terça-feira, 3 de agosto de 2021

JOGOS DE AZAR

 

JOGOS DE AZAR

 

Os “jogos de azar” são atividades que dependem da boa ou da má sorte e do infortúnio humano, e seu objetivo único e imediato é econômico, com a vantagem de um e a desvantagem de muitos.

A finalidade é de lucro ou ganho, sem trabalho e sem inteligência ou habilidades. Neste tipo de jogo, todos casam dinheiro para que um, ou poucos, possam ganhá-lo, sem qualquer critério de inteligência ou habilidade. Depende apenas da boa ou da má sorte, ou, por vezes, de atos desonestos. Qualquer tipo de jogo que se enquadre neste princípio, é jogo de azar, e não é recomendado para o crente.

O sistema de loteria, tem assumido modernamente várias outras formas no Brasil. Além das loterias que são oficiais, devidamente legalizadas (Federal, Federal Instantânea, Esportiva, Quina, Supersena e Mega-Sena), surgiu o “sorteio pelo telefone”. Neste último exemplo, por motivos de futebol ou até de notícias e humor, são oferecidas apostas por telefone, pagando-se aproximadamente R$ 3.00. Evidentemente, há duas grandes motivações: manter o telespectador ligado e auferir lucros, uma vez que, segundo se pode notar, quando uma determinada estação de TV oferece um carro, ela consegue muito mais do que outro carro.

Infelizmente, não tem havido material específico sobre jogos de azar do ponto-de-vista cristão nestes últimos tempos. O povo de Deus que tem sido tentado nas muitas modalidades de jogos, “bolões” entre amigos e principalmente pelo telefone, e não sabe se é certo ou errado. Há muitas perguntas sobre a validade dessa prática para o povo de Deus. Vamos analisar o assunto.

Antes de tudo, precisamos fazer uma distinção entre jogos e jogos.

Competições esportivas - Um jogo de xadrez, exige inteligência e habilidade. Portanto, ganhará quem for mais inteligente e mais treinado no seu esquema. Um jogo de tênis, exige habilidade e inteligência. Assim também o jogo de futebol, de basquete, de vôlei, e outros tipos de jogos esportivos, que exigem inteligência e habilidades especiais. Tais tipos de jogo podem significar trabalho e competição sadia. Pode até haver pagamento por tais jogos, mas no caso é um pagamento pelo esforço e pelo trabalho do participante.

Apostas em competições - Nesta categoria podemos incluir as apostas em corridas de cavalos ou em qualquer outra modalidade esportiva. No caso da corrida de cavalos, ganha o cavalo mais habilidoso. Até aí, tudo bem. Mas as apostas seguem o princípio de muitos casarem para um, ou poucos, ganharem. Aí, torna-se jogo de azar. Em apostas em corridas de cavalos, uma pessoa aposta contra todas as outras nas pistas e, tipicamente, o Jóquei Clube leva cerca de 19% de qualquer aposta. O apostador já começa perdendo dinheiro.

Jogos permitidos por lei - Aqui podemos incluir as várias modalidades de loteria, os bingos – este último, muito usado até por igrejas cristãs e instituições - e os sorteios pelo telefone valendo dinheiro, carros e outros prêmios. Quem explora este tipo de jogo tem licença de órgão público competente. Mas nem por isso quer dizer que sejam jogos que convêm ao crente.

