sábado, 14 de maio de 2022

A História do Povo Judeu (Parte 03)

 O PERÍODO DO SEGUNDO TEMPLO

 

Os Períodos Persa e Helenístico
(538-142 a.E.C.)

 

Em conseqüência de um decreto do Rei Ciro, da Pérsia, que conquistou o império babilônico, cerca de 50.000 judeus empreenderam o Primeiro Retorno à Terra de Israel, sob a liderança de Zerobabel, da dinastia de David. Menos de um século mais tarde, o Segundo Retorno foi liderado por Esdras, o Escriba. Durante os quatro séculos seguintes, os judeus viveram sob diferentes graus de autonomia sob o domínio persa (538-333 a.E.C.) e helenístico - ptolemaico e selêucida (332-142 a.E.C.).

A repatriação dos judeus, sob a inspirada liderança de Esdras, a construção do Segundo Templo no sítio onde se erguera o Primeiro, a fortificação das muralhas de Jerusalém e o estabelecimento da Knesset Haguedolá (a Grande Assembléia), o supremo órgão religioso e judicial do povo judeu, marcaram o início do segundo estado judeu (período do Segundo Templo). Dentro do âmbito do Império Persa, a Judéia era uma nação cujo centro era Jerusalém, sendo a liderança confiada ao Sumo Sacerdote e ao conselho dos Anciãos.

Como parte do mundo antigo conquistado por Alexandre Magno da Grécia (332 a.E.C.), a Terra de Israel continuava a ser uma teocracia judaica, sob o domínio dos selêucidas, estabelecidos na Síria. Quando os judeus foram proibidos de praticar o judaísmo e seu Templo foi profanado, como parte das tentativas gregas de impor a cultura e os costumes helenísticos a toda a população, desencadeou-se uma revolta (166 a.E.C.) liderada por Matatias, da dinastia sacerdotal dos Hasmoneus, e mais tarde por seu filho, Judá, o Macabeu. Os judeus entraram em Jerusalém e purificaram o Templo (164 a.E.C.), eventos comemorados até hoje anualmente, na festa de Chanuká.

 

 

 

 

A Dinastia dos Hasmoneus
(142-63 a.E.C.)

 

Após novas vitórias dos Hasmoneus (142 a.E.C.), os selêucidas restauraram a autonomia da Judéia (como era então chamada a Terra de Israel) e, com o colapso do reino selêucida (129 a.E.C.), a independência judaica foi reconquistada. Sob a dinastia dos Hasmoneus, que durou cerca de 80 anos, as fronteiras do reino eram muito semelhantes às do tempo do Rei Salomão; o regime atingiu consolidação política e a vida judaica floresceu.

 

O Domínio Romano
(63 a.E.C. - 313 E.C.)

 

Quando os romanos substituiram os selêucidas no papel de grande potência regional, eles concederam ao rei Hasmoneu Hircano II autoridade limitada, sob o controle do governador romano sediado em Damasco. Os judeus eram hostis ao novo regime, e os anos seguintes testemunharam muitas insurreições. Uma última tentativa de reconquistar a antiga glória da dinastia dos Hasmoneus foi feita por Matatias Antígono, cuja derrota e morte trouxe fim ao governo dos Hasmoneus (40 a.E.C.); o país tornou-se, então, uma província do Império Romano.

Em 37 a.E.C., Herodes, genro de Hircano II, foi nomeado Rei da Judéia pelos romanos. Foi-lhe concedida autonomia quase ilimitada nos assuntos internos do país, e ele se tornou um dos mais poderosos monarcas da região oriental do Império Romano. Grande admirador da cultura greco-romana, Herodes lançou-se a um audacioso programa de construções, que incluía as cidades de Cesaréia e Sebástia e as fortalezas em Heródio e Massada. Ele também reformou o Templo, transformando-o num dos mais magníficos edifícios da época. Mas apesar de suas múltiplas realizações, Herodes não conseguiu fazer jus à confiança e ao apoio de seus súditos judeus.

Dez anos após a morte de Herodes (4 a.E.C.), a Judéia caiu sob a administração romana direta. À proporção que aumentava a opressão romana à vida judaica, crescia a insatisfação, que se manifestava por violência esporádica, até que rompeu uma revolta total em 66 E.C.. As forças romanas, lideradas por Tito, superiores em número e armamento, arrasaram finalmente Jerusalém (70 E.C.) e posteriormente derrotaram o último baluarte judeu em Massada (73 E.C.).

