PRAZER VERSUS SATISFAÇÃO
Vivemos numa
sociedade saturada, obcecada pelo prazer. Penso que ninguém ficará admirado com
semelhante constatação. Basta darmos uma olhada na publicidade e nos programas
de televisão. Tudo gira em torno do divertimento e da distração. O que é que
isto está a provocar e vai continuar a provocar pode ser motivo de especulação,
bem como as razões que estão na origem de semelhante corrida. O fenômeno nem
sequer é novo e já em outros momentos de civilização e cultura atingiu
dimensões que ainda nos deixam estonteados e dos quais estamos relativamente
perto ou longe, depende do ponto de vista.
Quando o
homem se vê apenas como um produto da matéria, do tempo e do acaso, como uma
paixão inútil (no dizer de Sartre), como um vôo cego do nada para o nada, cujo
destino se encerra na morte, não é de estranhar que o lema da vida passe a ser
conforme o dito popular que encontramos na pena do apóstolo Paulo quando aborda
a questão da negação da ressurreição de Cristo: comamos e bebamos que amanhã morreremos.
Se não existe mais nada do que a tumba e o silêncio não admira que a cultura mergulhe
freneticamente na busca do prazer sem pesar sequer as conseqüências para a
saúde das suas folias e paixões, porque se há que morrer mesmo e depois disso
nada há então que se viva o mais intensamente possível, mesmo que a morte
esteja ao virar da esquina e até o sofrimento acompanhá-la.
Esta busca
desenfreada do prazer não pode ser tratada e explicada superficialmente porque
as suas raízes mergulham no mais profundo da identidade e condição humana, na
sua cosmovisão, no que é que ele pensa sobre as suas origens, o significado e
sentido do seu presente e o propósito do seu futuro. Se a morte é certa e nada
existe depois dela então o lema torna-se a vida são dois dias e o carnaval são
três.
Nesta
correria louca descobre-se a fome da alma humana que de formas diversas se
procura saciar.
Essa fome
tem que ver com a nossa identidade, auto estima, realização, satisfação e
bem-estar.
Como James
Houston escreve nos agradecimentos da sua obra A Fome da Alma: Se procurarmos
descobrir o que o nosso coração deseja verdadeiramente, talvez passemos a
ansiar por coisas que nos satisfaçam mais. (...) Acredito que os seres humanos
não sejam apenas uma paixão inútil (como Jean-Paul Sartre nos via) que se
consome na luta para encontrar sentido no isolamento.
O prazer não
dá satisfação, muitas vezes aumenta a insatisfação e exige cada vez mais um
estímulo e freqüência maior acabando em vício. Vício gera mais vício. Neste aspecto o prazer
tende a tornar-nos dependentes. Quando o prazer cessa é substituído pela
melancolia.
O prazer é efêmero,
enquanto dura excita as emoções, depois de passar produz um estado de vazio.
Muitas vezes o prazer torna-se uma fuga e um escape à condição humana, perante
a realidade da vida e dos seus objetivos últimos, um tentar contornar as
grandes questões que ela nos coloca no que diz respeito à sua finalidade.
Outras vezes gera a ilusão do que se gostaria de ser e funciona como resposta a
uma baixa auto-estima e uma identidade defeituosa. Por isso o prazer gera a
ilusão de se ter alcançado o que se procura e se não tem.