Loterias: O primeiro registro histórico que se tem de jogos deste tipo no Brasil data de 1784, quando foi realizada a primeira extração de “loteria de bilhetes” para obtenção de fundos para a construção do prédio da Câmara de Vila Rica, hoje Ouro Preto, em Minas Gerais. A loteria não é simplesmente uma vantagem para o povo concedida pelo governo. Na verdade, o jogo é uma grande fonte de renda para o governo. A Loteria Federal do Brasil (iniciada em 1962), faz dois sorteios por semana e outros extra em ocasiões especiais (Natal, São João, Independência, Carnaval e alguns sorteios especiais promovidos por entidades filantrópicas). A Loteria Federal Instantânea, “a raspadinha” (iniciada em 1991), funciona por emissão de bilhetes com prêmios predeterminados pela Caixa Econômica Federal. Essa modalidade agora premia também com bens como carros, jet-skis, motos, etc. A Loteria Esportiva Federal (iniciada em 1970), faz um sorteio semanal. A “Quina” (iniciada em 1994), faz dois sorteios por semana. A Supersena (iniciada em 995), faz dois sorteios por semana. Finalmente a Mega-Sena (iniciada em 1996), faz um sorteio por semana. Veja no quadro 1 como o jogo se torna de grande vantagem para o governo federal. Em 1996, a arrecadação total das loterias do Brasil ultrapassou a casa dos 1.6 bilhões de dólares. O valor em prêmios distribuídos foi aproximadamente U$552 milhões. Até o final do primeiro semestre de 1997, as loterias já haviam arrecadado mais de U$707 milhões e distribuído aproximadamente U$242 milhões em prêmios. Uma média de U$146.00 é gasto todo ano em loteria por cada homem, mulher e criança nos EUA. Os pobres gastam em loteria aproximadamente o mesmo que pessoas de classe média, mas por terem menos dinheiro, um maior percentual de seus ganhos vão para as loterias. Isto faz da loteria uma forma de atividade “regressiva” (que empobrece). Como os jogos são promovidos pelo próprio Governo e tantos recursos acabam indo para o próprio Governo, não é de se admirar que haja tanto incentivo para que se jogue mais e mais, e assim se promove uma prática regressiva.

Sorteios pelo telefone - A “Lei Zico”, ampliou uma lei já existente que permitia a realização de um sorteio por ano para fins filantrópicos. Com isso, qualquer entidade deste tipo poderia fazer sorteios e destinar os lucros para sua causa. O que vem acontecendo é que se oferece um carro que custa 50 mil e se arrecada mais de 1 milhão. Faz-se a lista de despesas, custo promocional, preço do veículo, cachê do apresentador, custo do equipamento do sorteio, custo das linhas telefônicas, tempo de veiculação na TV, etc., e destina-se a uma entidade cerca de 10 mil reais apenas (60 Minutos - TV Cultura) ou em muitos casos cerca de 5% (A Tarde). Até hoje já se arrecadou cerca de 200 milhões de Reais e apenas 5 a 6 milhões foram entregues as instituições filantrópicas. Um outro ponto de preocupação é que a probabilidade de se ganhar em um sorteio como este é bem menor do que nas da loterias, que já são muito baixas. O Governo acaba de adotar uma nova medida a fim de organizar um pouco esse festival: a partir de agora, as entidades filantrópcas que promoverem sorteios pelo telefone 0900 ou por cartelas, terão que pagar 6% de imposto sobre os recursos arrecadados. Só as entidades de utilidade pública e que tenham fins filantrópicos, apenas um por ano para cada entidade, poderão promover tais sorteios. Não poderá haver comprometimento com contratação de terceiros, acima de 84% da receita bruta. Vamos continuar vendo o mesmo tipo de sorteios, com a diferença de estar um pouco mais fiscalizado e o governo lucrando um pouco mais.

Sorteios promocionais - Há muitos casos de casas comerciais ou mesmo de produtos que fazem promoção de seus negócios, oferecendo certos prêmios (carros, eletrodomésticos, viagens, etc.). Geralmente, mediante compras realizadas, os clientes e consumidores recebem cupons numerados que serão sorteados. O sistema de sorteio, dependendo da finalidade, não tem nenhum problema. Até mesmo no Novo Testamento vamos encontrar os apóstolos sorteando entre dois homens, para ver quem tomaria o lugar de Judas no apostolado (Atos 1.15-25). No caso de sorteios promocionais, ninguém está casando dinheiro. Pelo contrário, está havendo uma troca de dinheiro por mercadoria. Pode até ser que o promotor esteja embutindo o valor do prêmio na mercadoria, mas de qualquer maneira as pessoas estão comprando a mercadoria porque o preço lhes convém. Assim, este tipo de atividade é perfeitamente cabível a um cristão. Porém, há dois pequenos problemas que devem ser considerados: (1) quando o sorteio é feito diretamente pelos promotores, tudo fica bem, mas quandoos promotores aproveitam o sorteio da loteria oficial, aí pode haver uma questão ética a ser estudada; (2) mesmo tudo estando bem, dentro dos princípios aqui analisados, um crente não deve andar desesperado atrás de concursos para tentar tirar vantagem, pois isto pode criar um vício de jogo para ele.

Jogos ilícitos - Entre os mais populares está o Jogo do Bicho. Outro jogo comum entre o povo, e que é considerado contravenção penal, são as diversas modalidades de rifas comumente denominada: ação entre amigos. Mais uma vez, muitos casam dinheiro para que um só leve o prêmio. Geralmente a motivação é de colaborar com alguma instituição de caridade ou com uma família necessitada. Pode-se até contribuir para a instituição ou família, mas não seria certo pegar o bilhete para concorrer. É jogo de azar como qualquer outra loteria.

Cassinos - Vem sendo amplamente discutida uma proposta de legalização de cassinos no Brasil. Nos EUA existe um Estado que sobrevive exclusivamente da indústria do jogo, o Estado de Nevada. Existe também uma enorme quantidade de cassinos em outras partes dos Estados Unidos. Mesmo sendo considerada uma atividade ilegal na grande maioria dos Estados, sempre se acha uma maneira legal de se permitir o jogo, o “jeitinho americano”. Exemplo disto é o do Estado de Louisiana, onde não se permite a atividade em terra, mas esta está liberada para cassinos flutuantes, barcos adaptados. Não podendo o Estado legislar em terras indígenas, muitas reservas passaram a entrar no lucrativo negócio dos jogos, e hoje essa é a indústria que mais cresce no mundo (150 Cassinos até maio de 97), um negócio de U$ 27 bilhões/ano. Um dos maiores grupos lobistas dos Estados Unidos é o da indústria do jogo. Em um estudo da “US News & World Report” analisou 55 países que legalizaram cassinos de 1990 a 1992 e verificou que jogo não gera expansão econômica nas áreas em que opera, portanto, esta desculpa entre políticos brasileiros deveria estar fora dos argumentos, mas não está, antes tem se tornado o argumento principal.

Os jogos de azar são responsáveis por muitos males sociais, emocionais e jurídicos no povo, tanto de crentes como de não crentes. Um dos primeiros efeitos é o empobrecimento. Há pessoas que são cativadas pelo vício de jogar e, diariamente estão jogando. E, como só um ou poucos ganham, há pessoas que passam a vida toda jogando sem nunca ganhar. Um dos que parecem mais inocentes, os telefonemas de R$ 3.00, pode ser usado por uma criança que começa desde cedo a estimular uma compulsão. Outro dia, um repórter de um jornal de uma TV de evangélicos aparecia dentro de um lindo Mercedes Bens, e dizia: “Sabe o que estou fazendo aqui? Causando inveja a você. Este Mercedes pode ser seu hoje mesmo...”. E então, um irmãozinho que mal pôde comprar um telefone, começa a ligar. No fim do mês a conta telefônica leva a maior parte do seu salário, mas o Mercedes foi para outro.

Muitos anos atrás, um jovem que trabalhava de office-boy numa grande companhia, recebeu considerável quantia para depositar no Banco na conta da Companhia. Enquanto caminhava pela rua, rumo ao banco, passou por uma casa de apostas. Parou um pouco e imaginou que se usasse aquele dinheiro para jogar, poderia ganhar, tirar um bom lucro para ele e ainda depositaria o do patrão sem qualquer prejuízo. De repente, uma enorme esperança bateu no seu coração. Era isso mesmo. Ele podia ficar rico com aquele ponto de partida que tinha nas mãos. Entrou e jogou a primeira parcela. Perdeu. Animado pela esperança de ganhar, jogou mais uma. Perdeu de novo. E assim foi perdendo até perder tudo. Finalmente, em verdadeiro desespero, voltou para seu patrão, confessou seu erro, e preparou-se para arcar com as penas da lei. Alguém chamou isso de “amarga esperança”.

