O Espírito Santo na
Igreja
A obra do Espírito Santo é tão necessária quanto a obra de Cristo. Talvez isto
surpreenda você. Mas Jesus diz: ‘É necessário que eu vá: pois se eu não for, o
Consolador não virá para vós outros’ (João 16.7). Isto seria um desastre
terrível. O ministério do Consolador é essencial. Nos tempos do Velho
Testamento a vinda de Cristo era prometida e era intensamente antecipada. E
quando Ele por fim veio, prometeu e ensinou o Seu povo a ansiar a vinda do
Espírito. Tendo morrido pelos pecados do Seu povo e assim tendo satisfeito as
exigências da justiça divina, Jesus ressuscitou ao terceiro dia, ascendendo aos
céus no quadragésimo dia após a Sua ressurreição, enviando o Espírito Santo dez
dias depois.
A vinda do Espírito
prova que Cristo completou gloriosamente a Sua obra redentora. O Espírito
continua e aperfeiçoa a obra de salvação que Cristo iniciou. Ele assim o faz
como o braço de Cristo.
João Batista disse:
"Eu na verdade batizo com água para arrependimento, porém Aquele que vem
após mim é mais poderoso do que eu. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com
fogo" (Mat. 3.11). A maioria dos estudos sobre a obra do Espírito trata da
sua atividade como indivíduo. A Bíblia, no entanto, vai além da abordagem
(atomística) em partes e fala também da obra corporativa do Espírito Santo e é
disto que gostaríamos de tratar neste artigo.
1. O Espírito na Origem da Igreja
Em certo sentido a Igreja já existia no Velho Testamento. Estevão fala da
‘igreja no deserto’ (Atos 7.38). A Igreja consiste no povo de Deus, nascido de
novo do Espírito, e salvo pela fé no Messias. Nos tempos do Velho Testamento
assim como no Novo, o Espírito aplica a redenção comprada por Cristo aos
indivíduos. Existe a Igreja exterior, Israel, e existe a igreja invisível, o
verdadeiro Israel, entre os quais não há hipócritas.
Ainda assim algo
especial aconteceu no dia de Pentecostes. Naquele dia começou a era do
Espírito, e nasceu a Igreja do Novo Testamento, uma Igreja para o mundo
inteiro. O ministério público de Jesus foi inaugurado com o Seu batismo com o
Espírito. Da mesma forma os seus discípulos têm de esperar até que recebam o
batismo do Espírito, que os fará uma Igreja poderosa pronta para ministrar para
Deus no mundo. O Espírito veio naquele dia como um som de um vento impetuoso,
línguas como fogo pairavam sobre os fiéis, e novos poderes a serem comunicados
em línguas estranhas lhes foram dados.
O povo de Deus se
tornou uma Igreja que fervia para o Senhor, corajosa, sábia, poderosa e zelosa.
Pecadores eram convencidos dos seus pecados e convertidos em larga escala;
3.000 no primeiro dia. Jesus disse "Ele fará obras ainda maiores que
estas" (João 14.12), e agora esta difícil palavra de Cristo se torna
clara, ao serem muito mais pessoas convertidas do que com a pregação de Cristo.
A parábola do grão de mostarda se torna uma realidade quando um pequeno grupo
de seguidores se torna uma grande Igreja. O ingrediente vital neste
desenvolvimento espetacular é o derramar do Espírito. Apesar de Ele ter trabalhado
na Igreja do Velho Testamento, era de uma forma muito mais limitada e restrita.
Havia poucos fora de Israel aos quais vinha a graça de Deus. Mesmo em Israel,
obviamente, muitos eram não regenerados. Agora, no entanto, Cristo havia
morrido, a redenção foi consumada, o dom do Espírito havia sido dado e a Igreja
do Novo Testamento começa, equipada para sua grande tarefa de evangelizar o
mundo e preparar o povo de Deus para a glória.
2.
O Espírito Santo Equipa a Igreja
Que diferença a vinda do Espírito fez no dia de pentecostes! Os fracos,
confusos e amedrontados se tornaram poderosos e destemidos pregadores. Nos
tempos do Velho Testamento o Espírito equipou indivíduos para várias tarefas:
juízes para julgar (Juízes 6.34); reis para governar (1 Sam. 10.9-10); profetas
para profetizar (Ezequiel 2.2); Bezalel construiu o Tabernáculo (Ex. 31.3) etc.
