A Experiência do Espírito Santo e a Evangelização
Texto: João 20.19-23 e Atos 2.1-4
Este é um dia muito especial. A
festa do Pentecostes, do Espírito Santo. A liturgia qualifica este dia como o
"Aniversário da Igreja Cristã" - segundo a tradição o dia em que
nasce a Igreja.
Assim, este evento nos leva a
refletir sobre a nossa existência mesma, sobre o nosso papel neste mundo e o
que nos move no cumprimento deste papel.
1. Enviados por Cristo:
Ao lermos o evangelho de João,
podemos verificar que, antes de sua ascensão, Jesus visita os seus discípulos,
que após os acontecimentos da crucificação, eram homens amedrontados.
Medo é o que os qualifica,
fechados dentro da casa, recolhidos em receios e inseguranças. Jesus aparece
ressuscitado diante deles e pronuncia a sua saudação: Paz seja convosco!
Seguindo esta saudação, Jesus pronuncia o envio: Assim como o Pai me enviou, eu
também vos envio. Homens inseguros, medrosos, escondidos, refugiados no receio
da morte; Jesus aparece diante deles e lhes diz: Assim como o Pai me enviou, eu
também vos envio.
Isto nos diz que para Jesus as
nossas dificuldades, receios e até mesmo indiferença à missão, não são
obstáculos intransponíveis e nós podemos ser enviados por Ele. Jesus agora
materializava o seu desejo expresso anteriormente na oração sacerdotal:
"Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são
do mundo, como eu não sou do mundo ... Assim como tu me enviaste ao mundo,
também eu os enviei ao mundo" (Jo 17.15-16, 18) Eles não são do mundo, mas
são enviados ao mundo.
Após a ressurreição, essa missão,
é a única palavra que Jesus dirige aos discípulos; ela nos diz tudo: "eu
vos envio"!!!
2. Fortalecidos pelo Espírito:
Logo adiante o discípulos iriam
provar da perseguição e do martírio, porque o mundo reage assim, como reagiu
diante de Jesus; do mesmo modo reagiria diante dos seus enviados, porque lhes
opõe o testemunho que dão. Se o mundo não os enfrentasse, seriam ainda os
continuadores de Jesus Cristo?
A missão deve suscitar essa
oposição, porque ela não pode deixar de descobrir a mentira, o homicídio, o
ódio que procedem do pai das mentiras e escravizam o mundo. Deixar o mundo na
sua escravidão não é cumprir a missão delegado por Jesus Cristo.
Eis o desafio da missão em todos
os tempos. A tentação do silêncio é grande. Não faltam motivos e
justificativas. A própria preocupação pelo porvir da Igreja seria a tentação
mais insidiosa. Para reservar à Igreja suas possibilidades futuras, prefere-se
ficar calado no presente. A defesa da institucionalização da palavra de Deus
faz com que essa palavra não seja pronunciada. Guardam-na com tantos cuidados e
tanta proteção que essa palavra não ressoa no mundo, ou ela é recitada de modo
puramente ritual ou formal, de tal sorte que não atinge nada nem a ninguém.
A história nos mostrou isso:
enquanto a Igreja estava debaixo da perseguição romana dos primeiros séculos
ela avançava corajosamente. Quando em 311 o imperador romano Galério proclama o
Édito de Tolerância ao cristianismo e dois anos mais tarde, em 313, o Édito de
Milão, pelo imperador Constantino, que havia se convertido ao cristianismo,
inicia-se um período que os historiadores chamam de "a institucionalização
da Igreja" ou a "constantinização do cristianismo" - agora o cristianismo
é a religião oficial do império; aí se iniciou um período de calmaria e a
Igreja deixou de avançar no mesmo ritmo missionário.
Vejam bem: Não estou fazendo
apologia da perseguição ou do sofrimento, não! Estou tentando demonstrar que,
surpreendentemente, no tempo de dor, de medo e perseguição a Igreja dava sinais
de maior coragem missionária, impulsionada pelo Espírito, e no tempo de
calmaria, dava sinais de acomodação ao státus quo.
O que fez diferença naquele
primeiro momento de coragem e ímpeto missionário? Afinal eram homens que
estavam trancados em seus medos e frustrações. O que transformou estes homens?
O que lhes atribuiu ímpeto?
3. NO Cumprimento da missão
Diz-nos a seqüência do texto de
João, que, "...havendo dito isto ( Assim como o Pai me enviou, eu também
vos envio), soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo" (v
22). Aqui havia uma diferença, Jesus encorajava aqueles homens com a sua
própria presença, com o seu sopro de vida e coragem, com a presença do Espírito
Santo. Eles não estavam sós!
O Evangelho de Mateus, ao se
referir a este último encontro de Jesus com seus discípulos, atribui a Jesus a
seguinte promessa: "E eis que estou convosco todos os dias até à
consumação do século." (Mt 28.20b) A presença de Jesus e do Espírito Santo,
a presença de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, em todas as suas múltiplas
expressões, faz a diferença necessária para o cumprimento da missão.
É evidente que a Igreja nunca
abandonou oficialmente a palavra de Deus. Celebra-a no culto, proclama-a na
pregação, ensina-a nos diversos momentos de estudo. Mas há, porém, uma maneira
de celebrar a palavra, que equivale ao silêncio, a negação da missão.
Proclamada sem aplicação à realidade histórica, sem referência a objetos
concretos, a palavra não preocupa a ninguém porque não denuncia nenhum mal
real, nem denuncia nenhuma forma de escravidão do seres humanos.
Os discípulos não foram enviados
primeiramente para celebrar um culto e sim para enfrentar o mundo, como luz que
resplandece nas trevas. Se o mundo não reagir, se as pessoas escravizadas e
escravizadoras no mundo não perceberem que a mensagem busca redimi-las, isto
será um sinal de que a missão foi abandonada. A evangelização não está
acontecendo, o envio não está sendo obedecido! O Espírito de Deus não está presente.
Paulo assevera aos Romanos: "Como, porém, invocarão aquele em quem não
creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há
quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?" (Rm 10.14-15). Nós
somos enviados! Cristo vai conosco, o seu Espírito nos é oferecido. Qual tem
sido nossa resposta diante deste envio?
Os discípulos são chamados a dar
testemunho: "vós também testemunhareis" (Jo 15.27). O testemunho será
o das obras; diz Jesus: "quem crê em mim fará as obras que eu faço, e
outras maiores fará" (Jo 14.12). Mas será também o testemunho da palavra.
Pois o Espírito estará presente e lhes dirá as mesmas palavras que Jesus dizia.
"Quando vier o advogado - paráclito - que eu enviarei da parte do Pai, o
Espírito da verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim" (Jo
15.26).
Essa palavra dos discípulos,
enviados por Jesus, ungidos por Jesus, torna presente o testemunho de Jesus em
todas as gerações. Os seus efeitos são os próprios efeitos da missão do Filho
de Deus.
A narrativa do dia do
Pentecostes, em At 2, nos revela que esta força para o testemunho e
evangelização, a qual gera entendimento, unidade e verdade, estava derramada
sobre os discípulos. "Todos ficaram cheios do Espírito santo e passaram a
falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem"
(At 2.4).
O texto não diz que estas línguas
eram estranhas, que não eram compreendidas pelos que as escutavam, nem que elas
tenham causado qualquer espécie de confusão, antes pelo contrário, havia um
Espírito de entendimento de mútua compreensão e de unidade, que atraía à esta
mensagem, gente de todas as raças, (poderíamos acrescentar, de todas as
condições sociais, intelectuais e culturais) as quais compreendiam o que estava
sendo proclamado. "Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a
multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na
sua própria língua. Estavam, pois, atônitos e se admiravam dizendo: Vede! Não
são por ventura galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos
falar, cada um em nossa própria língua materna?" (At 2.6-8). Era uma
reunião verdadeiramente ecumênica - no sentido da palavra - tinha gente de
todas as partes. Estava quebrado, aniquilado pra sempre, o espírito de confusão
e da Babel! Agora só a verdade, a unidade, a compreensão em favor do avanço do
Evangelho.
Onde está o Espírito de Deus não
há confusão, não pode haver desentendimento ou divisão. O Espírito Santo de
Deus é unidade, compreensão, entendimento, coragem, força, desafio e
capacitação à missão, o Espírito Santo de Deus é dinames, dinamismo e paixão
evangelizante.
Há uma semana celebramos a
experiência de João Wesley - o coração aquecido. Ele foi verdadeiramente
impulsionado para a missão e a evangelização após esta experiência. Quando os
púlpitos das catedrais já não lhe eram mais franqueados, ele saiu dali para as
ruas, praças, para a boca das minas, para a porta das fábricas, para as casas
das pessoas e onde quer que chegasse, via o drama dos seres humanos sendo escravizados
e dominados pelos mais variados sinais de morte, de anti-vida. Isto lhe
comprometia cada dia mais com o trabalho em favor da vida plena para o povo,
com a denúncia do pecado da nação e com o anúncio da santidade e do ano
aceitável do Senhor. "Reformar a nação, particularmente a Igreja e
espalhar a santidade bíblica pela terra toda".
Wesley tornou-se com muito mais
intensidade um missionário, um discípulo de Cristo, um evangelista apaixonado,
envolvendo-se concretamente com a misericórdia e com a piedade.
Conclusão
O que esta celebração de
Pentecostes tem reservado para nossas vidas? Que chamamento tem nos feito?
Quais os compromissos que podemos assumir diante do envio de Jesus? São
questões para você e eu pensarmos seriamente e respondermos diante de Deus.
O mundo geme e clama, como ovelha
que não tem pastor; a miséria material, intelectual, social e espiritual luta
para ganhar cada vez mais terreno neste mundo. A Igreja de Jesus Cristo, ungida
pelo Espírito Santo, é chamada a proclamar a vida, a salvação, a verdade e
unidade em Cristo. Não há tempo que esperar, precisamos dar uma resposta
afirmativa a Jesus, pregar, proclamar, prestar solidariedade ativa, a tempo e
fora de tempo. É Jesus quem nos fala: "Eu, porém, vos digo: erguei os
olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa" (Jo 4.35b). Amém!
Rev.
Luis de Souza Cardoso
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