terça-feira, 19 de junho de 2018
O EVANGELHO DO REINO (PARTE 4)
O EVANGELHO DO REINO (PARTE 4)
Reino de Deus é, ao mesmo tempo, um domínio futuro no qual precisamos entrar quando Cristo voltar.
Pedro observa um dia futuro em que serão “ricamente providos quando entrarem no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pedro 1.11).
Nosso Senhor referiu-se muitas vezes a esse evento futuro.
“Muitos virão do oriente e do ocidente, e se sentarão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no Reino dos céus (Mateus 8.11).
Essa vinda futura do Reino acontecerá com grande glória.
Jesus contou do dia em que os anjos “tirarão do seu Reino tudo o que faz tropeçar e todos os que praticam o mal. [...] Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai”
(Mateus 13.41,43).
Por sua vez, quando os fariseus perguntaram a Jesus sobre quando o Reino de Deus viria, ele respondeu:
“O Reino de Deus não vem de modo visível, nem se dirá: Aqui está ele’, ou ‘Lá está’; porque o Reino de Deus está entre vocês” (Lucas 17.20,21).
O Reino já está presente em meio aos homens; e Jesus foi categórico ao responder aos fariseus, desanimando-os de procurar por um Reino futuro que viesse com aparato
externo de glória.
As parábolas do Reino deixam claro que, em algum sentido, o Reino está presente e em operação no mundo.
O Reino de Deus é como uma semente minúscula que se transforma em uma grande árvore; é como o fermento que, um dia, permeará toda a tigela de massa (Lucas 13.18-21).
No entanto, quando Pilatos questionou Jesus sobre o ensino dele, ele replicou: “O meu reino não é deste mundo”
(João 18.36).
A própria complexidade do ensino bíblico sobre o Reino de Deus é um dos motivos pelo qual surgem interpretações tão diversas na história da teologia.
Versículos isolados são citados na maioria das interpretações que encontramos em nossa literatura teológica.
O Reino é uma realidade atual (Mateus 12.28) e, contudo, é uma bênção futura (I Corintios 15.50).
Ele é uma bênção espiritual redentora (Romanos 14.17),
experimentada apenas por meio do novo nascimento (João 3.3), e, contudo, terá que ver com o governo das nações do mundo (Apocalipse 11.15).
O Reino é um domínio no qual os homens entram agora
(Mateus 21.31), e no qual, todavia, entrarão amanhã
(Mateus 8.11).
Ele é, ao mesmo tempo, um presente de Deus que será conferido, pelo Senhor, no futuro (Lucas 12.32) e que, no entanto, precisa ser recebido no presente (Marcos 10.15).
Com certeza, nenhuma explicação simples faz justiça a uma variedade de ensino tão rica, mas diversa.
No entanto, há uma solução básica para esse problema complexo que fornece a chave da compreensão para abrir a porta a tesouros de entendimento e bênção.
Essa chave fornece a abordagem mais simples a essa porção tão complexa e diversa da verdade bíblica.
É uma chave que muitas vezes passa despercebida por causa da diferença entre a linguagem moderna e a antiga. Precisamos fazer a pergunta mais fundamental: qual é o sentido de “reino”?
A resposta moderna a essa pergunta perde a chave do sentido dessa verdade bíblica antiga.
Em nosso linguajar ocidental, um reino é originalmente um espaço, uma esfera, um domínio sobre o qual um rei exerce sua autoridade.
Não restam muitos reinos em nosso mundo moderno com seus interesses democráticos; mas pensamos no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte como o grupo original de países que reconhecem a rainha como sua soberana.
O dicionário Houaiss segue essa linha de pensamento ao dar como sua primeira definição moderna: “país, estado governado por um rei; monarquia”.
O segundo sentido de reino é o conjunto de súditos de uma monarquia. Pode-se pensar no reino da Grã-Bretanha como os cidadãos sobre os quais a rainha exerce seu governo, os súditos de seu reino.
A aplicação exclusiva de quaisquer dessas duas idéias ao ensino bíblico do Reino nos desvia de uma compreensão correta da verdade bíblica.
O próprio dicionário da língua inglesa comete esse erro quando apresenta esta definição teológica de reino: “domínio espiritual do qual Deus é o cabeça.”
Essa definição não faz justiça aos versículos que falam da vinda do Reino em glória e poder externo quando Cristo retornar.
Por outro lado, aqueles que começam com a idéia de um domínio futuro a ser inaugurado pela volta de Cristo não fazem justiça às afirmações do Reino como uma realidade espiritual presente.
Além do mais, aqueles que começam com a idéia do Reino como um povo baseiam sua definição na identificação do Reino com a igreja, e há muito pouca justificativa bíblica para essa noção.
Nós precisamos deixar de lado nossa linguagem moderna se quisermos entender a terminologia bíblica.
Nesse ponto, o dicionário de Webster oferece uma pista quando apresenta como sua primeira definição de “reino” : “a posição, qualidade, estado, ou atribuições de um rei; autoridade real; domínio; monarquia; realeza. Arcaico” .
Do ponto de vista de uso lingüístico moderno, talvez essa definição seja arcaica; mas é precisamente esse arcaísmo que é necessário para se entender o ensino bíblico antigo.
O sentido primário tanto da palavra hebraica malkuth,do Antigo Testamento, como da grega basileia,do Novo Testamento, é a posição, autoridade e soberania exercida por um rei.
Uma basileia, na verdade, pode ser o reino, domínio sobre o qual um soberano exerce sua autoridade e pode ser as pessoas que pertencem a esse reino e sobre as quais a autoridade é exercida; mas esses são sentidos secundários e derivados.
