sexta-feira, 1 de maio de 2015

GENTE CANSADA DE IGREJA


GENTE CANSADA DE IGREJA

Sabendo que, estatisticamente, os cristãos parecem cada vez mais cansados de igreja, é relevante dedicar-lhes um "sermão". 
Os pregadores, tem esquecido que os crentes andam cansados de Igreja. Alguns, por cansaço, já se esqueceram dos seus compromissos de membresia, dos valores que abraçaram quando aceitaram a Cristo e foram baptizados e integrados numa igreja local.

Num belo dia, John MacArthur pregou para os cansados da sua igreja local e disse-lhes:

- Não se esqueçam que...

- A Igreja é a única instituição que o nosso Senhor prometeu edificar e abençoar (Mt.16:18)
- A Igreja é a reunião dos verdadeiros adoradores – Filip. 3:3
- A Igreja é a assembleia mais preciosa sobre a terra, uma vez que Cristo a adquiriu com o seu próprio sangue - Act.20:28
- A Igreja é a expressão terrena da realidade celestial – Mat. 6:10
- A Igreja por fim triunfará, tanto no âmbito universal como local - Mat.16:18
- A Igreja é a esfera da comunhão espiritual – Heb. 10:22-25
- A Igreja é quem proclama e protege a verdade divina – I Tim.3:15
- A Igreja é o lugar principal de edificação e crescimento espirituais – Ef. 4:11-16
- A Igreja é a plataforma de lançamento para a evangelização do mundo - Marcos 16:15.
- A Igreja é o ambiente em que se desenvolve e amadurece uma liderança espiritual forte – II Tim. 2:2

A NATUREZA DO CANSAÇO

Alguns cansados dizem: Não, nós não estamos cansados de Igreja, estamos cansados do modelo institucional de igreja. É curioso que Ricardo Barbosa de Souza diga a esse respeito: "A Igreja de facto, não é uma instituição, muito embora reconheçamos que precisa de uma para a sua sobrevivência sociológica." 

E mais adiante acrescenta: "Porque precisamos da Igreja? Bem, se reconhecemos que não existe nenhum ser verdadeiro fora da comunhão e nenhuma comunhão verdadeira que negue a pessoa, somos levados a reconhecer que a igreja ocupa um papel central na compreensão da identidade humana como pessoa e, sobretudo, no conhecimento de Deus".

Suspeito sinceramente dos motivos, na esmagadora maioria dos casos, daqueles que se cansam da igreja e dela desaparecem dizendo que não gostam do institucionalismo da igreja de hoje. Se assim fosse, essas pessoas estariam certamente empenhadas em descobrir diligentemente o que o Espírito Santo lhes revela e certamente o Senhor os conduziria para algo que tivesse impacto nas vidas de outros trazendo salvação de almas, milagres e toda a glória a Jesus, dentro ou fora das suas igrejas locais. Mas infelizmente, não é isso que vemos. 

Vemos pessoas cansadas que ficam em casa a dormir. Vemos pessoas cansadas de Igreja, sem alternativas ministeriais até "melhores" e que não as buscam por preguiça e indolência.

Sabemos que cada igreja toma diferentes formas que não apelam a todo o tipo de pessoas. Se as igrejas maiores servem um determinado segmento da população da cidade, outros identificar-se-ão com comunidades cristãs mais familiares ou informais. Creio que as igrejas instaladas na cidade, há tantos anos a dar o seu melhor, devem ser capazes de acarinhar outras expressões e vivências da mesma igreja mas com abordagens menos formais. Defendo que não podemos laborar no erro de pensar que só as igrejas, pessoas colectivas religiosas, registadas no Ministério da Justiça, conforme as conhecemos, serão capazes de vencer o desafio de ser igreja hoje.

Se tu és dos que estás cansado, não da Igreja, mas dos modelos usados de igreja, busca diante do Senhor, o que Ele quer fazer através de ti. Se o fizeres, o Espírito Santo não permitirá que fujas da natureza bíblica de uma igreja local.

Ora a natureza bíblica de uma comunidade cristã, segundo a visão neo-testamentária, inclui:

• Autêntica koinonia.
• Uma preocupação com o testemunho cristão, como estilo da vida.
• O hábito regular de orar uns pelos outros.
• Uma visão para alcançar o mundo perdido, sem Cristo como Salvador e Senhor.
• O discipulado cristão acontece.
Por outras palavras, dêem as voltas que derem, Igreja, "ekklesia", segundo o Novo Testamento tem de ter:
• KOINONIA – Comunhão
• DIAKONIA – Serviço
• MARTYRIA – Evangelização e Missões
• KERYGMA – Proclamação

Se isso te cansa, estás mal, meu irmão. Se pretendes outra qualquer forma de igreja, que não tenha isto, estás muito mal e a precisar de ajuda.

