terça-feira, 9 de junho de 2020

PRAZER VERSUS SATISFAÇÃO


PRAZER VERSUS SATISFAÇÃO

Vivemos numa sociedade saturada, obcecada pelo prazer. Penso que ninguém ficará admirado com semelhante constatação. Basta darmos uma olhada na publicidade e nos programas de televisão. Tudo gira em torno do divertimento e da distração. O que é que isto está a provocar e vai continuar a provocar pode ser motivo de especulação, bem como as razões que estão na origem de semelhante corrida. O fenômeno nem sequer é novo e já em outros momentos de civilização e cultura atingiu dimensões que ainda nos deixam estonteados e dos quais estamos relativamente perto ou longe, depende do ponto de vista.
Quando o homem se vê apenas como um produto da matéria, do tempo e do acaso, como uma paixão inútil (no dizer de Sartre), como um vôo cego do nada para o nada, cujo destino se encerra na morte, não é de estranhar que o lema da vida passe a ser conforme o dito popular que encontramos na pena do apóstolo Paulo quando aborda a questão da negação da ressurreição de Cristo: comamos e bebamos que amanhã morreremos. Se não existe mais nada do que a tumba e o silêncio não admira que a cultura mergulhe freneticamente na busca do prazer sem pesar sequer as conseqüências para a saúde das suas folias e paixões, porque se há que morrer mesmo e depois disso nada há então que se viva o mais intensamente possível, mesmo que a morte esteja ao virar da esquina e até o sofrimento acompanhá-la.
Esta busca desenfreada do prazer não pode ser tratada e explicada superficialmente porque as suas raízes mergulham no mais profundo da identidade e condição humana, na sua cosmovisão, no que é que ele pensa sobre as suas origens, o significado e sentido do seu presente e o propósito do seu futuro. Se a morte é certa e nada existe depois dela então o lema torna-se a vida são dois dias e o carnaval são três.
Nesta correria louca descobre-se a fome da alma humana que de formas diversas se procura saciar.
Essa fome tem que ver com a nossa identidade, auto estima, realização, satisfação e bem-estar.
Como James Houston escreve nos agradecimentos da sua obra A Fome da Alma: Se procurarmos descobrir o que o nosso coração deseja verdadeiramente, talvez passemos a ansiar por coisas que nos satisfaçam mais. (...) Acredito que os seres humanos não sejam apenas uma paixão inútil (como Jean-Paul Sartre nos via) que se consome na luta para encontrar sentido no isolamento.
O prazer não dá satisfação, muitas vezes aumenta a insatisfação e exige cada vez mais um estímulo e freqüência maior acabando em vício. Vício gera mais vício. Neste aspecto o prazer tende a tornar-nos dependentes. Quando o prazer cessa é substituído pela melancolia.
O prazer é efêmero, enquanto dura excita as emoções, depois de passar produz um estado de vazio. Muitas vezes o prazer torna-se uma fuga e um escape à condição humana, perante a realidade da vida e dos seus objetivos últimos, um tentar contornar as grandes questões que ela nos coloca no que diz respeito à sua finalidade. Outras vezes gera a ilusão do que se gostaria de ser e funciona como resposta a uma baixa auto-estima e uma identidade defeituosa. Por isso o prazer gera a ilusão de se ter alcançado o que se procura e se não tem.