O prazer
compra-se. São de James Houston os seguintes pensamentos: Já se tornou chavão
em nossos dias dizer que somos uma "sociedade de consumo". Nós do
Ocidente, um décimo da população do mundo, consumimos mais de dois terços dos
recursos do planeta, somos consumidores de facto! Muitos de nós fomos criados
acreditando que ter mais é melhor e que, quanto maior, melhor. (...) Uma parte
do "Conto de Fadas" americano está no mito de que o que nós
produzimos é mais importante do que quem nós somos, nossa identidade pessoal
única. Esse mito está muito ligado ao outro mito de que um maior número de
posses irá trazer-nos maior felicidade. A implicação disso é que as pessoas,
como indivíduos inigualáveis que podem dar e receber amor, não têm valor em si
mesmas. Considera-se que o sentido da vida está no comércio e na indústria, não
no coração e na alma dos seres humanos. O respeito pelas pessoas e suas características
singulares vem sendo destruído pelo mercado e pelo mundo da publicidade, ao
passo que a amizade, a alegria, o amor, a intimidade e a lealdade passam a ser
simples mercadorias, passíveis de serem compradas e vendidas a troco de carros
de prestígio, perfumes caros, posição social e ingressos esportivos. O comércio
e o consumismo interferem em todas as áreas de nossa vida pública e privada, em
todos os níveis de nosso comportamento consciente, até chegarmos ao cúmulo de
sermos tentados a ver nós mesmos e os outros como simples mercadorias. (...) a
vida humana é tratada como se fora um mero objeto. (A Fome da Alma; Abba Press;
pp. 14, 15) Este prazer passa pelo ter pode estar associado a auto-estima
deficiente apresentada nestes termos pelo mesmo autor: Quando as pessoas se
sentem inúteis ou indesejáveis, a dor e a depressão podem ser rapidamente
aliviadas por um prazer que se transforma num vício. O vício, portanto, poderá
começar a partir da vergonha proveniente de uma situação específica em que a
pessoa se sente constantemente desencorajada pela atitude de crítica e
condenação dos outros. (Abba Press; pp. 96)
O prazer
mexe com as emoções e com os sentimentos – a satisfação tem que ver com o ser,
com o que somos. Algumas vezes talvez a busca desenfreada do prazer mais não
seja do que a única saída para quem foi educado num sistema que remete o homem
para o absurdo, o nada, o acidente.
O prazer
desconsidera o sofrimento de ser solidário com o outro nas suas necessidades, o
amor sacrificial. Fenômenos que acompanham esta tendência têm que ver com a
maneira como hoje se tratam os idosos colocando-os em lares ou em clínicas onde
acabam os seus dias. Existe um afastamento intencional da morte! Em
contrapartida a satisfação que emerge do íntimo do nosso ser envolve-se com o
seu semelhante tanto nas suas alegrias como na sua dor, tanto nas suas
realizações e sucessos como nos seus fracassos. O prazer almeja uma
prosperidade meramente feita de coisas materiais enquanto que a prosperidade da
satisfação considera os valores espirituais e morais como prioritários e
fundamentais.
O prazer é
egoísta e gerador do egoísmo – está concentrado em si mesmo e torna a maior
parte das vezes as pessoas irresponsáveis. Veja-se o que acontece no sexo em
que se procura o prazer sem considerar a procriação e a responsabilidade que
ela implica orientando as pessoas para a defesa do aborto. Veja-se o que
acontece na defesa da eutanásia e do suicídio assistido. Veja-se até o que se
passa com salas de chuto e a liberalização da droga. Vivemos a geração do eu,
para usar um título sugestivo da revista Focus (4 Fevereiro 2001), em que os
jovens entrevistados confessavam sem relutância "somos uma geração
egoísta".
O prazer
tende a usar terceiros como meros objetos e alia-se a uma darwinismo social, econômico
e psicológico do salve-se quem puder. O prazer tende a olhar os fins como
justificadores de todos os meios. Usam-se as pessoas e depois deita-se fora
como mera mercadoria descartável. Neste sentido o prazer cega e torna
indiferente o homem, desumaniza-o. Por seu turno a satisfação descobre-se e
vivencia-se na realização do outro, na entre ajuda, na solidariedade. A
satisfação nunca pode ser alcançada a sós e isoladamente porque faz parte de um
projeto de grupo.
O prazer desconsidera
o futuro não refletindo na realidade da vida eterna enquanto que a satisfação
embora não desconsiderando o presente, perspectiva-o à luz do futuro e da
eternidade.
