O SERMÃO DO MONTE
O Sermão do Monte é provavelmente a parte mais conhecida dos ensinamentos de Jesus, embora se possa argumentar que seja a menos compreendida e, certamente, a menos obedecida. De tudo o que ele disse, essas suas palavras são as que mais se aproximam de um manifesto, pois descrevem o que ele desejava que os seus seguidores fossem e fizessem. Penso que nenhuma outra expressão resume melhor a intenção de Jesus, ou indica mais claramente o seu desafio para o mundo moderno, do que a expressão “contracultura cristã”. Vou lhes dizer por que.
Os
anos que se seguiram ao fim da Segunda guerra mundial, em 1945, foram marcados
por um idealismo inocente. O horrível pesadelo terminara. “Reconstrução” era o alvo universal. Seus anos de destruição
e devastação eram coisa do passado; a tarefa agora era construir um novo mundo
de cooperação e paz. Mas a irmã gêmea do idealismo é a desilusão com aqueles
que não participam do ideal, ou (pior)
com os que se lhe opõem, ou (pior ainda) com os que o traem. E a desilusão com
o que é continua alimentando o idealismo
do que poderia ser.
DÉCADA
DE DESILUSÃO E A NECESSIDADE DE UMA CONTRACULTURA
Parece
que atravessamos décadas de desilusão. Cada geração que se levanta odeia o
mundo que herdou. Ás vezes, a reação tem sido ingênua, embora não possamos dizer
que tenha sido hipócrita. Os horrores do Vietnã não terminaram com aqueles que
distribuíam flores e rabiscavam o seu lema “faça amor, não faça guerra”, embora
o seu protesto não tenha passado despercebido. Hoje em dia, há pessoas que
repudiam a opulência ávida do ocidente, que parece ficar cada vez mais gordo,
através do esbulho do meio-ambiente natural, ou através da exploração de nações
em desenvolvimento, ou através de ambas as coisas ao mesmo tempo; essas pessoas
exprimem a totalidade da sua rejeição vivendo com simplicidade, vestindo-se
negligentemente, andando descalças e evitando o desperdício. Em lugar do
simulacro da socialização burguesa, estão famintas de relacionamentos de amor
autênticos. Desprezam a superficialidade, tanto do materialismo descrente como
do conformismo religioso, pois sentem que há uma “realidade” impressionante
muito maior do que essas trivialidades, e buscam essa dimensão “transcendental”
ilusória através da meditação, de drogas ou do sexo. Abominam até o próprio
conceito do corre-corre da sociedade de consumo e acham que é mais honesto “cair
fora” do que participar. Tudo isso é sintoma da incapacidade de geração
mais jovem de adaptar-se ao status quo ou
de aclimatar-se á cultura prevalecente.
Não se sentem á vontade. Estão alienados.
E
em sua busca de uma alternativa, “contracultura”
é a palavra que usam. Ela expressa um amplo raio de ação de idéias ou ideais,
experiência e alvos. Encontramos uma boa documentação a este respeito em The Making of a Conter-culture (A
Criação de Uma Contracultura, 1969) de Theodore
Roszak; em The Duste of Death ( A
Poeira da Morte, 1973) de os Guinnes, e em Youthquaker
(Terremoto Jovem, 1973) de Kenneth Leech.
De
um certo modo, os cristão consideram esta busca de uma cultura alternativa um
dos mais promissores, e até mesmo excitantes, sinais dos tempos. Pois
reconhecemos nisso a atividade do Espírito, o qual, antes de confortar,
perturba; e sabemos a quem a busca deles conduzirá, se quiserem encontrar a
resposta. Na verdade, é significativo que Theodore Roszak, encontrando
dificuldade para expressar a realidade que a juventude contemporânea procura,
alienada como está pela insistência dos cientistas quando á “objetividade”,
sente-se obrigado a recorrer ás palavra de Jesus: “Que aproveita o homem ganhar o
mundo inteiro e perder a sua alva?”
Mas,
ao lado da esperança que está disposição de protesto e busca inspira aos
cristãos, há também (ou deveria haver) um sentimento de vergonha. Pois, se a
juventude de hoje está á procura das coisas certas (significado, paz, amor,
realidade), ela as tem procurado nos lugares errados. O primeiro lugar onde
deveriam procurar é um lugar que normalmente ignoram, isto é, a Igreja. Pois,
com demasida freqüência, o que vêem nas igrejas não é a contracultura, mas o
conformismo; não uma nova sociedade que
concretiza seus ideais, mas uma versão da velha sociedade a que renunciaram;
não a vida, mas a morte. Prontamente endossariam o que Jesus disse de uma
igreja do primeiro século: “Tens nome de que vives e estás morto”
(Ap.3:1).
Urge
que não somente vejamos, mas também sintamos, a grandeza dessa tragédia, pois,
na medida em que uma igreja se conforme com o mundo, e as duas comunidades
pareçam ser meramente duas versões da mesma coisas, essa igreja está
contradizendo a sua verdadeira identidade. Nenhum comentário poderia ser mais
prejudicial para o cristão do que as palavras: “ Mas você não é diferente das
outras pessoas!”
O
tema essencial de toda a BÍBLIA, desde o começo até o fim, é que o propósito de
Deus é chamar um povo para si mesmo; que este povo é um povo “santo”,
separado do mundo para lhe pertencer e obedecer; e que a sua vocação é
permanecer fiel á sua identidade, isto é, ser “santo” ou “diferente”
em todo o seu pensamento e em todo o seu comportamento.
A VERDADEIRA MENSAGEM DADA A NAÇÃO DE ISRAEL
Foi
assim que Deus falou ao povo de Israel logo depois que tirou da escravidão
egípcia e fez dele o seu povo especial através da aliança; “Eu sou o senhor vosso Deus. Não
fareis segundo as obra da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis segundo
as obras da terra de Canaã, para a qual eu vos levo, nem andareis nos seus
estatutos. Fareis segundo os meus juízos, e os meus estatutos guardareis, para
andardes neles: Eu sou o Senhor vosso Deus.” (Lv.18:1-4). Este apelo de
Deus fez a seu povo, é preciso notar, tanto começou como terminou com a
declaração de que ele era o senhor,
ADONAI, seu Deus. Pelo fato de ser o seu Deus, como quem eles firmaram um
pacto, e porque eles constituíam o seu povo especial, tinham de ser diferentes de quaisquer outras pessoas.
Tinham de seguir os mandamentos de Deus e não os padrões daqueles que os
cercavam.
Através
dos séculos seguintes, o povo de Israel continuou se esquecendo da sua
singularidade como povo de Deus. Embora nas palavras de Balaão fosse “povo
que habita só, e (que) não será reputado entra as nações”, na prática,
entretanto, eles continuaram assimilando-se aos povos que os rodeavam:
“Antes se mesclaram com as nações, e lhes aprenderam as obras”.
(Nm.23:9; Sl.106:35). Por isso exigiram que um rei os governasse “como
todas as nações”, e quando Samuel os advertiu com base no fato de ser
Deus o rei deles, foram obstinados em sua insistência: “Não, mas teremos um rei sobre
nós. Para que sejamos também como todas as nações.” (Iº.Sm.8:5,19,20).
Pior ainda do que o estabelecimento da monarquia foi a sua idolatria. “Seremos
como as nações”, diziam para si mesmos, “... servindo ao pau e á pedra.”
(Ez.20:32) Por isso Deus continuou lhes enviando os seus profetas para que
lembrassem quem eram e para insistir com eles a seguirem o caminho de Deus. “Não
aprendais o caminho dos gentios”, falou-lhes através de Jeremias e
Ezequiel, “não vos contamineis com os ídolos do Egito; eu sou o senhor vosso Deus.”
(Jr.10:1,2; Ez.20:7). Mas o povo de Deus não queria ouvir-lhe a voz, e o motivo
específico apresentado, pelo qual o juízo de Deus caiu primeiro sobre Israel e,
depois, cerca de 150 anos mais tarde, sobre Judá, foi o mesmo: “Os
filhos de Israel pecaram contra o senhor Deus... andaram nos estatutos das
nações... Também Judá não guardou os mandamentos do Senhor seu Deus; antes,
andaram nos costumes que Israel introduziu.” (IIº.Rs.17:7,8,19 cf.
Ez.5:7; 11:12)
A HISTÓRIA DE ISRAEL - CENÁRIO PARA O SERMÃO DO MONTE
Tudo
isso constitui um cenário essencial para se compreender o SERMÃO do Monte. A
Sermão encontra-se no Livro de Mateus, logo no começo do ministério público de
Jesus. Imediatamente após o seu batismo e tentação, Cristo começou a anunciar
as boas novas de que o reino de Deus, há muito prometido no período do
V.Testamento, estava agora ás portas. Ele mesmo viera para inaugurá-lo Com ele
nascia a nova era e o reinado de Deus irrompia na História. “Arrependei-vos”,
clamava, “porque está próximo o reino dos céus.” (Mt.4:17) Na verdade, “percorria
Jesus toda a Galiléia, ensinado nas sinagogas, pregando o evangelho do reino”
(v23). O Sermão do Monte, então, deve ser visto neste contexto. Descreve o
arrependimento (metanoia, a total transformação da mente) e a retidão, que
fazem parte do reino; isto é, descreve como ficam a vida e a comunidade humana
quando se colocam sob o governo da graça de Deus.
E
como é que ficam? Tornam-se diferentes! Jesus enfatizou que os seus verdadeiros
discípulos, os cristãos do reino de Deus, tinham de ser inteiramente diferentes.
Não deveriam tomar como padrão de conduta as pessoas que os cercavam, mas sim
Deus, e assim aprovar serem filhos genuínos do seu Pai celestial. Para mim, o
texto-chave do Sermão do Monte é o 6:8 - “Não vos assemelheis, pois, a eles.” Imediatamente nos faz lembrar a palavra de
Deus a Israel, na antigüidade: “Não fareis como eles.” (Lv.18:3) É o
mesmo convite para serem diferente. E este tema foi desenvolvido através de
todo o Sermão do Monte. O caráter deles teria se ser completamente diferente
daquele que era admirado pelo mundo (as bem-aventuranças). Deveriam brilhar
como luzes nas trevas reinantes. A justiça deles teria de exceder á dos
escribas e fariseus, tanto no comportamento ético quanto na devoção religiosa,
enquanto que o seu amor deveria ser maior, e a sua ambição mais nobre do que a
dos pagãos vizinhos
Não
há um parágrafo no Sermão do Monte em que não se trace este contraste entre o
padrão cristão e o não-cristão. É o tema subjacente e unificador do Sermão;
tudo o mais é uma variação dele. Ás vezes, Jesus contrasta os seus discípulos
com os gentios ou com as nações pagãs. Assim, os pagãos amam-se e saúdam-se uns
aos outros, mas os cristãos tem de amar os seus inimigos 5:44-47); os pagãos
oram segundo um modelo, com “vãs repetições”, mas os cristãos
dever orar com a humilde reflexão de filhos de seu Pai no céu (6:7-13); pagãos
estão preocupados com as suas próprias necessidades materiais, mas os cristãos
devem buscar primeiro o reino e a justiça de Deus (6:23,33).
Em
outros pontos, Jesus contrasta os seus discípulos, não com os gentios, mas com
os judeu, ou seja, não com pessoas pagãos mas com pessoas religiosas;
especificamente com os “escribas e fariseus”. O professor
Jeremias, sem dúvidas, está certo ao dizer que são “dois grupos de pessoas totalmente
diferentes”, pois ___
1-“os
escribas são os mestres de teologia que tiveram alguns ano de estudo e
2-
os fariseus, por outro lado, não são teólogos, mas sim grupos de leigos
piedosos de todas as camadas da sociedade”
Certamente Jesus opõe a moral cristã
á casuística ética dos escribas (5:211-48) e a devoção cristã á piedade
hipócrita dos fariseus (6:1-18).
Assim, os discípulos de Jesus têm de
ser diferentes: tanto da igreja nominal, como do mundo secular; tanto dos
religiosos, como dos irreligiosos. O Sermão do Monte é o esboço mais completo,
em todo o N.Testamento, da contracultura cristã. Eis aí um sistema de valores
cristã o, um padrão ético, uma ambição, um estilo de vida e uma teia de
relacionamentos: tudo completamente diferente do mundo que não é cristão. E
esta contracultura cristã é a vida do reino de Deus, uma vida humana realmente
plena, mas vivida sob governo divino.
INTRODUÇÃO EDITORIAL DE MATEUS
Chegamos á introdução editorial dada
por Mateus ao Sermão a qual é breve mas impressionante: indica a importância
que ele lhe atribuía.
“Vendo
Jesus as multidões, subiu a o monte, e como se assentasse, aproximaram-se os
seus discípulos, e ele passou a ensiná-los dizendo..." (Mt.5:1,2).
Não
há dúvida de que o propósito principal de Jesus ao subir uma colina ou montanha
para ensinar era fugir das “numerosas multidões” da Galiléia,
Decápolis, Jerusalém, Judéia e dalém do Jordão (4:25), que o seguiam. Ele
passara os primeiros meses do seu ministério público vagando por toda a
Galiléia, “ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda
sorte de doenças e enfermidades entre o povo”. Como resultado, “sua
fama correu por toda a Síria”, e o povo vinha em grandes multidões,
trazendo os seus doentes para serem curados (4:23-24). Por isso Jesus precisava
fugir, não só para ter uma oportunidade de ficar sozinho e orar, mas também para dar uma instrução mais
concentrada aos seus discípulos.
Além
disso, parece (conforme muitos comentaristas antigos e modernos têm sugerido)
que ele deliberadamente subiu ao monte para ensinar, a fim
de traçar um paralelo entre Moisés (que recebeu a lei no Monte Sinai) e ele
próprio (que então explicou aos seus discípulos as conseqüências dessa lei, no
chamado “Monte das bem-aventuranças, o local tradicional do Sermão, junto ás
praias ao norte do Lago da Galiléia). Pois, embora Jesus fosse maior do que
Moisés, e embora a sua mensagem fosse mais evangelho do que lei, ele também
escolhe doze apóstolos para formar o núcleo de um novo Israel, em correspondência
aos doze patriarcas e tribos da antigüidade. Ele também proclamou ser Mestre e
Senhor, deu a sua própria interpretação autorizada da lei de Moisés, anunciou
mandamentos e esperou obediência. Ate mesmo convidou, mais tarde, os seus
discípulos a tomares p sei “jugo”, ou submeterem-se aos seus
ensinamentos, assim como anteriormente carregaram o jogo do TORÁ (Mt.11:29,30).
ALGUMAS INTERPRETAÇÕES DE ALGUNS MESTRES
Alguns mestres desenvolveram esquemas muito
elaborados para demonstrar este paralelo. B.W.Bacon, em 1918, por exemplo,
argumentou que Mateus deliberadamente estruturou o seu Livro em cinco parte,
cada uma terminando com a fórmula “quando Jesus acabou...” (7:28.
11:1; 13:53; 19:1; 26:1), a fim de que os “cinco livros de Mateus”
correspondessem os “cinco livros de Moisés” e fossem uma espécie de Pentateuco do
N. Testamento.
Um
paralelismo diferente foi sugerido por Austim Farrer, a saber, que Mateus 5-7
teve por modelo Êxodo 20-24, as oito bem-aventuranças correspondendo aos dez
mandamentos, como o restante do Sermão dissertando sobre as mesmas e
aplicando-as, assim como os mandamentos também foram dissertados e explicados.
Eestas
tentativas engenhosas de descobrir paralelos são compreensíveis porque em
muitas passagens do N. Testamento a obra salvadora de Jesus está descrita como
um novo êxodo (cf. Mt.2:15), e a vida cristã como uma alegre celebração disso:
“Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso celebremos a
festa.” (Iª.Co.5:7,8); Embora Mateus não compare explicitamente Jesus a
Moisés, e não possamos reivindicar mais do que isso no Sermão “a
essência da Nova Lei, o Novo Sinai, o Novo Moisés estão presentes”.
(Dic. Davies, p. 108).
Em
todos os eventos, Jesus assentou-se, assumindo a posição de um rabi ou
legislador, e seus discípulos aproximaram-se dele, para aprender dos seus
ensinamentos. Então ele passou (uma expressão que indica a solenidade do seu
pronunciamento) a ensiná-los.
Três
perguntas básica formam-se imediatamente na mente do estudioso moderno, ao
estudar o Sermão do Monte. Tal pessoa não sentirá receptiva para com os
ensinamentos desse sermão se não receber respostas satisfatórias ás seguintes
perguntas, no entanto, não apresentaremos a primeira e nem a terceira por se
achar na segunda a resposta das restantes. Vamos, no entanto, deixar as duas
perguntas para os professores e alunos e espero que vocês mesmos encontrem as
respostas.
A
1ª pergunta: O SERMÃO É AUTÊNTICA.
A
3ª pergunta: O SERMÃO É PRÁTICO?
A
Segunda pergunta discutiremos na Segunda lição, O SERMÃO É RELEVANTE?
Notem bem: todas as personagens citadas nestas aulas devem ser
consultadas, por exemplo, Daveis, Bacon etc, desta maneira vocês estarão
conhecendo os mentores das “doutrinas” que hoje povoam as igrejas chamadas
evangélicas. Se soubéssemos mais sobre Helen White e de seu livro O Grande
Conflito, entenderíamos mais sobre o adventísmo. Se conhecêssemos melhor Maomé
entenderíamos melhor a religião muçulmana etc.... Por favor, busque informações
pois não é a toa que cito tais nomes e tais doutrinas.
Infelizmente não temos muito tempo
para falar de história e, é claro, de seus personagens, no entanto eles fizeram
história e infelizmente a história religiosa foram feitas por eles e Jesus veio
solucionar este equivoco, isto é, dizer ao mundo que existe um personagem único
que tem uma única história e na história deste SER está o ensino que muda nossa
alma e transforma nosso ser para que o SER maior entre em nos e nos modifique.
Portanto, conheçamos os personagens filosóficos que tornaram as religiões filosóficas,
perdendo assim a luminosidade do SER MAIOR – I hv H ADONAI.
O SERMÃO É RELEVANTE?
Se
o Sermão é ou não relevante para a vida moderna, só se pode julgar através de
um detalhado exame do seu conteúdo. O que salta a vista é que, não importando
como ele foi composto, forma um todo maravilhosamente coerente. Descreve o
comportamento que Jesus esperava de cada um do seus discípulos, que são também
cidadãos do reino de Deus. Vemos como Jesus é em si mesmo, em seu coração, em
suas motivações, em seus pensamentos, e também quando afastado, sozinho com o
seu Pai. Vemo-lo na arena da vida pública, relacionando-se com o próximo,
exercendo misericórdia, patrocinando a paz, sendo perseguido, agindo como sal,
deixando a sua luz brilhar, amando e servindo aos outros (até mesmo aos seus
inimigos), e dedicando-se acima de todo á expansão do reino de Deus e da sua
justiça no mundo.
TALVEZ
uma rápida análise do Sermão ajude a demonstrar sua relevância para nós, no
século vinte, já as portas o vinte um.
A - O CARÁTER DO CRISTÃO (5:3-12)
As
bem-aventuranças enfatizam oito sinais principais da conduta e do caráter
cristão, especialmente em relação a deus e aos homens, e as bênçãos divinas que
repousam sobre aqueles que externam estes sinais.
B - A INFLUÊNCIA DO CRISTÃO (5:13:16)
As
duas metáforas do sal e da luz indicam a influência que os cristãos devem
exercer para o bem na comunidade se (e tão somente se) mantiverem o seu caráter
distinto, conforme descrito nas bem-aventuranças.
C - A JUSTIÇA DO CRISTÃO (5:17-48)
Qual
deve ser a atitude do cristão para com a lei moral de Deus? Ficaria a lei
propriamente dita abolida na vida cristã, como estranhamente afirmam os
advogados da filosofia da “nova moralidade” e da escola dos “não-mais-sob-a-lei”?
Não. Jesus não tinha vindo para abolir a lei e os profetas, disse ele, mas para
cumpri-los. E mais, ele chegou a declarar que a grandeza no reino de Deus se
media pela conformidade com os ensinamentos morais d lei e dos profetas, e que
até mesmo entrar no reino era impossível sem uma justiça maior do que a dos
escribas e fariseus (5:17-20). Jesus deu, então, seis ilustrações desta justiça
cristã melhor (5:21-48), relacionando-a com:
1-
Homicídio
2-
Adultério
3-
Divórcio
4-
Juramento
5-
Vingança
6-
Amor.
Em
cada antítese (“ouviste que foi dito... eu, porém vos digo...”), rejeitou a
acomodada tradição dos escribas, reafirmou a autoridade das Escrituras do Velho
Testamento e apresentou as decorrências plenas e exatas da lei moral de Deus.
D - A PIEDADE DO
CRISTÃO (6:1-18)
Em
sua “piedade”
ou devoção religiosa, os cristão não
devem se acomodar nem com o tipo hipócrita dos fariseus, nem com o formalismo
mecânico dos pagãos. A piedade cristã deve destacar-se acima de tudo pela
realidade, pela sinceridade dos filhos de Deus que vivem na presença de seu Pau
celestial.
E - A AMBIÇÃO DOS CRISTÃOS (6:19-34)
O
“mundanismo”
do qual os cristãos devem fugir pode Ter aparência religiosa ou secular. Por
isso, devemos ser diferentes dos não-cristãos, hão apenas em nossas devoções,
mas também em nossas ambições. Cristo modifica especialmente a nossa atitude
para com a riqueza e os bens materiais. É impossível adorar a Deus e ao
dinheiro; temos de escolher um dos dois. As pessoas do mundo estão preocupadas
com a busca do alimento, da bebida e do vestuário. Os cristãos devem ficar
livres destas ansiedades materiais ego-centraliadas e, em lugar disso, devem
dedicar-se á expansão do governo e da justiça de Deus. É o mesmo que dizer que
a nossa ambição suprema deve ser a glória de Deus e não a nossa própria glória,
nem mesmo o nosso próprio bem-estar material. É uma questão do que buscamos “em
primeiro lugar”.
F - OS RELACIONAMENTOS DO CRISTÃO (7:1-20)
Os
cristãos estão presos em uma complexa teia de relacionamentos, todos eles
partindo do nosso relacionamento com Cristo. Quando nos relacionamos
devidamente com ele, os nossos demais relacionamentos são todos afetados. Novos
relacionamentos surgem, e os antigos se modificam. Assim, não devemos julgar o
nosso irmão mas servi-lo (vs. 1-5). Devemos também evitar oferecer o evangelho
aqueles que decididamente o rejeitam (v.6); e tomar cuidado com os falsos
profetas, que impedem que muita g ente encontre a porta estreita e o caminho
difícil (vs.13-20).
G - UMA DEDICAÇÃO
CRISTÃ (7:21-27)
O
último item apresentado pelo todo do Sermão relaciona-se com a autoridade do
pregador. Não basta chamá-lo de “Senhor” (vs.21-23) ou ouvir os seus
ensinamentos (vs 24-27). A questão básica é se nós somos sinceros no que dizemos e
se fazemos
o que ouvimos. Deste compromisso depende o nosso destino eterno. Só quem
obedece a Cristo como Senhor é sábio (cuidado quando interpretamos Jesus como
Salvador e Senhor. Só o temos como Salvador se o tivermos primeiro como
Senhor). Pois quem assim procede está edificando a sua casa sobre o
alicerce da rocha, que as tempestades da adversidade e do juízo não serão
capazes de solapar.
AS multidões ficaram perplexas com a
autoridade com que Jesus ensinava (vs.28,29. É uma autoridade á qual os
discípulos de Jesus de cada geração devem submeter-se. A questão do senhoria de
Cristo é relevante hoje em dia, tanto como referência a princípios como á
aplicação prática, da mesma maneira que o era quando originalmente ele pregou o
SERMÃO do MONTE.
Notem: fizemos
uma análise das Bem-aventuranças que, se não sabem, é bom que entendam, começa
no capítulo 5 de Mateus e termina no capítulo 7. Fizemos um esboço sobre os
principais assuntos em termo de caráter. Gostaríamos que houvesse mais
conhecimento sobre estes capítulos pois se no capítulo 5 temos as
bem-aventuranças expostas, temos nos capítulos seguintes a explicação deste.
Por favor, procure entender todo este ensino de nosso MESTRE, tenho certeza que
nossas vidas melhorarão muito. Todos os nossos problemas poderão serem
resolvido com a VERDADE que nos liberta.
Mateus 5:3-12
Quem
é que, tendo ouvido falar de Jesus de Nazaré, e sabendo um pouco acerca do que
ele ensinou, não está familiarizado com as bem-aventuranças que dão início ao
Sermão do Monte? A simplicidade de palavras e a profundidade de idéias deste
sermão têm atraído cada nova geração de cristão, além de muitas outras pessoas.
Quando exploramos suas implicações, mais fica por ser explorado. Suas riquezas
são inexauríveis. Não podemos sondar suas profundezas. Na verdade, “aproximamo-nos
do céu”. (Bruce)
Antes
de estarmos prontos para considerar separadamente cada bem-aventurança, há três
perguntas de caráter geral que precisamos responder. Referem-se ás pessoas
descritas, ás qualidades recomendadas e ás bênçãos prometidas.
A - AS PESSOAS DESCRITAS
As
bem-aventuranças descrevem o caráter equilibrado e diversificado do povo
cristão. Não existem oito grupos separados e distintos de discípulos, alguns
dos quais são mansos, enquanto outros são misericordiosos e outros, ainda,
chamados para suportarem perseguições. São, antes, oito qualidades do mesmo
grupo de pessoas que, ao mesmo tempo, são mansas e misericordiosas, humildes de
espírito e limpas d coração, choram e têm fome, são pacificadoras e
perseguidas.
Além
disso, o grupo que exibe estes sinais não é um conjunto elitista, uma pequena
aristocracia espiritual distante da maioria dos cristãos. Pelo contrário, as
bem-aventuranças são especificações dadas pelo próprio Cristo quanto ao que
cada cristão deveria ser. Todas estas qualidades devem caracterizar todos os
seus discípulos. Da mesma forma que o fruto do espírito descrito por Paulo,
deve amadurecer em seus nove aspectos no caráter de cada cristão, também as
oito bem-aventuranças que Cristo menciona descrevem o seu ideal para cada
cidadão do reino de Deus. Ao contrario dos dons do espírito, que distribui a
diferentes membros do corpo de Cristo a fim de equipá-los para diferentes
espécies de serviço, o mesmo Espírito está interessado em produzir estas graças
cristãs em todos nós. Não podemos fugir á nossa responsabilidade de cobiçá-las
todas.
B - AS QUALIDADES RECOMENDADAS
Sabemos
muito bem que há uma discrepância, pelo menos verbal, entre as bem-aventuranças
do livro de Mateus e as de Lucas. Assim,
Lucas diz: “Bem-aventurados vós os pobres”, enquanto que Mateus declara: “Bem-aventurados
os humildes (pobres) de espírito”. Em Lucas temos: “Bem-aventurados
vós os que agora tendes fome”, e em Mateus: “Bem-aventurados os que têm fome
e sede de justiça”.
Por
causa disto, alguns argumentam que a versão de Lucas é a verdadeira; que Jesus
estava julgando os pobres e os famintos do ponto de visto social ou
sociológico; que ele estava prometendo alimento aos subnutridos e ao
proletariado no reino de Deus; e que Mateus espiritualizou o que constituía originalmente
uma promessa material.
Mas
esta interpretação é impossível, a não ser que estejamos prontos a crer que
Jesus se contradisse ou que os evangelistas foram demasiado ineptos para
faze-lo parecer assim. No deserto da Judéia, nas tentações descritas por Mateus
no capítulo anterior, Jesus recusou-se a transformar pedras em pão e repudiou a
idéia de estabelecer um reino material. De maneira consistente, através de todo
o seu ministério rejeitou a mesma tentação. Quando alimentou os cinco mil e,
por causa disto, induziu a multidão a “arrebatá-lo para o proclamarem rei”,
Jesus imediatamente se retirou sozinho para o monte. (João 6:15) E quando
Pilatos perguntou-lhe se havia qualquer verdade nas acusações dos líderes
judeus contra ele, e se realmente tinha alguma ambição política, sua resposta
foi inequívoca: “O meu reino não é deste mundo”. João 18:36) Isto é, tinha uma
origem diferente e, portanto, caráter diferente.
Como
isso não sugerimos que Jesus ficasse indiferente á pobreza e fome físico. Pelo
contrário, ele sentia compaixão pelos necessitados pois a necessidade é um
sinal que a alma está necessitada pois o interno se revela no externo e por
isto alimentava os famintos usando o alimento etc como isca para que a estes
pudesse falar da liberdade interna, e disse aos deus discípulos que fizessem o
mesmo. Mas a bênção do seu reino não era em primeiro lugar uma vantagem
econômica.
Mais
ainda, se ele não oferecia alívio físico imediato, não o prometia tampouco num
céu futuro e, enquanto isso, anunciava que os pobres e famintos eram “bem-aventurados”.
Na verdade, em algumas circunstância, Deus pode usar a pobreza como instrumento
de bênção espiritual, exatamente como a riqueza pode ser um impedimento á
mesma. Mas isto não transforma a pobreza por si mesma em condição desejável,
que Jesus abençoe. A igreja sempre esteve errada quando usou a primeira
bem-aventurança para fechar os olhos diante da pobreza das massas ou para
elogiar a pobreza voluntária dos monges e de outros que fizeram voto de
renúncia aos bens materiais. Cristo pode, realmente, chamar alguns para uma
vida de pobreza, mas essa chamada não pode ser, honestamente, percebida nesta
bem-aventurança.
A
pobreza e a fome que Jesus se refere nas bem-aventuranças são condições
espirituais. São “os humildes (pobres) de espírito” e aqueles que “têm
fome e sede de justiça” que ele declara bem-aventurados. E podemos
certamente deduzir disso que as outras qualidades por ele mencionadas também
são espirituais. É verdade que a palavra aramaica que Jesus usou poderia
significar simplesmente os “pobres”, como na versão de Lucas.
Mas “os
pobres”, os pobres de Deus, já constituíam um grupo claramente definido
no Velho Testamento, e Mateus estaria correto traduzindo para “pobres
de espírito”. Pois “os pobres” não eram tanto os
maltratados pela pobreza, mas os piedosos, assim chamados em parte porque
passavam necessidades, eram oprimidos, tiranizados e afligidos de outras
maneiras, mas tinham firmado sua fé e esperança em Deus.
C - AS BÊNÇÃOS PROMETIDAS
Cada
qualidade foi elogiada, enquanto cada pessoa que a possui foi declarada “bem-aventurada”.
A palavra grega makarios significa “feliz”. A Bíblia na Linguagem de Hoje, assim traduz
as palavras iniciais de cada bem-aventurança: “Felizes os que...”. E
diversos comentaristas têm explicado que essas palavras constituem a receita de
Jesus para a felicidade humana. A felicidade humana depende da alegria,
fruto do espírito. A explicação mais simples que conheço foi feita por Ernest
M. Ligon, do Departamento de Psicologia do “unior College”, de
Schenectady, Nova Iorque,em seu livro The Psychologv of Cristian Personaity
(A Psicologia da Personalidade Cristã). Reconhecendo sua dívida para com Harry
Emerson Fosdich, ele traça a interpretação do Sermão do Monte “do
ponto de vista da saúde mental”. “O erro mais significativo que se tem
cometido interpretando estes versículos de Jesus (as bem-aventuranças)”,
ele escreve, “ foi deixar de perceber a primeira palavra de cada um deles: ‘felizes’”
No seu ponto de vista, “constituem a teoria de Jesus sobre a
felicidade”. Não constituem tanto deveres éticos, mas “uma
série de oito atitudes emocionais fundamentais.
O homem que reagir ao seu ambiente com esse espírito terá vida feliz”,
pois terá descoberto a “fórmula básica para a saúde mental”.
De acordo com Dr. Ligon, o Sermão enfatiza as “forças” da fé e do amor,
da “fé
experimental” e do “amor paternal”. Estes dois
princípios são indispensáveis para o desenvolvimentos de uma “personalidade
sadia e forte”. Não só o caos do
medo pode ser vencido pela fé, e a ira destrutiva pelo amor, mas também “o
complexo de inferioridade e seus muitos subprodutos” pela Regra Áurea.
Não
é preciso rejeitar esta interpretação como totalmente ilusória. Ninguém melhor
do que o nosso Criador sabe como podemos nos tornar humanos verdadeiros. Ele
nos criou. Ele sabe como funcionamos melhor. É através da obediência ás suas
próprias leis morais que nos encontramos e nos realizamos. E todos os cristã os
podem testemunha da experiência de que há uma relação íntima entre a santidade
e a felicidade.
Não
obstante, traduzir makarios por “felizes” induz a um erro sério
julgando objetivamente essas pessoas. Ele não está declarando como se sentirão (“felizes”),
mas sim o que Deus pensa delas e o que são por causa disso: são “bem-aventuradas”.
Que
bênção e essa? A Segunda parte de cada bem-aventurança elucida a questão.
Possuem o reino dos seus e herdarão a terra. Os que coram são consolados e os
famintos satisfeitos. Recebem misericórdia, vêem a Deus, são chamados filhos de
Deus. Sua recompensa celestial é grande. E todas estas bênçãos estão reunidas.
Exatamente como as oito qualidades descrevem cada cristão (pelo menos em
ideal), da mesma forma as oito bênçãos são concedidas a cada cristão. É verdade
que a bênção específica prometida em cada caso é apropriada á qualidade
particularmente mencionada. Ao mesmo tempo, é totalmente impossível herdar o
reino dos céus sem herdar a terra, ser consolado sem ser satisfeito ou ver a
Deus sem alcançar sua misericórdia e ser chamado seu filho. As oito qualidades
juntas constituem as responsabilidades; e as oito bênçãos, os privilégios, a
condição de cidadão do reino de Deus. Este é o significado do desfrutar do
governo de Deus.
1-
Estas
Bênçãos São Para o Presente ou Para o Futuro?
Pessoalmente,
penso que a única resposta possível é “tanto para o presente como para o futuro”. Alguns comentarista, entretanto, têm
insistido que são para o futuro, e têm enfatizado a natureza “escatológica”
das bem-aventurança. É verdade que a Segunda parte da última bem-aventurança
promete que os perseguidos receberão uma grande recompensa no céu, e isto deve
referir-se ao futuro (v.12). Certamente também é apenas na primeira e oitava
bem-aventurança que a bênção foi expressa o tempo presente, “deles é o reino dos céus”
(vs.3,10); e, mesmo assim, este verbo não se encontrava aí quando Jesus falou
em aramaico. As outras seus beatitudes contêm um verbo no futuro simples
(serão, herdarão, alcançarão). Não obstante está claro nos demais ensinamentos
de Jesus que o reino de Deus é uma realidade presente que podemos “receber”
“herdar” ou “entrar” agora. Do mesmo modo, podemos alcançar misericórdia e
consolo agora, podemos nos tornar filhos de Deus agora e podemos nesta vida,
Ter a nossa fome satisfeita e a nossa sede mitigada. Jesus prometeu todas estas
bênçãos a seus discípulos aqui e agora. A promessa de que “verão a Deus” pode
parecer uma referência á “visão beatífica” final
(cf.IªCo.13:12; Hb.12:14; 1ªJo.3:2; Ap.22:4, e sem dúvida a inclui. Mas nós já
começamos a ver Deus nesta vida, na pessoa do seu Cristo (Jo.14:9), e com a
visão espiritual Iª.Jo.3:6; IIIª.Jo.11. Já começamos a “herdar a terra” nesta
vida, considerando que, se somos de Cristo, todas as coisas já são nossas,
“seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as cousas presentes, sejam as
futuras” (Iª.Co.3:22,23).
Portanto,
as promessas de Jesus nas bem-aventuranças têm cumprimento presente e futuro.
Desfrutamos agora das primícias; a colheita propriamente dita ainda está por
vir. E, como destacou acertadamente o Professor Tasker, “O tempo verbal futuro...
enfatiza sua certeza, e não simplesmente o seu aspecto futuro. Os que choram
serão certamente consolados, etc.”
2 - As Bem-Aventuranças são Uma Doutrina de Salvação Por
Méritos Humanos?
Ainda
continuando na mesma pergunta: por méritos humanos e pelas obra o que é
incompatível com o evangelho? Será que Jesus não declara explicitamente, por
exemplo, que os misericordiosos alcançarão misericórdia e que os limpos de
coração verão a Deus? E será que isto não dá a entender que é demonstrando
misericórdia que recebemos misericórdia e que, tornando-nos limpos de coração,
recebemos uma visão de Deus?
Alguns
intérpretes têm ousadamente definido
esta tese. Tentaram apresentar o Sermão do Monte como nada mais que uma débil
forma cristianizada da lei do V. Testamento e da ética do Judaísmo. Eis aí
Jesus, o Rabi, o legislador, dizem, enunciando mandamentos, esperando
obediência e prometendo salvação aqueles que lhe atendem. Provavelmente
expoente máximo desta opinião seja Hans Windische, no seu The Meaning of the Sermon on the Mount (1929), “O
Significado do Sermão do Monte”. Ele enfatiza a “exegese história” e
rejeita a chamada de “exegese paulinizante”, referido-se
á tentativa de interpretar o Sermão de maneira que harmonize com o evangelho da
graça de Paulo. Na opinião dele, isto não pode ser feito: “Do ponto de vista de Paulo,
Lutero e Calvino, a soteriologia do Sermão do Monte é irremediavelmente
herética”. Em outras palavras,
prega a lei, não o evangelho, e oferece justiça pelas obra e não pela fé.
Portanto, “aqui há entre Jesus e Paulo um abismo que nenhum artifício d exegese
teológica pode transpor” Mas Windisch vai mais além. Especula que a
ênfase de Paulo sobre a salvação pela graça tem levado muitos a considerar as
boas obras como supérfluas, e que Mateus deliberadamente compôs o Sermão do
Monte como uma espécie de tratado antipaulino!
Foi
esse mesmo temor de que as promessas do Sermão do Monte dependessem dos méritos
humanos para o seu cumprimento, que levou J. N. Darby a relegá-las para a
futura “dispensação do reino”. Seu dispensacionalismo ficou
popularizado pela “Scofield Reference Bible” (1909), a qual, comentando 5:2,
chama o Sermão de “lei pura” embora admitindo que os seus princípios têm “uma
linda aplicação moral para o cristão”.
3- As bem-aventuranças Proclamam a Salvação Pela Graça
e Não Pelas Obras
AS
especulações de Windisch, quanto os temores dos dispensacionalistas são
infundados. Na verdade, a primeira das bem-aventuranças proclama a salvação
pela graça e não pelas obra, pois ela promete o reino de Deus aos “humildes
de espírito”, isto é, ás pessoas que são tão pobres espiritualmente que
nada têm a oferecer para mérito seu. O aluno pode imaginar com que veemente
indignação Lutero repudiou a sugestão, feita por alguns contemporâneos seus, de
que o Sermão do Monte ensina a salvação pelos méritos! Acrescentou á sua
exposição um longo pós-escrito de dez páginas, a fim de se opor a esta idéia
monstruosa. Nele, criticou severamente “aqueles estúpidos falsos mestres”
que “chegaram
á conclusão de que entramos no reino dos céus e somos salvos por nossas
próprias obras e ações”. Esta “abominação dos sofistas” inverte o
evangelho de tal forma, , ele declara que “se compara a jogar o telhado no chão, a tombar
os alicerces, a edificar a salvação sobre simples água, a derrubar Cristo
completamente do seu trono, colocando em seu lugar as nossas obras”.
4- A Verdadeira
Explicação das Expressões Que Jesus Usou nas bem-aventuranças, Toda a Ênfase Que Deu á Justiça no Sermão.
A
resposta certa para parece ser que o Sermão do Monte, como uma espécie de “nova
lei”, igual á antiga, tem dois propósitos divinos, os quais o próprio
Lutero entendia claramente.
a-
Primeiro, mostrar a quem não é
cristão que não pode agradar a Deus por si mesmo (porque não consegue obedecer
á lei), conduzindo-o, então, a Cristo para ser justificado.
b-
Segundo, mostra ao cristão, que
buscou em Cristo a justificação, como deve viver para agradar a Deus. Mais
simplesmente de acordo com a síntese dos reformadores puritanos, a lei nos
envia a Cristo para sermos justificados, e Cristo nos manda de volta á lei para
sermos santificados.
Não
pode haver dúvidas de que o Sermão do monte tem, sobre muitas pessoas, o
primeiro efeito notado. Quando o lêem,
ficam desesperadas. Vêem nele um ideal inatingível. Como poderiam
desenvolver esta justiça de coração, voltar outra face, amar os seus inimigos?
É impossível! Exatamente! Neste sentido o Sermão é “Moisíssimo Moisés”
(expressão de Lutero); “é Moisés quadruplicado, é Moisés
multiplicado ao mais alto grau” (Professor Jeremias), porque é uma lei
de justiça interior a que nenhum filho de Adão jamais pode obedecer. Portanto,
apenas nos condena e torna indispensável o perdão de Cristo. Não poderíamos
dizer que esta é uma parte do propósito do Sermão? É verdade que Jesus não o
disse explicitamente, embora esteja na primeira bem-aventurança, como já
mencionamos. Mas a implicação está em toda a lei, exatamente como na antiga.
5- Segundo Lutero, Vejamos o Segundo
propósito do Sermão do Monte
“CRISTO
nada diz neste Sermão sobre como nos tornamos cristãos, mas apenas sobre as
obras e os frutos que ninguém pode produzir se já não for um cristão e não
estiver em estado de graça” (Lutero) Todo o
Sermão realmente pressupõe uma aceitação do evangelho (como Crisóstomo e
Agostinho o entenderam), uma experiência de conversão e de novo nascimento, e a
habitação do Espírito Santo. Descreve as pessoas nascidas de novo que os
cristãos são (ou deveriam ser). Portanto, as bem-aventuranças apresentam as
bênçãos que Deus concede (não como uma recompensa aos méritos, mas como um Dom
da graça) aqueles nos quais ele está desenvolvendo um caráter assim.
O
Sermão “foi dirigido a homens que já tinham recebido o perdão, que encontraram
a pérola de grande preço, que foram convidados para as bodas, que mediante a
sua fé em Jesus pertenciam á nova criação, ao novo mundo de Deus”.
Neste sentido, então, “o Sermão do Monte não é Lei, mas Evangelho”. Para tornar
clara a diferença é preciso fugir de termos tais como “moralidade cristã”,
falando, outrossim em “fé vivida”, pois “fica
claramente explícito que o dom de Deus precede de exigências”.
Resumindo
estas três lições iniciais, estes três pontos introdutórios relacionados com as
bem-aventuranças, podemos dizer que as pessoas descritas são de modo geral os
discípulos cristãos, pelo menos em ideal; que as qualidades elogiadas são
qualidades espirituais; e que as bênçãos prometidas (como dons da graça
imerecida) são as bênçãos gloriosamente compreendidas pelo governo de Deus,
experimentadas agora e consumadas depois, incluindo a herança de ambos, terra e
céu consolo, satisfação e misericórdia, visão e filiação de Deus.
AGORA
estamos prontos para examinar detalhadamente as bem-aventuranças. Diversas tentativas
de classificação foram experimentadas. Não são certamente um catálogo fortuito,
mas, nas palavras de Crisóstomo, “uma espécie de cadeia de ouro”.
Talvez a divisão mais simples seja considerar as quatro primeiras descritivas
do relacionamento do cristão com Deus, e as outras quatro, do relacionamento e
deveres para com o próximo.
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