 

Massada

Aproximadamente 1.000 judeus - homens, mulheres e crianças - sobreviventes da destruição de Jerusalém, ocuparam e fortificaram o palácio do Rei Herodes, situado no alto do monte Massada, às margens do Mar Morto. Durante três anos, eles resistiram às repetidas tentativas romanas de desalojá-los. Quando os romanos finalmente escalaram o monte e irromperam na fortaleza, descobriram que os defensores e suas famílias haviam preferido morrer por suas próprias mãos a serem escravizados.

A destruição total de Jerusalém e do Templo foi uma catástrofe para o povo judeu. De acordo com o historiador da época, Flávio Josefo, centenas de milhares de judeus pereceram durante o cerco a Jerusalém e em outros pontos do país, e outros milhares foram vendidos como escravos.

Um último breve período de soberania judaica na era antiga foi o que se seguiu à revolta de Shimon Bar Kochbá (132 E.C.), quando Jerusalém e a Judéia foram reconquistadas. No entanto, dado o poder massivo dos romanos, o resultado era inevitável. Três anos depois, segundo o costume romano, Jerusalém foi "sulcada por uma junta de bois"; a Judéia foi rebatizada de Palaestina e a Jerusalém foi dado o novo nome de Aelia Capitolina.

Embora o Templo tivesse sido destruído e Jerusalém completamente queimada, os judeus e o judaísmo sobreviveram a seu fatídico encontro com Roma. O organismo legislativo e judiciário supremo, o Sanhedrin (sucessor da Knesset Haguedolá) reuniu-se em Iavne (70 E.C.) e, mais tarde, em Tiberíades. Sem a estrutura unificadora do estado e do Templo, a pequena comunidade judaica remanescente recuperou-se gradualmente, reforçada de vez em quando pela volta de exilados. A vida institucional e comunal se renovou, os sacerdotes foram substituídos por rabinos e a sinagoga tornou-se o centro das comunidades judaicas, conforme se evidencia pelos remanescentes de sinagogas encontradas em Cafarnaum, Korazin, Baram, Gamla e outros locais. A Halachá (lei religiosa judaica) tornou-se o elo comum entre os judeus e foi transmitida de geração a geração.

 

Halachá

Halachá é o corpo de leis que tem guiado a vida judaica em todo o mundo desde os tempos pós-bíblicos. Ela trata das obrigações religiosas dos judeus, tanto em suas relações interpessoais quanto em suas observâncias rituais, abrangendo praticamente todos os aspectos do comportamento humano - nascimento e casamento, alegria e tristeza, agricultura e comércio, ética e teologia.

Enraizada na Bíblia, a autoridade da Halachá é baseada no Talmud, o corpo de leis e saber judaicos (completado c.400 E.C.), que compreende a Mishná, primeira compilação escrita da Lei Oral (codificada c.210 E.C.) e a Guemará, uma elaboração da Mishná. A fim de oferecer orientação na observância da Halachá, compilações concisas e sistematicamente ordenadas foram redigidas por eruditos religiosos, a partir dos séculos I e II. Uma das mais autorizadas destas codificações é o Shulchan Aruch, escrito por Joseph Caro em Safed (Tzfat) no século XVI.

 

IV - DOMINAÇÃO ESTRANGEIRA

O Domínio Bizantino

(313-636)

No final do século IV, após a conversão do imperador Constantino ao cristianismo (313) e a fundação do Império Bizantino, a Terra de Israel se tornara um país predominantemente cristão. Foram construídas igrejas nos lugares santos cristãos de Jerusalém, Belém e da Galiléia, e fundaram-se mosteiros em várias partes do país. Os judeus estavam privados de sua relativa autonomia anterior, assim como do direito de ocupar postos públicos; também lhes era proibida a entrada em Jerusalém, com excessão de um dia por ano (Tishá beAv - dia 9 de Av), quando podiam prantear a destruição do Templo.

A invasão persa de 614 contou com o auxílio dos judeus, animados pela esperança messiânica da libertação. Em gratidão por sua ajuda, eles receberam o governo de Jerusalém; esse interlúdio, porém, durou apenas três anos. Subseqüentemente, o exército bizantino recuperou o domínio da cidade (629), e os habitantes judeus foram novamente expulsos.