O prazer
tende a desvalorizar as conseqüências negativas produzidas no corpo, na mente,
no espírito, nos relacionamentos e na própria natureza. Destrói-se o meio
ambiente, compromete-se o futuro, esgotam-se os recursos, poluem-se os rios e
os mares, arrebenta-se com a camada do ozônio – tudo em prol do
desenvolvimento. Provoca-se o cancro do lábio, da garganta e dos pulmões;
aumenta-se vertiginosamente as doenças sexualmente transmissíveis e a sida;
cresce a cirrose; explodem os enfartes mas não se arrepia caminho. Razão tem a
Bíblia em dizer que o pecado é loucura e é morte. A degradação da qualidade de
vida mostra-o. Come-se o que sabe bem mas não o que faz bem. Veste-se o que
impressiona os outros e dá status e não aquilo que é razoável. Os filhos não
são uma fonte de realização e satisfação mas um empecilho que se coloca nas
mãos de uma babá eletrônica. O prazer desenfreado torna o homem cínico por um
lado e depressivo por outro.
O prazer
distrai das realidades pertinentes à existência e essência humanas. Não se
pensa sente-se. Tende a tornar-se um modo de esquecer as dificuldades da vida,
uma compensação para as debilidades e frustrações do dia a dia e mais do que
isso da própria insatisfação consigo mesmo, enfim uma forma de alienação.
Fontes de
prazer contemporâneas são o consumo, a obsessão sexual, a pornografia, a droga,
o álcool, o romantismo, o jogo, poder, fama, dinheiro, sucesso, etc.
As
qualidades morais evaporam-se e são substituídas pelo pluralismo, pelo
relativismo e pela privatização. O caráter e a integridade são menosprezados,
como recentemente dizia uma apresentadora de televisão "Quem tem ética
passa fome" (Teresa Guilherme – Pública, 14 Março 2001)
Dorothy
Sayers, teóloga e romancista britânica, faz eco dos mesmos sentimentos no
título do seu ensaio Creed ou chaos ("Credo ou caos"). O credo do
modernista põe a descoberto a sua bancarrota. Ninguém diz isto melhor do que
Steve Turner, jornalista inglês, em Creed ("Credo"), seu poema
satírico sobre a mentalidade moderna:
Cremos em
Marxfreudedarwin.
Cremos que
tudo está bem,
desde que
você não prejudique ninguém,
quanto você
possa definir prejudicar,
e quanto
você possa saber.
Cremos no
sexo antes, durante
e depois do
casamento.
Cremos na
terapia do pecado.
Cremos que o
adultério é uma brincadeira.
Cremos que a
sodomia é correta.
Cremos que
os tabus são tabus.
Cremos que
tudo está ficando melhor,
apesar da
evidência contrária.
A evidência
precisa ser investigada,
e não se
pode provar nada com evidência.
Cremos que
há algo nos horóscopos,
nos OVNIs e
nas colheres entortadas;
Jesus era um
bom homem, como Buda,
Maomé e nós
mesmos.
Ele foi um
bom Mestre de moral, embora achemos
que o seu
bom ensino moral era nocivo.
Cremos que
todas as religiões são basicamente a mesma coisa
- pelo menos
aquela sobre a qual lemos.
Todas elas
crêem no amor e na bondade.
Só divergem
nas questões da criação,
do pecado,
do céu, do inferno, de Deus e da salvação.
Cremos que
após a morte vem o nada,
porque,
quando você pergunta aos mortos o que acontece,
eles não
dizem nada.
Se a morte
não é o fim, se os mortos mentiram,
Então o céu
é compulsório para todos,
exceto,
talvez,
Hitler,
Stalin e Genghis Khan.
Cremos em
Masters e Johnson.
O que se
seleciona é a média.
O que é a
média é normal.
O que é
normal é bom.
Cremos no
desarmamento total.
Cremos que
há elos diretos entre a guerra e o derramamento de sangue.
Os americanos
deveriam fundir as suas armas e transformá-las em tratores,
E certamente
os russos os imitariam.
Cremos que o
homem é essencialmente bom.
É somente o
seu comportamento que o faz cair.
É culpa da
sociedade.
A sociedade
é o defeito das condições.
As condições
são o defeito da sociedade.
Cremos que
cada homem deve descobrir a verdade
que é certa
para ele.
Conseqüentemente,
a realidade se adaptará.
O universo
se reajustará.
A história
mudará.
Cremos que
não há verdade absoluta,
exceto esta:
Não há verdade
absoluta.
Cremos na
rejeição dos credos,
E no
florescer do pensamento individual.
