BÍBLIA, A PALAVRA DE DEUS!
Você já ouviu falar muito sobre a Bíblia. Durante as missas já ouviu ler muitos textos da Bíblia. Talvez tenha sido esse seu primeiro contato com esse livro misterioso.
Afinal você resolveu adquirir uma Bíblia ou, quem sabe, você a recebeu de presente. E agora, aí está na sua frente esse livro. É bastante grosso, a capa é mais bonita, com as letras douradas: BÍBLIA SAGRADA. Você abre a primeira página e não encontra o nome do autor como está acostumado a ver nos outros livros. Logo mais abaixo do título está escrito: "Tradução dos originais hebraicos, aramaicos e gregos.... Ao pé da página, você encontra, como nos outros livros, a indicação da cidade onde foi impresso e o ano da edição. Você está diante da Bíblia.
É interessante como a gente se sente diante de um livro. Temos a impressão de estar diante de uma aventura, diante de uma porta misteriosa que nos abre mundos novos e fascinantes. Essa impressão é mais forte ainda diante da Bíblia. Parece que o mistério é maior ainda. Sabemos que é um livro escrito há muito e muito tempo. É um livro que sempre tivemos em grande consideração, apesar de não o conhecermos diretamente. O primeiro pensamento que nos vem é a pergunta: será que vou conseguir entender? Chegamos a ter mesmo
um pouco de receio ao começar a leitura.
Mas, em geral, não começamos imediatamente a leitura... Primeiro folheamos as páginas ao acaso. E logo começamos a encontrar palavras e títulos estranhos: Gênesis, Êxodo, Levítico, Primeiro Livro dos Reis, Jó, Salmos, Sofonias, Apocalipse... Lemos uma frase aqui, outra ali. São frases num estilo, num modo de falar que nos parece muito diferente de tudo quanto estamos acostumados a ouvir.
E mais. Até o próprio índice desse livro chamado "Bíblia" é interessante.
Notamos logo duas grandes divisões: "Antigo Testamento" e "Novo Testamento. Para nós, "testamento" é um papel deixado por uma pessoa, determinando como deve ser feita a partilha da herança.
O que vem a ser, então, "Novo Testamento? Interessante também é ver que esse livro estranho está dividido em muitos outros livros": Livro do Gênesis, Livro do Êxodo, Livro da Sabedoria... Não há dúvida. Estamos diante de um "livro" diferente dos outros.
Enquanto vamos fazendo assim uma leitura rápida e salteada, vão nascendo outras perguntas mais. Como é que esse livro chegou até nós? Quando foi que apareceu? Quem escreveu? Por que a linguagem desse livro parece assim tão difícil e diferente? O que quer dizer que a Bíblia é a palavra de Deus para nós, como você já ouviu dizer tantas vezes? Será que Deus escreveu pessoalmente esse livro? Será que foi ditando as palavras para que alguém as escrevesse? Bíblia. Por que será que esse livro se chama "BÍBLIA"?
Quando começamos de fato a ler a Bíblia, então sim, é que as perguntas vão ficando cada vez mais numerosas. Se a gente, por exemplo, começa a ler o Livro do Gênesis, encontra logo a história da criação do mundo em sete dias, a criação do homem feito de barro, a mulher feita de uma costela de Adão. Vêm depois a história do dilúvio e muitas outras, onde aparecem Abraão, lsaac, Sodoma e Gomorra, os filhos de Jacó. Encontramos até mesmo algumas histórias que nos parecem quase escandalosas. O que significam essas histórias? como compreendê-las? que importância elas têm para nós? será que o mundo foi mesmo criado em sete dias?
Acho que você, depois de ter assim folheado a Bíblia, já percebeu e sentiu a necessidade de uma introdução que nos ajude a compreender esse livro. Sem uma introdução, é quase certo que vamos abandonar a sua leitura, principalmente a leitura da primeira parte, chamada "Antigo Testamento. Ou, se continuarmos a leitura, haverá o perigo de formarmos uma infinidade de idéias falsas.
É sempre difícil a gente ler um livro antigo. E nem precisa ser tão antigo assim.
Se tomamos um livro escrito há uns cem anos atrás, já vamos notar um modo de pensar e de falar totalmente diferente do nosso. É só lembrar as dificuldades dos estudantes quando começam a ler as poesias de Camões e outras obras escritas em português antigo. E a Bíblia é muito mais antiga e foi escrita num ambiente muito mais diferente do nosso.
