 km daqui na casa de Simão. Ele vai te trazer palavras de vida."

Aí tem outro problema: O maior problema do Espírito não é se revelar aos pagãos, o maior problema do Espírito é convencer os cristãos.

Pedro piedoso em oração. E o Espírito baixa um lençol com tudo que tem na melhor churrascaria do Planeta: linguiça, pernil, costela, lombinho,..., todas as coisas que a gente come abençoadas por Deus e que Pedro se privava, coitado! Até aquele dia.

E o que acontece é que por três vezes o Espírito tem que repetir a mesma mensagem:

"O que Deus purificou, Pedro, não menosprezes como imundo."

Mas isto não é suficiente: as visões cessam e Pedro ainda continua pensando: Será que Deus o falou?

Aparecem os dois homens de Cornélio na porta da casa dizendo que o centurião o convida prá ouvir a mensagem do Evangelho.

E Pedro viu. E entra cheio de pedigris:

"– Vós bem sabeis que um homem como eu, judeu... Mas ontem eu recebi uma revelação nova de que não considere imundo algo que Deus santificou. Eu estou aqui!"

E começa a pregar a Palavra e no meio da sua pregação, o Espírito que é livre, (e eu ficaria muito feliz se Ele fizesse a mesma coisa aqui no meio de nossas vidas,) o Espírito interrompeu a mensagem.

Se derramou sobre os presentes, que começaram a falar em línguas, a profetizarem no meio do sermão de Pedro.

O Espírito Santo precisa chegar às conclusões homiléticas de uma pregação para amarrar todos os pontos dentro do seu coração.

O Espírito sopra onde quer e é por isso que não raramente transforma tragédias em bênçãos.

Paulo está indo para Roma e naufraga. Por causa disso uma ilha inteira é salva pelo evangelho.

Será que tem alguém hoje vivendo debaixo da marca do signo da tragédia, alguém hoje vivendo dentro deste navio naufragado?

O Espírito sopra onde quer e Ele tem poder prá transformar seu país, sua vida, seu navio naufragado, num instrumento da misericórdia dEle prá muita gente.

Apenas creia que a tua tragédia vai ser transformada num instrumento da bondade de Deus em nome dEle.

Meu pai faliu como empresário prá poder se converter a Jesus.

Eu tive que querer me matar como humano prá poder chegar ao ponto de encontrar esta alegria imensa de viver prá Jesus.

O Espírito é livre.

Em segundo lugar: Ele diz que o Espírito é misterioso.

O vento sopra aonde quer. Ouves a sua voz mas não sabes de onde veio e para onde vai. Eu gosto disso aqui.

Há três meses atrás eu estava reunido com um grupo de Teólogos e eles pediram prá eu ministrar para eles.

E eu abri aqui e queria ter um texto para todas as especulações teológicas.

O Espírito sopra aonde quer. Agora, teólogo, tu não sabes de onde vem ou para onde vai. Não adianta tentar escrever a respeito senão vai ter que escrever um segundo livro dizendo depois – Desculpe qualquer coisa, eu estava enganado! Não sabes... O Espírito é misterioso.

Primeiro Jesus diz: tu não sabes de onde ele vem!

Frequentemente a gente diz que o avivamento virá através dos jovens piedosos e Deus começa o avivamento com as irmãzinhas de coque na cabeça; O avivamento virá através de seminários quebrantados e seminaristas cheios do Espírito Santo e o avivamento acontece entre homens de negócios.

Frequentemente a gente diz que o avivamento virá desta gente que conhece profundamente a Bíblia e o avivamento começa numa igreja Neo-Pentecostal que só fala sobre cura divina, expulsão de demônios e muito pouco da Bíblia.

Preste atenção, ninguém sabe de onde vem.

Quem pensa que sabe de onde vem, não sabe nada.

Vem do Espírito e, é só o que eu sei.

De onde vem eu não sei, por isso meu coração deve estar aberto para todas as possibilidades.

Ninguém pode prever de onde vem. Vai soprar!

Quem acha que pode prever, geralmente é aquele que faz aquela pergunta: De Nazaré pode vir alguma coisa boa?

Cuidado, se você pensa que sabe de onde vem; possivelmente você é aquele que quando vê algo acontecendo que está vindo de onde você não pensava que viria você vai dizer: De Nazaré.

Ninguém pode prever quem é que vai usar.

Quem acha que pode prever é exatamente aquele que faz a pergunta de Marcos 6. "... Donde vêm a este estas coisas?"

Eu não sei prá onde vai!

A unção de Deus não é hereditária não. Eu não sei o que os meus filhos vão ser. Só sei, em nome de Jesus, que vão ser crentes.

Mas a unção não é hereditária.

Quem foi o sucessor de Moisés? Não foi Moisés Júnior, foi Josué.

E o sucessor de Elias? Não foi Eliazinho, foi Eliseu.

Outro dia um de meus filhos estava comigo num lugar que eu estava pregando. Nós entramos juntos; é o meu garoto mais velho.