O prazer compra-se. São de James Houston os seguintes pensamentos: Já se tornou chavão em nossos dias dizer que somos uma "sociedade de consumo". Nós do Ocidente, um décimo da população do mundo, consumimos mais de dois terços dos recursos do planeta, somos consumidores de facto! Muitos de nós fomos criados acreditando que ter mais é melhor e que, quanto maior, melhor. (...) Uma parte do "Conto de Fadas" americano está no mito de que o que nós produzimos é mais importante do que quem nós somos, nossa identidade pessoal única. Esse mito está muito ligado ao outro mito de que um maior número de posses irá trazer-nos maior felicidade. A implicação disso é que as pessoas, como indivíduos inigualáveis que podem dar e receber amor, não têm valor em si mesmas. Considera-se que o sentido da vida está no comércio e na indústria, não no coração e na alma dos seres humanos. O respeito pelas pessoas e suas características singulares vem sendo destruído pelo mercado e pelo mundo da publicidade, ao passo que a amizade, a alegria, o amor, a intimidade e a lealdade passam a ser simples mercadorias, passíveis de serem compradas e vendidas a troco de carros de prestígio, perfumes caros, posição social e ingressos esportivos. O comércio e o consumismo interferem em todas as áreas de nossa vida pública e privada, em todos os níveis de nosso comportamento consciente, até chegarmos ao cúmulo de sermos tentados a ver nós mesmos e os outros como simples mercadorias. (...) a vida humana é tratada como se fora um mero objeto. (A Fome da Alma; Abba Press; pp. 14, 15) Este prazer passa pelo ter pode estar associado a auto-estima deficiente apresentada nestes termos pelo mesmo autor: Quando as pessoas se sentem inúteis ou indesejáveis, a dor e a depressão podem ser rapidamente aliviadas por um prazer que se transforma num vício. O vício, portanto, poderá começar a partir da vergonha proveniente de uma situação específica em que a pessoa se sente constantemente desencorajada pela atitude de crítica e condenação dos outros. (Abba Press; pp. 96)
O prazer mexe com as emoções e com os sentimentos – a satisfação tem que ver com o ser, com o que somos. Algumas vezes talvez a busca desenfreada do prazer mais não seja do que a única saída para quem foi educado num sistema que remete o homem para o absurdo, o nada, o acidente.
O prazer desconsidera o sofrimento de ser solidário com o outro nas suas necessidades, o amor sacrificial. Fenômenos que acompanham esta tendência têm que ver com a maneira como hoje se tratam os idosos colocando-os em lares ou em clínicas onde acabam os seus dias. Existe um afastamento intencional da morte! Em contrapartida a satisfação que emerge do íntimo do nosso ser envolve-se com o seu semelhante tanto nas suas alegrias como na sua dor, tanto nas suas realizações e sucessos como nos seus fracassos. O prazer almeja uma prosperidade meramente feita de coisas materiais enquanto que a prosperidade da satisfação considera os valores espirituais e morais como prioritários e fundamentais.
O prazer é egoísta e gerador do egoísmo – está concentrado em si mesmo e torna a maior parte das vezes as pessoas irresponsáveis. Veja-se o que acontece no sexo em que se procura o prazer sem considerar a procriação e a responsabilidade que ela implica orientando as pessoas para a defesa do aborto. Veja-se o que acontece na defesa da eutanásia e do suicídio assistido. Veja-se até o que se passa com salas de chuto e a liberalização da droga. Vivemos a geração do eu, para usar um título sugestivo da revista Focus (4 Fevereiro 2001), em que os jovens entrevistados confessavam sem relutância "somos uma geração egoísta".
O prazer tende a usar terceiros como meros objetos e alia-se a uma darwinismo social, econômico e psicológico do salve-se quem puder. O prazer tende a olhar os fins como justificadores de todos os meios. Usam-se as pessoas e depois deita-se fora como mera mercadoria descartável. Neste sentido o prazer cega e torna indiferente o homem, desumaniza-o. Por seu turno a satisfação descobre-se e vivencia-se na realização do outro, na entre ajuda, na solidariedade. A satisfação nunca pode ser alcançada a sós e isoladamente porque faz parte de um projeto de grupo.
O prazer desconsidera o futuro não refletindo na realidade da vida eterna enquanto que a satisfação embora não desconsiderando o presente, perspectiva-o à luz do futuro e da eternidade.