Justamente para ajudá-lo no seu primeiro contato com a Bíblia é que foram escritas estas páginas. Não pretendo dar a interpretação desta ou daquela passagem da Bíblia. Vou tentar uma introdução geral, uma explicação que facilite a interpretação e a compreensão de todo o livro, uma resposta pelo menos a algumas de suas perguntas.
1. A HISTÓRIA DA BÍBLIA
1. A história do livro
Os homens sempre sentiram a necessidade de se comunicar, falando uns com os outros sobre si mesmos, sobre os acontecimentos, sobre o mundo, sobre tudo afinal. Bem depressa, ao lado dessa comunicação oral, nasceu uma "literatura", uma comunicação mais elaborada. Eram hinos e poemas que falavam sobre os acontecimentos do passado, sobre os deuses, sobre os costumes e as tradições. Eram textos nascidos nas reuniões da comunidade, textos feitos para serem declamados. Textos que continuavam a ser repetidos de cor, muito depois que já se tinha esquecido o nome dos seus autores.
Hoje em dia, a Bíblia é para nós principalmente um livro. Não podemos, porém, esquecer que grande parte da Sagrada Escritura, antes de ser um livro escrito, foi uma série de poemas e narrativas que eram repetidas de cor nas assembléias do povo. Abra sua Bíblia na profecias de Jeremias. A nossa primeira impressão é que o profeta escreveu tudo antes ou logo depois de ter falado. Mas não foi assim. O profeta falou e só vinte e dois anos depois é que suas profecias foram escritas.
Justamente para facilitar o trabalho da memória e ajudar a transmissão falada é que a maioria dos textos eram compostos numa forma ritmada e num estilo cheio de paralelismos e repetições, rimas e provérbios.
Hoje em dia a base da nossa instrução é o aprendizado da leitura e da arte de escrever. Antigamente a instrução, a cultura baseava-se na memória, na repetição das tradições que deviam ser fielmente conservadas. Houve, porém, um momento em que a comunicação devia ser feita para pessoas ausentes, ou então, era preciso fixar de algum modo os textos, seja para ajudar a memória, seja para dar maior valor ao documento. Foi assim que a humanidade, numa época que já não podemos determinar com precisão, começou a recorrer à escrita.
Inicialmente, as palavras e as idéias eram representadas por desenhos que reproduziam a imagem dos objetos ou o símbolo das idéias. Essa primeira forma de escrita chamava-se "ideográfica", isto é: desenho da idéia. Aos poucos os desenhos começaram a representar os sons que formam as palavras. Nasceu assim a escrita "fonográfica": o desenho dos sons. Só muito mais tarde surgiram os desenhos que, de modo semelhante às nossas letras atuais, formavam a transcrição das palavras.
Quando os judeus ainda estavam vivendo no Egito, a escrita já era muito usada. Já fazia bem uns 1500 anos que os egípcios conheciam a arte de escrever. Sabemos, pela própria Bíblia, que antes dela já existiam alguns "livros Encontramos, por exemplo, referências ao "Livro das guerras de Javé", ao "Livro do Justo. Pelas descobertas da Arqueologia (ciência que estuda as antigas civilizações), sabemos que já existiam alguns escritos bíblicos mil ou até dois mil anos antes de Cristo. Mas não vamos esquecer que esses textos eram parciais. Eram antes um auxílio para a memória, e não propriamente livros como os nossos, destinados a estar nas mãos de todo o mundo.
Os livros antigos não eram tão práticos como os nossos nem estavam ao alcance de todos. Eram coleções de placas de metal, de madeira, de argila, de cascas de árvore ou de folhas. Com o tempo, passaram a ser feitos com o papiro ou o pergaminho. O papiro era uma espécie de papel primitivo, feito com o caule da planta chamada papiro. O pergaminho era feito com pele de animais, principalmente carneiros e cabras, cuidadosamente preparada. As
"folhas" de papiro ou de pergaminho eram emendadas, formando longas tiras de até 50 metros de comprimento, enroladas para facilitar o manuseio. Outras vezes, as folhas eram costuradas, formando um "caderno".
E não vamos esquecer que, antes da invenção da imprensa, os livros eram trabalhosamente copiados à mão, um por um. Isso aumentava muito o seu custo. Eram poucos os que se podiam dar ao luxo de possuir uns poucos livros.
