A BIOGRAFIA DE ELIAS - O
PROFETA DESPRENDIDO QUE CONTINUA A DENUNCIAR O PECADO E É POUPADO DA MORTE
FÍSICA
- Depois
desta experiência no monte Horebe, tem início a fase final do ministério de
Elias, pelo menos no que diz respeito a este período de sua vida terrena. O
texto sagrado interrompe o relato da vida do profeta, no capítulo 20, para
voltar a falar do rei Acabe e de sua guerra contra a Síria, quando, para
confirmar a palavra que Deus havia falado a Elias, aparece um outro profeta,
cujo nome não é mencionado, que faz com que o rei tenha vitória sobre os seus
inimigos.
- Elias,
porém, retorna ao texto sagrado, agora para trazer um duro juízo sob
re Acabe,
Jezabel e sua casa, por causa da morte de Nabote, uma trama engendrada por
Jezabel. Acabe creu na palavra do profeta e, por isso, foi poupado de ver a
destruição de sua casa em seus dias, ainda que ele mesmo viesse a sofrer o
juízo de ter seu corpo dilacerado e seu sangue lambido pelos cães nas terras
que haviam sido tomadas de Nabote (I Rs.21:17-29), profecia, esta, que foi
integralmente cumprida (II Rs.9:36; 10:10).
- Acabe
morreu, tendo, aliás, se cumprido em relação a ele o que havia falado o profeta
Elias (I Rs.19:38), sendo sucedido pelo seu filho Acazias, que adoeceu e foi,
então, pedir a saúde a Baal-Zebube, deus de Ecrom, que, como vimos, era o
deus da saúde. Surge, então, novamente o profeta Elias, para anunciar a morte
do rei. Acazias mandou, então, por três vezes, que soldados fossem prender o
profeta, tendo as duas primeiras companhias militares sido consumidas pelo fogo
do céu que foi invocado pelo profeta. Elias continuava a ser o profeta zeloso,
mas que dependia exclusivamente do Senhor. Fogo do céu consumiu cem homens, mas
tudo Elias fez pela direção do Espírito, tanto que, mesmo após terem sido
consumidos cem homens, foi até a presença do rei quando o Senhor assim o
determinou (II Rs.2:15).
- Elias era,
então, um homem totalmente dependente nas mãos do Senhor. Vigoroso, continuava
a denunciar o pecado e não compactuar com a idolatria dos seus dias. Embora se
mantivesse isolado da sociedade, numa atitude que o escritor evangélico Júlio
Severo bem denomina de “isolamento profético”, não deixava de denunciar o
pecado e de ser usado nas mãos do Senhor para atacar os desmandos e os
desvarios daqueles que estavam a desvirtuar a fé no meio do povo de Deus. Ao se
apresentar ao rei Acazias, o profeta mostra toda a sua coragem e autoridade,
dizendo que o rei morreria. Esta morte outro objetivo não tinha senão mostrar a
todo o povo que Deus era o Senhor da vida, não Baal-Zebube. E o rei Acazias
morreu, conforme a palavra do profeta (II Rs.1:17).
- O profeta,
também, deixou uma mensagem escrita que foi anunciada somente depois de sua
trasladação, mensagem destinada ao rei de Judá, Jeorão, filho de Josafá e
sobrinho de Acabe, no qual lançou um juízo de dura enfermidade por causa da
apostasia daquele rei, juízo este que se cumpriu integralmente (II Cr.21:12).
- Após mais
esta atitude que fez prevalecer o nome do Senhor no meio de Israel, Elias é,
então, poupado da morte, subindo ao céu, sem passar pela morte física, num
redemoinho. Antes disso, porém, Elias faz um milagre, qual seja, a exemplo do
que fizera Josué, atravessa o rio Jordão em seco, na companhia de Eliseu (II
Rs.2:8). Ao assim agir, Elias mostrou claramente, a Eliseu e aos filhos dos
profetas, que “Javé é Deus”, que tem o pleno controle da natureza.
- Este
controle absoluto da natureza seria demonstrado no episódio da trasladação do
próprio profeta. Elias havia pedido a morte, quando em seu momento de
fragilidade, mas Deus não queria que Seu servo experimentasse a morte, ao menos
neste instante histórico. Elias é levado aos céus em um redemoinho (II
Rs.2:11), depois que um carro de fogo, com cavalos de fogo, separou Elias de
Eliseu. Muitos, inadvertidamente, dizem que Elias subiu ao céu nesta
“carruagem”, mas não é isto o que diz o texto bíblico.
