Por Que os Judeus Não se Davam Com os Samaritanos?
Os judeus não se
davam com os samaritanos porque eles consideravam os samaritanos um povo
mestiço e sincrético. O conflito entre judeus e samaritanos remonta aos tempos
do Antigo Testamento. Também no tempo de Jesus, o ódio mútuo de judeus e
samaritanos é registrado em algumas passagens do Novo Testamento que claramente
apontam a rivalidade e divisão entre os dois grupos.
Para entender melhor por que os judeus não se davam com os samaritanos é
preciso considerar, primeiramente, o contexto histórico da monarquia em Israel. Após a morte do rei Salomão, o reino de Israel formado por suas
doze tribos foi dividido em duas partes; cada qual com seu próprio rei. A parte
norte fixou sua capital em Samaria; enquanto que a parte sul continuou tendo
Jerusalém como sua capital política e religiosa conforme estabelecido
pelo rei Davi.
Os dois reinos, em diversas ocasiões, pecaram contra Deus; mas a
situação do Reino do Norte acabou sendo pior. O Reino do Norte teve uma série
de reis ímpios que fizeram aquilo que era mau perante o Senhor. Esses reis
conduziram o povo a uma vida de pecado.
O castigo divino de forma mais extrema chegou primeiro ao Reino do Norte
do que ao Reino do Sul. O Reino do Norte foi sendo progressivamente tomado por
estrangeiros e tão logo Samaria caiu diante do Império Assírio. Todo esse
contexto histórico explica a origem dos samaritanos como um povo
detestado pelos judeus.
Por que os judeus odiavam os samaritanos?
Mesmo antes da
divisão do reino de Israel já havia alguma rivalidade entre as tribos
israelitas. Mas conforme foi dito, a divisão de Israel em dois reinos e a
posterior queda de Samaria, que culminou numa miscigenação de seus habitantes,
foi o ponto de partida do ódio entre judeus e samaritanos que se estendeu pelos
séculos seguintes. Nesse sentido, podemos indicar alguns fatores que ajudam a
explicar por que os judeus não se davam com os samaritanos.
A divisão entre judeus e samaritanos por motivos étnicos
Em primeiro lugar,
podemos dizer que os judeus não se davam com os samaritanos por causa de sua
mistura com outros povos. Os judeus consideravam que os samaritanos não tinham
sangue puro. Eram israelitas que se misturaram com outros povos.
Quando a Assíria
tomou Samaria, o rei assírio deportou muitos israelitas para outras terras de
seu império; e também importou pessoas de outros povos subjugados pela Assíria
para viver em Samaria. Os israelitas que continuaram viveram em Samaria
acabaram se misturando com os estrangeiros e assimilando os costumes desses
povos.
Então,
principalmente através do casamento entre israelitas e estrangeiros, um povo
mestiço foi sendo formado em Samaria. Por isto na sequência da história a
palavra “samaritano” passou a designar especialmente esse povo misto da região
de Samaria.
A divisão entre judeus e samaritanos por motivos religiosos
Em segundo lugar, os judeus não se davam com os samaritanos por causa de
diferenças substanciais no aspecto religioso. De fato após a queda de Samaria
muitos samaritanos misturaram o monoteísmo hebreu com o politeísmo dos povos
pagãos que ocuparam aquela região. Mas depois houve um esforço para que os
samaritanos fossem instruídos na Lei de Deus; embora muitos deles continuassem a
incorporar a adoração ao Senhor em suas práticas idólatras (2 Reis 17:24-41).
Com o tempo os samaritanos edificaram seu próprio templo de adoração no
Monte Gerizim e tiveram seus próprios sacerdotes. Eles também passaram a
considerar a adoração no Templo em Jerusalém inapropriada, alegando, inclusive,
que o Monte Gerizim era o único local correto de adoração designado por Deus a
Moisés; ao invés do Monte Sião. Esses samaritanos monoteístas criam
no único Deus e consideravam apenas a Torá como Escritura. Mas eles
desprezavam os escritos proféticos e outras tradições judaicas.
