Escalar
Árvores ou Sentar nos Ramos
José estava sentado firmemente no seu galho na
árvore. Este era grosso, confiável e perfeito para servir de assento. Era tão
forte que não tremia com as tempestades, nem se agitava quando os ventos
sopravam. Aquele ramo era previsível e sólido e José não tinha intenção de
deixá-lo.
Isso até que lhe ordenaram que subisse num
outro ramo.
Sentado a salvo em seu ramo, ele olhou para
aquele que Deus queria que subisse. Jamais vira outro tão fino! "Esse não
é lugar para um homem ir!" disse consigo mesmo. "Não há lugar para
sentar. Não há proteção das intempéries. E como seria possível dormir pendurado
nesse galhinho vacilante?" Ele recuou um pouco, apoiou-se no tronco e
pensou na situação.
O bom senso lhe dizia que não subisse no galho.
"Concebido pelo Espírito Santo? Pense bem!"
A autodefesa lhe dizia para não fazer isso.
"Quem vai acreditar em .mim? O que nossas famílias vão pensar?"
A conveniência o aconselhava a não fazê-lo.
"Bem quando eu esperava estabelecer-me e criar uma família."
O orgulho lhe recomendava o mesmo. "Se ela
pensa que vou acreditar numa história dessas..."
Mas Deus lhe dissera para fazer isso, sendo
essa a sua preocupação.
A idéia o aborrecia porque estava feliz na
situação presente. A vida perto do tronco era boa. O seu ramo era
suficientemente grande para permitir que ficasse confortável. Ele estava
próximo a inúmeros outros sentadores em galhos fizera algumas contribuições
válidas para a comunidade de árvores. Afinal de contas, não visitava
regularmente os doentes no Centro Médico do Ramo Norte? Não era ele também o
melhor tenor no Coral do Arvoredo? E o que dizer da aula que dava sobre herança
religiosa, com o título apropriado de "Nossa Arvore Genealógica"?
Deus certamente não ia querer que deixasse tudo isso. Ele tinha... bem, poderia
ter dito que tinha raízes no lugar.
Além disso ele conhecia o tipo de sujeito que
se atira a uma aventura sozinho. Radical. Extremista. Liberal. Sempre se
excedendo. Sempre agitando as folhas. Sujeitos com a cabeça cheia de idéias
estranhas, procurando frutas estranhas. Os que são estáveis são aqueles que
sabem como ficar perto de casa e deixar as coisas correrem.
Acho que alguns de vocês compreendem José.
Sabem como ele se sente, não é? Já estiveram ali. Você sorri porque já foi
também chamado para arriscar-se e subir em outro galho. Conhece o desequilíbrio
gerado quando tenta manter um pé na sua própria vontade e outro na dele. Você
também enfiou as unhas na casca da árvore para segurar-se melhor. Você conhece
muito bem as borboletas que voam na boca de seu estômago quando percebe que há
mudanças no ar.
Talvez mudanças estejam justamente no ar agora.
Talvez você esteja em meio a uma decisão. É difícil, não é mesmo? Você gosta do
seu ramo. Acostumou-se com ele e ele com você. Da mesma forma que José, você
aprendeu a sentar. Você ouve então o chamado. "Preciso que suba em outro
ramo e
... tome uma posição. Algumas das igrejas
locais estão organizando uma campanha anti-pornografia. Elas precisam de
voluntários”.
… mude. Pegue sua família e se mude para o
exterior, tenho um trabalho especial para você"
… perdoe. Não importa quem feriu quem primeiro.
O que importa é que você construa a ponte."
... evangelize. Aquela família da mesma rua?
Eles não conhecem ninguém na cidade. Vá falar com eles."
… sacrifique. O orfanato tem uma hipoteca que
vai vencer este mês. Eles não podem pagá-la. Lembra-se do abono que recebeu na
semana passada?"
Qualquer que seja a natureza do chamado, as
conseqüências são as mesmas: guerra civil. Embora seu coração possa dizer sim,
seus pés dizem não. As desculpas surgem como folhas douradas quando sopra um
vento de outono. "Essa não é a minha área." "É hora de outro
tomar a responsabilidade." "Não agora. Faço isso amanhã"
Mas eventualmente você acaba contemplando uma
árvore nua e uma escolha difícil: A vontade dele ou a sua?
José escolheu a dele. Afinal de contas, era
realmente a única opção. José sabia que a única coisa pior do que uma aventura
no desconhecido era a idéia de negar seu Mestre. Resoluto então, ele agarrou o
ramo menor. Com os lábios apertados e um olhar decidido, colocou uma mão na
frente da outra até que ficou balançando no ar com apenas a sua fé em Deus como
uma rede protetora.
Conforme o desenrolar dos acontecimentos, os
temores de José foram justificados. A vida não se mostrou mais tão confortável
quanto antes. O galho que agarrou era de fato bem fino: o Messias deveria
nascer de Maria e ser criado em sua casa. Ele tomou banhos frios durante nove
meses para que o nenê pudesse nascer de uma virgem. Ele teve de empurrar as
ovelhas e limpar o chão sujo para que sua mulher tivesse um lugar para dar à
luz. Ele se tornou um fugitivo da lei. Passou dois anos tentando aprender
egípcio. Houve ocasiões em que esse ramo deve ter balançado furiosamente ao
sabor do vento. Mas José apenas fechou os olhos e continuou firme.
Você pode estar, no entanto, certo de uma
coisa. Ele jamais se arrependeu. A recompensa de sua coragem foi doce. Um só
olhar para a face celestial daquela criança e ele teria feito tudo de novo num
momento.
Você já foi chamado a aventurar-se por Deus?
Fique certo de que não vai ser fácil. Subir em galhos nunca foi fácil. Pergunte
a José. Ou, melhor ainda, pergunte a Jesus.
Ele sabe melhor do que ninguém quanto custa ser
pendurado num madeiro.
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