terça-feira, 26 de novembro de 2019

ADORAÇÃO EXIGE CORAÇÃO


Adoração exige coração

Saindo ele de Jericó, segui-o uma grande multidão. Dois cegos estavam assentados à beira do caminho, e quando Jesus passava, clamaram: SENHOR, FILHO DE DAVI, TEM MISERICORDIA DE NÓS! A multidão os repreendia para que calassem, mas eles clamavam cada vez mais alto: SENHOR, FILHO DE DAVI, TEM MISERICÓRDIA DE NÓS! Jesus Parou, chamou-os e lhes perguntou: QUE QUEREIS QUE VOS FAÇA? Responderam-lhe: SENHOR, QUE OS NOSSOS OLHOS SE ABRAM! Movido de compaixão, Jesus tocou-lhes os olhos. Imediatamente recuperaram a vista, e o seguiram.
Mateus 20: 29 a 34.

Esta é uma das passagens bíblicas mais estudadas e analisadas que conheço. Sempre temos pregações, livros e estudos maravilhosos sendo feitos sobre “mistérios” fantásticos desta passagem. Como sempre, não tenho a pretensão de trazer algo definitivo para nosso estudo, mas gostaria de lembra-los de alguns aspectos existentes neste texto, que creio ser crucial para o bom funcionamento de nossos ministérios musicais.

Mateus não relata em sua pequena descrição histórica, o porque do povo e dos discípulos não quererem a aproximação daqueles cegos de Jesus – mas é fácil imaginar. Desejavam protege-lo.
Jesus se encontrava em uma missão muito importante e crucial em sua vida. Tinha dito dias antes da importância de ir para Jerusalém, e que o Filho do Homem iria estabelecer Seu reino a partir daquela cidade. O futuro de Israel estaria em jogo dentro de instantes, a tão sonhada resposta de anos de orações e súplicas feitas por toda Israel estava próxima, o Rei de Israel estava caminhando para sua entrada triunfal na cidade sagrada, o Filho de Deus estava cumprindo àquilo que veio fazer entre nós, estava prestes a salvar toda a “nação”. Portanto, não teria tempo para dois indigentes cegos à beira do caminho.

Além disso, dê uma boa olhada para eles. Estão sujos, espalhafatosos, desprezíveis, mal cheirosos e principalmente inconvenientes. Posso até ouvir algum dos discípulos que acompanhavam aquela caravana dizer: “Será que não têm boas maneiras? Não têm dignidade? Para conseguir falar com Ele, vocês devem proceder da forma correta. Falem com Tiago, que falará com João, que por sua vez falará com Pedro, que decidirá se valerá à pena levar suas petições até o Mestre”. Certamente essas duas pessoas não merecem a atenção do Mestre, não são limpos, cultos, e bons o suficiente para um encontro com o criador do universo.

Muitas vezes, pensamos que Deus está atarefado demais para dar atenção aos humildes ou até formal demais para tratar de assuntos mínimos, de pessoas tão insignificantes quanto os cegos na beira de nossos caminhos. É difícil acreditar nisso? Mas infelizmente essa é a realidade em muitos de nossos ministérios musicais.

Isso acontece, quando dedicamos mais tempo em discussões sobre estilos musicais do que sobre a necessidade de adoração das pessoas. Acontece, quando nos ocupamos mais com controvérsias tolas e não com as verdades sublimes descritas na palavra. Torna-se realidade, quando nossos mais “ilustres levitas” são mais conhecidos por sua posição diante de certos assuntos do que por sua confiança e amor em Deus.

Acontece hoje, da mesma forma como aconteceu naquela época, porque aos nossos olhos, que achamos estar próximos de Cristo, os cegos e imundos deste mundo (que para muitos de nós não passam de roqueiros, pagodeiros, etc) não tem nenhum direito de aborrecer ao Pastor de nossa igreja com seus problemas. Esse tempo “perdido” com essas pessoas desprezíveis, pode ser melhor utilizado com pessoas que consideramos boas e decentes em nossa congregação.

O fato incrível, é que hoje em dia, muitas vezes, temos essa mesma mentalidade mesquinha e medíocre. E é pelo mesmo motivo que àquele povo repreendeu os cegos na beira do caminho, e também é por isso que mandamos calar os “cegos” de nossa época. Para muitos de nós, não passam de estorvos e de perigos para a nossa adoração. Mas ainda bem que Jesus não pensa e não age assim.
Deus (e também Seu filho) sempre ouve aqueles que O buscam, isso é fato, todos nós concordamos com isso, e creio que todas as pessoas daquela caravana também criam nisso. 

Mas, apesar disso, Mateus chega a dar certa ênfase ao fato daqueles cegos estarem gritando, e de estarem recebendo uma forte repreensão dos “discípulos” de Jesus. É que muitos de nós (discípulos; ministros; líderes; músicos; etc...) não conseguimos compreender como certas pessoas podem “entrar” na presença do Deus encarnado, da forma em que se encontram, e receber a benção que buscam.

Muitos de nós chegamos ao absurdo de crer que nossa responsabilidade como ministros é filtrar aqueles que se aproximam de Deus, ou pior ainda, tentamos orienta-los para que se apresentarem de forma digna e condizente com o que chamamos de “ordem e decência”. Mas creio que Max Lucado, em seu livro: Quando os anjos silenciaram, diz algo que devemos refletir: “Quando pessoas próximas de Cristo impedem que alguém se aproxime Dele, a religião torna-se vazia e oca. Nada mais é do que uma religião inconsistente”.

Conheço um homem que passou por isso, foi muitos séculos antes daqueles cegos e de Jesus passar por aquela rua rumo a Jerusalém. Para ser mais específico no ano de 726 ac. Esse homem se encontrou quase que na mesma situação desses cegos. O problema é que não é mais um mendigo solicitando uma cura, se trata de um rei.