 

O Domínio Árabe
(636-1099)

A conquista do país pelos árabes ocorreu quatro anos após a morte do profeta Maomé (632) e durou mais de quatro séculos, sob o governo de califas estabelecidos primeiramente em Damasco, depois em Bagdá e no Egito. No início do domínio muçulmano, os judeus novamente se instalaram em Jerusalém, e a comunidade judaica recebeu o costumeiro status de proteção concedido aos não-muçulmanos sob domínio islâmico, que lhes garantia a vida, as propriedades e a liberdade de culto, em troca do pagamento de taxas especiais e impostos territoriais.

Contudo, a introdução subseqüente de restrições contra os não-muçulmanos (717) afetou a vida pública dos judeus, assim como sua observância religiosa e seu status legal. A imposição de pesados impostos sobre as terras agrícolas levou muitos judeus a mudar-se das áreas rurais para as cidades, onde sua situação pouco melhorou; a crescente discriminação social e econômica forçou muitos outros a abandonar o país. Pelo final do século XI, a comunidade judaica da Terra de Israel havia diminuído consideravelmente, tendo perdido também parte de sua coesão organizacional e religiosa.

 

Os Cruzados
(1099-1291)

 

Nos 200 anos seguintes, o país foi dominado pelos cruzados que, atendendo a um apelo do Papa Urbano II, partiram da Europa para recuperar a Terra Santa das mãos dos "infiéis". Em julho de 1099, após um cerco de cinco semanas, os cavaleiros da Primeira Cruzada e seu exército de plebeus capturaram Jerusalém, massacrando a maioria de seus habitantes não-cristãos. Entrincheirados em suas sinagogas, os judeus defenderam seu quarteirão, mas foram queimados vivos ou vendidos como escravos. Nas poucas décadas que se sucederam, os cruzados estenderam seu poder sobre o restante do país, em parte através de tratados e acordos, mas sobretudo em conseqüência de sangrentas conquistas militares. O Reino Latino dos Cruzados constituía-se de uma minoria conquistadora, confinada em cidades e castelos fortificados.

Quando os cruzados abriram as rotas de transporte da Europa, a peregrinação à Terra Santa tornou-se popular; ao mesmo tempo, um crescente número de judeus procurava retornar à sua pátria. Documentos da época revelam que um grupo de 300 rabinos da França e Inglaterra chegou ao país, instalando-se em Acre (Aco) e em Jerusalém.

Após a derrota dos cruzados pelo exército muçulmano de Saladino (1187), os judeus passaram a gozar novamente de uma certa dose de liberdade, inclusive o direito de viver em Jerusalém. Embora os cruzados conseguissem ainda manter sua presença no país após a morte de Saladino (1193), ela se limitava a uma rede de castelos fortificados. O domínio cruzado sobre o país chegou ao fim com a derrota final frente aos mamelucos (1291), uma casta militar muçulmana que conquistara o poder no Egito.

 

O Domínio Mameluco
(1291-1516)

Sob o domínio mameluco, o país tornou-se uma província atrasada, cuja sede de governo era em Damasco. Acre, Jafa (Iafo) e outros portos foram destruídos por temor a novas cruzadas, e o comércio, tanto marítimo quanto terrestre, foi interrompido. No final da Idade Média, os centros urbanos do país estavam virtualmente em ruínas, a maior parte de Jerusalém estava abandonada e a pequena comunidade judaica vivia à míngua. O período de decadência sob os mamelucos foi obscurecido ainda por revoltas políticas e econômicas, epidemias, devastação por gafanhotos e terríveis terremotos.

O Domínio Otomano
(1517-1917)

Após a conquista otomana, em 1517, o país foi dividido em quatro distritos, ligados administrativamente à província de Damasco; a sede do governo era em Istambul. No começo da era otomana, cerca de 1000 famílias judias viviam na Terra de Israel, em Jerusalém, Nablus (Sichem), Hebron, Gaza, Safed (Tzfat) e algumas aldeias da Galiléia. A comunidade se compunha de descendentes de judeus que nunca haviam deixado o país, e de imigrantes da África do Norte e da Europa.

