GENTE CANSADA DE IGREJA
Sabendo que,
estatisticamente, os cristãos parecem cada vez mais cansados de igreja, é
relevante dedicar-lhes um "sermão".
Os pregadores, tem esquecido que os crentes andam cansados de Igreja. Alguns, por cansaço,
já se esqueceram dos seus compromissos de membresia, dos valores que abraçaram
quando aceitaram a Cristo e foram baptizados e integrados numa igreja local.
Num belo dia,
John MacArthur pregou para os cansados da sua igreja local e disse-lhes:
- Não se esqueçam
que...
- A Igreja é a
única instituição que o nosso Senhor prometeu edificar e abençoar (Mt.16:18)
- A Igreja é a
reunião dos verdadeiros adoradores – Filip. 3:3
- A Igreja é a
assembleia mais preciosa sobre a terra, uma vez que Cristo a adquiriu com o seu
próprio sangue - Act.20:28
- A Igreja é a
expressão terrena da realidade celestial – Mat. 6:10
- A Igreja por
fim triunfará, tanto no âmbito universal como local - Mat.16:18
- A Igreja é a
esfera da comunhão espiritual – Heb. 10:22-25
- A Igreja é quem
proclama e protege a verdade divina – I Tim.3:15
- A Igreja é o
lugar principal de edificação e crescimento espirituais – Ef. 4:11-16
- A Igreja é a
plataforma de lançamento para a evangelização do mundo - Marcos 16:15.
- A Igreja é o
ambiente em que se desenvolve e amadurece uma liderança espiritual forte – II
Tim. 2:2
A NATUREZA DO
CANSAÇO
Alguns cansados dizem: Não, nós não estamos cansados de Igreja, estamos
cansados do modelo institucional de igreja. É curioso que Ricardo Barbosa de
Souza diga a esse respeito: "A Igreja de facto, não é uma instituição,
muito embora reconheçamos que precisa de uma para a sua sobrevivência
sociológica."
E mais adiante acrescenta: "Porque precisamos da
Igreja? Bem, se reconhecemos que não existe nenhum ser verdadeiro fora da
comunhão e nenhuma comunhão verdadeira que negue a pessoa, somos levados a
reconhecer que a igreja ocupa um papel central na compreensão da identidade
humana como pessoa e, sobretudo, no conhecimento de Deus".
Suspeito
sinceramente dos motivos, na esmagadora maioria dos casos, daqueles que se
cansam da igreja e dela desaparecem dizendo que não gostam do institucionalismo
da igreja de hoje. Se assim fosse, essas pessoas estariam certamente empenhadas
em descobrir diligentemente o que o Espírito Santo lhes revela e certamente o
Senhor os conduziria para algo que tivesse impacto nas vidas de outros trazendo
salvação de almas, milagres e toda a glória a Jesus, dentro ou fora das suas
igrejas locais. Mas infelizmente, não é isso que vemos.
Vemos pessoas cansadas
que ficam em casa a dormir. Vemos pessoas cansadas de Igreja, sem alternativas
ministeriais até "melhores" e que não as buscam por preguiça e
indolência.
Sabemos que cada igreja toma diferentes formas que não apelam a
todo o tipo de pessoas. Se as igrejas maiores servem um determinado segmento da
população da cidade, outros identificar-se-ão com comunidades cristãs mais
familiares ou informais. Creio que as igrejas instaladas na cidade, há tantos
anos a dar o seu melhor, devem ser capazes de acarinhar outras expressões e
vivências da mesma igreja mas com abordagens menos formais. Defendo que não
podemos laborar no erro de pensar que só as igrejas, pessoas colectivas
religiosas, registadas no Ministério da Justiça, conforme as conhecemos, serão
capazes de vencer o desafio de ser igreja hoje.
Se tu és dos que
estás cansado, não da Igreja, mas dos modelos usados de igreja, busca diante do
Senhor, o que Ele quer fazer através de ti. Se o fizeres, o Espírito Santo não
permitirá que fujas da natureza bíblica de uma igreja local.
Ora a natureza
bíblica de uma comunidade cristã, segundo a visão neo-testamentária, inclui:
• Autêntica
koinonia.
• Uma preocupação
com o testemunho cristão, como estilo da vida.
• O hábito
regular de orar uns pelos outros.
• Uma visão para
alcançar o mundo perdido, sem Cristo como Salvador e Senhor.
• O discipulado
cristão acontece.
Por outras
palavras, dêem as voltas que derem, Igreja, "ekklesia", segundo o
Novo Testamento tem de ter:
• KOINONIA –
Comunhão
• DIAKONIA –
Serviço
• MARTYRIA –
Evangelização e Missões
• KERYGMA – Proclamação
Se isso te cansa,
estás mal, meu irmão. Se pretendes outra qualquer forma de igreja, que não
tenha isto, estás muito mal e a precisar de ajuda.
Quando Jesus
disse a Pedro: "Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja..." Mat. 16:18, Jesus usou a palavra
"ekklesia", no grego, literalmente, "chamados para fora, ou
convocados para fora." A Igreja é portanto, a reunião dos que foram
convocados por Cristo. Reunião ???? Está cansado das reuniões com crentes? Será
que a reunião com outros crentes, deverá ser mística? Virtual? Reunião de
espíritos ausentes?
Este termo
"ekklesia", usado para conceptualizar "igreja", tem como
pano de fundo dois termos hebraicos: "Qahal", isto é, "chamar
para reunir-se em assembleia" ou "congregação" (Num. 8:9; 10:7;
Jer. 26:17), e "Iahad" que significa "encontrar-se com" ou
"vir junto a alguém para um encontro em determinado lugar" (Neemias
6:2, 10; Jos. 11:5).
A Igreja, não se
canse, é a reunião dos escolhidos por Cristo e em Cristo, com uma missão
apostólica no mundo (João 17:15-18). Junto-me a Archibald Hunter no que ele
escreveu com humor e perspicácia sobre a Igreja: "...a igreja é uma
congregação local, alojada num prédio específico. A igreja é o lugar para o
qual você vai aos domingos, a caminho da sua aula de golfe. Ela tem um
ministro, um órgão, umas janelas bizarras e uma hipoteca. "
Mas Robert
McAfee Brown disse sobre a Igreja: "....a igreja também é o lugar onde as
pessoas têm encontrado alento nos tempos de tragédia, onde oraram a Deus e
sentiram a Sua presença, onde elas vão para se oferecerem em serviço às outras
pessoas. Igreja também é isso! A Igreja pode e deve ser mais do que um
ajuntamento de pessoas, mas também é isso! Não vale a pena falar de nenhuma
igreja invisível a não ser que ela receba uma personificação concreta num grupo
específico de pessoas.
A Igreja local pode ser o desespero e o cansaço daqueles
que têm uma grande visão para a Igreja, mas a não ser que se identifiquem com
ela, serão parasitas espirituais."
Pois é.
"ekklesia" é também lugar, e visível! Apesar disso, vemos crentes
verdadeiramente saturados da Igreja. Verdadeiramente rompem com o compromisso
do ministério do culto congregacional e que sofrem por terem mais um culto,
mais uma conferência, mais uma célula, mais um dízimo, mais uma assembleia
geral, mais compromissos ou porque já passa da 1 hora da tarde. Hoje vemos
crentes que acham, embora não digam, que Igreja é um fardo que precisamos de
retirar de cima dos ombros. Temos crentes que estão mesmo cansados do serviço
cristão porque já não estão para isso, estão muito cansados.
De facto, há uma
corrente cada vez mais frequente, tantas vezes "espiritualizada", de
crentes que desvalorizam a Igreja local. Para esses já não há apelo que
resulte.
2. RAZÕES
TEÓRICAS PARA O CANSAÇO
Porque será ?
Talvez duas razões preliminares.
1. Porventura
porque viveram muitos episódios ao longo da sua vida cristã absolutamente
frustrantes no âmbito da igreja local. Observaram líderes a recorrerem ao seu
expediente, fruto de conhecimento e experiências acumuladas, e partir para a
elaboração de planos estratégicos que reuniam informação, recursos humanos e
meios materiais. Depois disso, viram esses planos imediatamente postos em
prática, planos quase sempre vistos como "infalíveis". A teologia da
receita, exportada pelos grandes movimentos missionários anda por aí, numa
estante perto de nós e isso tem cansado as pessoas da Igreja.
Cansam-se porque
os "pacotes", brilhantes, carregados de informação estratégica,
sempre testada e bem sucedida em países de realidades distantes, que nada têm a
ver com o país dos três persistentes "f´s", Fado, Futebol e Fátima,
parecem dar indicações de que, se seguirmos os passos certos, também chegaremos
lá, mas que acabam por nada dar.
Outros,
cansam-se, por uma razão oposta.
2. Seguem uma
corrente que espiritualiza tanto a missão da Igreja que acabaram por adoptar um
modelo de inércia. Adoptam a postura vetero-testamentária que fazia da missão
um movimento essencialmente centrípeto. A "espiritualidade" desses,
torna-os reféns de uma imobilidade e inércia que não os deixa integrar a sua fé
no local de trabalho, no condomínio, nem tão pouco na família. Ao melhor estilo
hiper-calvinista, deixam assim sem alternativa o não crente. "Obrigam"
o descrente a aproximar-se dos lugares de culto imensamente difíceis de
encontrar, normalmente encerrados no horário de expediente normal, ou, em
última análise, dos confortáveis sofás domésticos onde os
"espirituais" fazem a catarse das áreas ainda não tratadas do seu
carácter cristão.
Por estas e
outras razões, há crentes cansados de Igreja. Uns porque andaram sempre há
procura da "onda" certa, do que "tá a dar", do Pastor da
moda, da "igreja que acontece", outros porque a inércia e a falta do
sonho, os desanimou. Há ainda aqueles que se cansaram porque nas suas igrejas,
o clímax do culto é a queda das bengalas e nada acontece.
3. A
"PALAVRA DE EXORTAÇÃO" AOS HEBREUS SOBRE O CANSAÇO
Hebreus, é um
fantástico livro do Novo Testamento que aborda muito bem o cansaço e a apatia
dos crentes em
relação à Igreja.
De facto, os leitores originais de Hebreus partilhavam de vários dos nossos
problemas básicos. Por isso, o autor, chama o seu trabalho de "palavra de
exortação" em Heb.13:22. O autor não se meteu num debate com argumentos
abstractos e preparou, isso sim, um sermão. A expressão "palavra de
exortação" não é mais do que a palavra grega para "sermão". Era
a palavra aplicada para um sermão na sinagoga, como aparece em Actos 13:15.
Hebreus é então
uma obra única porque se trata de um sermão para crentes, sem ser um sermão
missionário, como os que temos em Actos. Hebreus é um sermão para a Igreja
cheio de exortações. Com este sermão, o autor demonstra que conhecia bem os
problemas da sua comunidade. Ele identificou muito claramente esses problemas:
1. Risco de
Apostasia – 6:6
2. Tardios para
Ouvir e Meninos na Fé – 5:12
3. Afastamento de
Crentes da Assembleia – 10:25 (Consequência: Falta de admoestação e
encorajamento mútuo)
4. A necessidade
de maior Perseverança – 10:36
5. A necessidade
de renovação das forças e do ânimo – 12:12
Neste sermão aos
cansados da Igreja, que levou alguns a um desinteresse tal que o autor escreveu
o que
escreveu em 2:3 e
em 3:6-14 (notem a incerteza do autor quanto à possibilidade de eles chegarem
até ao fim da carreira) vemos que esta comunidade apresentava razões para esse
desânimo. Quais?
- Talvez
existissem crentes que tivessem tomado um compromisso inicial com Deus num
ambiente de uma certa emoção congregacional.
- Talvez vivessem
num ambiente citadino onde a competição com cultos novos e exóticos fosse
tentadora. Os serviços de adoração da igreja talvez parecessem muito
previsíveis quando comparados a outros lugares onde tudo acontecia.
Diante deste
desânimo bem patente em 2:1, o autor de Hebreus usa um bom método para os
encorajar a "restabelecer as mãos descaídas e os joelhos trôpegos.
(12:12). O que fazer para que os crentes retornem ao seu compromisso original
com a sua "ekklesia" ?
1. MERGULHE NA
ESCRITURA SAGRADA E DEIXE QUE ELA LHE FALE.
É notável como o
autor aos Hebreus usa a "palavra de exortação", fundamentando-se nas
Escrituras para exortar e
estimular os
cansados. As exortações do autor, não foram exigências, nem gritos, nem avisos.
A exortação vem da própria Escritura.
Cap.1: Uma série
de citações bíblicas destinadas a demonstrar aos cansados que o Filho de Deus é
Superior a tudo e todos. Essa discussão transforma-se na base de alguns
conselhos para que não haja negligência (2:3).
Cap. 2: As
afirmações sobre a humanidade de Jesus fornecem a base para a declaração que o
Senhor "é poderoso para socorrer os que são tentados" (2:18).
Cap. 5-10: O
facto de Cristo ser o Sumo-Sacerdote no santuário ideal (5:1-10:18) fornece a
base do apelo do autor para que os cansados tenham "intrepidez para entrar
no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus" (10:19). Isso deveria estimular
o povo à adoração do Deus vivo.
CONCLUSÃO
Conta-se que um
grupo de esquilos invadiram três igrejas numa cidade. Depois de muito orarem,
os anciãos da primeira igreja determinaram que os animais estavam destinados a
estar ali. Quem eram eles para interferir na vontade de Deus?, pensaram. E os
esquilos depressa se multiplicaram. Os anciãos da segunda igreja, decidindo que
não podiam fazer mal a nenhuma criatura de Deus, colocaram armadilhas
inofensivas para os esquilos e soltaram-nos para fora da cidade. Três dias
depois, os esquilos estavam de volta. Só na terceira igreja é que conseguiram
livrar-se deles. Os anciãos baptizaram os esquilos e registaram-nos como membros
da igreja. Agora só os vêem no Natal e na Páscoa."
Para uma fé
vital, não creio que os cansados de igreja precisem de apelos constantes. É que
acabam por ficar imunizados a esses apelos. Quem quiser realmente sair do
cansaço e da apatia espiritual precisa de se lançar profundamente nas raízes da
fé para compreender a sua identidade e a identidade do próprio Deus.
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*Paulo Pascoal
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