O Valor da Memorização das
Escrituras
Vamos dar atenção a algumas razões básicas para se fazer um
depósito interior das Escrituras em nosso coração e mente.
Em primeiro lugar, devemos memorizar as Escrituras porque
Deus nos ordena a fazê-lo.
Deus falou ao seu povo no Monte Sinai, do meio do fogo, e o
povo respondeu, dizendo: “Eis aqui o Senhor, nosso Deus, nos fez ver a sua
glória e a sua grandeza, e ouvimos a sua voz do meio do fogo; hoje, vimos que
Deus fala com o homem, e este permanece vivo” (Dt 5.24).
O povo percebeu que o grande e glorioso Deus se expressa em
palavras que podem ser compreendidas.
Logo depois, Deus disse: “Estas palavras que, hoje, te ordeno
estarão no teu coração” (Dt 6:6). Deus explicou ainda que deveriam dedicar o
esforço necessário para colocar suas palavras no coração deles: “Ponde, pois,
estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma; atai-as por sinal na
vossa mão, para que estejam por frontal entre os olhos” (Dt 11.18).
Deus especificamente nos ordena a memorizar sua Palavra para
que esta esteja no nosso coração. Esta é sua vontade e seu plano para nós. Não
podemos escapar disso. Não ousamos dizer-lhe: “Não tenho tempo”, ou “Não
consigo memorizar”.
A segunda razão por que devemos memorizar as Escrituras, é
que simplesmente não podemos realmente “viver” sem isto. Em Deuteronômio 8,
lemos como Deus trata com seu povo, como o disciplina, como o humilha e o
exalta, a fim de que soubesse “que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o
que procede da boca do Senhor viverá o homem” (Dt 8.3).
De fato, podemos existir sem a sua palavra, mas não podemos
“viver” sem ela.
Por Que Memorizar?
Já que temos a Palavra de Deus convenientemente impressa num
livro que podemos carregar conosco para onde quer que formos, por que é
necessário gastar todo o esforço que faz parte da memorização? De fato,
lembro-me de como um pregador conhecido, certa vez, anunciou diante de uma
grande audiência que não tinha costume de memorizar as Escrituras. Justificou-o,
fazendo comparação ao horário de partida de uma passagem de trem.
“Por que hei de memorizar o horário do trem, quando tenho a
passagem no meu bolso?”, ele perguntou, cheio de razão.
Entretanto, não está escrito: “Escondi o horário do trem no
meu coração, para eu não pecar contra ti”!
O horário do trem pode ser necessário para nós durante cinco
minutos ou mais durante a semana, mas a palavra do Deus vivo é urgentemente
necessária durante 10.080 minutos por semana, e se a tivermos no coração e na
mente, nos estará acessível instantaneamente e a todo tempo.
Sim, de fato, leia a Palavra de Deus diariamente, medite
nela diariamente, e seu espírito será exposto diariamente ao coração e à mente
de Deus.
Ainda mais proveito será adquirido quando se pesquisa
e estuda as Escrituras seguindo algum método sistemático. Martinho
Lutero comparava o estudo da Bíblia a apanhar maçãs. Primeiro sacode-se a
árvore inteira – ou seja, leia a Bíblia de capa a capa, como se lê qualquer
outro livro. Depois sacode-se cada galho individualmente, estudando livro por
livro. Em seguida, sacode-se os ramos menores, dando atenção a cada capítulo.
Finalmente, sacode-se cada broto dos galhos, estudando cuidadosamente os
parágrafos e frases, e há de ser grandemente recompensado aquele que olhar embaixo
de cada folha, buscando o significado de cada palavra.
Ao estudar a Palavra, não estamos buscando eloqüência, e sim
a verdade; não queremos argumentos sagazes, porém a vida; e acima de tudo,
ansiamos encontrar a Pessoa de Cristo nas páginas sagradas.
E a maneira mais eficaz de assimilar a Palavra de Deus é pela
memorização. Assim, não será um acontecimento passageiro, como um visita que
passa uma hora e já vai embora para seguir seu caminho; pelo contrário, a
Palavra de Deus é convidada a permanecer em nós, a se estabelecer em nós, a
fazer sua morada na nossa alma interior e a habitar nos recessos mais profundos
do nosso ser.