- A subida de
Elias ao céu num redemoinho é o coroamento de uma vida de contínua
intensificação da intimidade do profeta com Deus. De experiência em
experiência, Elias foi adquirindo um “status” que o fez atingir o mesmo nível
de Enoque. Elias rendeu-se totalmente ao Senhor e passou a andar com Ele de
modo profundo e ininterrupto e o resultado disto foi o de ter alcançado a mesma
graça que Enoque, o sétimo depois de Adão, obtivera nos seus dias: o da
intimidade tão estreita que fez com que Deus o tomasse de entre os viventes.
Todos quantos experimentarem esta mesma intimidade também serão tomados pelo
Senhor, para que habitem com Ele para todo o sempre, sendo o Seu povo e Ele, o
seu Deus (Ap.21:3).
- Muitos, na
atualidade, notadamente os chamados “teólogos liberais”, procuram contestar o
texto sagrado, dizendo que Elias morreu, que o texto sagrado apenas faz uma
descrição de como teria sido sua morte. No entanto, não podemos contender com o
texto sagrado. Elias não morreu, não experimentou a morte física. A Bíblia é
bem clara a este respeito e, se assim não fosse, como explicar a expectativa
que os israelitas nutriam da sua volta, como vemos nos dias de Jesus? Contra o
texto bíblico não podemos conjecturar e, por isso, não podemos admitir qualquer
idéia em contrário.
- Muitos estudiosos
da Bíblia, desde os primeiros séculos da história da Igreja, entendem que Elias
será uma das duas testemunhas registradas no capítulo 11 do livro do
Apocalipse, que virá pregar nos dias do Anticristo, visando o arrependimento do
povo de Israel. Este pensamento está baseado em alguns pontos, a saber:
a) o
ministério do profeta Elias não se encerrou, tanto que duas das três tarefas a
ele cometidas, foram cumpridas por Eliseu. Tratar-se-ia, pois, de um ministério
inacabado, que o foi propositadamente pelo Senhor, porque Elias haveria de
voltar para concluí-lo, o que se dará na Grande Tribulação.
b) o profeta
Malaquias afirma que Elias voltará antes do “grande e terrível dia do Senhor”
(Ml.4:5), ou seja, antes da batalha do Armagedom, que porá fim à Grande
Tribulação e instituirá o milênio. Alguns afirmam que Ml.4:5 já teria se
cumprido no ministério de João Batista, conforme teria confirmado o próprio
Senhor Jesus (Mt.17:12; Mc.9:13). No entanto, embora Jesus tenha dito que o
Elias que haveria de vir antes de Sua primeira vinda, fosse João Batista,
também afirmou que Elias viria e restauraria todas as coisas, como que
indicando que o cumprimento cabal desta profecia ainda não se deu (Mt.17:11; Mc.9:12).
O Elias da primeira vinda a Israel teria sido João Batista, mas o próprio Elias
haveria de vir antes da segunda vinda.
c) a Bíblia
diz que todos os homens foram destinados a morrer uma vez (Hb.9:27) e Deus não
faz acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34), sendo certo que Elias, como homem
que era, pecou, necessitando, pois, morrer. Assim, sua volta na Grande
Tribulação seria para o cumprimento desta ordem divina, já que as duas
testemunhas serão mortas pelo Anticristo (Ap.11:7).
d) Elias
encontra-se, atualmente, junto a Deus, tendo aparecido, juntamente com Moisés,
no monte da Transfiguração (Mt.17:3), numa clara demonstração de que está à
disposição do Senhor para realizar a Sua obra quando for o tempo.
- É
interessante observar que os judeus, até o dia de hoje, aguardam a volta de
Elias e, em suas cerimônias de circuncisão, sempre deixam vaga uma cadeira, que
é denominada de “o lugar de Elias”. Como nos diz o escritor católico Francesco
Spadafora: “…É do conhecimento geral que o profeta ‘arrebatado’ ao céu ocupa um
lugar importante na haggada. Essa ilustra e amplia com elementos legendários,
às vezes simplistas, e com considerações teológicas os textos bíblicos
relativos à vida terrena de Elias; porém, se detém especialmente em seu
arrebatamento e sua atividade celestial, sobre suas aparições na terra como
benfeitor dos pobres e amigo dos humildes, como socorredor e libertador dos
fiéis em toda situação extrema, como amigo dos sábios e estudiosos da Torah,
devido o seu zelo por ela, e finalmente como precursor do Messias.…” (O profeta
Elias. Trad. Wilmar Santin. Disponível em:
- Vista,
então, a biografia de Elias, resta-nos, dentro dos objetivos do trimestre
letivo da EBD, vermos no que podemos melhorar nossos caminhos diante de Deus
após analisarmos a vida deste grande profeta.