Devido a tudo isso é que a cultura antiga não estava, como a nossa, baseada na palavra escrita. Os conhecimentos eram transmitidos principalmente através dos mestres, dos poetas e dos cantores, que recitavam de aldeia em aldeia os antigos poemas sobre os heróis e sobre os deuses. Temos de ter isso em mente quando começamos a folhear a nossa Bíblia.
2. História do Antigo Testamento
Abrindo a Bíblia, notamos logo as duas divisões principais que a caracterizam: Antigo Testamento e Novo Testamento. A palavra testamento quer ser a tradução de uma palavra grega: "diatéke, que podia tanto significar "testamento como contrato" ou "aliança". Na linguagem dos judeus, que viviam entre gregos, essa palavra "diatéke significava a aliança, o contrato pelo qual Deus se uniu a seu povo escolhido. Sendo assim, "Antigo Testamento" é a primeira parte do plano de Deus para a salvação da humanidade, a história da aliança feita com o povo judeu. Novo Testamento" é a história da aliança definitiva entre Deus e toda a humanidade, aliança que renova e leva à perfeição a primeira aliança feita com um povo.
O Antigo Testamento engloba os livros da Bíblia do tempo dos judeus até o tempo de Jesus. Os judeus dividiam a Bíblia em três partes: A LEI, OS PROFETAS, OS ESCRITOS.
A primeira parte, A LEI, era chamada "Torah". É composta pelos cinco primeiros livros: GÊNESIS, ÊXODO, LEVÍTICO, NÚMEROS E DEUTERONÔMlO. Essa parte é também chamada de "Pentateuco", o que quer dizer: "Os cinco livros. Contém as leis dadas por Deus e narrativas que apresentam as circunstâncias históricas da manifestação do plano de Deus para a salvação. Essa primeira parte ainda continua em nossa atual divisão do Antigo Testamento.
As outras divisões atuais são: LIVROS HISTÓRICOS, LIVROS SAPIENCIAIS, LIVROS DOS PROFETAS. Por enquanto não importa explicar mais detalhadamente o conteúdo desses livros.
Mais uma vez usamos a expressão "livros da Bíblia. A Bíblia não foi escrita como um dos nossos livros atuais, divididos em capítulos, escritos segundo um plano previamente estabelecido. Foi surgindo aos poucos, através dos séculos, e é obra de muitos autores. Sendo assim, chamamos "livros" as principais unidades que formam a Bíblia. Mal comparando, poderíamos dizer que a Bíblia é uma biblioteca, uma coleção de vários livros que formam um só conjunto.
Aliás, seria bom perguntar: de onde vem esse nome "Bíblia? Esse nome é simplesmente a adaptação de uma palavra da língua grega: "Biblos", que significava "papiro", "livro. A Bíblia é, pois, "O LIVRO", o primeiro, o mais importante de todos.
E também já é tempo de perguntar: "Como surgiu o Antigo Testamento?. Para responder, precisamos ver antes alguma coisa da história do povo que escreveu essa parte da Bíblia. Vamos traçar uma história bem reduzida de muitos séculos.
A)O Povo Judeu
Percorrendo o Antigo Testamento, podemos ter a impressão de estarmos diante de uma "História do Povo Judeu. Isso é verdade, contanto que não interpretemos mal a palavra " História", que hoje em dia, para nós, significa um relato exato do que aconteceu, com as datas e os lugares exatos. Se alguém tentasse interpretar assim a Bíblia, iria procurar, por exemplo, estabelecer datas exatas para a criação do mundo, o dilúvio, o nascimento de Abraão, a saída da escravidão do Egito. Isso não seria possível, porque a Bíblia não está interessada na data exata dos fatos. Está interessada é em nos fazer compreender o sentido dos acontecimentos, como eles se encaixam no plano que Deus formou para a nossa salvação.
É por isso que o nome de pessoas e de lugares servem principalmente para caracterizar as pessoas e ressaltar a importância dos acontecimentos. E não para dizer que esses eram realmente os nomes das pessoas e dos lugares. O mesmo se pode dizer das datas, da duração dos períodos e das épocas. Diante, por exemplo, da afirmação: "O mundo foi criado em sete dias" ou "Os judeus andaram 40 anos pelo deserto", o que nós devemos perguntar é qual é o significado dos sete dias da criação e dos quarenta anos no deserto.