A Justificativa
Por que eu deveria memorizar a Escritura?
Há alguns anos, uma pessoa com cargo elevado numa denominação
cristã escreveu-me uma carta sobre o assunto de memorização das Escrituras.
Disse que muitos dos seus membros estavam sugerindo que se estimulasse mais a
memorização das Escrituras, mas que ainda não tinham nem ao menos uma
justificativa de motivos elaborada para isto. Perguntou se eu tinha tal
justificativa e se podia passar-lhe um fundamento para memorização, do ponto de
vista bíblico, educativo, e psicológico.
Fiquei bastante chocado e entristecido por ver que um líder
tão proeminente de um grupo tão grande de cristãos nem soubesse dizer qual o
valor ou as razões básicas por que se deve memorizar as Escrituras. Mas desde
então, tenho constatado que tal situação não era um caso isolado, mas é bem
mais geral do que gostaríamos de imaginar.
Orei, e ponderei bastante sobre a melhor maneira de responder
a este homem, e depois de alguns dias escrevi-lhe mais ou menos assim: “Com o
risco de ser um tanto simplista, posso lhe dizer que de fato temos uma
justificativa para a memorização das Escrituras, e que a mesma foi estabelecida
pelo próprio Deus há muito, muito tempo. É a seguinte: 1) A tua palavra
– este é o ponto de vista bíblico. É a Palavra de Deus, infalível e eterna, com
que estamos lidando. 2) Escondi no meu coração – esta é a parte
educativa ou disciplinar da questão. Exige-se um esforço verdadeiro para
guardar a Palavra de Deus na mente e no coração, mas é extremamente proveitoso.
3) Para eu não pecar contra ti (Sl 119.11) – aí está o aspecto
psicológico ou espiritual da questão.”
Concluí a carta dizendo: “Tua palavra – é a melhor possessão; escondi no meu coração - este é o melhor lugar; para eu não pecar contra ti – este é o melhor
propósito.”
Memorizamos as Escrituras porque são as palavras vivas de
Deus. Desejamos ter suas palavras nas nossas mentes, a fim de saber em cada
encruzilhada da nossa vida qual a sua vontade para nós.
Uma razão por que as pessoas não levam a Palavra de Deus
muito a sério é que questionam a veracidade de Deus, como o fez Satanás
primeiro em Gênesis 3.1: “É assim que Deus disse?”.
A Bíblia é um livro milagroso! Veio sobrenaturalmente através
de revelação divina (1 Co 2.10). Deus moveu sobre certos homens chamados
apóstolos e profetas de um modo especial, e mostrou-lhes sua vontade e
palavras. Escreveram estas palavras “...não em palavras ensinadas pela sabedoria
humana, mas ensinadas pelo Espírito” (1 Co 2.13).
Paulo nega a idéia de que os homens tenham colocado os
pensamentos de Deus nas suas próprias palavras, ou em palavras sugeridas por
conhecimento humano. E Pedro o confirma quando diz: “Homens santos
falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21). A Bíblia
veio para nós da parte de Deus.
A Bíblia é superior a todos os demais escritos. Sua
excelência é infinitamente superior, assim como “os céus são mais altos do que
a terra” (Is 55.9). Os próprios autores inspirados se maravilhavam da sua
incalculável grandeza. “Quão grandes, Senhor, são as tuas obras! Os teus
pensamentos, que profundos!” (Sl 92.5).
“Como telescópio, a Bíblia alcança além das estrelas, e
penetra as alturas do céu e as profundidades do inferno. Como microscópio,
revela os detalhes mais minuciosos do plano e propósito de Deus, como também os
segredos escondidos do coração humano” (L. S. Chafer).