- A primeira
lição que temos com Elias é o chamado “isolamento profético” de que ele é um
exemplo típico. Elias sempre é apresentado no texto sagrado como alguém que se
mantinha à parte da sociedade, retirado, tendo um trajar diferente, a andar
pelos desertos e afastado do dia-a-dia do mundo de seu tempo. Esta
característica levou, inclusive, Elias a ser um exemplo para os adeptos do
movimento monástico, ou seja, para aqueles que resolveram servir a Deus
isolando-se do mundo, abrindo conventos e monastérios através dos séculos.
OBS: “…Aos
monges, o tema do aspecto profético de sua própria vida sempre inspirou o mais
vivo interesse (cf. Jean Leclercq, La via parfaite. Points de vue sur l’essence
de l’état religieux, Turnhout-París 1948, cap. 2, La vie prophétique, 57-81).
De fato a espiritualidade da vida de perfeição já foi preparada no AT (cf. Sœur
Jeanne d’Arc, Les préparations bibliques de la vie religieuse, VS, XXIV [1956],
474-494).
Os grandes
profetas Elias, Eliseu e João Batista foram considerados, junto com outros,
como protótipos da vida religiosa. …” (Francesco Spadafora, op.cit.)
- No entanto,
o “isolamento profético” não pode ser considerado um modelo no sentido físico,
mas, sim, sob o seu aspecto espiritual. Como ensina o escrito evangélico Júlio
Severo, “a característica fundamental do estilo de vida profético de
Elias, que entrará em ação nos últimos dias, é o isolamento profético. Elias se
isolava completamente dos pecados da sociedade.(…) Em seu isolamento, Elias
sempre buscava a Deus e se preparava para atender toda vez que Deus o chamava
para ir ao meio da sociedade e confrontar seus líderes políticos e valores
errados.…” (A volta do profeta Elias: o que a unção de Elias representa para as
famílias e o mundo político nestes últimos dias. Disponível em:
http://www.tscpulpitseries.org/portuguese/ts020213.htm Acesso em: 1 jun. 2007)
.
- A terceira
lição que aprendemos tendo Elias como contra-exemplo é a de que não podemos ser
individualistas, nem achar que o mundo gira em torno de nós. Deus e o Seu povo
são maiores do que nós. Somos importantes para Deus, Deus nos ama, mas também
ama outras pessoas e tem compromisso com a Sua Palavra, Palavra esta que é
posta, inclusive, acima do Seu próprio nome (Sl.138:2). Assim, para reproduzir
uma frase de um controvertido parlamentar brasileiro que ficou famosa, devemos
nos reduzir à nossa insignificância.
- Elias
deixou-se levar pelo individualismo e se apresentou como o único remanescente
de Deus na terra de Israel, esquecido do mordomo Obadias e dos profetas que
este havia protegido da fúria de Jezabel. Elias voltou-se única e
exclusivamente para si e, portanto, não poderia exnergar a Providência Divina
para com todo o povo de Israel, que era o Seu povo escolhido. Que tristeza
quando esquecemos do povo de Deus e do compromisso do Senhor com este povo.
Nossa mesquinhenz levar-nos-á a um completo isolamento e a uma total fraqueza.
Quando pensamos só em nós mesmos, em nossos benefícios, nosso destino será o pé
de zimbro no deserto, o desânimo e o fracasso e, se o Senhor não tiver
misericórdia de nós, como teve com Elias, seremos um retumbante fracasso e,
ante nossa inutilidade, lançados seremos nas trevas exteriores, onde há pranto
e ranger de dentes.
Q eu Deus nos
guarde!
- A quarta
lição que tem Elias como contra-exemplo é o de querermos estabelecer o tempo de
nosso ministério. Ministério é serviço e, portanto, quem determina as tarefas
não é o servo, mas, sim, o senhor. Na parábola já mencionada, é o Senhor quem
diz o que deve, ou não, ser feito pelo servo (Lc.17:7). Quando recebemos uma
incumbência do Senhor, temos de cumpri-la, sabendo que o lugar, o tempo e o
modo de fazê-lo são estabelecidos pelo Senhor, não por nós. “Sabei que o Senhor
é Deus, foi Ele e não nós que nos fez povo Seu e ovelhas do Seu pasto”
(Sl.100:3).