As chances de se ganhar na loteria são piores do que os outros tipos de jogos. Na média a chance de se ganhar na “Super Lotto” do Estado da Califórnia, nos EUA, é de 1 em 18 milhões. Para efeito de comparação, a probabilidade de uma pessoa morrer em um atentado terrorista durante uma viagem ao exterior é de 1 em 650 mil e atingida por um raio é de 1 em 30 mil. Se uma pessoa compra 50 bilhetes a cada semana, ela irá ganhar o prêmio principal uma vez a cada 5 mil anos. Colocando-se de outra maneira, se seu carro faz cerca de 11 km com 1 litro de gasolina e se você comprar 1 litro de gasolina a cada vez que comprar um bilhete de loteria, você terá acumulado suficiente combustível para ir e voltar a lua mais de 208 vezes antes de ganhar o grande prêmio uma única vez. As chances de se ganhar em um sorteio pelo telefone, de acordo com as próprias autoridades, são piores ainda.

O QUE DIZ A BÍBLIA ?

 

Apóstolo Paulo fala-nos do lícito e do conveniente (1 Cor 6.12; 10,23-24), isto é, as coisas podem ser legais, mas nem sempre a lei é moral e está de acordo com os princípios de Deus. Daí, o jogo pode ser legal, mas não ser conveniente ao crente.

Em Fil. 4.8, o apóstolo dá algumas regras para aquilo que o povo deve e não deve fazer. Algumas dessas regras são cabíveis no caso do jogo de azar: “tudo o que é justo...”.

Ora, é justo que eu deseje que o meu próximo perca e eu ganhe? Este, aliás, é o conceito de justiça: dar a cada um o que lhe é devido. Alguém que casa dinheiro querendo tomar o meu e vice-versa, seria justo?

Tudo o que é honesto. O conceito de honestidade é “aquele que fala como um deus”, isto é, aquele que fala com verdade. Seria honesto eu desejar que todo mundo perca e eu ganhe? Seria honesto eu participar de um esquema que torna-se uma tentação para viciar pessoas a sempre casar seu dinheiro para perder?

As pessoas viciadas contribuem com 25% dos lucros de cassinos e loterias (5% dos jogadores). E é isto que fala Paulo em 1 Cor. 10.24: “Ninguém busque o proveito próprio, antes cada um o que é de outrem”. “Se há alguma virtude...”.

Há virtude num esquema em que todos querem ganhar mas só um ganha e outros perdem, quando esperavam ganhar? Há algum louvor pela inteligência especial do ganhador ou por sua habilidade? Se não há nada disso, não devo pôr nisso o meu coração.

Em Mat. 7.12, Jesus diz: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas” . Ao casar dinheiro, neste caso, eu deveria desejar que todos ganhassem e eu perdesse...

ALGUNS LEMBRETES AO CRENTE SOBRE OS BENS MATERIAIS

Prov. 10.22  “A bênção do Senhor é que enriquece e não acrescenta dores”;

 

O varão justo do Salmo 1, que tudo quanto faz prospera;

 

Não é querendo enriquecer para este mundo – a parábola do rico insensato (Luc.12.3-21);

 

Não ajunteis tesouros na terra ( Mat. 6.19-20);

 

O Senhor sabe o que precisamos (Mat. 6.31-34);

 

Não importa quão sagrada seja a coisa, se ela for adquirida por meios ilícitos jamais poderá trazer bênção ao seu possuidor (I Samuel 5.1-12).

Diante de todas essas informações, passo a ver as diversas modalidades de jogos de azar como proibidas ao crente. É claro que isso é uma questão pessoal de cada um. Mas diante tudo isso, como fica o testemunho de um crente que sempre faz sua “fezinha”? E como fica a consciência de um irmão que joga e sabe de todos os efeitos negativos do jogo em milhares de famílias. Certamente fica pelo menos estranho uma igreja do Senhor aceitar o dízimo proveniente de tais atividades.

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