E então o
poeta acrescenta este pós-escrito chamado "Acaso":
Se o acaso
é o Pai de
toda a carne,
a desgraça é
o seu arco-íris no céu,
e quando
você ouvir:
Estado de
Emergência!
Atirador
Mata Dez!
Tropas
Avançam com Violência!
Brancos Vão
à Pilhagem!
Bomba
Explode Escola!
É apenas o
ruído do homem
adorando o
seu criador.
Com certeza,
a esperança do ateísmo move-se inexoravelmente para um caos destituído de
credo.
Nos calcanhares
do Iluminismo, o existencialismo estava esperando para nascer. A paixão
tornou-se moda, e a decência "o vento levou". Quando o
existencialismo se desgastou, os "desconstrucionistas" desmantelaram
tudo o que restava. O livro de Colin Gunton, que segue o existencialismo até o
seu fim último, intitula-se pertinentemente Enlightenment and alienation
("O Iluminismo e a alienação"). Não resta nenhum ponto de referência
moral que seja coerente e logicamente prescritivo.
Este é o
primeiro ponto de colapso, quando se tenta viver sem Deus. As ramificações são
terríveis.
(Pode o
Homem Viver Sem Deus?; Ravi Zacharias; Mundo Cristão; pp. 69)
O prazer
acaba por fomentar uma atitude moral hedonista. Vive-se em função do que dá
prazer e considera-se certo e bom tudo o que dá prazer. O hedonismo anda de
mãos dadas com o relativismo desdenhando de princípios e valores universais,
imutáveis e eternos. Acaba por traduzir o lema a que Paulo se refere na sua
carta aos cristãos em Corinto quando discorre sobre a ressurreição: comamos e
bebamos que amanhã morreremos. O hedonista desdenha da eternidade procurando na
vida presente tudo o que deseja. Fazemos aqui referência a estudo muito
interessante realizado por James Houston e publicado no seu livro A fome da
Alma, em que a dado passo refere: Podemos criticar Freud por ter exagerado o
que ele chamou de "Princípio do Prazer", mas é certo que este
constitui elemento vital na formação de qualquer vício. Da mesma forma que a
matéria é puxada para baixo pela gravidade, assim também os seres humanos
gravitam na direção daquilo que é prazeroso. Ouvimos freqüentemente o
comentário: "Eu tenho o direito de me divertir, não é mesmo?". Há
ainda a força de nossa própria vontade, manifesta em discussões acaloradas:
"Não é da sua conta! Posso fazer o que eu quiser!". Para reforçar
esse viés primário, temos ainda o "Viés Egoístico", que é o de
"cuidar do Número Um", isto é, do nosso próprio interesse. (Abba
Press; pp. 73,74)
Neste
trabalho o auto faz uma análise de algumas obras literárias em que o tema do
prazer e do vício são tratados. Citamos do seu estudo na obra de Dostoievski "Os
Irmãos Karamazov", as palavras do Padre Zossima para Fiodor (grosseiro,
cruel e cínico... que se comporta como um refém inconsciente de seus próprios
vícios: álcool, sexo e dinheiro): Não se envergonhe tanto de si mesmo, pois aí
está a raiz de todo o mal (...) Acima de tudo, não minta para si mesmo. Aquele
que mente para si mesmo e ouve suas próprias mentiras acaba não sendo capaz de
discernir a verdade em si próprio ou naqueles que o cercam, passando assim a
desrespeitar a si mesmo e aos outros. Se é incapaz de respeitar alguém, cessará
de amar e, se não tiver amor, se entregará a paixões e prazeres grosseiros para
encher o tempo e distrair-se. Seus vícios o levarão à animalidade completa,
tudo isso em decorrência de ter mentido continuamente para os outros e para si
mesmo." (Abba Press; pp. 84)
Neste
sentido o prazer impede-nos de atingir as raízes do nosso ser e do que ele
requer em termos da nossa condição, para vivermos em plenitude e em abundância. Jesus Cristo
cuja vida radica e parte do ser, declara: eu vim para dar vida, e com
abundância. (João 10:10; versão: O Livro - A Bíblia para Hoje)
A satisfação
tem que ver com o que somos antes de tudo o mais, o fazer é uma mera conseqüência
que pode ou não contemplar o ter.