Mas, por outro lado, é interessante notar que as descobertas modernas sobre a vida dos povos que antigamente viviam naquela região confirmam plenamente as indicações da Bíblia sobre antigos costumes e tradições. Confirmam também muitas indicações sobre lugares e acontecimentos.
A maior parte dessas descobertas aconteceram por acaso. Foi assim que, em 1928, um lavrador estava arando, quando, de repente, seu arado encontrou uma pedra de sepultura. Um outro, em 1933, estava cavando uma sepultura e encontrou uma estátua antiga. Isso levou à descoberta de antigas cidades, com suas casas que sobraram de civilizações desaparecidas há muito tempo. Pouco a pouco a ciência arqueológica (ciência das antigüidades) vai-nos ajudando a ter um conhecimento bastante grande do passado. Ainda não sabemos as surpresas que o futuro nos reserva nesse campo.
Houve tempo em que muitos cientistas consideravam simples lendas todas as informações sobre os primeiros tempos do povo judeu. Principalmente o que a Bíblia conta sobre os patriarcas, os primeiros antepassados do povo. Atualmente a situação já é bastante diferente. A história bíblica dos patriarcas combina perfeitamente com as informações que atualmente temos sobre o passado. Se tivesse sido inventada apenas uns mil anos antes de Cristo, teria sido praticamente impossível imaginar costumes que correspondessem realmente a costumes de 800 ou 900 anos antes. A única explicação razoável é que os judeus, como todos os povos antigos, conservavam fielmente as lembranças do passado que formavam a sua "história familiar. Justamente porque eram tradições familiares é que a "história dos patriarcas" pouco se preocupa com os fatos da história geral. É antes uma seqüência de pequenos fatos do começo da família".
No Deuteronômio (26,5-10), encontramos um resumo da história dos patriarcas. Quando os judeus apresentavam a Deus os primeiros frutos de suas colheitas, deviam rezar assim:
"Meu pai era um arameu (homem da região de Aram) que estava a ponto de morrer. Desceu para o Egito com um punhado de gente. Foi viver como estrangeiro naquela terra, mas tornou-se ali um povo grande, forte e numeroso. Os egípcios começaram a nos perseguir e nos oprimiam com uma pesada escravidão. Gritamos então pelo Senhor, o Deus de nossos pais. Ele ouviu o nosso grito e viu a nossa aflição, a nossa miséria, a nossa angústia. O Senhor tirou-nos do Egito (...) e nos trouxe para esta terra onde correm o leite e o mel".
O povo judeu entrou para a história 1300 anos antes de Cristo, quando estava vivendo ainda no Egito. E povo se reconhecia como descendente de Abraão, que tinha nascido mais para o oriente e durante algum tempo tinha vivido na região de Aram. Os judeus já estavam no Egito mais ou menos desde o ano 1700 a.C. (a.C.= antes de Cristo). Isso quer dizer que Abraão viveu lá pelo ano 1800 a.C. Seus descendentes, Isaac, Jacó e seus filhos, levavam uma vida semi-nômade, de um lado para o outro, até que os dois irmãos se fixaram no norte do Egito.
Não sabemos praticamente nada da sua história durante os 400 anos seguintes. Até lá por 1250 a.C., quando, guiados por Moisés, saíram do Egito. Durante vários anos, 40 mais ou menos, tiveram no deserto a experiência religiosa da manifestação de Deus. A partir de 1200 a.C., começaram a se apossar da Palestina, a região entre o Mediterrâneo e o Jordão.
Durante todo esse tempo, o povo judeu conservava cuidadosamente as tradições do passado em seus cantos, poemas, salmos e narrativas. Conhecia o Deus verdadeiro, tinha consciência de ser o povo por ele escolhido. Conservava suas leis e os ensinamentos religiosos eram passados de pais para filhos. Mas não apenas conservavam a religião do passado. Iam crescendo em sua vida religiosa, com altos e baixos, tempos de maior ou de menor fidelidade à aliança estabelecida com Deus. Continuamente eram ajudados e orientados por Javé, que lhes enviava homens providenciais. Podemos admitir que já por essa época muitas tradições não se transmitiam apenas oralmente, muita coisa já estaria sendo posta por escrito.
Finalmente, lá pelo ano 1000 a.C., o povo já estava estabilizado na Palestina, tinha deixado de ser um povo nômade. Começou, então, a época dos grandes reis. Com isso, elevou-se também a cultura do povo e a literatura entrou numa fase decisiva.
B) Começa a surgir a Bíblia
Pelos fins do décimo século a.C., começam a ser escritas as narrativas sobre Davi e Salomão, as primeiras partes dos livros que agora em nossa Bíblia se chamam 1º e 2º Livros de Samuel, e o começo do Livro dos Reis. Por esse mesmo tempo é escrita a história do passado mais próximo, as narrativas que encontramos nos Livros de Josué e dos Juízes.
Quando a realeza já estava mais organizada, começaram a se formar os "Arquivos de Estado", que conservavam a documentação para os escritores do futuro. Só no século seguinte começaram a ser escritas as tradições mais antigas sobre os patriarcas Abraão, lsaac e Jacó, a história da saída do Egito, os acontecimentos do deserto. Começou assim a formação dos livros que agora chamamos de Gênesis, Êxodo, Números.
A partir do ano 800 a.C., temos a época dos profetas, dos grandes homens enviados por Deus para orientar o povo, para ajudá-lo a compreender os planos divinos. As Mensagens dos profetas foram em parte escritas por eles mesmos, em parte por seus discípulos. Formou-se assim a coleção dos profetas, essa parte da Bíblia que é uma das mais ricas e sedutoras.
Uns cento e poucos anos depois, entre 700 e 600 a.C., já estavam por escrito os acontecimentos relativos à conquista da Palestina e o que aconteceu até o fim da realeza. São partes dos Livros de Josué, dos Juízes, de Samuel e dos Reis. Nesse mesmo tempo, começou a ser posto por escrito o Livro do Deuteronômio, que é uma reapresentação meditada da Lei Divina.
Apesar de todos os avisos dos Profetas, o povo não manteve fidelidade a Deus. O grande castigo chegou em 587 a.C., quando Jerusalém foi destruída e o povo quase todo foi levado para o cativeiro na Babilônia. Durante esse tempo de sofrimento, renasceu o espírito religioso dos judeus. Começaram a refletir sobre tudo quanto Deus tinha feito por eles. Surgem assim as partes do Antigo Testamento que se referem principalmente ao culto, ao serviço divino no templo, à organização no templo, à organização da comunidade religiosa voltada para Deus.
Quando o povo pôde voltar para a pátria, começou o último tempo na história da formação do Antigo Testamento. Os livros do passado foram reunidos, retocados, completados. Surgiram em sua forma definitiva os cinco primeiros livros Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Foram escritos os livros que chamamos de "Sapienciais" Provérbios, Jó, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Eclesiástico. Esses Livros Sapienciais são o fruto de uma reflexão que procurava levar à "sabedoria da vida", à compreensão dos planos de Deus.
Um pouco mais tarde surgiram os Livros das Crônicas, de Tobias, de Ester, de Judite. E com isso já estamos a apenas uns 300 ou 200 anos antes do nascimento de Jesus. OS judeus, que antes já tinham tido tantas dificuldades com os poderosos povos do oriente, tinham agora de enfrentar a influência dos gregos, depois das conquistas de Alexandre Magno. Mais ou menos 100 anos a.C. foram escritos os dois Livros dos Macabeus, que retratam essa época tão difícil para a fé do povo judeu. Desse mesmo tempo é o Livro de Daniel, colocado entre os livros dos profetas e Sabedoria.
Pois bem. Depois dessa rápida passagem através dos séculos, podemos perceber como a Bíblia do Antigo Testamento foi surgindo aos poucos, foi sendo completada e retocada. Não podemos imaginar que tenha começado com a composição do Gênesis e tenha sido escrita na mesma ordem que encontramos em nossa Bíblia atual. Sua história é muito mais rica e mostra de forma grandiosa a ajuda que Deus foi dando ao povo escolhido. Nessa longa história do nascimento da Bíblia, aparece mais claramente o poder de Deus. Muito mais claramente do que se Deus tivesse "ditado" a Bíblia para Moisés e os outros autores.
Uma última observação: Nem tudo ainda é inteiramente certo nessa história que apresentamos resumidamente. Nem sempre os especialistas estão de acordo e não podemos aqui discutir todos os pormenores. Interessa-nos apenas uma visão geral e aproximativa.
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