No Novo Testamento o Espírito é dado à Igreja, Ele equipa crentes
individualmente para sua função dentro do grupo.
A Igreja toda é
comparada a um corpo e os indivíduos são membros ou partes diferentes deste
corpo. "A um é dada pelo Espírito a Palavra de sabedoria; a outro, a
palavra de conhecimento pelo mesmo Espírito", etc (1 Cor. 12.8-9). O
Espírito (1Cor 12.11) assegura que a Igreja está plenamente equipada para sua
tarefa. Os dons extraordinários passaram, pois o Senhor não os vê mais
necessários para a Sua Igreja, mas tudo que se requer para o bem da Igreja é um
evangelismo de sucesso eficaz.
Paulo nos diz que
Cristo, tendo ascendido aos céus, "deu uns para apóstolos; e outros para
profetas; e outros, como evangelistas; e outros, como pastores e mestres; para
o aperfeiçoamento dos santos, para o trabalho do ministério, para a edificação
do corpo de Cristo" (Ef 4.11-12). Ele o faz dando o Seu Espírito no dia de
pentecostes. O Espírito dá a indivíduos os dons necessários, que eles precisam
para cumprir o papel vital dentro do corpo.
3. O Espírito Santo Ensina a Igreja
"Toda Escritura é dada por inspiração divina" (1 Tim 3.16).
"Homens santos de Deus falaram ao serem movido pelo Espírito Santo"
(2 Pe 1.21). Deste modo as Escrituras são o produto do Espírito por meio do
qual Ele ensina a Igreja. No entanto, o Espírito não apenas dá a Bíblia, mas
também abre mentes e corações às suas verdades. Deus dá à Sua Igreja o
"espírito de sabedoria e revelação no seu conhecimento: tendo sido
iluminados os olhos do vosso entendimento" (Ef 1.11-18). Jesus declara:
"O Espírito da verdade vos guiará a toda a verdade..., há de receber o que
é meu e vo-lo há de anunciar" (João 16.13-15); "... e vos fará
lembrar de tudo o que vos tenho dito" (Jo 14.26); "... esse dará
testemunho de mim" (Jo 15.26). O Espírito certifica a Igreja da verdade
das Escrituras. Ele nos capacita a dizer "Abba, Pai" (Rom 8.15). João
afirma sobre o povo de Deus: "Vós tendes a unção do Espírito Santo e
sabeis todas as coisas."
Se cada crente
individualmente soubesse todas as coisas, não haveria a necessidade de ter
pastores ou comentários da Bíblia. Este versículo deve estar falando da Igreja
coletivamente. O corpo de Cristo como um todo e em todas as épocas não precisa
de alguém de fora para ensiná-lo. Tudo o que ele precisa saber está na Bíblia,
e o Espírito ajuda a Igreja a entendê-la. O Espírito guiou a noiva de Cristo
através de várias controvérsias, trinitarianas, cristológicas, etc. A Igreja
hoje não deve ignorar o que ela aprendeu no passado, mas sim, construir sobre o
que aprendeu. Louvamos a Deus por Ele ter dado um grande mestre à Igreja.
4.
O Espírito Santo Governa a Igreja
Cristo é o cabeça e Rei da Igreja. Cristo, porém, está nos céus. É através do
Seu Espírito que Ele governa a Igreja. O Espírito dá dons e equipa indivíduos
para ofícios e guia a Igreja para que aponte tais indivíduos. Quando os
profetas e mestres de Antioquia ministraram e jejuaram ao Senhor, "o
Espírito Santo disse: Separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os
tenho chamado" (At 13.2). Dirigindo-se aos presbíteros de Éfeso, Paulo
disse: "Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo
vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus" (At 20.28). O
Espírito também está guiando ativamente o desenvolvimento da obra. Paulo numa
certa altura "tendo sido impedido pelo Espírito Santo de pregar a palavra
na Ásia; defrontando Mísia tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus
não o permitiu" (Atos 16.6-7).
Foi da vontade do
Espírito que o Evangelho fosse pregado na Europa. O Espírito governava e guiava
a Igreja naqueles dias de maneira sobrenatural. Hoje em dia Ele trabalha
através da Bíblia, da providência e dos pensamentos do seu povo ao orarem
pedindo direção. O Espírito também é ativo no exercício da disciplina da
Igreja. "O que ligardes na terra será ligado nos céus... pois onde
estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles"
(Mateus 18.19-20). Nós ligamos esta "presença" em primeiro lugar ao
culto, mas a sua primeira referência é à disciplina.
5.
O Espírito Unifica a Igreja
O movimento ecumênico
tenta unir as igrejas, mas o melhor que ele consegue é apenas uma unidade
organizacional, que apenas "passa um verniz" sobre as verdadeiras
diferenças. O Espírito, no entanto, verdadeiramente, une todos os cristãos em
uma só Igreja. Nesta Igreja não existem hipócritas. A entrada é através de
Cristo, a porta. O Espírito trabalha do lado de fora desta união trazendo as
pessoas para dentro de maneira irresistível. "Quem não nascer da água e do
Espírito não pode entrar no reino de Deus" (João 3.5). Este novo
nascimento ou regeneração acontece quando o Espírito entra no indivíduo e,
habitando nele, assim como ressuscitando-o de um estado de morte espiritual,
une-o a Cristo. Estando todos unidos a Cristo, assim estamos também unidos uns
aos outros. "Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um
corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi
dado beber de um só Espírito" (1 Cor 12.13).
Assim como "o
corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros , sendo muitos, constituem
um só corpo, assim também com respeito a Cristo" (1 Cor 12.12). Esta
unidade que o Espírito produz não é uma unidade mental, mas sim uma unidade
real. É uma unidade mística tal como a da Trindade. Jesus ora por esta unidade
dentro da Sua Igreja: "que eles sejam um, assim como nós somos um"
(João 17.11). Por causa desta unidade essencial, os cristãos devem tentar
"esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no
vínculo da paz. Há somente um corpo e um Espírito" (Ef 4.3-4). Indivíduos
dentro da Igreja "como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual"
(1 Pe 2.5), "uma habitação de Deus por meio do Espírito" (Ef 2.22).
Unidade verdadeira unifica a Igreja invisível e os cristãos têm o dever de dar
expressão visível disto ao buscarem unidade profunda na vida e na doutrina.
6.
O Espírito Capacita a Igreja a Cultuar
O culto corporativo é
parte vital da vida da Igreja. Como cristãos nós devemos cuidar para que
"não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns" (Hb 10.25).
Nesta reunião Cristo está presente através do Seu Espírito (Mat.18.20). A congregação
confessa a Cristo. "Ninguém pode dizer: Senhor Jesus! Senão pelo Espírito
Santo" (1 Cor. 12.3). O louvor é parte fundamental do culto. O material a
ser cantado é descrito como "cânticos espirituais", isto é, cânticos
inspirados pelo Espírito (Ef 5.19). A oração também é essencial ao culto. Ela
deve ser sempre "no Espírito" (Ef 6.18), de outra forma Deus não vai
entendê-la. O papel do Espírito no culto congregacional é expresso por Paulo
nas seguintes palavras: "Orarei com o Espírito, mas também orarei com a
mente; cantarei com o Espírito, mas também cantarei com a mente" (1 Cor
14.15). Deste modo "se tu bendisseres apenas em Espírito" e o indouto
presente na congregação dirá "amém depois da tua ação de tua ação de
graças" (1 Cor 14.16).
De modo semelhante a
pregação deve ser em poder, e no Espírito Santo e em plena convicção (1 Tess.
1.5). O culto é morto sem o Espírito. "A letra mata, porém o Espírito
vivifica" (II Cor 3.6).
No tempo da Reforma
havia muita discussão sobre a natureza da presença de Cristo na Ceia do Senhor.
A Igreja Católica Romana argumentava em favor da transubstanciação, isto é, que
o pão e o vinho se tornavam o próprio corpo e sangue de Cristo.