E o líder daquele grupo disse: Meu filho você está a cara do seu pai, só falta o cavanhaque e botar aqui esta roupa e você podia entrar no lugar dele e pregar.

E o meu garoto disse: É tio, mas o senhor está esquecendo uma coisa: falta a unção.

Falta a unção porque esta não é hereditária.

Meu irmão, minha irmã, tu não sabes prá onde vai, tu não sabes de onde vem, não sabes prá onde vai.

Deus pode estar ungindo aquele que não pensaríamos jamais em ungir.

Frequentemente Deus levanta aqueles que nós jamais pensaríamos em levantar.

 E ainda mais; a sua unção não é ensinada.

A coisa mais intrigante e irônica que há no Velho Testamento é aquela instituição chamada de Casa dos Profetas ou discípulos dos profetas.

Nenhum profeta que escreveu livro da Bíblia veio da escola dos profetas. A escola dos profetas estava ali só prá estudar as profecias que Deus dava a quem não freqüentava a Casa dos Profetas.

Onde estava Eliseu? Na Casa dos Profetas?

Não! Estava no campo arando.

Onde estava Amós? Na Casa dos Profetas?

Não! Estava na fazenda com laço na mão pegando boi.

Onde estava Ozéias? Na Casa dos Profetas?

Não! Estava fazendo pão na padaria.

Onde estava Isaías? Na Casa dos Profetas?

Não! Estava dando aula na Universidade de Jerusalém.

Onde estava Jeremias? Ezequiel? Na Casa dos Profetas?

Não! Estavam no meio do povo.

Isto apenas me faz andar com temor e tremor.

Isto apenas desfaz todas as minhas conjecturas e faz estar diante de Deus com a alma absolutamente perplexa dizendo: Espírito, eu não sei de onde vens, não sei prá onde vais, por isso faze-me sensível suficiente prá nunca colocar minha vida como obstáculo do teu caminho.

Prá mim é uma coisa ridícula quando eu vejo alguns dos meus livros estudados em algum curso de PHD por aí, ou quando eu sou convidado a dar uma aula num mestrado aqui e no exterior.

Eu nunca sentei num banco de seminário.

O Espírito está falando uma palavra dEle a você neste livro; Palavra dEle prá sua família; Palavra dEle prá seu casamento quebrado; Palavra dEle prá seu relacionamento esfarelado com os seus filhos; Palavra dEle prá seus negócios quase falidos; Palavra dEle prá seus negócios em pouco progresso.

Mas justamente por causa disso, saindo daquela atitude de quebrantamento, justamente por causa disso acerca de seu futuro, suas dúvidas, justamente por causa da sua frustração, prá seu senso de irrealizações, justamente pelo seu coração traído, magoado, ferido, apunhalado, justamente por causa disso, mostrando oportunidades novas, tirando o véu dos seus olhos, fazendo ver um caminho novo. Palavra do Espírito prá vencer seu medo, Palavra do Espírito prá tirar do seu coração a intransigência, abrir você quem sabe prá alguém, um grupo, para algo, Palavra do Espírito prá arrancar da sua alma sentimentos de perda, Palavra do Espírito prá fazer você enxergar algo novo.

Não sabes de onde vem, prá onde vai, mas ouves a sua voz.

Eu creio que Deus está falando com você agora.

Ouça a voz do Espírito!

Qual a palavra do Espírito prá você neste livro?

Felipe estava pregando lá em Samaria numa cruzada evangelística em que milhares de pessoas estavam sendo curadas.

De repente um anjo do Senhor aparece e diz: Felipe largue esta multidão aqui e vá para um caminho que está deserto.

Coisa absolutamente absurda: ninguém com bom senso larga uma multidão por um deserto, uma cruzada por um caminho ermo, empoeirado.

Felipe foi. Não sabia de onde vinha e prá onde ia, ouviu uma voz e foi.

Encontrou o Ministro do tesouro da Etiópia pregou a Palavra de Deus prá ele.

E o Evangelho viajou no coração daquele homem prá mais longe, num impacto mais profundo do que Felipe jamais poderia conseguir no seu ministério.

Se você ouvir a voz hoje, não endureça o seu coração! Ouves a sua voz.

Ano passado, na Hungria, eu estava pregando e um dos irmãos do PUNJAVE me contou a seguinte história:

"Havia um missionário que há muitos anos tentava pregar o evangelho e nunca levou ninguém a Cristo. E havia um varredor que limpava o quintal da casa do missionário que pertencia a uma das castas mais baixas dos hindus.

E aquele varredor de tanto ouvir o missionário pregar, se converteu.

E disse: O senhor poderia me batizar?

O missionário disse: Eu não posso batizar você pois eu vim para cá evangelizar as castas opressoras dos hindus. Se eu batizar você, vou atrelar o evangelho a esta classe inferior e os da classe superior nunca mais vão querer ouvir o evangelho.

Vou colocar um carma no evangelho. Vão pensar que o evangelho é para esta gente que está com este carma terrível.

