Madre Tereza de Calcutá ou a Miss América?
Fugindo das Vozes - escrito por Max Lucado
Você
deseja ter sucesso? Aqui está seu modelo. Deseja obter realizações na vida?
Aqui está o protótipo. Quer estar sob os holofotes, sob a atenção da imprensa,
deseja bajulação?
Considere o artigo principal na primeira página do maior
jornal diário dos Estados Unidos.
Era
uma caricatura da "Miss América". A informação "vital" das
51 participantes foi compilada a fim de apresentar a mulher perfeita. Ela tinha
cabelos e olhos castanhos, sabia cantar e tinha medidas perfeitas: 90-60-90.
Era ideal para ser a Miss América.
A
mensagem é ostentada na página: "Esse é o padrão para a mulher
americana". A implicação é clara: faça o que for preciso para ficar como
ela, enrijeça as pernas, torneie suas coxas, ajeite o cabelo, melhore a maneira
como anda.
Nenhuma
referência é feita em relação às suas convicções, à sua honestidade ou ao seu
Deus. Mas, com certeza, disseram a você o tamanho do quadril dela.
Numa
fotografia pequena, 10 centímetros para a esquerda, está outra mulher, com o
rosto fino, pele enrugada, parecendo um pedaço de couro. Sem nenhuma maquiagem,
pó ou batom. Leva um sorriso débil nos lábios e um lampejo no olhar. Parece
pálida, talvez seja minha imaginação ou talvez seja verdade.
A notícia diz:
"Madre Teresa: em estado grave".
Você
conhece a história de Madre Teresa. Quando ganhou o Prêmio Nobel da Paz, em
1985, ela doou os 200 mil dólares para os pobres de Calcutá; quando um
empresário lhe comprou um carro novo, ela o vendeu e deu
o dinheiro para os menos privilegiados. Não ganhou nada e não possuiu nada.
Duas
mulheres: Miss América e Madre Teresa. Uma caminha pela passarela; a outra
trabalhava em becos. Duas vozes: uma promete coroas, flores e multidões; a
outra serviço, redenção e alegria.
Não
tenho nada contra modelos bonitas, embora eu tenha algumas reservas sobre elas,
mas tenho algo contra as vozes mentirosas que atordoam nosso mundo.
Você
já as ouviu. Elas dizem para trocar sua integridade por uma nova liquidação,
barganhar suas convicções por um acordo fácil, trocar a devoção por uma emoção
rápida.
Elas
sussurram, insistem, escarnecem, atormentam, tentam conquistar, elogiam:
—
Tudo bem, vá em frente!
—
Espere até amanhã.
— Não se preocupe, ninguém vai saber.
— Como pode algo tão bom ser tão ruim?
As
vozes da multidão.
Nossas
vidas são a Wall Street do caos, são as bolsas de valores dos muitos pedidos
enlouquecidos. Homens e mulheres adultos vociferam num esforço frenético de
conquistar tudo o que podem antes que o tempo se acabe. Compre, venda,
comercialize, troque, faça qualquer coisa, mas faça rápido e para que todos
possam ver.
Um
carnaval de ternos cinzas flanelados onde ninguém sorri, mas todos fazem suas
investidas.
Um
coral infindável de vozes explosivas: algumas oferecendo, outras tomando para
si e todas gritando.
O
que fazemos com essas vozes?
Enquanto
trabalho neste manuscrito, estou usando uma escrivaninha no quarto do hotel.
Estou longe de casa, longe das pessoas que me conhecem, longe dos membros da
família que me amam.
As
vozes que encorajam e afirmam estão distantes.
Porém, as vozes que atormentam e seduzem estão muito próximas.
Embora no quarto esteja tudo quieto, se eu escutar, essas vozes são bem claras.
Um folheto no criado-mudo me convida para um passeio no saguão do hotel, onde
posso "fazer novos amigos em um ambiente relaxante". Uma propaganda
no topo da televisão promete que o pedido de um filme pay-per-view para maiores de idade transformará
todas as minhas "fantasias em realidade".
Na lista telefônica, várias
colunas de serviços de acompanhantes oferecem "amor longe de casa".
Um volume atraente, em letras douradas, na gaveta do criado-mudo, acena: O Livro
de Mórmom – O Outro Testamento de Jesus Cristo. Na televisão, um apresentador de
programa de entrevistas discute o tópico do dia: "Como se dar bem fazendo
sexo no escritório".
Vozes,
algumas por prazer, outras por poder.
Algumas
prometem aceitação, outras prometem carinho. Todas têm algo para oferecer.
Mesmo as vozes que
Jesus ouviu prometiam algo.
"Quando a multidão viu o milagre que Jesus tinha feito,
começou a dizer: `Com certeza este é o Profeta que devia vir ao mundo'. " [2]
Para
um observador distante, essas são as vozes da vitória. Para o ouvido mal
treinado, esses são sons do triunfo. O que poderia ser melhor? Cinco mil
pessoas, mais mulheres e crianças proclamando ser Cristo "o Profeta".
Milhares de vozes avolumando-se em um ruído de avivamento, em uma aclamação de
adoração.