A Igreja Luterana
ensinava a consubstanciação, isto é, que o corpo de Cristo está com, sob e no
pão e no vinho. Por causa da presença corpórea de Cristo, aonde quer que o seu
povo esteja tomando parte da ceia os luteranos teriam que argumentar também em
favor da onipresença do corpo físico de Cristo, isto é, que ele pode estar
presente em mais de um lugar ao mesmo tempo, fisicamente.
A posição reformada é de que o Corpo de Cristo está nos céus e sendo humano
pode apenas estar em um lugar de cada vez. Ele está presente na mesa do Senhor
através do Seu Espírito. O Espírito Santo é quem nos capacita a louvarmos a
Deus de maneira aceitável como congregação do seu povo.
7.
O Espírito Santo na Evangelização
Antes de subir aos céus Cristo deixou a grande comissão com a Sua Igreja:
"Ide portanto e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas
que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação
do século" (Mat. 28.19-20). Cristo prometeu estar sempre com a Sua Igreja.
Ele estava subindo aos céus. A única maneira pela qual Ele pode estar presente
é pelo Seu Espírito. No relato dado no livro de Atos Ele diz para que os
discípulos não se ausentem de Jerusalém, mas que "esperassem a promessa do
Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com
água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes
dias" (At 1.4-5). A grande missão de evangelizar o mundo só poderia ser
assumida com o poder do Espírito Santo. Quando Ele veio no dia de pentecostes,
três mil almas foram convertidas. O "vermezinho de Jacó" trilhará os
montes, e reduzirá os outeiros a palha (Isa. 41.14-15).
O Espírito Santo
convence os homens do pecado, da justiça e do juízo vindouro (João 16.8).
"O vento sopra onde quer" e quando ele toca nas pessoas, levanta-as
dos mortos (João 3.8). Os Tessalonicenses se voltaram dos ídolos para servir o
Deus vivo e verdadeiro. "...porque o nosso evangelho não chegou até vós
tão-somente em palavra, mas sobretudo em poder, no Espírito Santo e em plena
convicção" (1 Tess. 1.5). Cristo disse: "E sobre esta pedra
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra
ela" (Mateus 16.18). Ele faz isso por meio do Espírito Santo, que é vital
para o programa de evangelização da Igreja.
8.
O Espírito Santo Reaviva a Igreja
"É claramente
observável que desde a queda do homem até nossos dias, a obra da redenção em
seu efeito tem sido levada adiante principalmente por meio de comunicações
extraordinárias do Espírito de Deus. Mesmo que haja uma influência mais
constante do Espírito de Deus sempre em alguma medida aguardando as Suas
ordenanças, ainda assim, o meio através do qual as maiores coisas têm sido
feitas no sentido de concretizar esta obra, sempre foi por meio de efusões
extraordinárias em períodos especiais de misericórdia." Esta foi a
conclusão de Jonathan Edwards (História
da Redenção, Período I, parte 1).
Num reavivamento, uma
Igreja seca e sem vida é despertada. O Espírito Santo traz novo arrependimento,
oração e zelo. Deste modo ele reanima os membros que esmorecem e às vezes
realmente começa um fogo (como de uma floresta em chamas). O Espírito é
entristecido pelo pecado. Ele retira a Sua presença por causa dos ídolos,
materialismo, mundanismo e falta de oração que vê na Igreja. Ele permanece fora
até que o povo de Deus se arrependa. Nós não nos arrependeremos até que Ele
volte como o Espírito da graça e de súplicas (Zacarias 12.10). Aí, sim, a
Igreja de fato se arrepende e experimenta "a vida após ter estado morta"
que é a essência do verdadeiro reavivamento (Rom. 11.15). Os cristãos são
separados do mundo. A evangelização se torna efetiva. O temor de Deus desce
sobre comunidades inteiras.
É disto que precisamos
hoje, sem dúvida. Estamos no primeiro século desde a Reforma durante o qual não
tem havido um reavivamento de grande escala na Grã-Bretanha e no Reino Unido
(muito menos no Brasil – nota
do editor). Nosso dever é de estarmos conscientes da nossa
necessidade de que o Espírito reavive a Igreja, equipando-a para sua tarefa,
instruindo, governando, unificando o corpo e trazendo verdade ao nosso culto e
sucesso à nossa evangelização. A pregação da Palavra de Deus precisa ser
"em demonstração do Espírito e de poder".
por
William Macleod
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