Só Aquele
que nos criou verdadeiramente nos pode satisfazer, porque só Ele sabe quem
somos. Só o Criador pode satisfazer a sede da nossa alma. Só o que de si mesmo
disse Eu sou... pode lidar com o nosso ser.
Ser em
Cristo é a única maneira de estarmos satisfeitos porque encontramos o nosso
lugar.
Agostinho
exprimiu esta realidade nestes termos: o Senhor nos fez para si e nosso coração
não encontra paz enquanto não descansar nele. Só n’Ele estamos completos, ou
seja só Ele nos completa. Somos tão grandes que só Deus nos pode encher. É por
isso que o rei Davi escreve no Salmo 8: Ó Senhor nosso Deus, a grandeza e a
honra do teu nome transborda dos céus e enche toda a Terra. Tu ensinaste as criancinhas
a louvar-te perfeitamente, para que o exemplo delas envergonhe e reduza a
silêncio os teus inimigos! Quando de noite contemplo os céus e vejo a obra dos
teus dedos, a Lua e as estrelas que fizeste, pergunto: Quem é o homem, para que
te preocupes com ele? Quem é o filho do homem, que te lembres dele! E apesar
disso o tornaste um pouco mais baixo do que os anjos, e coroaste-o de honra e
glória. Deste-lhe domínio sobre aquilo que criaste. Puseste tudo sob seus pés:
ovelhas, bois, animais selvagens, pássaros, peixes e tudo o que tem vida nos
mares. Ó Senhor, Senhor nosso, como é admirável a autoridade e a força que o
teu nome tem sobre toda a Terra!
James
Houston no livro A Fome da Alma, refere o seguinte: Agostinho cria com toda
certeza que, se Deus não estiver no centro de nossos desejos, eles se
desbaratarão em todas as direções, sob a forma de paixões e prazeres sensuais
que nos aviltam e nos aprisionam na futilidade e no desespero. Se não adorarmos
a Deus, centrando nele todo o nosso desejo, só nos resta viver como viciados,
escravizados pelos sentidos. O próprio Agostinho experimentou essa verdade
quando jovem: "os espinhos dos desejos impuros cresceram desenfreadamente,
e não havia quem os pudesse arrancar". Ele de fato se alegrou muito com
sua vida inconstante e com "aquele tumulto dos sentidos no qual o mundo se
esquece de Deus, o Criador, e se apaixona pela criatura". É muito fácil
nos intoxicarmos com o "vinho invisível da vontade própria" e nos
entregarmos a desejos egoístas. (Abba Press; pp. 68,69)
Jesus trata
de forma admirável o assunto da satisfação que abrange a totalidade do ser
humano e dos seus relacionamentos (com Deus, consigo mesmo, com os outros e com
o mundo natural), em diálogo com uma mulher samaritana, junto ao poço de Jacó.
São d’Ele as seguintes palavras, depois de lhe ter pedido um pouco de água e de
ter chocado com a sua surpresa de que Ele, judeu e homem, lhe pedisse o que
quer que fosse e até se atrevesse a dirigir-lhe a palavra: Se ao menos
compreendesses o dom maravilhoso que Deus tem para ti e quem eu sou, serias tu
a pedir-me que te desse água viva. (João 4:10; versão O Livro – A Bíblia para
Hoje).
Todo o
relato nos remete entre outras coisas para os relacionamentos que preenchem e
satisfazem o nosso ser. Não de um relacionamento feito de trivialidades, de
superficialidade, de tiques sociais, de meras formalidades e cumprimento de
tradições, mas um relacionamento do coração no confronto sereno da vida e dos
segredos mais profundos.
A começar
pela iniciativa do próprio Cristo em derrubar todas as barreiras para falar com
uma mulher samaritana, pecadora e ao que tudo parece segregada pelos seus
conterrâneos.
Passando à
sensível e amorosa verificação de relacionamentos não conseguidos em termos de
intimidade matrimonial.
Alcançando a
possibilidade de relacionamento com Deus independentemente de ritos, tradições,
liturgias ou espaços, mas em termos do coração. Bem como a referência de que o
Pai procura os que o adoram em espírito e em verdade.