As
pessoas tinham tudo que precisavam para uma revolução.
Tinham
um inimigo: Herodes. Tinham um mártir: João Batista. Tinham liderança: os
discípulos. Tinham muitos suprimentos: o multiplicador de pães. E eles tinham
um rei: Jesus de Nazaré.
Por
que esperar? A hora havia chegado. O reino de Israel seria restaurado. As
pessoas tinham ouvido a voz de Deus.
—
Rei Jesus — alguém proclamou. E a multidão repetia, concordando.
Um
coro, aclamando poder, contagiava. Não precisavam de cruz, nem de sacrifício.
Um exército de discípulos seguindo as pegadas de Jesus. Poder para mudar o
mundo sem ter de morrer fazendo isso.
A vingança
seria doce. Aquele que tomou a cabeça de João Batista está a apenas alguns
metros de distância. Pergunto-me se ele alguma vez já sentiu uma lâmina fria
roçar seu pescoço.
Sim, Jesus ouviu
essas vozes. Ele ouviu a sedução. Entretanto, também ouviu mais alguém.
E quando Jesus o
ouviu, ele o buscou:
"Sabendo Jesus
que a multidão estava com a idéia de pegá-lo à força para fazê-lo rei, voltou
sozinho para o monte. " [3]
Jesus
preferiu estar sozinho com o verdadeiro Deus a ficar junto à multidão de
pessoas equivocadas.
A
lógica não disse a ele para despedir a multidão. A sabedoria convencional não
lhe disse para virar as costas ao exército desejoso. Não, não era uma voz de
fora que Jesus ouviu, era uma voz interior.
A
marca de ovelha era o que lhe tornava capaz de ouvir a voz do Pastor.
"O vigia abre a porta para ele e as
ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as suas ovelhas pelo nome e as leva para
fora. " [4]
A marca
de um discípulo é a sua capacidade de ouvir a voz do Mestre.
"Escutem, eu estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e
abrir a porta, entrarei em sua casa e comerei com ele e ele comerá comigo.
" [5]
O
mundo soca a mão na sua porta; Jesus apenas bate. As vozes gritam por sua
adesão; Jesus mansamente pede. O mundo promete prazer rápido; Jesus promete um
jantar tranqüilo... com Deus. "Entrarei
em sua casa e comerei com ele e ele comerá comigo".
Qual
voz você escuta?
Deixe-me
dizer algo importante. Não há um momento em que Jesus não esteja falando.
Nenhum sequer. Não existe um lugar em que Jesus não esteja presente, nenhum
sequer. Nunca haverá um quarto muito escuro... um saguão muito envolvente... um
escritório muito sofisticado... que o terno Amigo, sempre marcando presença e
que sempre nos acompanha, implacavelmente não esteja lá, batendo à porta dos
nossos corações, com toda gentileza, esperando ser convidado a entrar.
Poucos
ouvem essa voz. Um número ainda menor abre a porta.
Todavia,
não interprete nossa insensibilidade como a ausência dele. Cercada de promessas
evanescentes de prazer, está a promessa eterna de sua presença.
"E eu estarei com vocês todos os dias, até o fim dos tempos.
" [6]"Eu
nunca o deixarei; eu jamais o abandonarei." [7]
'
Não
há qualquer outro coro que soe tão alto a ponto de não permitir que a voz de
Deus seja ouvida... se decidirmos ouvi-la. É o que acontece nesse hotel.
Demorei
alguns minutos para encontrá-la, mas encontrei. Não estava tão visível como o
folheto do saguão ou o aviso do filme. Mas estava lá. Não era tão ornamentada
como a bíblia dos Mórmons ou tão atraente como a propaganda de acompanhantes.
Mas eu desistiria de todas essas mentiras de uma vez por todas, para ficar com
a paz que encontrei nesse tesouro.
Uma
Bíblia. Uma simples Bíblia deixada ali pelos Gideões. Gastei alguns minutos
para encontrá-la, mas finalmente encontrei. E quando a vi, abri em uma das
minhas passagens favoritas:
"Não se admirem disso, porque está chegando a hora em que todos os
mortos ouvirão a sua voz e sairão dos túmulos. Aqueles que fizeram o bem, vão
ressuscitar para a vida eterna. Mas aqueles que fizeram o mal, vão ressuscitar
para ser condenados. " [8]
Interessante.
Um dia virá em que todos ouvirão a voz dele. Haverá um dia em que todas as
outras vozes serão silenciadas, e somente a voz dele será ouvida.
Alguns
escutarão sua voz desde o primeiro instante. Não é que ele nunca tenha se
pronunciado, mas é que eles nunca a ouviram. Para esses, a voz de Deus será a voz
de um estranho. Eles a ouvirão uma vez e nunca mais. Vão passar a eternidade
fugindo das vozes que seguiram na terra.
Mas
os outros serão chamados de seus túmulos por uma voz familiar, pois são ovelhas
que conhecem seu pastor, são servos que abriram a porta quando Jesus bateu.
Nesse
dia, a porta se abrirá novamente. Somente dessa vez. E não será Jesus que
entrará em nossa casa; seremos nós que entraremos na casa dele.
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