SE O TIVESSEM CONHECIDO
Conhecer ou não uma verdade espiritual
pesa muito numa decisão. Não só pelo fato de que o conhecimento nos favorece
para escolher bem, mas também pelo fato de que cada um de nós será julgado na
direta proporção do conhecimento que tem.
Em época posterior ao julgamento, na
verdade dezenas de anos depois, a Bíblia volta a fazer menção de Pôncio Pilatos
e sua decisão quanto a Jesus; e faz isto exatamente dentro do contexto do
assunto que agora estamos abordando:
"Entretanto,
expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste
século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; mas falamos a
sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a
eternidade para a nossa glória; sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste
século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o
Senhor da glória"
I Coríntios 2:6-8.
O apóstolo Paulo escreveu aos
coríntios e lhes expôs a diferença entre o conhecimento natural das coisas e o
entendimento espiritual das verdades de Deus. E quando falava acerca disto,
tomou como exemplo esta porção que transcrevemos, onde fala dos poderosos da
época de Jesus não terem a sabedoria de Deus (espiritual) e que justamente pela
falta dela não conheceram quem era Jesus Cristo, pois se tivessem conhecido não
o teriam crucificado.
Isto envolve Pilatos, Herodes, e todos
os sacerdotes, anciãos e autoridades de Israel. Fala das autoridades, dos
poderosos, dos que podiam decidir a respeito da crucificação de Jesus; e é
claro, Pilatos está dentro.
Embora a referência seja a todos eles,
devido à nossa aplicação sobre Pilatos e o paralelo espiritual entre a decisão
dele e a nossa, quero deixar de lado a figura das demais autoridades que se
envolveram direta e indiretamente na crucificação de Cristo, e olhar somente
para o governador romano. E isto só por questão de enfoque, embora o princípio
se aplique a cada um deles.
A afirmação bíblica é, portanto, que
se Pilatos tivesse uma revelação espiritual de quem era Jesus jamais o teria
mandado para a cruz. E a partir desta afirmação queremos tecer algumas
considerações e demonstrar alguns princípios.
JUÍZO NA PROPORÇÃO DO
CONHECIMENTO
No pretório, houve um pequeno diálogo
entre Jesus e Pilatos. E neste pequeno diálogo há uma afirmação de Cristo que
nos revela um detalhe interessante sobre questões como "conhecimento"
e "juízo".
"Então,
Pilatos o advertiu: Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te
soltar e autoridade para te crucificar?
Respondeu
Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por
isso, quem me entregou a ti maior pecado tem."
João 19:10,11.
A resposta de Jesus a Pilatos quer
dizer o seguinte: "Você só tem este poder de decidir o que fazer comigo
porque Deus te deixou ter, e porque sabe que o que você vai escolher não vai
afetar o plano divino". Mas o detalhe que vem a seguir é que me chama a
atenção: "quem me entregou a ti maior pecado tem".
Só nesta frase vemos que Jesus está
falando sobre duas coisas distintas:
1)
O terem rejeitado Jesus foi considerado pecado. Isto mostra que quem errou na
escolha pecou, mesmo que a crucificação de Cristo tenha sido benéfica ao mundo
por ser o meio de redenção dos nossos pecados.
2)
Há uma diferença entre o pecado cometido por Pilatos e o que cometeram os que
entregaram Jesus a ele. Este grupo envolve desde Judas, o traidor, até as
autoridades dos judeus. E a diferença entre a gravidade de pecado (Jesus lhe
chamou "maior") deve-se ao quanto conhecimento cada um possuía. Das
autoridades religiosas que acompanharam o ministério de Jesus esperava-se mais,
pois eram conhecedores das Escrituras e presenciaram os milagres de Jesus. De
Judas, então, nem se fale! Mas Pilatos, um gentio, era o mais ignorante acerca
do conteúdo das promessas acerca da vinda do Messias.
Vemos, portanto, que quanto maior for
o conhecimento da pessoa sobre Jesus, maior juízo haverá sobre sua escolha.
Como Pilatos conhecia menos, seu juízo será menor. Como os sacerdotes e anciãos
conheciam mais, maior será o seu juízo.
Na epístola de Tiago encontramos uma
afirmação que relaciona o julgamento que receberemos com a proporção do
conhecimento que temos: "Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós,
mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo." (Tg.3:1). O que
conhece mais a ponto de ser um ensinador, tem maior responsabilidade; isto vale
no âmbito pessoal e também ministerial, pois se ao ensinar, o fizer de forma
errada, tal pessoa dará conta a Deus. Esta diferença é vista em outras afirmações
bíblicas, como a que o apóstolo Pedro faz sobre quem conheceu Jesus e o
abandonou depois de já ter o conhecimento:
"Portanto,
se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento
do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos,
tornou-se o seu último estado pior que o primeiro.
Pois
melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após
conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora
dado."
II Pedro 2:20,21.
Está estabelecida clara diferença
entre o que conheceu e o que não conheceu. É lógico que o não conhecer não
inocenta a pessoa, mas faz com que se exija menos dela para a tomada de sua
decisão. Jesus mencionou em seus ensinos a diferença entre dois homens que
erraram e seriam ambos julgados, mas segundo a proporção de seu conhecimento:
"Aquele
servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez
segundo a sua vontade será punido com muitos açoites.
Aquele,
porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação
levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será
exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão."
Lucas 12:47,48.
Tanto um como outro seriam punidos,
pois ambos erraram; o que conhecia a vontade do senhor, por não agir à altura,
e o que não conhecia por não procurar conhecê-la. As falhas são distintas: o
que conhecia pecou por rebelião, enquanto que o pecado do outro foi omissão ou
mesmo desinteresse em procurar saber a vontade do senhor. Mas o fato é que o
primeiro errou ativamente enquanto que o segundo errou passivamente; só que a
ignorância não justifica, tem um juízo menor, mas tem juízo da mesma forma. O
que devemos fazer é procurar conhecer e, então obedecer a vontade de Deus. O
próprio fato de você estar lendo estas verdades traz sobre sua vida uma
responsabilidade maior, que antes você não tinha.
Se Pilatos tivesse conhecido quem era
Jesus, não o teria crucificado. Quando Cristo estava na terra, havia diferentes
opiniões acerca dele; ouviam-se testemunhos diferentes sobre sua identidade.
Então, como saber quem era realmente ele? Como conhecê-lo?
Os
que realmente o conheceram - seus apóstolos - precisaram de mais do que uma
opnião, eles receberam uma revelação de Deus acerca de Jesus. Observe o que diz
a Bíblia:
"Indo
Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem
diz o povo ser o Filho do Homem? E eles responderam: Uns dizem: João Batista;
outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas.
Mas
vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?
Respondendo
Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Então,
Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e
sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus."
Mateus 16:13-17.
Percebemos por este episódio narrado
pelo evangelista Mateus que as opiniões eram diversas, mas Pedro soube quem
realmente Jesus era não porque ficou ouvindo os comentários dos homens, mas ele
recebeu uma revelação de Deus! Seu coração se abriu de tal forma que o Espírito
Santo pode dar testemunho de quem era Jesus. Não basta tentar conhecê-lo com o
intelecto, com a razão; é preciso mais que isto. Você deve orar e pedir ao Pai
que está nos céus que abra o seu coração para que haja uma compreensão
profunda, espiritual, acerca de Jesus. Isto acontecia com pessoas nos dias da
Bíblia, continua acontecendo hoje e pode ocorrer com você. Veja mais um exemplo
bíblico, que se deu numa ocasião em que o apóstolo Paulo pregava o evangelho:
"Certa
mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a
Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que
Paulo dizia."
Atos 16:14.
Assim como Deus abriu o coração desta
mulher, quer também abrir o seu. Pilatos pecou por não conhecer; contudo,
ninguém pode usar a falta de conhecimento como desculpa. Se nos falta mais
conhecimento para decidirmos o que fazer de Jesus chamado Cristo, devemos
buscá-lo. Se você tem dificuldades quanto a entender a redenção que Cristo veio
trazer à humanidade por meio de sua morte e ressurreição, ou quanto à sua
divindade, ou mesmo seus ensinos e como compreender a Bíblia, busque ajuda, mas
não estacione na dúvida e nem tampouco na ignorância espiritual.
Se você ainda não conseguiu ver o
senhorio de Jesus e a importância de submeter-se a ele, decidindo bem em seu
tribunal, se ainda tem dificuldades para liberar sua fé e assumir um
compromisso de alto nível, não faça sua escolha ainda. Investigue mais. Procure
saber mais. Se o governador da Judéia tivesse feito isto e conhecido mais, não
teria rejeitado Jesus Cristo. E sei que se você o fizer, também não rejeitará.
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