E o varredor ficou por ali varrendo. E a esposa do missionário ficou no cangote do missionário dizendo:

O que você está fazendo é indigno. Jesus veio para esta gente. Você está em pecado. Você não pode deixar de batizá-lo.

O missionário não agüentava mais, e nem tanto por conveniência, mas por aflição, resolveu batizar o homem. Chamou-o e disse: "– Vou batizar você com uma condição: você vai me prometer que não vai contar prá ninguém!"

O varredor aceitava qualquer negócio. E o missionário o batizou.

E o varredor ficou por ali mudo, só varrendo com aquela alegria enorme, até que não agüentou e fugiu da casa do missionário dizendo: "ele que me perdoe, mas isto já está vazando, eu vou é pregar o Evangelho."

Sabe o que aconteceu? O missionário estava ali há anos. Um mês depois o varredor voltou com cem para serem batizados.

Dois meses depois com quinhentas pessoas, três meses depois...

Este irmão me disse que já agora cerca de vinte e cinco a trinta anos se passaram e mais de um milhão de pessoas foram alcançadas pelo trabalho do varredor.

O Espírito sopra aonde quer.

Nos dias de Eliseu, mais importante foi a empregada doméstica de Naamã.

O Espírito sopra onde quer, não sabes de onde vem e prá onde vai.

Se hoje Ele falou contigo, se hoje ouvistes a Sua voz, não endureças o seu coração.

Meu irmão, minha irmã, eu quero concluir como comecei, com os meninos do Amazonas, assobiando... Vem vento, vem vento.

Soltando papagaio eu aprendi as maiores lições sobre o Espírito.

Pois é, eu aprendi que a gente tem que chamar o vento ao invés de tentar soltar o papagaio no braço.

Lá tinha uns meninos que tentavam soltar no braço. Sabe como?

Quando o vento parava eles pegavam aquelas maçarocas de cem, duzentas jardas de fio e o outro ficava no fim da rua e saíam correndo ladeira abaixo. Igual ao programa de evangelização das denominações, numa força terrível, mas aí o papagaio vem, vem e desce, batendo com o bico no chão!

Chame o vento. Participe desta coisa maravilhosa de chamar o vento com os irmãos.

Parece não fazer nenhum sentido, mas você vai sentir!

Vem vento do Espírito! Aleluia!

Meu irmão, minha irmã esta é a primeira lição: não tente fazer a obra de Deus no braço. Quando o vento sopra você não precisa correr.

A segunda lição: Você tem que seguir o vento. Você empina o seu papagaio aqui do lado de cá às 9 hs. E sabe, às vezes, meio dia, tem gente soltando papagaio do lado de lá.

Sabe o que aconteceu? o vento mudou.

O segredo de vidas bem sucedidas e de ministérios bem sucedidos é o segredo de quem não continua soltando papagaio do lado de cá, mesmo quando o vento está soprando do lado de lá.

Siga o vento! Siga o vento!

Às vezes encontro algumas pessoas que dizem:

"- Ah, pastor! Há cinco anos encontrei o senhor e vi que o senhor estava muito preocupado com a questão tal. Agora parece que o irmão está preocupado com a questão tal."

Eu digo: É meu irmão, o vento naquele tempo estava soprando pra lá. O vento agora está soprando prá cá. Eu quero seguir o vento.

Terceira lição: Você tem que respeitar a direção que o vento está soprando na vida dos outros.

Sabe porque? Frequentemente lá em Manaus eu estava soltando papagaio do lado de cá e às vezes eu tomava um susto, pois tinha gente soltando papagaio pro lado de lá, porque o vento estava soprando numa corrente e no alto estava soprando o papagaio por outra corrente.

Cuidado prá você não querer que todos os papagaios sejam empinados na direção do seu.

Cuidado! A obra de Deus é maior que a Assembléia, que a Igreja Presbiteriana, Batista, que a VINDE, que a ADHONEP, que a AEVB.

E o Espírito está soprando ventos diferentes em direções diferentes.

Respeite o sopro do vento.

Quarta lição: Você tem que respeitar o sopro do vento sobre os outros. Às vezes você está soltando papagaio aqui e não está tão forte. Do lado de lá está quase arrebentando a linha do irmão. Agora agüente firme, é questão de tempo; vai soprar aqui também.

Agora é hora de nós chamarmos o vento em nome de Jesus!

Espírito Santo, Espírito Santo, Espírito de amor, Tu foste enviado a nós da parte do Senhor.

Espírito Santo, Fiel consolador, Vieste prá curar e livrar o homem de toda dor, Espírito Santo presente em mim, Manifestando a graça de Deus e seu amor sem fim.

Espírito Santo, suave a soprar em nossos corações, Prá nos edificar.

Oh Espírito nós te invocamos. Espírito acima de todos os espíritos.

Deus acima de todos os deuses.

Sopra sobre nossas vidas, usa-nos como teus instrumentos.

Junte-se a nós, chame o vento do Espírito! Amém.

 

CAIO FÁBIO