Quando Jesus disse a Pedro: "Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja..." Mat. 16:18, Jesus usou a palavra "ekklesia", no grego, literalmente, "chamados para fora, ou convocados para fora." A Igreja é portanto, a reunião dos que foram convocados por Cristo. Reunião ???? Está cansado das reuniões com crentes? Será que a reunião com outros crentes, deverá ser mística? Virtual? Reunião de espíritos ausentes?

Este termo "ekklesia", usado para conceptualizar "igreja", tem como pano de fundo dois termos hebraicos: "Qahal", isto é, "chamar para reunir-se em assembleia" ou "congregação" (Num. 8:9; 10:7; Jer. 26:17), e "Iahad" que significa "encontrar-se com" ou "vir junto a alguém para um encontro em determinado lugar" (Neemias 6:2, 10; Jos. 11:5).

A Igreja, não se canse, é a reunião dos escolhidos por Cristo e em Cristo, com uma missão apostólica no mundo (João 17:15-18). Junto-me a Archibald Hunter no que ele escreveu com humor e perspicácia sobre a Igreja: "...a igreja é uma congregação local, alojada num prédio específico. A igreja é o lugar para o qual você vai aos domingos, a caminho da sua aula de golfe. Ela tem um ministro, um órgão, umas janelas bizarras e uma hipoteca. " 

Mas Robert McAfee Brown disse sobre a Igreja: "....a igreja também é o lugar onde as pessoas têm encontrado alento nos tempos de tragédia, onde oraram a Deus e sentiram a Sua presença, onde elas vão para se oferecerem em serviço às outras pessoas. Igreja também é isso! A Igreja pode e deve ser mais do que um ajuntamento de pessoas, mas também é isso! Não vale a pena falar de nenhuma igreja invisível a não ser que ela receba uma personificação concreta num grupo específico de pessoas. 

A Igreja local pode ser o desespero e o cansaço daqueles que têm uma grande visão para a Igreja, mas a não ser que se identifiquem com ela, serão parasitas espirituais."

Pois é. "ekklesia" é também lugar, e visível! Apesar disso, vemos crentes verdadeiramente saturados da Igreja. Verdadeiramente rompem com o compromisso do ministério do culto congregacional e que sofrem por terem mais um culto, mais uma conferência, mais uma célula, mais um dízimo, mais uma assembleia geral, mais compromissos ou porque já passa da 1 hora da tarde. Hoje vemos crentes que acham, embora não digam, que Igreja é um fardo que precisamos de retirar de cima dos ombros. Temos crentes que estão mesmo cansados do serviço cristão porque já não estão para isso, estão muito cansados.
De facto, há uma corrente cada vez mais frequente, tantas vezes "espiritualizada", de crentes que desvalorizam a Igreja local. Para esses já não há apelo que resulte.
2. RAZÕES TEÓRICAS PARA O CANSAÇO
Porque será ? Talvez duas razões preliminares.
1. Porventura porque viveram muitos episódios ao longo da sua vida cristã absolutamente frustrantes no âmbito da igreja local. Observaram líderes a recorrerem ao seu expediente, fruto de conhecimento e experiências acumuladas, e partir para a elaboração de planos estratégicos que reuniam informação, recursos humanos e meios materiais. Depois disso, viram esses planos imediatamente postos em prática, planos quase sempre vistos como "infalíveis". A teologia da receita, exportada pelos grandes movimentos missionários anda por aí, numa estante perto de nós e isso tem cansado as pessoas da Igreja.

Cansam-se porque os "pacotes", brilhantes, carregados de informação estratégica, sempre testada e bem sucedida em países de realidades distantes, que nada têm a ver com o país dos três persistentes "f´s", Fado, Futebol e Fátima, parecem dar indicações de que, se seguirmos os passos certos, também chegaremos lá, mas que acabam por nada dar.

Outros, cansam-se, por uma razão oposta.

2. Seguem uma corrente que espiritualiza tanto a missão da Igreja que acabaram por adoptar um modelo de inércia. Adoptam a postura vetero-testamentária que fazia da missão um movimento essencialmente centrípeto. A "espiritualidade" desses, torna-os reféns de uma imobilidade e inércia que não os deixa integrar a sua fé no local de trabalho, no condomínio, nem tão pouco na família. Ao melhor estilo hiper-calvinista, deixam assim sem alternativa o não crente. "Obrigam" o descrente a aproximar-se dos lugares de culto imensamente difíceis de encontrar, normalmente encerrados no horário de expediente normal, ou, em última análise, dos confortáveis sofás domésticos onde os "espirituais" fazem a catarse das áreas ainda não tratadas do seu carácter cristão.
Por estas e outras razões, há crentes cansados de Igreja. Uns porque andaram sempre há procura da "onda" certa, do que "tá a dar", do Pastor da moda, da "igreja que acontece", outros porque a inércia e a falta do sonho, os desanimou. Há ainda aqueles que se cansaram porque nas suas igrejas, o clímax do culto é a queda das bengalas e nada acontece.

3. A "PALAVRA DE EXORTAÇÃO" AOS HEBREUS SOBRE O CANSAÇO

Hebreus, é um fantástico livro do Novo Testamento que aborda muito bem o cansaço e a apatia dos crentes em

relação à Igreja. De facto, os leitores originais de Hebreus partilhavam de vários dos nossos problemas básicos. Por isso, o autor, chama o seu trabalho de "palavra de exortação" em Heb.13:22. O autor não se meteu num debate com argumentos abstractos e preparou, isso sim, um sermão. A expressão "palavra de exortação" não é mais do que a palavra grega para "sermão". Era a palavra aplicada para um sermão na sinagoga, como aparece em Actos 13:15.

Hebreus é então uma obra única porque se trata de um sermão para crentes, sem ser um sermão missionário, como os que temos em Actos. Hebreus é um sermão para a Igreja cheio de exortações. Com este sermão, o autor demonstra que conhecia bem os problemas da sua comunidade. Ele identificou muito claramente esses problemas:

1. Risco de Apostasia – 6:6
2. Tardios para Ouvir e Meninos na Fé – 5:12
3. Afastamento de Crentes da Assembleia – 10:25 (Consequência: Falta de admoestação e encorajamento mútuo)
4. A necessidade de maior Perseverança – 10:36
5. A necessidade de renovação das forças e do ânimo – 12:12

Neste sermão aos cansados da Igreja, que levou alguns a um desinteresse tal que o autor escreveu o que
escreveu em 2:3 e em 3:6-14 (notem a incerteza do autor quanto à possibilidade de eles chegarem até ao fim da carreira) vemos que esta comunidade apresentava razões para esse desânimo. Quais?
- Talvez existissem crentes que tivessem tomado um compromisso inicial com Deus num ambiente de uma certa emoção congregacional.

- Talvez vivessem num ambiente citadino onde a competição com cultos novos e exóticos fosse tentadora. Os serviços de adoração da igreja talvez parecessem muito previsíveis quando comparados a outros lugares onde tudo acontecia.

Diante deste desânimo bem patente em 2:1, o autor de Hebreus usa um bom método para os encorajar a "restabelecer as mãos descaídas e os joelhos trôpegos. (12:12). O que fazer para que os crentes retornem ao seu compromisso original com a sua "ekklesia" ?

1. MERGULHE NA ESCRITURA SAGRADA E DEIXE QUE ELA LHE FALE.

É notável como o autor aos Hebreus usa a "palavra de exortação", fundamentando-se nas Escrituras para exortar e
estimular os cansados. As exortações do autor, não foram exigências, nem gritos, nem avisos. A exortação vem da própria Escritura.
Cap.1: Uma série de citações bíblicas destinadas a demonstrar aos cansados que o Filho de Deus é Superior a tudo e todos. Essa discussão transforma-se na base de alguns conselhos para que não haja negligência (2:3).
Cap. 2: As afirmações sobre a humanidade de Jesus fornecem a base para a declaração que o Senhor "é poderoso para socorrer os que são tentados" (2:18).
Cap. 5-10: O facto de Cristo ser o Sumo-Sacerdote no santuário ideal (5:1-10:18) fornece a base do apelo do autor para que os cansados tenham "intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus" (10:19). Isso deveria estimular o povo à adoração do Deus vivo.

CONCLUSÃO

Conta-se que um grupo de esquilos invadiram três igrejas numa cidade. Depois de muito orarem, os anciãos da primeira igreja determinaram que os animais estavam destinados a estar ali. Quem eram eles para interferir na vontade de Deus?, pensaram. E os esquilos depressa se multiplicaram. Os anciãos da segunda igreja, decidindo que não podiam fazer mal a nenhuma criatura de Deus, colocaram armadilhas inofensivas para os esquilos e soltaram-nos para fora da cidade. Três dias depois, os esquilos estavam de volta. Só na terceira igreja é que conseguiram livrar-se deles. Os anciãos baptizaram os esquilos e registaram-nos como membros da igreja. Agora só os vêem no Natal e na Páscoa."

Para uma fé vital, não creio que os cansados de igreja precisem de apelos constantes. É que acabam por ficar imunizados a esses apelos. Quem quiser realmente sair do cansaço e da apatia espiritual precisa de se lançar profundamente nas raízes da fé para compreender a sua identidade e a identidade do próprio Deus.

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*Paulo Pascoal 

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