quarta-feira, 20 de abril de 2022

O MAIOR JULGAMENTO DA HISTÓRIA – PARTE 01

   O MAIOR JULGAMENTO DA HISTÓRIA – PARTE 01

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Recordo-me claramente de uma das aulas de direito que tive em meu colegial. O professor declarou que o julgamento de Jesus diante de Pilatos foi muito debatido em seus dias de faculdade, por ter sido considerado"o maior julgamento da História". Até hoje não sei porquê, mas aquela afirmação marcou-me. Não sei qual o motivo dela ter me tocado tanto, mas tocou e nunca me esqueci do que ouvi.

Contudo, descobri anos depois, repassando os detalhes bíblicos, que o julgamento não existiu; foi uma farsa. Pilatos estava lá como Governador da Judéia e tinha toda autoridade que o Império romano lhe delegara como tal, mas não julgou nada. Apenas transferiu a responsabilidade que lhe cabia como juiz sobre os judeus, e os deixou decidir o que seria feito de Jesus. Ele não foi justo, não foi ético, não foi nada!

Sua omissão denigre de tal maneira o episódio, que não lhe deixa nenhuma razão para ser intitulado o maior julgamento da História, exceto pelo fato de que o réu foi a pessoa mais importante da História. O que faz especial este julgamento não é o fato dele ter ou não ocorrido como deveria e nem tampouco a justiça ou não do veredicto final, mas a grandeza do acusado. E mais: o paralelo que há entre a decisão de Pilatos do que fazer de Jesus chamado Cristo, e a decisão que cada um de nós tem que tomar hoje em relação ao mesmo Jesus.

Permita-me convidá-lo a ler com atenção a transcrição da narrativa bíblica do evangelista Mateus, de como foi o tribunal nesta ocasião:

"Jesus estava em pé ante o governador; e este o interrogou, dizendo: És tu o rei dos judeus? Respondeu-lhe Jesus: Tu o dizes. E, sendo acusado pelos principais sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. Então, lhe perguntou Pilatos: Não ouves quantas acusações te fazem? Jesus não respondeu nem uma palavra, vindo com isto a admirar-se grandemente o governador.

Ora, por ocasião da festa, costumava o governador soltar ao povo um dos presos, conforme eles quisessem.

Naquela ocasião, tinham eles um preso muito conhecido, chamado Barrabás. Estando, pois, o povo reunido, perguntou-lhes Pilatos: A quem quereis que eu vos solte, a Barrabás ou a Jesus, chamado Cristo? Porque sabia que, por inveja, o tinham entregado.

E, estando ele no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito.

Mas os principais sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo a que pedisse Barrabás e fizesse morrer Jesus.

De novo, perguntou-lhes o governador: Qual dos dois quereis que eu vos solte? Responderam eles: Barrabás! Replicou-lhes Pilatos: Que farei, então, de Jesus, chamado Cristo? Seja crucificado! Responderam todos. Que mal fez ele? Perguntou Pilatos. Porém cada vez clamavam mais: Seja crucificado!

Vendo Pilatos que nada conseguia, antes, pelo contrário, aumentava o tumulto, mandando vir água, lavou as mãos perante o povo, dizendo: Estou inocente do sangue deste [justo]; fique o caso convosco!

E o povo todo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!

Então, Pilatos lhes soltou Barrabás; e, após haver açoitado a Jesus, entregou-o para ser crucificado.

Logo a seguir, os soldados do governador, levando Jesus para o pretório, reuniram em torno dele toda a coorte. Despojando-o das vestes, cobriram-no com um manto escarlate; tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e, na mão direita, um caniço; e, ajoelhando-se diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos judeus! E, cuspindo nele, tomaram o caniço e davam-lhe com ele na cabeça.

Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o manto e o vestiram com as suas próprias vestes. Em seguida, o levaram para ser crucificado."

Mateus 27:11-32.

 

A responsabilidade que estava sobre os ombros de Pilatos não era pequena; imagine você no lugar dele, tendo que decidir o que seria feito de Jesus!

 

TROCANDO DE LUGAR COM PILATOS

 

Coloque-se no lugar dele nesta hora e tente imaginar você tendo que decidir o que fazer de Cristo. Por um lado você sabe que está lidando com alguém sem igual, cujos milagres e ensino arrebanhava as multidões, e dele se dizia ser o Filho de Deus. De outro, você tem uma multidão alvoroçada por seus líderes que exige a morte dele. A acusação contra Jesus, de que ele era o Rei dos judeus, não apenas confrontava a autoridade de Herodes, rei dos judeus, e a de Pilatos, Governador da Judéia, como também poderia trazer problemas quanto à autoridade do próprio César e gerar problemas dentro da estrutura de governo de Roma.

Só que Pilatos sabia que o homem era inocente, e que o entregaram por inveja. Mas por outro lado, para que comprar briga com a multidão que ele, como político, deveria agradar em vez de contrariar, se isto somente colocaria sua cabeça a prêmio? Mas o juiz não quer ser injusto, principalmente porque tem que lidar não somente com sua consciência, como também com o aviso que sua mulher lhe mandara de não se envolver na questão de tal justo...

Desde a primeira vez em que, mentalmente, troquei de lugar com Pilatos, assombrei-me com o peso da sua responsabilidade. Não se tratava apenas de decidir o futuro de um homem, mas o mundo todo seria afetado diretamente pelo resultado daquele tribunal; não só na dimensão natural, mas principalmente na espiritual. A grandeza do que ocorria ali era tamanha que as preocupações políticas e religiosas dos judeus e romanos tornavam-se insignificantes.

Você gostaria de estar ali, no lugar deste governador?

Quando nos transportamos para o que realmente era a situação, creio que ninguém gostaria de trocar de lugar com Pilatos, exceto talvez pelo fato de que iríamos querer defender Jesus pela luz e conhecimento que hoje possuímos.

Mas o que tenho aprendido com as Sagradas Escrituras é que cada um de nós terá de enfrentar o papel exercido por Pilatos. Não num tribunal romano, mas onde vivemos. Não diante dos judeus, mas dos nossos familiares e amigos. Não fisicamente, mas espiritualmente. Pois o tribunal se repete nos dias de hoje e na vida de cada um de nós.

 

O JULGAMENTO SE REPETE

 

Permita-me provar-lhe pela Bíblia que eventos da história podem voltar a ocorrer hoje. Logicamente, não se trata de um círculo natural de repetição, mas espiritual. Por exemplo, a crucificação de Jesus é um evento histórico que data quase dois milênios; é algo inegavelmente passado, mas que pode se repetir espiritualmente na vida daqueles que agem à semelhança dos que um dia o crucificaram. Veja o que diz a Palavra de Deus:

"É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia."

Hebreus 6:4-6.

Observe a frase: "visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia". Não quero fazer nenhuma análise teológica do texto, apenas mostrar que é possível repetir, hoje, a crucificação de Cristo. E se é possível crucificá-lo novamente, então também é possível repetir o mesmo tribunal que o condenou à cruz!

Quando a Bíblia fala sobre crucificar Jesus de novo, ela está falando em figura da repetição da rejeição que os judeus tiveram para com ele. E está também nos mostrando que esta rejeição começou diante de Pilatos com uma decisão e um julgamento. E este julgamento, por sua vez, também se repete em nossos dias e nas nossas vidas a partir do momento que exercemos o direito de escolha que Deus nos concedeu, também chamado de livre arbítrio ou autodeterminação, para tomarmos nossa decisão pessoal sobre Cristo.

Pode ser que como eu, você nunca quis estar no lugar de Pôncio Pilatos, mas preciso comunicar-lhe que você tem que tomar a mesma decisão. O julgamento está se repetindo em sua vida, e agora é a sua vez de decidir o que fazer de Jesus, chamado Cristo.

Há um perfeito paralelo entre o que aconteceu naquele dia em Jerusalém e o que acontece atualmente, não importa onde estejamos. Este paralelo não é só o da decisão propriamente dita, mas de todo o "pacote", por assim dizer. Pois o que experimentamos hoje são os mesmos medos, temores e receios que Pilatos também experimentou. Nesta hora de decisão provamos da mesma pressão que o governador da Judéia provou, seja por parte do conceito do povo, dos religiosos, ou mesmo dos demais governantes.

Portanto, convido você a examinar comigo os detalhes deste julgamento; sejam aqueles que estão mais ligados ao juiz, ou aqueles que o pressionam no momento de decidir. Não há como separá-los. Cada um é parte de um cenário que se repete, não importa se tem a ver com a pessoa que julga ou com o que ocorre à sua volta. Estes detalhes são contemporâneos; não são apenas parte de uma história envelhecida por cerca de vinte séculos. Ao examiná-los você conferirá o quanto são atuais!

 

 

 

 

 POR QUE Jesus FOI JULGADO? -

 

De nada adianta enfatizarmos que o tribunal onde Cristo foi julgado volta a repetir-se hoje, se não compreendermos cada detalhe do que ocorreu ali. Sem estas informações, podemos partir de conceitos errados e julgar mal; mas com elas, nossa visão se ampliará e a possibilidade de repetirmos o erro do governador diminuirá.

A pergunta mais importante que deveríamos nos fazer como ponto de partida, é: "Por que Jesus foi julgado?" Qual a verdadeira razão dele ter sido levado a juízo?

Da boca do próprio Pilatos encontramos a resposta. Basta observar a tentativa de interrogar Jesus: "Jesus estava em pé ante o governador; e este o interrogou, dizendo: És tu o rei dos judeus? Respondeu-lhe Jesus: Tu o dizes." (Mt.27:11).

A acusação contra o Mestre era a de que Ele era o Rei dos judeus, o que também se percebe claramente quando vemos o relato da crucificação:

"Por cima da sua cabeça puseram escrita a sua acusação: ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS."

Mateus 27:37.

E quero ainda chamar sua atenção para um outro texto, mais rico em detalhes, e registrado pelo apóstolo João, que demonstra o quanto Pilatos fez questão de deixar claro qual era o motivo da acusação terminada em morte (ou execução) contra Jesus Cristo:

"Pilatos escreveu também um título e o colocou no cimo da cruz; o que estava escrito era: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS. Muitos judeus leram este título, porque o lugar em que Jesus fora crucificado era perto da cidade; e estava escrito em hebraico, latim e grego. Os principais sacerdotes diziam a Pilatos: Não escrevas: Rei dos judeus, e sim que ele disse: Sou o rei dos judeus. Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi."

João 19:19-22.

Todo o julgamento de Jesus tinha a ver com o fato de ele ser ou não Rei. Há detalhes na narrativa do evangelho segundo João, que Mateus não forneceu, mas eles se complementam. Creio que é importantíssimo analisá-los:

"Depois, levaram Jesus da casa de Caifás para o pretório. Era cedo de manhã. Eles não entraram no pretório para não se contaminarem, mas poderem comer a Páscoa.

Então, Pilatos saiu para lhes falar e lhes disse: Que acusação trazeis contra este homem? Responderam-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos.

Replicou-lhes, pois, Pilatos: Tomai-o vós outros e julgai-o segundo a vossa lei. Responderam-lhe os judeus: A nós não nos é lícito matar ninguém; para que se cumprisse a palavra de Jesus, significando o modo por que havia de morrer.

Tornou Pilatos a entrar no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus?"

João 18:28-33.

Até aqui percebemos que o caso só foi levado para ser julgado por Pilatos no Pretório porque a intenção dos judeus era a morte de Jesus, e caso o julgassem segundo suas próprias leis isto de maneira alguma aconteceria. E o próprio governador compreendeu que a grande polêmica estava na questão de Jesus ser visto como rei. Mesmo quando o termo "rei" não era usado claramente, ele era inferido, pois o termo grego "Cristo" é equivalente ao termo hebraico "Messias", e ambos significam "Ungido", que por sua vez era uma alusão profética das Escrituras ao descendente de Davi que viria para reinar com poder e justiça e estabelecer a paz. Esta era a acusação contra Jesus, e Pilatos tentou conversar sobre isto:

"Tornou Pilatos a entrar no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus? Respondeu Jesus: Vem de ti mesmo esta pergunta ou to disseram outros a meu respeito? Replicou Pilatos: Porventura, sou judeu? A tua própria gente e os principais sacerdotes é que te entregaram a mim. Que fizeste?

Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.

Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.

Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? Tendo dito isto, voltou aos judeus e lhes disse: Eu não acho nele crime algum."

João 18:33-38.

Ao ser indagado por Pilatos se era ou não rei, Jesus lhe faz uma pergunta direta: "Você me pergunta isto por ser sua opinião, ou somente por causa do que lhe disseram?" E isto deve nos fazer lembrar que nossa decisão pessoal sobre o que fazer de Jesus, chamado Cristo deve ser com base na nossa própria opinião e não na dos outros!

O Senhor Jesus também deixou claro em seu diálogo com Pilatos, que não apenas era chamado rei, mas que nascera e viera ao mundo para isto! Esta era sua missão celestial, estabelecer o Reino de Deus, e ele revela a amplitude do seu reinado quando diz: "meu reino não é deste mundo". Ou em outras palavras, ele dizia: "Enquanto vocês se preocupam comigo se vou assumir ou não um reinado físico, quero que saibam que meu reino é espiritual".

Ao dizer que seu reino era de outro mundo, Jesus enfatizou a dimensão espiritual do Reino de Deus. Mais do que governar uma nação ou reino físico, Deus está interessado nos nossos corações! Por isso, Cristo já vinha ensinando os seus discípulos e até opositores que não criassem uma expectativa da expressão meramente física do Reino de Deus, pois antes de mais nada o que o Pai Celestial queria atingir era o íntimo dos homens:

"Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós."

Lucas 17:20,21.

Então, na conversa com Pilatos, fica esclarecido que Jesus realmente havia vindo ao mundo para reinar, mas que como o reino que ele estava estabelecendo era numa outra dimensão - a espiritual - nada daquilo, nem mesmo a morte poderia atrapalhar o plano divino. E Jesus ainda afirma que se quisesse, colocava os anjos todos para fazerem guerra e defendê-lo, mas que isto não era preciso. Vamos continuar analisando o texto. Pilatos oferece um preso para ser solto:

"É costume entre vós que eu vos solte alguém por ocasião da Páscoa; quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus?

Então, gritaram todos, novamente: Não este, mas Barrabás! Ora, Barrabás era salteador."

João 18:39,40.

O julgamento de Jesus não existiu, o que ocorreu lá foi politicagem, injustiça e abuso de poder. E violência, muita violência:

"Então, por isso, Pilatos tomou a Jesus e mandou açoitá-lo.

Os soldados, tendo tecido uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e vestiram-no com um manto de púrpura.

Chegavam-se a ele e diziam: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas.

Outra vez saiu Pilatos e lhes disse: Eis que eu vo-lo apresento, para que saibais que eu não acho nele crime algum.

Saiu, pois, Jesus trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Disse-lhes Pilatos: Eis o homem!"

João 19:1-5.

Não apenas espancaram e machucaram Jesus, mas o humilharam publicamente com cuspidas e escárnios; e debocharam dele vestindo-o como rei, com um manto escarlate e uma coroa, mas não a coroa da qual ele era digno; foi uma zombaria de coroa, feita com espinhos que lhe perfuravam a testa e a cabeça. Açoitaram-no também. Mas nenhuma tortura ou mal que lhe fizeram roubaram seu amor, doçura, mansidão e dignidade! E sua inocência continou transparecendo, bem como o fato de ele ali estar se devia às "acusações" de ser ele rei.

E um novo diálogo aconteceu. Nele o governador tentou intimidar Jesus reconhecendo que em suas mãos (que ele lavou depois) estava o poder de soltá-lo ou matá-lo; mas Cristo demonstrou que estava seguro e confiante nos desígnios divinos, e que a autoridade e reinado de Deus estava muito acima do reinado humano, que por sua vez está em submissão ao primeiro, mesmo que nem saiba! Acompanhe a narrativa:

"Ao verem-no, os principais sacerdotes e os seus guardas gritaram: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós outros e crucificai-o; porque eu não acho nele crime algum.

Responderam-lhe os judeus: Temos uma lei, e, de conformidade com a lei, ele deve morrer, porque a si mesmo se fez Filho de Deus.

Pilatos, ouvindo tal declaração, ainda mais atemorizado ficou, e, tornando a entrar no pretório, perguntou a Jesus: Donde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta. Então, Pilatos o advertiu: Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar?

Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem."

João 19:6-11.

E então João encerra sua descrição do evento comprovando não somente a preocupação de Pôncio Pilatos com a repercussão política do assunto, como também que toda acusação e argumentação ocorrida no pretório girava em torno de uma só questão: se Jesus era ou não rei:

"A partir deste momento, Pilatos procurava soltá-lo, mas os judeus clamavam: Se soltas a este, não és amigo de César! Todo aquele que se faz rei é contra César!

Ouvindo Pilatos estas palavras, trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento, no hebraico Gabatá.

E era a parasceve pascal, cerca da hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso rei. Eles, porém, clamavam: Fora! Fora! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César!

Então, Pilatos o entregou para ser crucificado."

João 19:12-16.

E O NOSSO JULGAMENTO?

 

Diante de todos, naquele pretório, Pilatos teve que decidir o que fazer de Jesus chamado Cristo. Se o reconheceria como rei ou se o rejeitaria, mandando-o assim para a cruz. E infelizmente ele decidiu mal.

Mas a história se repete num verdadeiro paralelo espiritual. E agora é sua vez de decidir o que fazer de Jesus chamado Cristo. Mas lembre-se, o que está em questão é se Jesus é ou não rei. Não perca isto de vista e não julgue por outras razões.

Há muita gente que se simpatiza com Jesus. O próprio Pilatos ficou impressionado com Jesus; ele não se defendeu de seus acusadores, não abriu sua boca, antes permaneceu como ovelha muda em toda tortura que recebeu. Todo o seu histórico atestado pelo povo, era somente de amor e caridade, e some-se a isto os milagres e prodígios que Ele realizou. Pilatos viu sua inocência e justiça e balançou diante do Senhor Jesus. Mas admiração não basta!

Muita gente hoje acha Jesus uma pessoa maravilhosa, acham seus ensinos lindos, seus milagres mais ainda; dizem crer nele e tudo o mais, mas quando olhamos para as suas vidas, percebemos que Cristo pode ser tudo para elas, menos rei! E ao não aceitá-lo como rei, estão rejeitando a razão de sua vinda à terra, pois ele mesmo disse que nasceu e veio a este mundo para ser rei. Se você não aceita que Jesus é rei, pode até admirá-lo, mas será uma admiração assassina, como a do governador da Judéia, que mesmo admirando-o, mandou-o para a cruz. Será uma fé incompleta que o crucificará de novo.

Quando a Bíblia fala de reino, está falando de governo, de senhorio. Está dizendo que Jesus deve controlar nossas vidas, que Ele terá autoridade completa e soberana sobre nossa vida.

 

COMPREENDENDO O SENHORIO

 

Um termo muito usado nas Escrituras é "senhor". Fala do amo que governava seu escravo. Senhor era aquela pessoa que tinha um servo obediente, e podia também ser vista como "dono". Portanto, cada vez que a Palavra de Deus usa estes termos, mostra uma relação de completa submissão ao Senhor Jesus Cristo.

Quando olhamos para o ensino da salvação, vemos uma coisa vinculada à outra; é necessário compreender e submeter-se ao senhorio de Jesus:

"Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.

Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação.

Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido.

Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam.

Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo." Romanos 10:9-13.

O que lemos neste texto? Que o coração tem que crer em Jesus; mas note que não é um tipo de fé genérica, que crê que Ele existe e só; é um tipo de fé bem específica que crê em Jesus como SENHOR. Depois a Bíblia enfatiza que Deus é SENHOR de todos os que o invocam, e termina dizendo que quem invocar o nome do SENHOR será salvo. Não há salvação para alma alguma que não reconheça a Jesus como Senhor. Não interessa se ela simpatiza com Jesus, se vai à igreja, se é religiosa, se faz boas obras; nada disto tem valor quando Jesus não é reconhecido como Senhor!

Se em seu julgamento você decidir que ele é de fato rei e abrir seu coração para servi-lo e seguí-lo fielmente, você será salvo, Mas se o rejeitar e mandá-lo de novo para a cruz... não há salvação. Portanto cuidado. Sua decisão é séria demais.

Existe uma diferença muito grande entre começar a seguir Jesus e segui-lo até o fim. Há os que começam a edificar sua vida cristã e tentam viver de uma forma correta mas depois não agüentam as pressões e acabam sucumbindo e desmoronando na fé. O que os diferencia daqueles outros que permanecem inabaláveis, aconteça o que acontecer? É exatamente a forma como edificaram suas vidas, se estavam ou não baseados no SENHORIO de Cristo. Jesus ensinou sobre isto:

"Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?

Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante.

É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem construída.

Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e, arrojando-se o rio contra ela, logo desabou; e aconteceu que foi grande a ruína daquela casa."

Lucas 6:46-49.

As palavras de Jesus foram diretas. Não adianta chamá-lo de Senhor e não fazer o que Ele manda. Tê-lo como Senhor é obedecê-lo. Tem muita gente por aí dizendo que crê em Cristo, e não obedece sua Palavra, não faz nada do que Ele manda através da Bíblia. A ordem que Jesus deu aos apóstolos na ocasião em que foi assunto aos céus foi de fazer discípulos de todas as nações e ensinar-lhes a guardar todas as coisas que Ele havia ensinado (Mt.28:19).

Discípulo é aquele aprendiz que obedece seu senhor, que guarda e pratica seus ensinos. Seguir a Cristo é estar totalmente comprometido com Ele e sua Palavra. Não é ter uma fé nominal apenas. Não é dizer que é um cristão não-praticante como tanta gente diz nestes dias; ou você é praticante ou não é cristão! Quem constrói sua casa espiritual sem ser praticante, vai vê-la desabar quando vierem as tempestades da vida. Mas aquele que é obediente e comprometido em praticar a Palavra de Deus e vive verdadeiramente sob o senhorio de Jesus Cristo, este ficará firme e inabalável na hora da adversidade.

Isto é um fato: Jesus não só não reconhece como discípulo aquele que não pratica seus ensinos, como ainda declarou que se a pessoa insistir em parecer ser discípulo, sem contudo ter o vínculo da obediência, ela não agüentará ir além das tempestades e oposições que virão contra sua fé. O que nos faz verdadeiramente discípulos é a submissão ao SENHORIO de Cristo. É reconhecê-lo como Senhor, Amo, Dono, Governante de nossas vidas. E isto é um compromisso de alto nível!

ALTO NÍVEL DE COMPROMISSO

 

Pilatos não aceitou Jesus como Rei; se o tivesse feito, teria que submeter-se a um compromisso de alto nível, e ele, como governante que era, sabia muito bem disto. Mas se você que quer a vida eterna e a salvação que vem por meio de Jesus, optar pelo único meio que o levará a isto, que é reconhecê-lo como Senhor, então terá que submeter-se a um compromisso de alto nível. Ele ensinou sobre isto:

"Grandes multidões o acompanhavam, e ele, voltando-se, lhes disse: Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.

E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo."

Lucas 14:25-27.

Deus exige que o coloquemos em primeiro lugar, antes mesmo dos relacionamentos de maior vínculo como é o caso de nossos familiares. Jesus não disse haver a possibilidade de dois tipos de discípulo: um comprometido e outro não. De jeito nenhum! Ele afirmou taxativamente que ou a pessoa assume o alto nível de compromisso renunciando até a si mesma, ou NÃO PODE ser discípulo! Esta é uma declaração forte: não poder ser discípulo. Ou a pessoa veste a camisa e submete-se mesmo ao senhorio de Jesus, ou não será aceita. E não é uma questão de ser ou não aceita por um grupo ou igreja; não se trata de aceitação humana, mas divina. É Jesus quem não aceita!

E sabe porque o Mestre disse isto? O texto bíblico começa dizendo que as multidões o seguiam. E Jesus sabia que eles não estavam entendendo o que era segui-lo. Enquanto Ele estava operando milagres, curando os enfermos, libertando os oprimidos, o povo estava lá; mas o evangelho não é apenas isto. Não é só bênçãos e milagres; não é apenas a provisão de necessidades, mas há o lado da submissão ao senhorio de Jesus!

Não importa quais sejam as circunstâncias, boas ou ruins; não importa qual seja o clima, se faz sol ou chuva, frio ou calor, dia normal ou de eclipse, temos que seguir sempre a Jesus. Muita gente o abandona na primeira dificuldade. Outros seguem-no desde que isto não lhes crie problemas. Mas o que o Senhor espera de nós é entrega total; é alto nível de compromisso. É colocá-lo acima de nós mesmos e de nossos familiares.

A cruz era um símbolo de morte naqueles dias, pois era onde o império romano executava muitos condenados. Tomar a cruz, nas palavras de Jesus, significava decidir morrer; significava voluntariamente entregar-se à morte. É claro que não se trata de morte física, mas de morrer para si mesmo, para os sonhos, desejos e vontades pessoais, se necessário.

Antes de seguirmos a Cristo precisamos entender claramente o que é isto. Temos que calcular o custo do compromisso e saber se iremos até o fim, caso contrário é melhor nem entrar nele. As duas alegorias que Jesus conta nos versículos que vem imediatamente após estas palavras de renúncia que transcrevemos, ilustra com perfeição isto:

"Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir?

Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar.

Ou qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil?

Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de paz.

Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo."

Lucas 14:28-33.

Temos aqui dois tipos de empreendimentos: um é construir uma torre e o outro é guerrear contra um outro reino. Jesus diz que tanto em um como outro, é melhor calcular o quanto isto custará e ver se dará para ir até o fim; caso contrário, é melhor nem começar. Seguir Jesus é como edificar esta torre, pois há toda uma vida de crescimento espiritual que será vivida e não podemos parar no meio da construção. Seguir Jesus também é semelhante a entrar numa guerra, e saiba que é isto o que acontecerá mesmo; as pessoas se colocarão contra você, às vezes até mesmo os familiares e amigos. É guerra contra o pecado, contra alguns desejos da carne, contra o sistema maligno que domina este mundo e é guerra contra os poderes das trevas e do inferno.

Precisamos pegar papel e caneta e alistar o quanto nos custa para ver se podemos ir até o fim, e o que Jesus está fazendo é nos mostrar o quanto custa. Custa tudo o que você tem. Custa tudo o que você é. Ele passa a ser prioridade total. Custa tomar a cruz e negar-se a si mesmo. Custa RENUNCIAR a familiares e a amigos se isto comprometer sua obediência a Cristo. Não falo de deixar de relacionar-se com eles, mas de ter confrontos. Custa caro! E você deve calcular para decidir com consciência. E tendo decidido deve ficar firme até o fim!

À semelhança de Pôncio Pilatos você tem que decidir. Não se Jesus é ou não inocente, pois o governador sabia que Jesus tinha sido entregue por inveja, e o sonho de sua mulher havia sido bem claro em alertar: Ele era justo. Nestas questões Pilatos foi bem em reconhecer as coisas como eram. Lavou as mãos dizendo estar inocente do sangue de um justo, e até aí ele foi bem. Mas não reconheceu Jesus como o Cristo, o Ungido de Deus. Não o reconheceu como Rei, como Senhor a quem prestar obediência.

A maioria das pessoas decide bem em sua repetição do tribunal de Cristo, só até aí. Reconhecem Jesus como justo e inocente. Falam de seu ensino como algo lindo. Crêem nele e até o adoram e reverenciam. Mas na hora de obedecer e viver sua Palavra e seus ensinos não o fazem. Na hora de reconhecerem-no como Rei e Senhor não o fazem. Então, não interessa se o acharam inocente e justo, se não o reconhecem como Senhor a ponto de prestar obediência e submissão, então, estão condenando-o à cruz como Pilatos fez. Estão crucificando-o de novo e expondo-o à vergonha novamente. Estão rejeitando-o, embora não admitam isto.

E você, amigo? O que fará de Jesus, chamado Cristo?

Vai reconhecê-lo como Senhor e Rei e viver uma nova vida de fé e submissão a Ele, experimentando o gozo do reino de Deus, ou só vai reconhecê-lo como justo e inocente e ainda assim crucificá-lo de novo? Pois ajuntar-se com os que crucificaram a Jesus, por rejeição, corresponde a crucificá-lo de novo, aos olhos de Deus.

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