Acima de tudo, reino é a autoridade para governar, a soberania do rei.
Observamos o uso desse sentido primário da palavra “reino” na descrição do Antigo Testamento do governo de um rei.
Esdras 8.1 fala do retorno da Babilônia “durante o reinado do rei Artaxerxes”.
Segundo Crônicas 12.1 fala do estabelecimento do reinado, ou governo, de Roboão.
Daniel 8.23 faz referência ao período final desses reinados ou governos. Também encontramos o uso do termo “reino”
como reinado humano em passagens como Jeremias 49.34; 2 Crônicas 11.17; 12.1, 26.30; Esdras 4.5; Neemias 12.22, etc.
Quando a palavra faz referência ao Reino de Deus, ela sempre se refere ao seu reinado, seu governo, sua soberania, e não à esfera em que é exercida.
Salmo 103.19: “O Senhor estabeleceu o seu trono nos céus, e como rei domina sobre tudo o que existe.”
O reino de Deus, seu malkuth, é seu governo universal, sua soberania sobre toda a terra.
Salmo 145.11: “Eles anunciarão a glória do teu reino e falarão do teu poder”.
No paralelismo da poesia hebraica, as duas linhas expressam a mesma verdade.
O reino de Deus é o seu poder.
Salmo 145.13: “O teu reino é reino eterno, e o teu domínio
permanece de geração em geração.”
A esfera do governo de Deus é o céu e a terra, mas esse versículo não faz nenhuma referência à permanência desse domínio. O governo de Deus é eterno.
Daniel 2.37: “Tu, ó rei, és rei de reis. O Deus dos céus concedeu-te domínio, poder, força e glória”.
Observe os sinônimos para reino: poder, força, glória — todos expressões de autoridade.
Esses termos identificam o reinado como o “governo” que Deus concedeu ao rei.
Escreveu-se sobre Belsazar: “Deus contou os dias do teu reinado e determinou o seu fim” (Daniel 5.26).
Fica claro que é o domínio sobre o qual Belsazar governava que foi destruído. O reino e o povo babilônio acabaram; foram transferidos a outro governador.
O governo do rei terminou, e o governo que foi dado a Dario, o medo (Daniel 5.31).
Uma referência em nossos evangelhos torna muito claro esse
sentido.
Lucas 19.11,12 afirma: “Estando eles a ouvi-lo, Jesus pas
sou a contar-lhes uma parábola, porque estava perto de Jerusalém e o povo pensava que o Reino de Deus ia se manifestar de imediato.
Ele disse: ‘Um homem de nobre nascimento foi para uma terra distante para ser coroado rei e depois voltar” ’. O homem nobre foi embora para conseguir um reino, uma região sobre a qual governar.
O reino sobre o qual queria governar estava próximo. O território sobre o qual deveria reinar era esse lugar que deixou.
O problema era que ele não era rei. Ele precisava de autoridade, o direito de governar.
Ele saiu para conseguir um “reino”, isto é, “ser coroado rei”, ter autoridade. Uma versão da Bíblia traduziu a palavra por “poder régio” .
Essa mesma situação aconteceu alguns anos antes dos dias de nosso Senhor.
No ano 40 a.C., a situação política da Palestina se tornara caótica. Em 63 a.C „ os romanos subjugaram o país, mas a estabilidade demorou a chegar.
Por fim, Herodes, o Grande, foi para Roma, obteve do Senado romano o reinado e foi declarado rei.
Ele foi literalmente para um país distante para receber um reinado, a autoridade para ser rei, o rei dos judeus na Judéia.
Pode bem ser que nosso Senhor tivesse esse incidente em mente quando contou essa parábola . Em todo caso, ela ilustra o sentido fundamental de reino.
O Reino de Deus é sua realeza de Rei, seu governo, sua auto ridade.
Uma vez reconhecido isso, encontramos passagem após
passagem do Novo Testamento que deixam evidente esse sentido, passagens em que o Reino não é uma região, um domínio nem um povo, mas o reinado de Deus.
Jesus disse que devemos “receber o reino de Deus” como uma criança (Marcos 10.15).
O que é recebido?
A igreja? O céu?
O governo de Deus é recebido. A pessoa, a fim de entrar no futuro domínio do Reino, tem de se entregar, aqui e agora, em total confiança ao governo de Deus.
Também devemos procurar “em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça” (Mateus 6.33).
Qual é o objeto de nossa busca? A igreja? O céu? Não; devemos buscar a justiça de Deus — o domínio dele, o governo dele, o reinado dele em nossa vida.
Quando oramos: “Venha o teu Reino”, oramos para que o céu venha à terra?
Em certo sentido, oramos por isso; mas o céu é um objeto de desejo apenas por que o reinado de Deus é para ser mais perfeitamente reconhecido no céu do que é agora.
A parte do reinado de Deus, o céu não tem sentido. Por isso, oramos: “Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade,assim na terra como no céu” (grifo do autor)
Essa oração é um pedido para que Deus reine, manifeste sua soberania, poder e realeza, para que afugente todo inimigo da justiça e de seu governo divino, para que só o Senhor seja Rei sobre todo o mundo.
Entretanto, um reinado sem um domínio no qual é exercido não tem sentido.
Assim, constatamos que o Reino de Deus também é a esfera na qual se vivência o reinado de Deus.
No entanto, os fatos bíblicos, mais uma vez, não são simples.
Por vezes, a Bíblia fala do Reino como a esfera em que entramos no presente, às vezes, em que entraremos no futuro.
Escrito por George Eldon Ladd
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