Um governo eficiente, até a morte do sultão Suleiman, o Magnífico (1566), trouxe melhorias e estimulou a imigração judaica. Alguns dos recém-chegados se estabeleceram em Jerusalém, mas a maioria se dirigiu a Safed onde, nos meados do século XVI, a população judaica chegava a 10.000 pessoas; a cidade se tornara um próspero centro têxtil, e foco de intensa atividade intelectual. O estudo da Cabala (o misticismo judaico) floresceu durante este período, e novos esclarecimentos da lei judaica, codificados no Shulchan Aruch, espalharam-se por toda a Diáspora, desde as casas de estudo de Safed.

À proporção que o governo otomano declinava e perdia sua eficiência, o país foi caindo de novo em estado de abandono geral. No final do século XVIII, a maior parte das terras pertencia a proprietários ausentes, que as arrendavam a agricultores empobrecidos pelos impostos, elevados e arbitrários. As grandes florestas da Galiléia e do monte Carmel estavam desnudas; pântanos e desertos invadiam as terras produtivas.

O século XIX testemunhou os primeiros sinais de que o atraso medieval cedia lugar ao progresso. Várias potências ocidentais procuravam alcançar posições na região, freqüentemente através de atividades missionárias. Eruditos ingleses, franceses e americanos iniciavam estudos de arqueologia bíblica; a Inglaterra, a França, a Rússia, a Áustria e os Estados Unidos abriram consulados em Jerusalém. Foram inauguradas rotas marítimas regulares entre a Terra de Israel e a Europa, instaladas conexões postais e telegráficas e construída a primeira estrada, entre Jerusalém e Iafo. O renascimento do país como a encruzilhada comercial de três continentes acelerou-se com a abertura do Canal de Suez.

Conseqüentemente, a situação dos judeus do país foi melhorando, e a população judaica aumentou consideravelmente. Em meados do século, a superpopulação dentro das muralhas de Jerusalém levou os judeus a construir o primeiro bairro fora dos muros (1860) e, durante os vinte e cinco anos seguintes, mais outros sete, formando o núcleo da Cidade Nova. Por volta de 1880, os judeus já constituíam a maioria da população de Jerusalém. Terras agrícolas eram compradas em todo o país; novas colônias rurais se estabeleciam; e o hebraico, durante muitos séculos restrito à liturgia e à literatura, era revivido. O cenário estava pronto para a criação do movimento sionista.

Sionismo - o movimento de libertação nacional do povo judeu - é uma palavra derivada de 'Sion', o sinônimo tradicional de Jerusalém e da Terra de Israel. O ideal do sionismo - a redenção do povo judeu em sua pátria ancestral - está enraizado na contínua espera pelo retorno e na profunda ligação à Terra de Israel, que foi sempre parte inerente da existência judaica na Diáspora através dos séculos.

O sionismo político surgiu em conseqüência da contínua opressão e perseguição dos judeus na Europa Oriental e da desilusão com a emancipação na Europa Ocidental, que não pusera fim à discriminação nem levara à integração dos judeus nas sociedades locais. Sua expressão formal foi o estabelecimento da Organização Sionista (1897), durante o Primeiro Congresso Sionista, reunido por Teodoro Herzl em Basiléia, na Suíça. O programa do movimento sionista continha elementos ideológicos e práticos para a promoção do retorno dos judeus à sua terra, do renascimento social, cultural, econômico e político da vida nacional judaica, procurando também alcançar o reconhecimento internacional para o lar nacional do povo judeu em sua pátria histórica, onde os judeus não fossem perseguidos e pudessem desenvolver suas vidas e identidade.

 

O Domínio Britânico
(1918-1948)

 

Em julho de 1922, a Liga das Nações confiou à Grã-Bretanha o Mandato sobre a Palestina (nome pelo qual o país era designado na época). Reconhecendo "a ligação histórica do povo judeu com a Palestina", recomendava que a Grã-Bretanha facilitasse o estabelecimento de um lar nacional judaico na Palestina-Eretz Israel (Terra de Israel). Dois meses depois, em setembro de 1922, o Conselho da Liga das Nações e a Grã-Bretanha decidiram que as estipulações destinadas ao estabelecimento deste lar nacional judaico não seriam aplicadas à região situada a leste do Rio Jordão, cuja área constituía os três quartos do território do Mandato - e que mais tarde tornou-se o Reino Hashemita da Jordânia.