A divisão entre judeus e samaritanos por problemas históricos
Em terceiro lugar, os judeus não se davam com os samaritanos por causa
de alguns eventos históricos que fizeram por aumentar a hostilidade entre os
dois grupos. Quando os judeus voltaram do cativeiro babilônico, eles receberam
permissão para reconstruir o Templo e os muros da cidade de Jerusalém.
Inicialmente os samaritanos se apresentaram a Zorobabel querendo
ajudar os judeus na reconstrução do Templo. Mas quando tiveram sua ajuda
negada, tão logo eles começaram a fazer grande oposição contra os judeus e
atrasaram a obra (Esdras 4:2-5). Também quando Neemias começou a reconstruir os muros
de Jerusalém, um de seus maiores opositores foi Sambalate, o
governador de Samaria à época (Neemias 2:10,19; 4:1; 6:1).
A rivalidade entre judeus e samaritanos aumentou ainda mais quando Esdras e Neemias procuraram enfatizar
o zelo pela pureza do povo judeu remanescente do cativeiro. Também naquele
tempo o neto do sumo sacerdote se casou com
a filha de Sambalate, e Neemias o expulsou. Neemias queria limpar o povo de
toda influência estrangeira que pudesse perverter a adoração a Deus (Neemias
13:28-30).
Estudiosos dizem
que foi nesse contexto de rivalidade aguda entre judeus e samaritanos que o
Templo no Monte Gerizim foi edificado pelos samaritanos. Flávio Josefo ainda
destaca que os samaritanos recebiam de braços abertos os judeus que quebravam
as leis judaicas. Isto obviamente fazia por aumentar o ódio dos demais judeus.
Josefo também escreve
que os samaritanos eram interesseiros; eles se aproximavam dos judeus em tempos
de prosperidade, mas que se afastavam quando os judeus eram perseguidos; e até
se aliavam aos adversários dos judeus. Tempos depois, um dos governadores
macabeus foi o responsável por destruir o templo dos samaritanos no Monte
Gerizim.
Um episódio que
ocorreu provavelmente entre os anos 6 e 9 d.C. retrata bem a rivalidade entre
judeus e samaritanos. Parece que um samaritano entrou no Templo de Jerusalém e
espalhou ossos humanos com a finalidade de profaná-lo.
Os judeus não se davam com os samaritanos no tempo de Jesus
No tempo de Jesus os Evangelhos mostram como os judeus não se davam com
os samaritanos. Toda aquela rivalidade histórica culminava em comportamentos
hostis de ambos os lados. Muitos judeus piedosos da Judeia e da Galileia preferiam adotar uma rota maior
em determinado percurso apenas para não passar pelo território samaritano e
correr o risco e se contaminar cerimonialmente por causa dos samaritanos
hereges.
Também é verdade
que alguns samaritanos faziam de tudo para barrar os viajantes judeus. Alguns
estudiosos dizem que o ódio por parte de certos samaritanos era tão grande que
eles chegavam a assassinar alguns peregrinos judeus.
Mas o Senhor Jesus, por outro lado, em nenhum momento aprovou ou
fomentou esse ódio entre judeus e samaritanos. Jesus Cristo também anunciou o Reino de Deus aos samaritanos. Ele esteve em
Siquem, uma cidade que reunia muitos samaritanos. Sua hospitalidade para com os
samaritanos chegou a impressionar a mulher samaritana junto ao poço de Jacó
(João 4:9).
Na Parábola do Bom Samaritano Jesus também
colocou um samaritano como exemplo para os judeus (Lucas 10:30-37). Quando
Jesus curou dez leprosos, o único que voltou para agradecer-lhe foi um
samaritano. Mais tarde Jesus também repreendeu o apóstolo Tiago e o apóstolo João que queriam ver a destruição de
um vilarejo samaritano que não demonstrou hospitalidade (Lucas 9:52-56).
Por fim, após a ressurreição, o Senhor Jesus também indicou que em
Sua Igreja não havia
espaço para o ódio entre judeus e samaritanos (Atos 1:8).
Sua obra expiatória reuniu judeus, samaritanos e gentios na constituição
de seu povo santo. Por isto, apesar da rivalidade entre judeus e samaritanos,
o Evangelho foi anunciado
na região de Samaria e muitos samaritanos foram convertidos a Cristo (cf. Atos
8).
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