Lições que apagaram as luzes
É preciso dizer claramente que as
parábolas foram destinadas a apagar as luzes de algumas pessoas. Estas
histórias desconcertavam e incomodavam aquelas almas desonestas que estavam
ansiosas por abusar de qualquer pequena verdade que parecesse filtrar até elas
(Mateus 13:10-15; Marcos 4:11-12; Lucas 8:10). E não podemos pensar nelas como
se fossem iletrados religiosos que eram moralmente depravados. Em seu número
estavam as pessoas mais religiosas e aparentemente mais piedosas daquele tempo.
Mas tinham projetos que diferiam do de Deus.
Depois que o Senhor ensinou sua grande parábola do Pastor e o aprisco,
um discurso que parece ter feito no inverno que antecedeu a primavera de sua
morte (João 10:1-18), seus críticos se queixaram de que seu ensinamento era
obscuro e confuso e que ele deveria dizer-lhes em linguagem clara se ele era o
Cristo ou não. A réplica de Jesus foi direta: Já lhes disse numa centena de
modos, mas nenhuma delas será bastante, porque vocês simplesmente não
acreditam; e não acreditam porque não são minhas ovelhas (10:24-26). O Filho de
Deus não estava interessado em meter pela goela abaixo dos homens descrentes o
que eles positivamente não queriam. Este grande Pastor estava chamando somente
aqueles que queriam ouvir sua voz e segui-lo (10:27). Para os demais suas
palavras seriam apenas palavrório sem significado; não porque o fossem, mas
porque seus ouvidos carnais não afinavam com as coisas espirituais.
O mesmo ponto é
convenientemente demonstrado por uma ocorrência durante o mesmo inverno: a cura
pelo Senhor de um mendigo cego em Jerusalém, junto ao poço de Siloé (João 9).
No começo, os críticos de Jesus buscaram febrilmente desacreditar esta cura
notável (o homem tinha sido cego de nascença) como sendo uma artimanha. Mas,
totalmente impedidos pelo testemunho dos pais do próprio homem, foram reduzidos
a argumentar insensatamente que o que todos na cidade sabiam que tinha
acontecido, não tinha acontecido realmente porque tinha sido feito no dia
errado (no sábado) pelo homem errado (Jesus). Baseados em nada além de
obstinação cega e inflexível, eles negavam o inegável. Jesus mais tarde teve de
dizer-lhes: "Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não
vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos" (9:39). Seus críticos
judeus, não tão obtusos que nada lhes penetrasse, finalmente pegaram o
significado. "Acaso também nós somos cegos?" perguntaram.
Ao que o Senhor replicou, "Se fôsseis cegos, não teríeis pecado
algum; mas porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado"
(9:40-41).
Como já temos observado,
as parábolas de Jesus nunca apelavam muito para as pessoas que já se achavam
sábias. Elas serviam simplesmente para apagar as pequenas luzes que tais pessoas
tinham. Mas isso estava bem, porque o Senhor não o estava chamando, de qualquer
modo, e o tempo havia chegado pelo terceiro ano do seu ministério público para
afastar os eternos críticos, os curiosos, os freqüentadores habituais
descuidados que não tinham real interesse no reino de Deus. Era chegada a hora
quando os verdadeiros discípulos tinham que ser reunidos em volta dele e
preparados para o inimaginável horror que viria.
Concordando, Edersheim (Life
and Times of Jesus the Messiah, Vol. II, pág. 579, 580) classifica as
parábolas de Jesus segundo uma escala contínua de crescente hostilidade dos
seus oponentes:
·
As sete parábolas de Mateus 13 sobre a natureza
do reino de Deus (no final do segundo ano) foram ditas logo depois que os
fariseus tinham recorrido a descartar os milagres de Jesus com a explicação de
que eram demoníacos (Mateus 12:22-34).
·
As parábolas ditas depois da transfiguração
(terceiro ano) são encontradas em Lucas, capítulos 10-16 e 18. Estas são sobre
o reino, mas têm um impulso admonitório e um tom de controvérsia, em resposta à
crescente inimizade dos fariseus.
·
Há oito parábolas (Mateus 18, 20-22, 24, 25 e
Lucas 19) nas quais o elemento controvérsia domina e o aspecto evangelista
recua. Elas pegam o tema de julgamento.
A. B. Bruce (The Parabolic Teachings
of Christ) as vê também naturalmente divididas em três grupos, mas de
acordo com a obra de Jesus como Mestre, Evangelista e Profeta.
·
As parábolas de ensinamento têm a ver com
a obra do Senhor no treinamento dos Doze: parábolas sobre o reino (Lucas 11:5-8
e 18:1-8); e três parábolas que se relacionam com o labor e o galardão no
reino: Trabalhadores da vinha (Mateus 20:1-16), Talentos (Mateus 24:24), Minas
(Lucas 19:12).
·
As parábolas de evangelismo incluem
aquelas que mostram o amor de Deus pelos pecadores: Os dois pecadores (Lucas
7:40). Ovelha perdida, moeda perdida, filho perdido (Lucas 15). O fariseu e o
publicano (Lucas 18:9-14). A Grande Ceia (Lucas 14:16), o Bom Samaritano (Lucas
10:30), o Administrador Infiel (Lucas 16:1). O Credor Incompassivo (Mateus
18:23).
·
As parábolas proféticas contêm mensagens
de julgamento divino e incluem: A Figueira Estéril (Lucas 13:6). Os Lavradores
Maus (Mateus 21:33). Casamento do Filho do Rei (22:1). Dez Virgens (25:1). Rico
Tolo (Lucas 12:16).
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