 

Imigração - Motivadas pelo sionismo e encorajadas pela "simpatia para com as aspirações sionistas dos judeus", expressas pela Inglaterra, através do Ministro de Relações Exteriores Lord Balfour (1917), chegaram ao país, entre 1919 e 1939, sucessivas levas de imigrantes, cada uma das quais trouxe sua contribuição específica ao desenvolvimento da comunidade judaica. Cerca de 35.000 judeus chegaram entre 1919 e 1923, sobretudo da Rússia, e tiveram influência marcante sobre o caráter e a organização da sociedade nos anos seguintes. Estes pioneiros lançaram os fundamentos de uma infra-estrutura social e econômica abrangente, desenvolveram a agricultura, estabeleceram formas de assentamento rural comunal singulares - o kibutz e o moshav - e forneceram a mão-de-obra para a construção de moradias e estradas. A onda seguinte, entre 1924 e 1932, trouxe uns 60.000 judeus, sobretudo da Polônia, e contribuiu para o desenvolvimento e enriquecimento da vida urbana.

Estes imigrantes se estabeleceram principalmente em Tel Aviv, Haifa e Jerusalém, onde criaram pequenos negócios, firmas de construção e indústrias leves. A última grande onda imigratória anterior à 2a Guerra Mundial ocorreu na década de 30, após a ascenção de Hitler ao poder, e compôs-se de cerca de 165.000 pessoas. Estes recém-chegados, muitos dos quais eram profissionais e acadêmicos, representaram o primeiro grande influxo proveniente da Europa Central e Ocidental. Por sua educação, habilidades e experiência, eles elevaram os padrões comerciais, refinaram as condições urbanas e rurais e ampliaram a vida cultural da comunidade.

 

Administração - As autoridades mandatórias britânicas concederam às comunidades judaica e árabe o direito de gerirem seus próprios assuntos internos. Utilizando-se deste direito, a comunidade judaica, conhecida como o ishuv, elegeu em 1920 um órgão governamental autônomo, baseado em representação partidária, que se reunia anualmente para avaliação das atividades e a eleição do Conselho Nacional (Vaad Leumi), responsável pela implementação de sua política e programas. Este conselho desenvolveu e manteve uma rede nacional de serviços educacionais, religiosos, sociais e de saúde, financiada por recursos locais e por fundos angariados pelo judaísmo mundial. Em 1922, conforme estipulado pelo Mandato, foi constituída a "Agência Judaica", para representar o povo judeu diante das autoridades britânicas, governos estrangeiros e organizações internacionais.

Desenvolvimento Econômico - Durante as três décadas do mandato, a agricultura expandiu-se, foram criadas fábricas e construíram-se estradas; as águas do Rio Jordão foram represadas para a produção de energia elétrica; e o potencial mineral do Mar Morto passou a ser explorado. Em 1920 foi fundada a Histadrut (Federação Geral de Trabalhadores), para promover o bem-estar dos trabalhadores e criar empregos, através do estabelecimento de empresas de propriedade cooperativa no setor industrial, assim como de serviços de comercialização para as colônias agrícolas comunais.

Cultura- Aos poucos, ia surgindo uma vida cultural específica da comunidade judaica na Terra de Israel. A arte, a música e a dança desenvolveram-se gradualmente, com o estabelecimento de escolas profissionais e estúdios. Criaram-se galerias e salas de espetáculos onde se apresentavam exposições e espetáculos, freqüentadas por um público exigente. A estréia de uma nova peça, o lançamento de um novo livro ou a retrospectiva de um pintor local eram comentados pela imprensa e tornavam-se o tema de animadas discussões nos cafés e reuniões sociais.

O hebraico - Foi reconhecido como uma das três línguas oficiais do país, ao lado do inglês e árabe, e era usado em documentos, moedas e selos, assim como nas transmissões radiofônicas. A atividade editorial proliferou, e o país tornou-se o centro mundial da atividade literária em hebraico. Teatros de vários gêneros abriam suas portas a audiências entusiásticas, e apareceram as primeiras peças originais hebraicas.

 

Oposição Árabe e Restrições Britânicas - O renascimento nacional judaico e os esforços da comunidade por reconstruir o país encontraram forte oposição por parte dos nacionalistas árabes. Seu ressentimento explodiu em períodos de intensa violência (1920, 1921, 1929, 1936-39), quando os transportes judeus eram molestados, campos e florestas incendiados e a população judaica era atacada sem motivo.

