segunda-feira, 13 de abril de 2015

"SÊ TU UMA BENÇÃO" - SEJA VOCÊ UM ABENÇOADOR



SÊ TU UMA BENÇÃO

Uma das grandes conquistas da humanidade foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Depois das atrocidades da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a ONU nomeou uma comissão para elaborar um documento que assegurasse os direitos de todas as pessoas. 

No fim de 1948, foi promulgada a primeira Carta contendo os direitos da pessoa humana. A partir dela, muitas outras foram formuladas, garantindo a dignidade humana diante dos abusos a violências que muitos ainda sofrem.

Este movimento mundial criou uma nova consciência na humanidade, principalmente no mundo ocidental. Tornamo-nos cidadãos mais exigentes, consumidores com mais consciência, trabalhadores melhores informados. 


São direitos reais, necessários a vida e inerentes ao ser humano. São inúmeras as entidades e organizações que hoje lutam pelos direitos humanos, colocando se a favor dos explorados e marginalizados. São também inúmeras as leis que, desde a Declaração dos Direitos Humanos, foram criadas para garantir a dignidade e o respeito.

Por outro lado, a consciência do direito criou um novo perfil no ser humano. Na medida em que nos tornamos cidadãos mais exigentes e conscientes dos nossos direitos, fomos perdendo a noção da dívida para com os outros. 


A luta pelo direito hoje não se restringe apenas ao campo político, social e econômico, foi incorporada a nossa cultura e a todas as esferas da convivência social. 

Isto tem nos levado a não reconhecer mais nenhuma obrigação para com Deus, pais, mestres, governo e sociedade. A tônica tem sido a seguinte: todos nos devem, e temos o direito de receber.

Este sentimento tira-nos a consciência de que somos protagonistas da História e, lentamente, cria em nós uma atitude passiva de espectadores ingratos. 


Vamos vivendo como se o mundo, os amigos, a familia, a igreja, a sociedade e o governo nos devessem algo. Nossa responsabilidade diminui na mesma proporção que cresce nossa expectativa em relação ao que esperamos dos outros.

Quando Deus chamou Abraão para deixar sua terra, seus parentes e amigos a seguir para um lugar que ele ainda não sabia ao certo onde seria, para ali criar uma nova nação (*ISRAEL) e estabelecer um povo para Deus, deu lhe uma recomendação nestes termos: "Sê tu uma benção". 


Tal imperativo definiu um perfil diferente na vida de Abraão. Ser bênção, e não simplesmente viver à procura dela, faz uma grande diferença.

Muitos hoje perguntam porque a Igreja Evangélica no Brasil, que tanto cresceu nas últimas décadas, não tem promovido as mudanças que imaginávamos iria promover quando tivesse as oportunidades que tem hoje. 


Arriscaria uma resposta simples: tornamo-nos consumidores religiosos com todos os direitos que um consumidor tem. Ao invés de ser benção, queremos receber bênçãos; usamos a igreja, a família e a sociedade para alimentar nossas ambições mais mesquinhas. 

Não somos mais agentes de transformação; viramos espectadores ingratos e exigentes. Ao invés de promover a prosperidade social, transformamo-nos em parasitas sociais, querendo cada vez mais e melhor para nós e não para os outros.

A conversão e a transformação do ser passivo num ser ativo; do paciente num agente; do parasita social num ser solidário; do consumidor religioso num canal de bênção e cura para os outros. 


A solução para as mazelas sociais que vivemos em nosso país não será conquistada por uma Igreja que exige o melhor para si; que reivindica o direito de ser cabeça e não cauda; que busca a sua prosperidade em detrimento da miséria dos outros. 

A cura para os dramas e injustiças que afligem o povo brasileiro esta numa Igreja que se disponha a sair e ser uma bênção para o país, que se curve e aceite a humilde tarefa de lavar os pés uns dos outros. 

Uma Igreja que trabalhe para o bem da sociedade, que lute pelos direitos do próximo, cujos membros procurem ser os melhores pais, os melhores filhos, os melhores maridos, os melhores patrões e os melhores empregados.

Quando o Senhor escolheu Abraão e o enviou para ser uma bênção, ele sabia que, ao ser bênção para os outros, encontraria a que buscava. 


Abraão foi um homem abençoado porque viveu para os outros, a não para si mesmo. A felicidade que busco está na minha capacidade de fazer com que as pessoas que convivem comigo experimentem a felicidade. O chamado cristão é sempre social.

A vida de muitos homens e mulheres de Deus ao longo da História foi ricamente abençoada porque viveram dominados pelo sentimento de dívida. Isso fez deles pessoas gratas, generosas, entregues, corajosas. 


Não esperavam que os outros viessem consolá-los; eles consolavam. Não viviam exigindo ou reivindicando direitos, mas carregavam um enorme senso de dívida; não viviam aguardando que alguém fosse procurá-los - eles é que procuravam. 

Eram bênção na vida dos outros e, consequentemente, eram abençoados.

Ser bênção para a vida dos outros é criar os meios para que a graça de Deus os envolva trazendo salvação, reconciliação, cura e libertação. É criar os meios para que o cansado encontre alivio, para que o doente ache consolo, para que o perdido seja achado. E usar os dons e talentos que Deus nos deu para criar novas esperanças e para alimentar a fé de outros.

"Sê tu uma bênção" é também a recomendação de Deus para cada um de nós. 


Não busque uma igreja abençoada; seja você mesmo uma bênção para ela. Não espere que seus irmãos sejam uma bênção para você; seja você uma bênção para eles. 

Não fique em casa aguardando algo extraordinário, saia e torne, em nome de Jesus, sua vida e a vida dos outros extraordinária.

A medida em que caminhamos em obediência e submissão, mesmo sem saber para onde estamos indo, mesmo sem ter nenhuma garantia do que vamos encontrar, e se mantivermos uma consciência de dívida, seremos uma bênção. 


Assim foi com Abraão, com José e também com o apóstolo Paulo, estes homens de Deus foram abençoados porque abençoaram.

Pr. Ricardo Barbosa de Sousa (Igreja Presbiteriana do Planalto - DF) 
Revista Eclésia (nº 85) - www.eclesia.com.br


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