- Elias achou
que seu ministério havia findado. Provara que o Senhor era Deus e matara os
profetas de Baal e Asera. Para sua surpresa, o rei Acabe não havia se
convertido e Jezabel, em vez de fugir para Sidom, mandou avisar Elias que o
mataria. Elias entendeu, então, que seus objetivos haviam sido cumpridos e que
nada mais restava fazer senão morrer. Considerara que Deus havia falhado no seu
intento de destruir o culto a Baal e que não havia mais o que fazer pelo povo.
Que presunção, que audácia de um simples vaso de barro, querendo determinar o
que havia de fazer o oleiro! “Ai daquele que contende com o seu Criador, caco
entre outros cacos de barro! Porventura, dirá o barro ao que o formou: Que
fazes? Ou a tua obra: Não tens mãos?” (Is.45:9).
- Muitos
estão a fazer isto na atualidade. Estabelecem o lugar, o tempo e o modo de seus
ministérios, esquecidos de que são apenas servos, caco entre outros cacos de
barro. Não se recordam das palavras de Paulo a Timóteo, na sua derradeira
carta: “Mas tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um
evangelista, cumpre o teu ministério” (II Tm.4:5).
- Quantas
igrejas locais não têm sofrido por causa destes que, se arrogando o direito de
estipular lugar, tempo e modo de seus ministérios, ficam onde Deus não quer
mais que fiquem, saem de onde Deus não quer que saiam, estabelecem modos e
maneiras que Deus não quer que estabeleçam. São verdadeiras pedras de tropeço,
obstáculos para o bom desenvolvimento da obra do Senhor. Tais pessoas são
rebeldes, desobedientes e, se não se arrependerem, terão um destino triste e
lamentável (I Pe.2:6-8). Que Deus nos guarde!
- Como já
dissemos supra, o fato de Elias ter deixado seu moço antes de partir para o
deserto é elucidativo desta circunstância negativa. Na verdade, ao deixar o seu
moço em Berseba, Elias como que renunciava a seu ministério, deixava em Berseba
não só o moço, mas o profeta. Partia para o deserto apenas como um homem, como
alguém despido de espiritualidade. Quantos não têm caminhado para o deserto,
abandonando seu ministério, mas ainda mantendo o título e a posição na
organização. Quantos não têm deixado o corpo de Cristo, embora continuem
integrando o grupo social. Quantos não têm deixado a Cristo, mas têm se mantido
crentes, e até “ministros”…
OBS: A idéia
de que o ministério profético era totalmente independente da vontade do profeta
está bem delineado neste trecho de um historiador judeu-brasileiro, que ora se
transcreve: “…O conceito do profeta como ‘boca de Deus’ é antigo (Ex.7:1,2), é
uma função que ele não escolhe, mas para a qual se acha designado, muitas
vezes contra sua própria vontade e quase sempre para dizer o que os outros não
querem ouvir. O navi [profeta em hebraico, observação nossa] é
escolhido por Deus e irresistivelmente compelido a comunicar aos outros a Sua
mensagem. Ele só fala quando assim mandado e, uma vez recebida a ordem, quer
queira quer não, tem que falar.…” (BORGER, Uma história do povo judeu,
v.1, p.94).
- A quinta e
última lição negativa de Elias é a referente ao desânimo. Não podemos, em
hipótese alguma, deixar que o desânimo nos atinja. Jesus mandou-nos que
tivéssemos “bom ânimo” e é necessário, particularmente nos dias difíceis em que
vivemos, que este ânimo seja redobrado a cada dia. O desânimo é a porta de
entrada do fracasso espiritual, é a brecha para perdermos a nossa salvação. As
dificuldades são crescentes, mas temos de ter ânimo, de nos esforçarmos para
servir a Deus e ganhar almas para o Seu reino.
- Não podemos
desfalecer, apesar das dificuldades dos nossos dias. O pecado aumenta e, por
isso, tem de aumentar a denúncia contra o pecado. Ainda que haja trevas, ainda
que muitos se envergonhem do Evangelho e da Palavra de Deus, devemos repetir as
palavras do profeta Miquéias: “Mas, decerto, eu sou cheio da força do Espírito
do SENHOR e cheio de juízo e de ânimo, para anunciar a Jacó a sua transgressão
e a Israel o seu pecado” (Mq.3:8). Combatamos o bom combate até que acabemos a
nossa carreira! Amém!
***
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