As tentativas do movimento sionista de chegar a um diálogo com os árabes foram infrutíferas, e o nacionalismo árabe e judeu se polarizaram em situação explosiva. Reconhecendo os objetivos opostos dos dois movimentos nacionais, a Grã-Bretanha recomendou (1937) que o país fosse dividido em dois estados, um árabe e um judeu. A liderança judaica aceitou a idéia da partilha e encarregou a Agência Judaica de negociar com o governo britânico, num esforço de reformular alguns aspectos da proposta. Os árabes eram absolutamente contra qualquer plano de partilha.

 

Os movimentos clandestinos - Três movimentos clandestinos judeus operaram durante o período do Mandato Britânico. O maior era a Haganá, fundado em 1920 pela comunidade judaica como milícia de auto-defesa para garantir a segurança da população judaica. A partir dos meados da década de 30, ela também passou a retaliar os ataques árabes e a responder às restrições britânicas contra a imigração judaica com demonstrações de massa e atos de sabotagem. O Etzel, criado em 1931, rejeitou as restrições auto-impostas pela Haganá e iniciou ações independentes contra objetivos árabes e ingleses. O menor e mais militante dos grupos, o Lechi, surgiu em 1940, e sua linha era sobretudo anti-britânica. Os três grupos foram dissolvidos em maio de 1948, com a criação das Forças de Defesa de Israel.

Atos de violência contínuos e em grande escala levaram a Grã-Bretanha a publicar o Livro Branco (maio de 1939), que impunha drásticas restrições à imigração judaica, embora tal restrição significasse negar ao judaísmo europeu um refúgio à perseguição nazista. O início da 2a Guerra Mundial, pouco depois, levou David Ben-Gurion, mais tarde o primeiro chefe de governo israelense, a declarar: "Lutaremos na guerra como se não houvera o Livro Branco, e combateremos o Livro Branco como se não houvesse guerra."

 

Voluntários judeus na 2a Guerra Mundial - Mais de 26.000 homens e mulheres da comunidade judaica do país uniram-se às forças britânicas como voluntários no combate à Alemanha nazista e seus aliados do Eixo, servindo no exército, marinha e aeronáutica. Em setembro de 1944, após prolongados esforços da Agência Judaica no país e do movimento sionista no exterior pelo reconhecimento da participação dos judeus da Palestina no esforço de guerra, foi constituída a Brigada Judaica, unidade militar independente das forças britânicas, com bandeira e emblema próprios. Formada por cerca de 5.000 homens, a Brigada atuou no Egito, no norte da Itália e no noroeste da Europa. Após a vitória dos aliados na Europa (1945), muitos de seus membros uniram-se ao movimento de "imigração ilegal", para trazer sobreviventes do Holocausto à Terra de Israel.

 

O Holocausto - Durante a 2a Guerra Mundial (1939-1945), o regime nazista executou, deliberada e sistematicamente, seu plano-mestre de liquidação da comunidade judaica da Europa; durante este período foram assasinados 6 milhões de judeus, entre os quais 1,5 milhão de crianças. À proporção que as tropas nazistas varriam a Europa, os judeus eram perseguidos selvagemente, submetidos a torturas e humilhações inconcebíveis e fechados em guetos, onde tentativas de resistência armada trouxeram em conseqüência medidas ainda mais drásticas. Dos guetos eles eram transportados aos campos de concentração onde alguns afortunados eram submetidos a trabalhos forçados, e a maioria era assassinada em fuzilamentos em massa ou nas câmaras de gás. Somente uns poucos escaparam. Alguns fugiram para outros países, outros uniram-se aos partisanos e alguns foram escondidos por não-judeus, que o fizeram arriscando suas próprias vidas. Em conseqüência, de uma população de quase 9 milhões, que constituíra no passado a maior e mais vibrante comunidade judaica do mundo, sobreviveu apenas um terço, incluindo aqueles que haviam deixado a Europa antes da guerra.

Após a guerra, os britânicos intensificaram suas restrições ao número de judeus que tinham permissão de entrar e se estabelecer no país. A comunidade judaica reagiu, instituindo uma ampla rede de atividades de "imigração ilegal", para salvar os sobreviventes do Holocausto. Entre 1945 e 1948, cerca de 85.000 judeus ingressaram no país, através de rotas secretas e muitas vezes perigosas, apesar do bloqueio naval britânico e do patrulhamento nas fronteiras para interceptar os refugiados antes que eles chegassem ao país. Os que eram capturados eram internados em campos de detenção na ilha de Chipre.

 


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