Enviou Ezequias mensageiros por todo Israel e Judá, e escreveu cartas a Efraim e a Manasses, para que viessem à casa do Senhor a Jerusalém, a fim de celebrarem a páscoa ao Senhor Deus de Israel. O rei e os seus príncipes e toda a congregação em Jerusalém decidiram celebrar a páscoa no segundo mês.
2º Crônicas 30:1 e 2.

Ezequias foi rei de Israel num momento crítico na história desta nação, principalmente porque fazia muitos anos que o povo não participava da celebração da páscoa, ninguém em todo Israel estava apto para a solenidade – nem os sacerdotes.
Os sacerdotes, que eram os responsáveis por orientar a fé do povo, estavam adorando ídolos e descumprindo a grande maioria das leis dadas por Deus a Moisés, isso sem falar em todos os rituais de purificação que lhes eram impostos e estavam sistematicamente sendo ignorados.

O rei Ezequias estava interessado em provocar um verdadeiro avivamento religioso em toda nação, queria leva-la a abandonar os falsos deuses. Por isso convocou todo o povo a seguir para Jerusalém, a fim de poder celebrar a páscoa. Com a esperança de que esta “festa” pudesse trazer aos corações e as mentes daquela gente a realidade que estavam vivendo, e a necessidade de retornar para o caminho e leis de Deus.

Mas tem um problema, e sério. Deus ordenou que a páscoa fosse celebrada no décimo quarto dia do PRIMEIRO mês. Mas Ezequias só conseguiu reunir o povo já no segundo mês. Portanto, caso realmente tenha a celebração, deverá ser realizada com um mês de atraso.

Você consegue entender o dilema? Temos toda uma nação cega moralmente e espiritualmente (e não apenas dois). O seu rei deseja levar a todos para a presença de Deus que haviam perdido, por anos e anos de pecados. Creio que este povo deveria cheirar tão mal quanto aqueles cegos.

Porem, apesar da lei consigo ouvir Ezequias gritando com toda a força de seus pulmões: “O Senhor, que é bom, perdoe todo aquele que dispôs o coração para buscar o Senhor Deus, o Deus de seus pais, ainda que não esteja purificado de acordo com a purificação do santuário” 2Crônicas 30:18 e 19. O motivo de Ezequias era correto, apesar do método ser questionável.

Acho incrível quando leio em 2Crônicas 30:20: “Ouviu o Senhor a Ezequias, e sarou a alma povo”. Não é maravilhoso, Deus não se importou com a data, não se importou com quem celebraria a páscoa, não se importou com nada. Apenas sarou a alma do povo. Jesus tinha o exemplo de seu pai séculos antes.

Alguns de você podem estar a ponto de me excomungar por achar que sou herético, e certamente estão pensando: “Há! Jorge; Você esta querendo me dizer a maneira em que nos prostramos diante de um Deus santo é relativa?”.

Não, eu realmente não estou dizendo isso (apesar de gostar da idéia). O Sr. Lucado responde esta pergunta muito melhor do que eu: “O IDEAL é que nos aproximemos de Deus com o motivo certo e o método certo. Às vezes fazemos isso. Às vezes as palavras de nossa oração são tão bonitas quanto o motivo que existe por trás delas. Às vezes a maneira como cantamos é tão forte quanto a razão pela qual cantamos. Às vezes nosso culto é tão atraente quanto sincero. Porém, nem sempre é assim”.
Temos muitas dificuldades em conciliar que Deus é o Juiz que pune o pecado e o erro e, ao mesmo tempo, o Misericordioso que perdoa. Mas esse é o Deus que a bíblia relata, um ser que se zanga com nosso pecado, e se comove com nossas fraquezas.

Paulo relata isso de uma forma formidável: “Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, a bondade de Deus, se permaneceres na sua bondade. De outro modo, também tu serás cortado”.

Jesus é o único dos deuses adorados pelo mundo afora, que consegue usar uma coroa de rei, mas ostenta o coração de um pai. Ele é um general que assume a responsabilidade pelos erros de seus soldados. Ele é o Senhor que tem compaixão por cegos a beira do caminho.

Agora, depois de quase ser apedrejado por alguns, pergunto: Quem nunca tropeçou nas palavras de uma canção? Quem nunca sentiu que o culto oferecido foi inferior ao que se pretendia? Quem nunca fez pedidos egoístas em uma oração? Creio com toda minha vida, que muitas vezes nossas súplicas pela presença de Deus, atraem tanta atenção quanto os gritos daqueles cegos na beira do caminho, ou então traria certa confusão como com a data da páscoa.

Quem não gritaria com todas as forças no momento em que o Dono do Poder, o Filho do Homem, o Alfa e Omega, esta passando por você? Quem se preocuparia em lições de ordem e prática nessa hora? Quem não gritaria: “SENHOR, AJUDA-ME”.

Jesus não repreendeu aqueles dois cegos pelo mesmo motivo que Deus não disse a Ezequias para cancelar a comemoração da páscoa. Ambas passagens nos mostram que a graça e o amor de Deus estão muito acima daquilo que podemos controlar. E principalmente, independem de nossas atitudes, métodos e princípios, estarem corretas ou não. Ele já olhou e julgou nosso coração. Que é a única coisa que vale.

Sempre me lembro de Jeremias 29:13 “Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração”. Que texto incrível, que promessa, que benção. E cada palavra deste texto se cumpriu na vida daqueles cegos, e também na vida de todo povo de Israel, numa celebração atrasada em um mês. E certamente ira se cumprir na vida de nossos ministérios musicais.

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