terça-feira, 3 de março de 2020

SUPLICAMO-TE DESCE, SENHOR!


Suplicamo-te – Desce, Senhor!

“Não te enfureças tanto, ó Senhor, nem perpetuamente te lembres da nossa iniqüidade; olha, pois, nós te pedimos: todos nós somos o teu povo” (Isaías 64.8-12).

Parece que muitos cristãos simplesmente desistiram de orar. Oram para manter as aparências, mas lá no fundo o consideram uma atividade inútil. Suspeitam de que Deus seja tão relutante e mesquinho que não lhes concederá seus pedidos; ou pior ainda, que nem mesmo ouve suas orações.
Mas a Bíblia insiste que o problema não está do lado de Deus. Sempre mostra um Deus que é ansioso e desejoso por abençoar. O salmista diz: “Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade. Ele acode à vontade dos que o temem; atende-lhes o clamor e os salva”(Sl 145.18,19).
Se o problema não está do lado de Deus, então deve ter algo de errado com nossas orações. Você notou a condição que o salmista atrelou à frase: “Perto está o Senhor...”? Ele está perto de “todos os que o invocam em verdade”. Ah, aí está o problema! Enviamos petições casuais e mornas, e depois ficamos chateados quando Deus não intervém em nosso favor.
Se quisermos que o Senhor ouça e responda às orações, precisamos reconhecer que, apesar da sua disposição favorável de atender a seu povo, ele não considera tudo que chamamos de oração como oração. Em outras palavras, precisamos aprender a orar.
Isaías nos dá um bom modelo do que é oração. Nestas três palavrinhas, ele sintetiza a essência da oração: “Nós te pedimos”. No original, o verbo é suplicar, implorar, clamar. Vamos examinar de modo mais profundo estas palavras, e procurar captar o que realmente estão transmitindo.
Em primeiro lugar, mostram claramente que há uma...
1. Intensidade de Desejo
A palavra “suplicar” é uma palavra forte. É muito mais forte do que “pedir” ou “solicitar”. Estas são palavras brandas. “Suplicar” é fervorosa, carregada de paixão. Significa implorar, rogar, clamar, insistir. Carrega o sentido de alguém com graxa nas mãos e suor na fronte. Não há como entender uma moderação calma dentro da palavra “suplicar”.
Isaías já havia mostrado algo sobre a natureza da oração. Chamou-a de “despertar-se” a fim de “deter” a Deus (Is 64.7). Oração é mais do que pedir polidamente que Deus nos “abençoe”; é deter a Deus. O que é deter a Deus? É implorar diante dele, usando suas promessas, e recusando-se a desistir enquanto não vier a resposta. Temos mais a falar sobre isto adiante, mas por enquanto observe que não se pode deter a Deus, se não tiver um intenso anseio por ele.
Examine toda a Bíblia, e verá que as pessoas que realmente alcançavam algo com Deus eram aquelas que experimentavam um profundo anseio por ele. Dê uma olhada nas histórias de Ana (1 Sm 1.9-18), Neemias (Ne 1.4-11), e a grande figura de Moisés (Êx 33.12-23).
Veja como o salmista descreveu seu anseio por Deus: “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo...” (Sl 42.1,2). Depois lemos também: “A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo” (Sl 84.2).
Será que não achamos já a causa das orações não respondidas? Quantos conhecem realmente esta intensidade de desejo? Estamos falando sobre o assunto de avivamento. Era para isto que Isaías orava. Mas por que é tão raro ver um genuíno despertamento espiritual no meio do povo de Deus? Não seria porque a maioria de nós, apesar do que dizemos, realmente não deseja uma poderosa visitação de Deus? Não é porque sentimos que um genuíno avivamento interferiria com nosso modo de vida, e nos deixaria extremamente desconfortáveis?
Há muito tempo, temos presumido que o povo de Deus deseja avivamento, e que é só uma questão de descobrir como recebê-lo. Não é hora de enfrentar o fato de que esta presunção está errada? Parece-me que devemos checar nossos verdadeiros desejos. Queremos que Deus faça algo muito grande, mas não o desejamos com intensidade suficiente para buscá-lo com sinceridade, nem queremos correr o risco de transtornar nossas vidas.
De onde vem o desejo intenso por avivamento? Só pode vir quando olhamos em nossa volta e vemos as grandes necessidades. Foi isto que gerou o profundo desejo dentro de Isaías. Ele olhou para sua nação, viu suas ações pecaminosas, e as conseqüências que viriam, e seu coração foi comovido.
Às vezes pergunto a mim mesmo até onde as coisas terão de piorar na nossa sociedade, antes que o povo de Deus fique realmente alarmado. As pessoas continuam a fazer abortos normalmente; a pornografia se espalha por todos os meios; lares se desfazem mais do que nunca; o cristianismo é abertamente desprezado e ridicularizado. Quanto mais teremos de ver, antes de ficarmos realmente preocupados?
Quando viramos nosso foco sobre aqueles que professam ser cristãos, nosso senso de vergonha e alarme deve aumentar. Nós mesmos somos muito mais moldados e influenciados pelos conceitos e estilo de vida da nossa sociedade do que pela Palavra de Deus.
Devemos lembrar as palavras de Jesus às igrejas: “Conheço as tuas obras”, e reconhecer que se abusarmos da sua graça, ele nos visitará com juízo. Nunca sentiremos a tristeza de Deus pela nossa sociedade enquanto secretamente estivermos desfrutando do estilo de vida contaminado que ela promove!
Mas existe também um segundo elemento na verdadeira oração que devemos examinar:

2. Humildade de coração
“Nós te suplicamos”, disse Isaías. Quem está na posição de suplicar é uma pessoa que não consegue socorrer a si mesma. É uma pessoa impotente. Depende totalmente da ajuda de outra pessoa, do contrário não estaria suplicando. Em outras palavras, a humildade é parte integral e essencial de toda e qualquer súplica.
A humildade permeia todos os fundamentos da oração de Isaías. O próprio fato de que Deus está no céu e precisa olhar lá da sua santa habitação (Is 63.15) nos revela que Isaías está consciente da grandeza de Deus, e da indignidade do homem. Ao confessar a imundícia dos seus pecados (64.5-7), ele também estava colocando a si e a seu povo no pó diante de Deus.
Você pode se firmar nesta verdade: oração genuína é oração com humildade. A Bíblia diz: Ele “não se esquece do clamor dos aflitos” (Sl 9.12). E também: “O Senhor é excelso, contudo, atenta para os humildes” (Sl 138.6).
E guarde esta verdade também: o avivamento só chega para os humildes. O versículo mais famoso sobre avivamento começa: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar...” (2 Cr 7.14).
Uma das características que mais causa preocupação hoje é como se consegue revestir a arrogância com espiritualidade. Parece até que a arrogância tornou-se uma marca de quem tem intimidade com Deus. Alguns gostam de falar sobre o que “o Senhor está fazendo na minha vida”, e de alguma forma “minha vida” recebe mais destaque do que a parte do “Senhor”.
É comum também ouvir as pessoas orarem: “Obrigado, Senhor, pelo que me mostraste no meu tempo devocional”. Não é suficiente agradecer a Deus pela sua Palavra? Temos de fazer propaganda de nós mesmos e das nossas disciplinas espirituais? Se nosso tempo devocional nada mais for do que uma etiqueta da nossa suposta espiritualidade, não somos em nada melhores do que os fariseus do tempo de Jesus! Como precisamos prestar atenção às palavras de Andrew Murray: “A principal marca de falsa santidade é sua falta de humildade”.
A única solução para o orgulho é concentrar mais na santidade e majestade de Deus. Foi quando Isaías viu o Senhor no “alto e sublime trono” que ele clamou: “Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” (Is 6.1,5).
E agora chegamos ao terceiro elemento da verdadeira oração:

3. Tenacidade de Propósito
Isto é muito ligado à intensidade de desejo. Se realmente ansiarmos pela resposta de Deus à oração, se estivermos de fato suplicando a Deus, não desistiremos facilmente. Verdadeira oração é oração persistente.
Jesus enfatizou em mais de uma ocasião a necessidade da persistência na oração. Lucas registrou uma parábola que Jesus ensinou “sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer” (Lc 18.1). Era sobre uma mulher que não largava do pé de um juiz. Ela tinha um problema legal, e queria que o juiz o solucionasse. Mas o juiz era conhecido como um homem que não ligava para as pessoas, nem para suas necessidades. Contudo, a mulher não se abateu por causa disto. Ela foi ao juiz e clamou diante dele: “Julga a minha causa contra o meu adversário”. O juiz não lhe atendeu.
Mas a mulher não parou ali. Continuou a perturbar o juiz. Podemos imaginá-la todos os dias, aparecendo no seu escritório, andando atrás dele pelas ruas quando voltava para casa, e ficando de plantão do lado de fora da sua casa. Todas as vezes que ele olhava, dava de cara com a mulher. Finalmente, a fim de se livrar dela, o juiz concedeu-lhe seu pedido (Lc 18.1-8).
Deus não é injusto como aquele juiz. Ele se preocupa com as necessidades do seu povo. Mas se um juiz como aquele podia ser persuadido pela persistência, quanto mais motivo temos de esperar que Deus recompense nossa persistência na oração!
Alguns ainda perguntam por que é necessário que sejamos persistentes na oração. Afinal, se Deus sabe que precisamos de alguma coisa, por que ele simplesmente não nos concede? A resposta é que precisamos ser persistentes, não por causa de Deus, mas por nossa própria causa. Benefícios facilmente recebidos não são devidamente valorizados. O que foi alcançado por empenho e dificuldade será guardado diligentemente, enquanto o que chegou sem sacrifício normalmente é desperdiçado com irresponsabilidade.
Em outras palavras, quando somos persistentes na oração, estamos mostrando o quanto valorizamos as bênçãos de Deus, e desta forma, ele será mais propenso a conceder-nos outras. Isaías havia determinado que ele e seu povo precisavam de Deus com tal desespero que não descansaria enquanto Deus não os visitasse (Is 62.1,6,7). Quando decidimos que não podemos viver sem Deus, seremos tão persistentes na oração quanto o foi Isaías.
Diante de tudo isto, não é hora de pararmos de culpar a Deus pela falta de respostas às orações, e olharmos para nós mesmos? Quantas vezes temos orado de coração morno, com interesses próprios, sem perseverança? Não é hora de pararmos de cambalear por aí sem o poder de Deus, e começarmos a orar com intensidade, humildade e tenacidade?
Que Deus nos ajude a começar hoje!

Roger Ellsworth

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