O prazer tende a desvalorizar as conseqüências negativas produzidas no corpo, na mente, no espírito, nos relacionamentos e na própria natureza. Destrói-se o meio ambiente, compromete-se o futuro, esgotam-se os recursos, poluem-se os rios e os mares, arrebenta-se com a camada do ozônio – tudo em prol do desenvolvimento. Provoca-se o cancro do lábio, da garganta e dos pulmões; aumenta-se vertiginosamente as doenças sexualmente transmissíveis e a sida; cresce a cirrose; explodem os enfartes mas não se arrepia caminho. Razão tem a Bíblia em dizer que o pecado é loucura e é morte. A degradação da qualidade de vida mostra-o. Come-se o que sabe bem mas não o que faz bem. Veste-se o que impressiona os outros e dá status e não aquilo que é razoável. Os filhos não são uma fonte de realização e satisfação mas um empecilho que se coloca nas mãos de uma babá eletrônica. O prazer desenfreado torna o homem cínico por um lado e depressivo por outro.
O prazer distrai das realidades pertinentes à existência e essência humanas. Não se pensa sente-se. Tende a tornar-se um modo de esquecer as dificuldades da vida, uma compensação para as debilidades e frustrações do dia a dia e mais do que isso da própria insatisfação consigo mesmo, enfim uma forma de alienação.
Fontes de prazer contemporâneas são o consumo, a obsessão sexual, a pornografia, a droga, o álcool, o romantismo, o jogo, poder, fama, dinheiro, sucesso, etc.
As qualidades morais evaporam-se e são substituídas pelo pluralismo, pelo relativismo e pela privatização. O caráter e a integridade são menosprezados, como recentemente dizia uma apresentadora de televisão "Quem tem ética passa fome" (Teresa Guilherme – Pública, 14 Março 2001)
Dorothy Sayers, teóloga e romancista britânica, faz eco dos mesmos sentimentos no título do seu ensaio Creed ou chaos ("Credo ou caos"). O credo do modernista põe a descoberto a sua bancarrota. Ninguém diz isto melhor do que Steve Turner, jornalista inglês, em Creed ("Credo"), seu poema satírico sobre a mentalidade moderna:
Cremos em Marxfreudedarwin.
Cremos que tudo está bem,
desde que você não prejudique ninguém,
quanto você possa definir prejudicar,
e quanto você possa saber.
Cremos no sexo antes, durante
e depois do casamento.
Cremos na terapia do pecado.
Cremos que o adultério é uma brincadeira.
Cremos que a sodomia é correta.
Cremos que os tabus são tabus.
Cremos que tudo está ficando melhor,
apesar da evidência contrária.
A evidência precisa ser investigada,
e não se pode provar nada com evidência.
Cremos que há algo nos horóscopos,
nos OVNIs e nas colheres entortadas;
Jesus era um bom homem, como Buda,
Maomé e nós mesmos.
Ele foi um bom Mestre de moral, embora achemos
que o seu bom ensino moral era nocivo.
Cremos que todas as religiões são basicamente a mesma coisa
- pelo menos aquela sobre a qual lemos.
Todas elas crêem no amor e na bondade.
Só divergem nas questões da criação,
do pecado, do céu, do inferno, de Deus e da salvação.
Cremos que após a morte vem o nada,
porque, quando você pergunta aos mortos o que acontece,
eles não dizem nada.
Se a morte não é o fim, se os mortos mentiram,
Então o céu é compulsório para todos,
exceto, talvez,
Hitler, Stalin e Genghis Khan.
Cremos em Masters e Johnson.
O que se seleciona é a média.
O que é a média é normal.
O que é normal é bom.
Cremos no desarmamento total.
Cremos que há elos diretos entre a guerra e o derramamento de sangue.
Os americanos deveriam fundir as suas armas e transformá-las em tratores,
E certamente os russos os imitariam.
Cremos que o homem é essencialmente bom.
É somente o seu comportamento que o faz cair.
É culpa da sociedade.
A sociedade é o defeito das condições.
As condições são o defeito da sociedade.
Cremos que cada homem deve descobrir a verdade
que é certa para ele.
Conseqüentemente, a realidade se adaptará.
O universo se reajustará.
A história mudará.
Cremos que não há verdade absoluta,
exceto esta:
Não há verdade absoluta.
Cremos na rejeição dos credos,
E no florescer do pensamento individual.
E então o poeta acrescenta este pós-escrito chamado "Acaso":
Se o acaso
é o Pai de toda a carne,
a desgraça é o seu arco-íris no céu,
e quando você ouvir:
Estado de Emergência!
Atirador Mata Dez!
Tropas Avançam com Violência!
Brancos Vão à Pilhagem!
Bomba Explode Escola!
É apenas o ruído do homem
adorando o seu criador.
Com certeza, a esperança do ateísmo move-se inexoravelmente para um caos destituído de credo.
Nos calcanhares do Iluminismo, o existencialismo estava esperando para nascer. A paixão tornou-se moda, e a decência "o vento levou". Quando o existencialismo se desgastou, os "desconstrucionistas" desmantelaram tudo o que restava. O livro de Colin Gunton, que segue o existencialismo até o seu fim último, intitula-se pertinentemente Enlightenment and alienation ("O Iluminismo e a alienação"). Não resta nenhum ponto de referência moral que seja coerente e logicamente prescritivo.
Este é o primeiro ponto de colapso, quando se tenta viver sem Deus. As ramificações são terríveis.
(Pode o Homem Viver Sem Deus?; Ravi Zacharias; Mundo Cristão; pp. 69)
O prazer acaba por fomentar uma atitude moral hedonista. Vive-se em função do que dá prazer e considera-se certo e bom tudo o que dá prazer. O hedonismo anda de mãos dadas com o relativismo desdenhando de princípios e valores universais, imutáveis e eternos. Acaba por traduzir o lema a que Paulo se refere na sua carta aos cristãos em Corinto quando discorre sobre a ressurreição: comamos e bebamos que amanhã morreremos. O hedonista desdenha da eternidade procurando na vida presente tudo o que deseja. Fazemos aqui referência a estudo muito interessante realizado por James Houston e publicado no seu livro A fome da Alma, em que a dado passo refere: Podemos criticar Freud por ter exagerado o que ele chamou de "Princípio do Prazer", mas é certo que este constitui elemento vital na formação de qualquer vício. Da mesma forma que a matéria é puxada para baixo pela gravidade, assim também os seres humanos gravitam na direção daquilo que é prazeroso. Ouvimos freqüentemente o comentário: "Eu tenho o direito de me divertir, não é mesmo?". Há ainda a força de nossa própria vontade, manifesta em discussões acaloradas: "Não é da sua conta! Posso fazer o que eu quiser!". Para reforçar esse viés primário, temos ainda o "Viés Egoístico", que é o de "cuidar do Número Um", isto é, do nosso próprio interesse. (Abba Press; pp. 73,74)
Neste trabalho o auto faz uma análise de algumas obras literárias em que o tema do prazer e do vício são tratados. Citamos do seu estudo na obra de Dostoievski "Os Irmãos Karamazov", as palavras do Padre Zossima para Fiodor (grosseiro, cruel e cínico... que se comporta como um refém inconsciente de seus próprios vícios: álcool, sexo e dinheiro): Não se envergonhe tanto de si mesmo, pois aí está a raiz de todo o mal (...) Acima de tudo, não minta para si mesmo. Aquele que mente para si mesmo e ouve suas próprias mentiras acaba não sendo capaz de discernir a verdade em si próprio ou naqueles que o cercam, passando assim a desrespeitar a si mesmo e aos outros. Se é incapaz de respeitar alguém, cessará de amar e, se não tiver amor, se entregará a paixões e prazeres grosseiros para encher o tempo e distrair-se. Seus vícios o levarão à animalidade completa, tudo isso em decorrência de ter mentido continuamente para os outros e para si mesmo." (Abba Press; pp. 84)
Neste sentido o prazer impede-nos de atingir as raízes do nosso ser e do que ele requer em termos da nossa condição, para vivermos em plenitude e em abundância. Jesus Cristo cuja vida radica e parte do ser, declara: eu vim para dar vida, e com abundância. (João 10:10; versão: O Livro - A Bíblia para Hoje)
A satisfação tem que ver com o que somos antes de tudo o mais, o fazer é uma mera conseqüência que pode ou não contemplar o ter.
