QUALIDADES DO CRISTÃO: SUA RELAÇÃO COM DEUS
Textos-Base:
Mateus 5:3-6; Salmo 37:1-11
INTRODUÇÃO
Qualquer
um, que tenha ouvido falar de Jesus, certamente conhece algo sobre as
bem-aventuranças que iniciam o Sermão do Monte. Não é possível estudar o ensino
e a pessoa de Jesus em geral, e o Sermão do Monte em particular, sem levar em
conta este trecho tão simples em suas palavras e de igual modo, profundo em
suas idéias e conceitos. Ao mesmo tempo, vemos que os conceitos que Jesus transmite
já se fazem presentes no Antigo Testamento. Humildade, Mansidão e Desejo de
Justiça eram características que Deus desejava e exigia de seus servos já na
primeira aliança. O que Jesus faz é reunir estes conceitos de forma prática e
pedagógica e aprofundar seu sentido para o cristão.
Antes
de estudarmos as bem-aventuranças, devemos ressaltar duas coisas.
Primeiro,
as bem-aventuranças se referem a todos os cristãos. Não estamos falando de uma
elite religiosa como se estas qualidades fossem apenas uma exigência aos
líderes e pastores. Não, as bem-aventuranças, assim como todo o Sermão do
Monte, são especificações dadas a todos os discípulos de Cristo. Da mesma forma
que o fruto do Espírito descrito por Paulo em Gálatas 5:22-23 trata de uma totalidade,
algo que deve amadurecer em todo crente, as bem-aventuranças caracterizam todos
os cristãos e cada um em particular.
Segundo,
as bem-aventuranças são qualidades de cada cristão individualmente. Ou seja,
não é assim que um é manso, outro pacificador, um terceiro misericordioso, etc.
As bem-aventuranças descrevem oito facetas diferentes de cada cristão.
Neste
estudo estaremos enfocando as primeiras quatro bem-aventuranças que se referem
mais à relação do cristão com seu Deus.
OS POBRES EM ESPÍRITO
O
Sermão do Monte, assim como o Novo Testamento como um todo, deve ser visto e
interpretado à luz do Antigo Testamento. Afinal, Jesus e os seus discípulos
viviam numa sociedade impregnada pelo judaísmo e pelos escritos
veterotestamentários. Assim sendo, devemos buscar o sentido desta humildade ou
pobreza de espírito dentro da linguagem do Antigo Testamento.
"No
princípio, ser pobre significava passar necessidades literalmente materiais.
Mas, gradualmente, porque os necessitados não tinham outro refúgio a não ser
Deus, a pobreza recebeu nuances espirituais e passou a ser identificada como
uma humilde dependência de Deus" (Sofonias 3:12). O pobre, no Antigo
Testamento, é aquele que está sofrendo e não tem capacidade de salvar-se a si
mesmo e por isso busca a salvação em Deus (Isaías 41:17). É aquele que descansa
em Deus e aguarda Nele com paciência (Salmo 37:7). Quando Jesus inicia seu
ministério é a estes pobre que Ele se dirige (leia Lucas 4:18, Isaías 61:1 e
Mateus 11:5).
O
pobre (humilde) de espírito se une ao publicano na parábola de Jesus, e clama
com os olhos abaixados: " Deus, tenha misericórdia de mim, que sou um
pecador" (Lucas 18:13).
São
estes, e somente estes, que recebem o Reino de Deus. Para entrar no Reino é
necessário reconhecer a sua total dependência de Deus e, ao mesmo tempo, reconhecer
que não merecemos esta graça. Já neste primeiro ítem, Jesus inverte todos os
valores humanos. Quem recebe o Reino são os pobres e não os ricos, os fracos e
não os poderosos, as crianças e não os soldados que tentam tomá-lo pela força.
Quem recebe o Reino é aquele que clama pela misericórdia de Deus. Este é o
pobre de espírito.
Compare
humildade do cristão com a visão de liderança e sucesso que predominam no meio
secular e até em nossas igrejas.
Você
reconhece a sua pobreza e dependência de Deus?
OS QUE CHORAM
Parece
uma contradição. Como os que choram podem ser bem-aventurados, ou seja, mais do
que felizes (que é o significado da expressão)? Que tipo de "choro"
pode produzir felicidade e bênção espiritual? Está claro que este chorar não
trata, em primeiro lugar, daqueles que choram a perda de uma pessoa querida,
por mais que também cremos que estes serão consolados por Deus. Não, o choro
aqui tem outras razões.
Jesus,
ao contemplar a cidade de Jerusalém, chora por causa dos seus pecados (Lucas
19:41). O salmista chora por que o povo não guarda a Lei de Deus (Salmo
119:136). Os servos de Deus são descritos como aqueles que "suspiram e
gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio de Jerusalém"
(Ezequiel 9:4). Paulo chora por causa dos falsos mestres que andam entre o povo
de Deus (Filipenses 3:18).
Mas
eu creio que não devemos apenas chorar pelos pecados dos outros. Temos os
nossos próprios pecados pelos quais devemos chorar. Os humildes de espírito
reconhecem a sua fraqueza e dependência de Deus. O passo seguinte é chorar por
esta realidade.
É
esta tristeza que traz arrependimento e salvação (2 Coríntios 7:10). São os que
choram que serão consolados pelo Consolador (Isaías 40:1) e Nele encontrarão
perdão.
Há
algo em sua vida que ainda necessita de arrependimento e confissão?
Você
crê que o Senhor perdoou todos os seus pecados?
OS MANSOS
Ao
refletirmos sobre a mansidão, é necessário que primeiro delimitemos o que não
significa ser manso. Manso, não é ser inofensivo (como um animal manso). Manso,
não é ser fraco, sem condições de reação e sem opinião. Manso, não é ser um
joguete na mão dos mais fortes.
Quem,
então, é manso? O significado mais próximo é alguém de "espírito gentil",
cortês. E, principalmente, alguém que tem domínio próprio, auto controle. Manso
é "a pessoa que dá uma resposta macia a uma pergunta áspera". O manso
é humilde de espírito e reconhece suas limitações e fraquezas e tem chorado por
causa dos seus pecados. Ele sabe quem ele é, e por isso, tem paciência e
consideração pelas outras pessoas, pois são iguais a ele. O manso não julga,
pois sabe que a mesma medida poderá ser usada contra ele (Mateus 7:1-5).
Jesus
diz que os mansos herdarão a terra. Não é o que parece no mundo de hoje, mas
esta sempre foi a ordem estabelecida por Deus (Salmo 37:1-11).
Esta
regra é aplicável na Igreja hoje? Temos buscado a mansidão e o domínio próprio
nos nossos relacionamentos familiares e na Igreja?
Jesus
disse que o maior será aquele que serve os demais (Mateus 20:26-28). Como
podemos por isto em prática?
OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA
"A
justiça na Bíblia tem pelo menos três aspectos: o legal, o moral e o social.
A
justiça legal é a justificação, ou seja, o relacionamento certo com Deus".
No entanto, não provável que seja esta a justiça que Jesus tem em mente, já que
seu discurso se dirige àqueles que já são cristãos.
A
justiça moral é a justiça do caráter e da conduta que agrada a Deus. O resto do
sermão do monte trata da diferença entre a justiça do fariseu e a do cristão
(Mateus 5:20). Com certeza Jesus quer dizer que desta justiça devemos ter fome
e sede. Mas ainda não é só isto.
Em
todo o texto bíblico está claro que justiça não é apenas uma questão pessoal
entre o cristão e Deus. A justiça tem que ter implicações para a sociedade em
que vivemos. "A Justiça social, conforme aprendemos na lei e nos profetas,
refere-se a busca pela libertação do homem da opressão, junto com a promoção
dos direitos civis, da justiça nos tribunais, da integridade nos negócios e da
honra no lar e nos relacionamentos familiares." Não basta chorar e
lamentar os pecados do mundo, é preciso lutar pela justiça. Certamente, não
poderemos mudar o mundo, mas poderemos influenciar, em muito, o lugar em que vivemos.
Que
adianta ser humilde e reconhecer seus pecados, ou mesmo até chorar por eles?
Que adianta ser manso e tratar bem ao próximo? Isto tudo não terá valor se não
resultar na fome e na sede pela justiça que nos levará adiante, em vez de
ficarmos pelos caminhos de autocontemplação.
Como
podemos pôr esta fome e sede de justiça em prática hoje?
Como
a Igreja tem cumprido o seu "papel social" na sua cidade e no Brasil
como um todo?
CONCLUSÃO
Dietrich
Bonhoeffer em seu livro Discipulado escreve: "Não há lei que proteja essa
comunhão de estranhos no mundo. Nem reivindicam para si este direito, pois eles
são os mansos que vivem em renúncia a todo direito, por amor a Cristo. Cada
palavra, cada gesto revela que não são deste mundo. Deixemos-lhes o céu, diz o
mundo em tom de piedade, é lá o seu lugar. Jesus, porém, diz: '...herdarão a
terra'. A terra pertence a estes privados de todo direito, a esses impotentes.
Os que agora possuem a força e injustamente, hão de perdê-la; e os que aqui
renunciaram ao mundo, os que eram mansos até à cruz, governarão sobre a nova
terra".
Qual
é o padrão que queremos seguir como cristãos? Onde queremos nossa herança? As 4
primeiras bem-aventuranças nos mostram que o padrão do cristianismo deveria ser
frontal e totalmente oposto ao do mundo. Ser cristão é ser profeta de Deus, é
viver uma vida diferente, única e, ao mesmo tempo engajada numa luta feroz
contra o pecado e as suas conseqüências. Ser cristão é estar pronto para falar
e agir, mas também, se necessário, sofrer e morrer. É não ter nada, nem
possessões, nem direitos, e, de outro lado, ser herdeiro de todas as coisas.
AUTOR: Leif Arthur Ekstrom
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