Portanto, a Palavra age com eficácia quando é recebida e
apropriada pessoalmente como aquilo que é: a verdadeira Palavra de Deus ( 1 Ts
2.13). Um famoso cirurgião e também defensor infatigável da Bíblia como a
Palavra infalível de Deus, Dr. Howard Kelly, descreveu a realidade prática do
seu ponto de vista da seguinte forma: “A Bíblia tem um atrativo especial para
mim, como médico, pois é um remédio sobremodo excelente; nunca deixou de curar
um paciente sequer, desde que fosse tomado fielmente de acordo com a sua
receita. No campo de tratamento espiritual é precisamente aquilo que tanto
gostaríamos de encontrar para nossos males físicos: um remédio universal.”
A Palavra de Deus é
Indispensável
Deus quer que reconheçamos que sua Palavra não só é importante,
mas também totalmente indispensável em cada área da nossa vida (Dt 8.3).
Deus pretende que o crente viva pela Palavra diariamente e a
cada momento. Sua vida interior deve ser sustentada por ela; suas atividades
guiadas por ela. Em cada circunstância a palavra vivificadora de Deus deve ser
seu conforto e consolação. Carregado de tristeza por causa das suas perdas e
desilusões com os amigos, Jó encontrou consolo e sustento na Palavra de Deus, a
respeito da qual ele disse: “As palavras da sua boca prezei mais do que o meu alimento”
(Jó 23.12).
A Palavra de Deus é essencial para nos guardar do fracasso (Js 1.8). A revelação de Deus não
deve ser apenas tratada com alta estima, mas deve estar continuamente no nosso
coração e nos nossos lábios, durante todo o dia e durante as horas da noite
também. O homem cujo “prazer está na lei do Senhor”, de tal forma que medita
nela “de dia e de noite”, será como “árvore plantada junto a corrente de
águas”, crescendo e florescendo, e “tudo quanto ele faz será bem sucedido” (Sl
1.2,3).
“Os homens nunca são realmente habilidosos”, dizia Calvino,
“exceto na medida em que se permitem ser governados pela Palavra de Deus.”
A Palavra de Deus é essencial para nos guardar do erro (Mt 22.29). Os saduceus erravam,
Cristo dizia, por duas razões: 1) Não conheciam as Escrituras; 2) Subestimavam
seriamente o poder de Deus. Sabiam argumentar e filosofar brilhantemente a
respeito das questões da vida no céu, mas estavam errados porque não percebiam
o significado das Escrituras do Velho Testamento.
A Palavra de Deus é essencial para nos guardar do pecado (Sl 119.11). A palavra que ilumina
deve ser entesourada no nosso coração a fim de ser uma fonte de poder e vida no
interior. Em outro lugar o salmista disse: “No coração, tem ele a lei do seu
Deus; os seus passos não vacilarão” (Sl 37.31).
Todo dia precisamos deixar a Palavra de Deus sondar os
recessos mais profundos do nosso ser, a fim de descobrir o mal escondido lá
dentro, de encontrar cada falha, e de restringir cada tendência de praticar o
mal. “Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande
recompensa” (Sl 19.11). A Palavra de Deus constantemente na mente e no coração
é a proteção mais eficaz que existe, tanto para nossas motivações como para
nossas ações.
A Palavra de Deus é essencial para nos guardar de crescimento
mirrado ou raquítico (1
Pe 2.2). Onde não houver um coração que anseia pelo leite divino, logo virá
declínio espiritual, o que resulta em crescimento espiritual raquítico. A
Palavra, como leite, é alimento nutritivo, e é gostoso ao paladar; por ela
crescemos, e provamos a graciosidade de Deus.
Vivemos numa época em que Bíblias são acessíveis por todas as
partes, e ao mesmo tempo, há por toda a terra, como Amós profetizou, “fome...
não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor” (Amós 8.11).
O homem parece não ouvir a bendita Palavra de Deus
dirigindo-se às profundezas da sua vida; antes, vai seguindo seu próprio
caminho, irrequieto, vagando de mar a mar, almejando algo novo, uma nova
sensação, sem ouvidos para a voz do céu. Como é extremamente necessário para o
homem aceitar a autoridade da lei de Deus, e submeter-se ao domínio soberano do
Espírito Santo na sua vida!
Este é o convite e a súplica de Deus naquela chamada
dramática do profeta Jeremias: “Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do
Senhor!” (Jr 22.29).
N. A. Woychuk
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