Só Aquele que nos criou verdadeiramente nos pode satisfazer, porque só Ele sabe quem somos. Só o Criador pode satisfazer a sede da nossa alma. Só o que de si mesmo disse Eu sou... pode lidar com o nosso ser.
Ser em Cristo é a única maneira de estarmos satisfeitos porque encontramos o nosso lugar.
Agostinho exprimiu esta realidade nestes termos: o Senhor nos fez para si e nosso coração não encontra paz enquanto não descansar nele. Só n’Ele estamos completos, ou seja só Ele nos completa. Somos tão grandes que só Deus nos pode encher. É por isso que o rei Davi escreve no Salmo 8: Ó Senhor nosso Deus, a grandeza e a honra do teu nome transborda dos céus e enche toda a Terra. Tu ensinaste as criancinhas a louvar-te perfeitamente, para que o exemplo delas envergonhe e reduza a silêncio os teus inimigos! Quando de noite contemplo os céus e vejo a obra dos teus dedos, a Lua e as estrelas que fizeste, pergunto: Quem é o homem, para que te preocupes com ele? Quem é o filho do homem, que te lembres dele! E apesar disso o tornaste um pouco mais baixo do que os anjos, e coroaste-o de honra e glória. Deste-lhe domínio sobre aquilo que criaste. Puseste tudo sob seus pés: ovelhas, bois, animais selvagens, pássaros, peixes e tudo o que tem vida nos mares. Ó Senhor, Senhor nosso, como é admirável a autoridade e a força que o teu nome tem sobre toda a Terra!
James Houston no livro A Fome da Alma, refere o seguinte: Agostinho cria com toda certeza que, se Deus não estiver no centro de nossos desejos, eles se desbaratarão em todas as direções, sob a forma de paixões e prazeres sensuais que nos aviltam e nos aprisionam na futilidade e no desespero. Se não adorarmos a Deus, centrando nele todo o nosso desejo, só nos resta viver como viciados, escravizados pelos sentidos. O próprio Agostinho experimentou essa verdade quando jovem: "os espinhos dos desejos impuros cresceram desenfreadamente, e não havia quem os pudesse arrancar". Ele de fato se alegrou muito com sua vida inconstante e com "aquele tumulto dos sentidos no qual o mundo se esquece de Deus, o Criador, e se apaixona pela criatura". É muito fácil nos intoxicarmos com o "vinho invisível da vontade própria" e nos entregarmos a desejos egoístas. (Abba Press; pp. 68,69)
Jesus trata de forma admirável o assunto da satisfação que abrange a totalidade do ser humano e dos seus relacionamentos (com Deus, consigo mesmo, com os outros e com o mundo natural), em diálogo com uma mulher samaritana, junto ao poço de Jacó. São d’Ele as seguintes palavras, depois de lhe ter pedido um pouco de água e de ter chocado com a sua surpresa de que Ele, judeu e homem, lhe pedisse o que quer que fosse e até se atrevesse a dirigir-lhe a palavra: Se ao menos compreendesses o dom maravilhoso que Deus tem para ti e quem eu sou, serias tu a pedir-me que te desse água viva. (João 4:10; versão O Livro – A Bíblia para Hoje).
Todo o relato nos remete entre outras coisas para os relacionamentos que preenchem e satisfazem o nosso ser. Não de um relacionamento feito de trivialidades, de superficialidade, de tiques sociais, de meras formalidades e cumprimento de tradições, mas um relacionamento do coração no confronto sereno da vida e dos segredos mais profundos.
A começar pela iniciativa do próprio Cristo em derrubar todas as barreiras para falar com uma mulher samaritana, pecadora e ao que tudo parece segregada pelos seus conterrâneos.
Passando à sensível e amorosa verificação de relacionamentos não conseguidos em termos de intimidade matrimonial.
Alcançando a possibilidade de relacionamento com Deus independentemente de ritos, tradições, liturgias ou espaços, mas em termos do coração. Bem como a referência de que o Pai procura os que o adoram em espírito e em verdade.
E terminando com um relacionamento social restaurado em torno de Jesus Cristo, Aquele que sabe tudo a nosso respeito e veio para nos libertar do que nos oprime, estrangula e asfixia, com o Seu perdão tornado real e verdadeiro pela Sua própria morte na cruz.
Uma vez mais citando James Houston: Já cheguei à idade madura de 70 anos. Posso rever meu passado e perceber as artimanhas que usamos contra nós mesmos: suprimimos as más notícias, reprimimos a dor e fazemos tudo o que é possível para não nos tornarmos vulneráveis. (...) Creio, inclusive, que não podemos confiar em nós mesmos a ponto de nos entregarmos a desejos ilimitados, a menos que desfrutemos do relacionamento fiel e transformador produzido pelo amor divino e pela amizade de Deus. O desejo que realmente nos traz vida é o de conhecer a Deus. (A Fome da Alma; Abba Press; pp. 33)

Textos bíblicos
Ah! Todos vós os que tendes sede, vinde às águas; e vós os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.
Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão; e o vosso suor naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom, e vos deleitareis com finos manjares. (Isaías 55:1,2)
Porque dois males cometeu o meu povo; a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas. (Jeremias 2:13)
Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem e consideração. (Eclesiastes 7:2)
E deu um exemplo: "Certo homem rico possuía uma propriedade fértil que dava boas colheitas. Assim os seus celeiros ficaram a transbordar, e não podia guardar tudo lá dentro. O homem pôs-se a pensar no problema. Por fim, exclamou: ‘Já sei, vou deitar abaixo os celeiros e construir outros maiores. Assim terei espaço suficiente. Depois direi comigo mesmo: ‘Amigo, armazenaste o bastante para os anos futuros. Agora, repousa e come, bebe e diverte-te.’
Mas Deus disse-lhe: ‘Louco! Esta noite vais morrer; e para quem fica tudo isso?’
Sim, louco é quem acumula riquezas na Terra mas não é rico em relação a Deus." (Lucas 12:16-21 – O Livro, a Bíblia para Hoje)
"Havia um certo homem rico", disse Jesus, "que se vestia elegantemente e vivia todos os dias no prazer e no luxo. Um mendigo, chamado Lázaro, cheio de doenças, costumava estar deitado à sua porta; e bem desejava comer ao menos as sobras da mesa desse rico, mas só tinha cachorros que vinham lamber-lhe as feridas. Por fim, o mendigo faleceu, e foi levado pelos anjos para junto de Abraão. Também o rico morreu e foi sepultado. Ali, em tormentos, viu Lázaro lá longe com Abraão.
‘Pai Abraão’, gritou ‘tem piedade de mim! Manda Lázaro vir ter comigo nem que seja para molhar a ponta do dedo em água e refrescar-me a língua, pois estou atormentado nestas chamas!’
‘Filho’, respondeu-lhe Abraão, ‘lembra-te de que durante a tua vida tiveste tudo quanto querias, enquanto Lázaro nada teve. Ele está aqui a ser consolado e tu estás em tormentos. Além disso, há um grande abismo que nos separa e que ninguém pode transpor.’
‘Ó Pai Abraão, manda-o a casa de meu pai,’ retorquiu o rico, ‘pois tenho cinco irmãos e é preciso avisá-los para que não venham para este lugar de sofrimentos quando morrerem’.
Mas Abraão declarou-lhe: ‘Têm as Escrituras de Moisés e dos profetas. Ouçam os seus avisos.
‘Não, pai Abraão. Se alguém de entre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão.’
‘Se eles não ouvem Moisés e os profetas, não ouvirão nem mesmo alguém que se tenha levantado de entre os mortos.’" (Lucas 16:19-31 – O Livro, A Bíblia para Hoje)





AUTOR: Samuel Pinheiro



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