E terminando
com um relacionamento social restaurado em torno de Jesus Cristo, Aquele que
sabe tudo a nosso respeito e veio para nos libertar do que nos oprime,
estrangula e asfixia, com o Seu perdão tornado real e verdadeiro pela Sua
própria morte na cruz.
Uma vez mais
citando James Houston: Já cheguei à idade madura de 70 anos. Posso rever meu
passado e perceber as artimanhas que usamos contra nós mesmos: suprimimos as
más notícias, reprimimos a dor e fazemos tudo o que é possível para não nos
tornarmos vulneráveis. (...) Creio, inclusive, que não podemos confiar em nós
mesmos a ponto de nos entregarmos a desejos ilimitados, a menos que desfrutemos
do relacionamento fiel e transformador produzido pelo amor divino e pela
amizade de Deus. O desejo que realmente nos traz vida é o de conhecer a Deus.
(A Fome da Alma; Abba Press; pp. 33)
Textos
bíblicos
Ah! Todos
vós os que tendes sede, vinde às águas; e vós os que não tendes dinheiro,
vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho
e leite.
Por que
gastais o dinheiro naquilo que não é pão; e o vosso suor naquilo que não
satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom, e vos deleitareis com finos
manjares. (Isaías 55:1,2)
Porque dois
males cometeu o meu povo; a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e
cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas. (Jeremias 2:13)
Melhor é ir
à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim
de todos os homens; e os vivos que o tomem e consideração. (Eclesiastes 7:2)
E deu um
exemplo: "Certo homem rico possuía uma propriedade fértil que dava boas
colheitas. Assim os seus celeiros ficaram a transbordar, e não podia guardar
tudo lá dentro. O homem pôs-se a pensar no problema. Por fim, exclamou: ‘Já
sei, vou deitar abaixo os celeiros e construir outros maiores. Assim terei
espaço suficiente. Depois direi comigo mesmo: ‘Amigo, armazenaste o bastante
para os anos futuros. Agora, repousa e come, bebe e diverte-te.’
Mas Deus
disse-lhe: ‘Louco! Esta noite vais morrer; e para quem fica tudo isso?’
Sim, louco é
quem acumula riquezas na Terra mas não é rico em relação a Deus." (Lucas 12:16-21 – O Livro, a
Bíblia para Hoje)
"Havia
um certo homem rico", disse Jesus, "que se vestia elegantemente e
vivia todos os dias no prazer e no luxo. Um mendigo, chamado Lázaro, cheio de
doenças, costumava estar deitado à sua porta; e bem desejava comer ao menos as
sobras da mesa desse rico, mas só tinha cachorros que vinham lamber-lhe as
feridas. Por fim, o mendigo faleceu, e foi levado pelos anjos para junto de
Abraão. Também o rico morreu e foi sepultado. Ali, em tormentos, viu Lázaro lá
longe com Abraão.
‘Pai
Abraão’, gritou ‘tem piedade de mim! Manda Lázaro vir ter comigo nem que seja
para molhar a ponta do dedo em água e refrescar-me a língua, pois estou
atormentado nestas chamas!’
‘Filho’,
respondeu-lhe Abraão, ‘lembra-te de que durante a tua vida tiveste tudo quanto
querias, enquanto Lázaro nada teve. Ele está aqui a ser consolado e tu estás em tormentos. Além
disso, há um grande abismo que nos separa e que ninguém pode transpor.’
‘Ó Pai
Abraão, manda-o a casa de meu pai,’ retorquiu o rico, ‘pois tenho cinco irmãos
e é preciso avisá-los para que não venham para este lugar de sofrimentos quando
morrerem’.
Mas Abraão
declarou-lhe: ‘Têm as Escrituras de Moisés e dos profetas. Ouçam os seus
avisos.
‘Não, pai
Abraão. Se alguém de entre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão.’
‘Se eles não
ouvem Moisés e os profetas, não ouvirão nem mesmo alguém que se tenha levantado
de entre os mortos.’" (Lucas 16:19-31 – O Livro, A Bíblia para Hoje)
AUTOR: Samuel Pinheiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário