A MISSÃO DA IGREJA.
A preocupação agora volta-se à fundamentação
bíblico-teológica para a missão da Igreja a partir de Atos 1:8. Encara-se essa
relevância teológica como paradigma missiológico da Igreja primitiva, avaliando
seus métodos, suas estratégias e seus progressos. Há ainda a compreensão
escatológica da expressão confins da terra.
Nossa pesquisa é também histórica. Tendo como
indicador o ambiente eclesiástico no mundo desde o período dos Apóstolos, a
idade moderna com os reformadores, a contemporânea com os teólogos envolvidos
na missão integral e, dando nuances de crítica pastoral, apresentando desafios
e conquistas de uma proclamação libertária à igreja latino-americana.
Em seguida, há a análise da prática
missio-eclesiástica puramente latino-americana, ressaltando o CLADE III e a sua
consecutiva relação com as teologias de missão clássica e neo-liberal. Esse
tópico será esclarecedor, pois fornecerá informação básica de como vem sendo
trabalhada a missão no continente latino-americano.
No penúltimo item, entende-se os conflitos e
desafios na proclamação do Evangelho. Crises, conflitos, problemas, e
estruturas de poder opressoras às missões serão denunciadas. Espera-se que o
trabalho venha satisfazer a necessidade pastoral de atualizar o conteúdo de
nossa missão continental.
Por fim, a temática desenvolvida é a da
espiritualidade kerigmática, ou seja, a proposta é que se apresente a
evangelização como uma prática contínua do ministério cristão. Afinal, ide
por tudo mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura.(Mc 16:15)
I – EXIGÊNCIA BÍBLICA DO KERIGMA EM ATOS 1:8
1. O Testemunho cristão como paradigma do poder na
Evangelização.
Em Atos 1:8, texto que se refere à grande comissão,
podemos observar Jesus falando a respeito de um poder que viria sobre os
discípulos. "Avlla. lh,myesqe du,namin" (mas vós recebereis o
poder). A palavra grega usada para poder, é dynamis. Segundo Colin Brown
esta palavra sugere que este poder vem sob forma de capacitação para realizar
algo, seja físico ou espiritual, indicando que alguém recebeu poder para agir.
Ao utilizar o vocábulo dymanis para
referir-se ao poder, Jesus está então dizendo que este poder deveria ser
utilizado na realização de alguma coisa; o que neste texto significa que, com a
vinda do Espírito Santo, viria sobre os discípulos também um poder capacitador
que seria a ferramenta necessária a ser usada no testemunhar do reino de Deus
entre os povos da terra.
Este poder não era ainda propriedade dos discípulos,
pois o poder para a proclamação do evangelho, até então, estava na palavra de
Jesus e em seus atos milagrosos; todo seu testemunho estava fundamentado nas
maravilhas operadas por Jesus entre os judeus. A força que impelia os
seguidores de Jesus a testemunhar vinha da Sua presença no meio deles, onde
poderiam sentir e tocar na fonte de todo o poder: Jesus, Cristo o Filho de
Deus.
Com a ascensão de Jesus, esta fonte de poder é
passada então para o Espírito Santo, que assume o papel de consolador e
capacitador para o testemunho do reino de Deus, até a volta de Jesus. A partir
daí, então, o Espírito Santo após ter descido, continuaria a implantação do
reino de Deus, que Jesus veio anunciar.
Segundo Alan Richardson, esta relação entre o poder
(dynamis) e o Espírito Santo resolve a questão da vinda do Reino mencionada por
Jesus em Marcos 9:1. Jesus estaria em atos 1:8, falando a respeito desta vinda
do reino de Deus. Sendo assim, a passagem de atos 2 seria o cumprimento não
somente de atos 1:8, mas também de Mateus 9:1. Concluímos então, que, com sua
ascensão, Jesus inaugura um novo tempo, com a atuação plena do Espírito Santo
como capacitador para o testemunho do reino de Deus através das pessoas predita
pelos profetas no Antigo Testamento como em Joel 2:28.
Os cristãos agora poderiam testemunhar, não pela
palavra de Jesus, mas sim pelo poder do Espírito Santo, que gerava capacitação
aos que temiam a Deus a proclamar a vinda do reino de Deus, não mais em
palavras, mas em poder. Esse testemunho que os cristãos deveriam dar após
receberem o Espírito Santo, toma a forma de pregação do evangelho, anúncio das
boas novas, tendo como base desta pregação diante de toda a humanidade as
experiências vividas com Jesus Cristo durante seu ministério aqui na terra. A
exigência do Kerigma é o testemunho.
2. O poder vivenciado na prática do testemunho
Conforme mencionado anteriormente, o cumprimento da
promessa de Jesus a respeito do recebimento do poder do Espírito Santo, está
narrado em Atos 2, onde por ocasião da festa do pentecostes, os discípulos
estavam todos reunidos.
Ao observarmos a narrativa bíblica, temos a
impressão de que durante o período entre a ascensão de Jesus e a data do
Pentecostes, os discípulos não haviam se manifestado a respeito do reino de
Deus. Talvez tivessem compreendido o que Jesus havia dito a respeito de esperar
o poder, ou talvez estivessem amedrontados, e intimidados com o que poderia
acontecer com suas vidas. A comunidade cristã transpareceu desespero. O que se
pode afirmar é que a vinda do Espírito Santo trouxe aos discípulos o que eles
precisavam para exercer seu papel de testemunhas do reino de Deus no mundo,
inaugurando um novo tempo na expansão do Reino de Deus entre os povos.
A Festa do Pentecostes tinha dois motivos especiais:
um era agrícola e o outro histórico. Agrícola por que era a comemoração do fim
da colheita dos cereais, que se iniciava no período da Páscoa e histórico
porque perto do período intertestamentário, os judeus ligaram esta data à entrega
das tábuas da lei no monte Sinai, o que ocorreu cinqüenta dias após o êxodo.
Devido a importância desta data, judeus de todos os lugares, chamados de judeus
da diáspora, estavam em Jerusalém para as comemorações. Pode-se observar então
que não foi por acaso que o Espírito Santo veio aos discípulos naquele dia,
pois se no verso oito do primeiro capítulo do livro de atos, vemos Jesus
falando a respeito de um poder que traria aos discípulos capacidade para
testemunhar sobre o reino de Deus até os confins da terra, no capítulo dois, do
mesmo livro, esta conotação ficou ainda mais clara.
Em sua narrativa Lucas é claro ao falar da
quantidade de pessoas que estavam na cidade naquela época que eram vindas de
regiões distantes: "E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens
religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu." Atos 2:5.
Podemos afirmar então, que o ambiente escolhido pelo Espírito Santo para
manifestar nos discípulos seu poder capacitador foi bastante propício aos
planos de Jesus pois, segundo a narrativa bíblica de Lucas, neste dia quase
três mil pessoas aceitaram o evangelho de Jesus, e com isso o reino de Deus
começou a ser testemunhado em diversas partes do mundo.
A primeira evidência da capacitação recebida através
do poder do Espírito é com certeza a apologia que Pedro faz a partir do
versículo quinze do segundo capítulo de Atos. O discípulo que há apenas
cinqüenta dias havia negado conhecer a Jesus por medo do que pudesse
acometê-lo, agora faz uma das mais belas defesas ao evangelho, falando com toda
autoridade diante de judeus não só de Jerusalém, mais vindos de todos os cantos
da terra.
Outro aspecto da capacitação do Espírito Santo para
testemunhar é o fato de que cada um dos que estavam em Jerusalém naquele dia
ouviu as pregações em sua própria língua. Isto não seria nada extraordinário se
não viesse da boca de galileus que, além de serem conhecidos como incultos,
tinham dificuldades de pronunciar palavras com sons guturais, sendo assim eram
mal vistos pelo povo de Jerusalém, por serem provincianos. Este evento
impulsionou os discípulos a proclamarem o evangelho destemidamente com
autoridade, levando muitos judeus a aceitarem o sacrifício vicário de Jesus.
Esta ação capacitadora do Espírito Santo é novamente
ressaltada no capítulo três do livro de Atos, quando os apóstolos João e Pedro
realizam um milagre à frente do templo, ocasião esta onde Pedro novamente faz
uma apologia ao evangelho, arrebanhando mais judeus para o cristianismo.
Podemos dizer; então, que a igreja cristã realmente foi inaugurada, somente
após a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, onde os primeiros
discípulos receberam deste Espírito a capacitação para proclamar o reino de
Deus.
Ruth A. Tucker citando Eusébio de Cesaréia,
historiador da Igreja primitiva traz um breve resumo dos acontecimentos
subseqüentes ao pentecostes, mostrando com clareza a obra do Espírito
Capacitador no meio dos Judeus.
"Nessa época muitos cristãos sentiram suas
almas inspiradas pela palavra santa, assim como um desejo veemente de alcançar
a perfeição. Seu primeiro ato, em obediência às instituições do Salvador, foi
vender seus bens e distribuir o resultado deles entre os pobres. A seguir
abandonando seus lares, passaram a cumprir a obra de evangelista tendo como
alvo pregar a palavra de fé aos que ainda não tivessem ouvido e confiar-lhes o
livro dos evangelhos divinos. Eles se contentavam em simplesmente lançar os
fundamentos da fé entre esses povos estrangeiros; a seguir, nomearam pastores e
lhes deram a responsabilidade de edificar aos que eles haviam simplesmente
induzido a crer. Passavam então a outros países e nações com a graça e ajuda de
Deus".
Podemos concluir então, que a descida do Espírito
Santo, não veio apenas como uma experiência de edificação espiritual daqueles
que se achavam salvos, mas sim como um revestimento para que a igreja
testemunhasse com poder a respeito do reino de Deus. Por isso, a primeira ação
do Espírito Santo foi impelir os que estavam reunidos a pregar o evangelho,
mesmo estando com a cidade cheia de judeus e vindo de aproximadamente quatorze
regiões diferentes, mostrando que o alvo da igreja, após receber o poder, era
com certeza os "Confins da Terra".
Estes argumentos deixam claro que desde o início da
igreja o objetivo de Deus era revestir a Igreja com um poder capacitador para
que ela conduzindo seu ministério à uma visão do Reino sendo propagado entre os
povos através do testemunho como resultado de um avivamento, expandisse suas
fronteiras até os confins da terra. Ou seja, Deus queria que sua Igreja fosse
uma Igreja comprometida com a visão Missionária e para isso providenciou todos
os meios necessários a fim de alcançar este objetivo.
3. A dimensão geográfico-escatológica dos confins
da Terra
A narrativa bíblica de atos 1:8, mostra claramente
um conceito geográfico do trabalho missionário transcultural: "... e
ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e
até aos confins da terra." Qual a relevância desse conceito na
exigência bíblica do Kerigma Cristão? O Que "confins da terra"
pode elucidar para a missão evangelizadora contextual?
"Confins da terra" mostra a dimensão
escatológica que o testemunho dos discípulos teria de alcançar. Jesus estava
aqui querendo transmitir a idéia de que dos discípulos deveriam falar Dele em
todos os lugares da terra durante todo o tempo até a parousia. Isto se
deu devido ao questionamento dos discípulos em relação à restauração do reino
político de Israel. Após três anos caminhando junto de Jesus, ouvindo-o falar
das dimensões espirituais do reino de Deus, agora eles perguntam sobre a
restauração de um reino temporal.
Com o verso oito porém, Jesus deixa bastante claro
que Sua igreja havia de ser formada para testemunhar, deixando a vista de todos
que o testemunho seria a ferramenta de implantação do reino Espiritual de Deus
na terra. Diante disto surge à nossa mente a dúvida em relação ao entendimento
dos discípulos acerca da vontade de Jesus para sua Igreja. Será que aqueles
homens com seus pensamentos etnocêntricos a respeito do reino de Deus realmente
compreenderam a dimensão dos "confins da terra" ? Os
acontecimentos subseqüentes ao Pentecostes nos levam a crer que sim. Segundo a
tradição apostólica, Mateus foi para a Etiópia, André chegou a região do leste
europeu, Bartolomeu e Tomé, passaram pela Arábia e Índia, respectivamente.
Podemos afirmar que o sucesso da expansão do cristianismo se deu devido ao fato
de que ele começou diferente das outras religiões conhecidas na época do
domínio romano. O que começou como uma seita judaica em apenas 30 anos havia se
tornado uma religião conhecida em quase todo o mundo na época.
As estradas Romanas da época aliada com a paz
dominante neste período entre judeus e romanos, denominada de Pax Romana,
facilitaram grandemente o anúncio do evangelho, fazendo com que por onde os
discípulos andassem, fossem testemunhando as boas novas do evangelho expandindo
assim a Igreja de Jesus Cristo por toda parte, através do testemunho. Outro
fator que auxiliou os cristãos na proclamação do evangelho foi o fato de que o
grego era o idioma universal do império, facilitando a comunicação com o povo
onde quer que fossem.
Devemos porém refletir um pouco mais sobre o aspecto
escatológico dos "confins da terra". Se os cristãos tivessem
entendido o vocábulo "escatos" apenas com um sentido geográfico, o
cristianismo seria hoje uma religião antiga estudada pelos historiadores
interessados nos acontecimentos do primeiro século. A relevância dos "confins
da terra" é que a fé no Cristo ressuscitado não pode, com efeito, ser
rebaixada a pontos limites da geografia, mas elevando-os igualmente à
compreensão cosmológica que este Cristo ressuscitado tem. Não há coordenadas
geográficas que determinariam a parousia pela latitude e longitude da
proclamação, mas as coordenadas cosmológicas que transcendem o Kerigma
anunciador da restauração do reino em Cristo.
II – INTERPRETAÇÃO TEOLÓGICA NA
HISTÓRIA DA IGREJA
1. Relevância no apostolado.
1.1. Paulo, testemunha de um kerigma em conflitos.
Sem dúvida nenhuma, a maior testemunha do evangelho
nos anos posteriores à ascensão de Jesus foi o apóstolo Paulo. A tradição
cristã diz que quando ainda criança, Paulo aprendeu as tradições de seu povo
mediante os ensinamentos que eram ministrados na sinagoga, onde se familiarizou
com a Septuaginta e aprendeu aspectos principais de sua herança nacional. Sua
língua materna provavelmente foi o Grego e, certamente viveu no mesmo ambiente
que os helenistas que causaram tumulto em Jerusalém no dia de Pentecostes.
Embora o próprio Paulo tenha dito ter estudado aos
pés do Rabi Gamaliel e ser um de seus melhores alunos, em sua primeira aparição
na narrativa bíblica ele não é nada mais além de um empregado, que tomou conta
das vestes dos judeus enfurecidos, enquanto Estêvão era apedrejado. Porém, este
jovem começa a tomar mais participação nos acontecimentos quando percebe que ao
expulsar os judeus helenistas de Jerusalém, estavam, na verdade, ajudando a
proliferar e se espalhar esta nova "Seita" (cf. Atos 6-10).
Em meio a este contexto, o jovem Saulo inicia uma
viagem a Damasco a fim de prender alguns cristãos e trazê-los de volta; viagem
esta que iria transformá-lo no maior defensor daqueles dos quais era
perseguidor.
Segundo a narrativa do próprio apóstolo, um encontro
com Jesus, no meio do caminho entre Jerusalém e Damasco, transformou de forma
surpreendente o jovem perseguidor Saulo no Apóstolo Paulo, testemunha de Jesus
Cristo, principalmente no meio dos gentios. O Fariseu que odiara a fé cristã se
torna agora seu maior advogado. Após sua chegada em Damasco, ao invés de
prender cristãos, Paulo foi ajudado por eles. Agora, aqueles que ele tencionava
prender e perseguir até a morte estavam se tornando seus amigos mais íntimos.
Na Carta que Paulo escreve às igrejas da Galácia,
ele toma como idéia principal de sua apologia, a convicção de que homens e
mulheres da mais diversificada formação religiosa e social somente poderiam
estar juntos e unidos, se o ideal desta união fosse Jesus Cristo. Certamente,
esta convicção foi que o fez levar a mensagem cristã não só às cidades da
Palestina, mas também aos mais longínquos recantos do mundo conhecido (cfe as
três viagens missionárias de Paulo à Ásia e uma quarta viagem à Europa. Além
dessas oportunidades evangelísticas, a comunicação do apóstolo com as
comunidades somente foi através de cartas).
Porém, nem tudo transcorreu serenamente o quanto
parece. O livro de Atos dos Apóstolos tratou de esconder os conflitos surgidos
na missão de Paulo devido à sua finalidade que era tornar Paulo aceitável aos
seus adversários, no entanto, as epístolas nos mostram a seriedade de tais
conflitos que Paulo certamente teve de enfrentar. Estes conflitos, começara a
surgir devido à opção missionária de Paulo pelos gentios.
Segundo José Comblin, o primeiro grande conflito
enfrentado pelo apóstolo Paulo foi criado pelos chamados falsos apóstolos.
Estes eram alguns judeus convertidos as cristianismo que se opuseram às
convicções de Paulo e o perseguiram por onde quer que o apóstolo passasse.
Na segunda carta aos Coríntios Paulo fala a respeito
desses apóstolos nos capítulos 11 a 13. Certamente estes falsos apóstolos
judaizantes ao percorrer as igrejas da Galácia conseguiram abalar a fé
proclamada por Paulo, provavelmente com elementos da lei judaica, a qual o
apóstolo Paulo não estava muito interessado em seus aspectos rituais e
cerimoniais. Para Paulo, a Lei era muito mais uma fonte de moralidade.
Entre estes elementos da lei judaica que abalaram a
fé paulina estava a necessidade da circuncisão. Com isso, mudaram o evangelho
pregado pelo apóstolo Paulo aos Gálatas, pregando o que o próprio Paulo chama
de "outro evangelho" um evangelho que fazia concessões aos judeus
(cfe II Coríntios 11:4). Em Corinto, estes judeus helenistas geraram algumas
polêmicas a respeito de Paulo, que ameaçaram romper as relações entre o
apóstolo Paulo e a comunidade cristã daquela cidade.
O desprezo de Paulo pela lei judaica o havia
colocado em uma posição inferior aos olhos de seus perseguidores helenistas,
que ameaçaram interferir também na igreja existente na cidade de Filipos.
Escrevendo à igreja desta cidade, Paulo faz uma apologia a seu ministério, no
capítulo 3, iniciando seu discurso chamando estes judaizantes perseguidores:
"de cães, maus obreiros e inimigos da cruz de Cristo". Neste
discurso, o apóstolo Paulo coloca sua posição confrontando a superioridade de
Jesus Cristo em relação às tradições judaicas. Embora seus perseguidores fossem
teimosos, Paulo perseverava também na mesma teimosia, resistindo assim aos
ataques desses apóstolos judaizantes (cfe o zelo apostólico de
Colossenses 4:13).
Um outro grande conflito enfrentado por Paulo foi o
fato de que ele não se deixou levar pela cultura grega. Esta cultura era apenas
para uma minoria de homens livres que constituam a elite. Proprietários de
escravos que não trabalhavam faziam desta cultura uma cultura elitista. Paulo
resolve não valorizar esta cultura, fundando suas comunidades a partir da
massa, que era a maioria, que consequentemente não participavam da cultura
grega dominada pela classe superior.
Ademais, certamente, o que assombrou o ministério do
apóstolo Paulo foi sua própria formação judaica. O fato de preferir o conflito
com as elites ao invés de seu apoio, mostra que Paulo não esperava que seu
sucesso viesse das coisas carnais. Com uma doutrina aberta e receptiva
aos gentios, Paulo mostra que mais que tudo, confiava no Espírito Santo, que
iria agir nestas comunidades fazendo-os andar nos caminhos de Deus. O conflito
consiste justamente nesta diferença cultural entre os cristãos judeus apegados
à lei em relação aos gentios novos convertidos.
Com aparecimento destas comunidades, certamente
surgiam novas experiências que com certeza poderiam ter provocado em Paulo
sérios problemas culturais. Como ocorre hoje com nossos missionários, o
apóstolo Paulo poderia ter passado por um choque cultural, devido à grande
diferença de costumes entre os judeus e gentios. Paulo, porém, certamente não
cedeu a estes questionamentos, confiando ao Espírito Santo sua vitória em
relação a estes e aos muitos outros conflitos vencidos por ele. Esta confiança
fez do apóstolo Paulo o maior testemunhador da história da Igreja primitiva.
1.2 Compreensão teológica de Pedro
A compreensão teológica de Pedro sobre o conceito confins
da Terra é essencialmente escatológica. Sua preocupação está relacionada à
pregação do reino de Deus às nações. Ao anunciar a realidade do reino, o
apóstolo está inserindo os valores básicos do ministério pastoral: o sentido
apocalíptico e escatológico. O primeiro se refere à consumação do reino de Deus
(Mt 2:7; 12:39; 13:44-45; 24:36; Lc 12:32, 58-59; 17:21-24; Mc 1:14-15) e a
esperança que os homens tinham de ter. O segundo apresenta o lugar da
escatologia no ensino de Jesus. A promessa apocalíptica frustrou-se, mas a
essência permaneceu: Deus é Senhor e o reino finalmente prevalecerá. O aspecto
escatológico recupera a vontade de Deus para a humanidade.
Pedro caracteriza um ministério pastoral voltado à
esperança messiânica. A expectativa missiológica dos confins da é
orientada, não para a pessoa messiânica, mas para a era messiânica. A figura do
messias seria apenas o executor da salvação e não o seu motivo, significado ou
conteúdo. Na Palestina do primeiro século, havia diversas concepções
messiânicas. A concepção mais popular era a de um messias-rei. Além dessa
concepção dominante havia outras; algumas dessas a suplementavam, outras a
contradiziam. Entre essas outras havia a expectativa de um messias como
sumo-sacerdote e como profeta.
No judaísmo, porém, essas concepções não possuíam um
ensino unitário conviviam paralelamente, sem uma força que as unisse. Essas
concepções messiânicas passam a ter uma unidade apenas no cristianismo, no
evento da cruz. No cristianismo, o Messias é o centro e não apenas o executor.
Jesus é essa força capaz de unir essas diferentes concepções.
Em I Pedro, no entanto, o tema da vitória sobre o
sofrimento é a chave hermenêutica para o bom entendimento da messianidade
inculturada no judaismo. O louvor a Deus por uma viva esperança é visível no
primeiro capítulo. O interessante é que o tema da santidade também é enquadrado
dentro do argumento da escatologia cristã (cfe versos 13-25). A comparação de
Jesus sendo a pedra angular é uma pre-figuração da eleição divina que busca na
esperança cristã a realização dessa mesma eleição. E a prática do bem consiste
no sofrimento pelos outros, todavia, a vida segundo a vontade de Deus é a nova
mensagem da parousia de Cristo.
Sendo assim, o ministério pastoral se torna
relevante, pois:
-
O sofrimento é pertinente no contexto latino-americano;
-
O tema da esperança cristã urge ser atualizado e contextualizado
-
O Dever da teologia da esperança contextualizada, salientando a
compreensão teológica dos confins da terra;
Qual a relevância do conceito messiânico para hoje?
Dessa forma, contextualizar a esperança cristã é
promover o sentido da parousia na evangelização, na ação social, nas
missões e, enfim, nos ministérios que emancipam a missão integral da igreja,
2. Relevância na Idade Contemporânea
2.1 A compreensão da missão integral
Muito se tem falado em missão Integral da igreja,
porém este tem se tornado um assunto desgastado, devido à falta de compreensão
real do termo "missão integral". Para compreendermos a integralidade
da missão da Igreja, deve-se entender alguns princípios sobre a missão, para enfim
compreender como e quando a Igreja estará realizando a missão integralmente.
O primeiro ponto a ser discutido quando se fala de
missão integral é a origem da missão. Analisando a narrativa bíblica, podemos
facilmente afirmar que Deus é o agente principal dos eventos históricos. Deus
participa ativamente da História revelando nela sua vontade e utilizando-se da
narrativa histórica para se fazer conhecido pelo homem. Sendo assim, missão é
uma categoria pertencente a Deus. Antes de ser uma tarefa da Igreja que
demonstra sua conotação humana Missão faz parte da vontade de Deus, nascendo do
mais íntimo do seu coração.
Este fator descarta qualquer possibilidade de
auto-suficiência por parte da Igreja para a realização de uma missão integral.
Como conseqüência, não se faz missão, sem uma ligação séria e direta com o
idealizador da missão, Deus. Antes de buscar realizar a sua missão, a igreja
deve sob uma atitude de humildade e oração, buscar em Deus a capacitação para a
realização da obra missionária. Se a missão tem como ponto de partida a vontade
de Deus o próximo passo é analisarmos a igreja como instrumento da missão.
No Antigo Testamento, Deus escolheu Israel com a
finalidade de que fossem testemunhas no meio das nações. Ao contrário do que se
pensa, o fato de Deus eleger Israel como Seu povo particular, não é sinal de
favoritismo exclusivista de Deus, pois o objeto desta eleição era alcançar as
nações. Todas as vezes que se desviou do propósito de Deus de fazê-lo conhecido
entre os povos Israel era julgado sob forma de cativeiro, sendo subjugados
pelas mesmas nações às quais deveriam ter sido testemunhas de Deus. O fato da
missão ter Deus como ponto de partida não da margem à passividade da Igreja em
relação a missão, pelo contrário, ela é dinamizada.
A Igreja jamais poderá utilizar-se da soberania de
Deus para justificar sua passividade em relação à missão integral, pois o Deus
soberano escolheu seu povo com a finalidade de testemunhar. Sendo assim, a ação
missionária de forma prática pertence única e exclusivamente à Igreja. Povo
escolhido por Deus para testemunhar.
O grande modelo de ministério integral sem dúvida
nenhuma encontra-se na pessoa de Jesus. Através da narrativa dos evangelhos,
vemos que Jesus entendia profundamente o sentido de missão integral. Podemos
avaliar isto, primeiramente pelo fato de que antes de qualquer preocupação no
campo da ação, Jesus se preocupava primeiramente com a espiritualidade.
Uma das grandes discussões da missiologia moderna
gira em torno do papel da ação social na vida da Igreja. Seu papel é primário
ou secundário? Desde que foi realizado o congresso de Lausanne em Manila nas
Filipinas, os evangélicos tem se aprofundado mais na compreensão do papel da
Igreja na solução dos problemas da sociedade. Para compreender-mos a espiritualidade
da missão integral, devemos buscar primeiramente sua compreensão na vida e obra
de Jesus Cristo. Ele não dicotomizava a espiritualidade como nós fazemos hoje,
antes via sua espiritualidade como o conjunto de tudo aquilo que fazia com a
finalidade de glorificar a Deus.
Podemos facilmente ilustrar o modelo de
espiritualidade de Jesus, através de sua própria leitura dos dez mandamentos: Amar
a Deus e ao próximo. Ao resumir a lei desta maneira, Jesus está dando duas
dimensões à sua espiritualidade. A vertical e a horizontal. Vertical porque ele
amava a Deus e horizontal porque deste amor ao Pai, Jesus extraía toda sua
força para amar ao seu próximo. Sendo assim, sua espiritualidade era
profundamente baseada em seu relacionamento com Deus. Qualquer tentativa de
realizar a missão da igreja, sem passar pela espiritualidade é totalmente fora
dos padrões estabelecidos por aquele que é o idealizador da missão: Deus.
Partindo então de Jesus como modelo, podemos
analisar o propósito restaurador da missão. Aquilo que Deus criou, Ele pretende
restaurar. Esta restauração é salvação, com um duplo sentido: de poupar e
também de julgar. Na narrativa bíblica do Antigo Testamento, vemos vários
exemplos desta dualidade na ação restauradora de Deus. No relato do dilúvio por
exemplo vemos claramente a ação julgadora de Deus, porém não sem estar
acompanhada também da ação salvadora, que no caso ocorre sob a forma da Arca.
De igual modo, vemos nas críticas dos profetas o julgamento de Deus, mais suas
promessas sempre davam a conotação da salvação vindoura.
Vemos então que a restauração é o propósito final da
missão de Deus, que jamais pode ser dissociada da fé, antes, deve ser entendida
como resultado tanto em adoração a Deus quanto em relação de justiça para com o
próximo e para com toda a criação. Partindo do ponto de que Deus se propõe a
restaurar aquilo que Ele criou, podemos definir como alvo da missão integral da
igreja a própria criação. Esta fato pode ser entendido na revelação escrita sob
o aspecto de que ela se inicia com a narrativa da criação dos céus e da terra e
termina com a restauração dos mesmos em um novo céu e uma nova terra. A criação
como alvo da missão pode ser ilustrada através do dilúvio, onde através do
julgamento não só parte da raça humana foi preservada, mais de igual modo,
parte representativa da criação também foi poupada. Esta perspectiva nos livra
de qualquer miopia missionária, demonstrando que a missão jamais será completa
até que todos os povos, línguas, tribos e nações recebam o evangelho restaurador
do Reino de Deus.
Partindo, então, da criação como o alvo da missão,
se faz necessário traçar estratégias evangelísticas que busquem alcançar os
lugares mais distantes, onde quer que Cristo ainda não tenha sido anunciado.
Podemos afirmar categoricamente que o veículo usado por Deus para manifestar
sua vontade salvífica é a História. Deus usa a história para agir na vida dos
seres humanos e nunca meios contemplativos fora deste mundo. Todas as Suas
ações de julgamento e libertação, sempre se deram de maneira concreta na vida
da humanidade, através do dilúvio, das pragas no Egito, dos profetas, tudo isto
findando com a libertação de modo supremo e objetivo através da morte e
ressurreição de Jesus.
O catecismo maior começa com a seguinte pergunta:
Qual é o fim principal do ser humano ? A resposta correta é: 0 fim supremo e
principal do homem è glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. A única razão
para a existência do desafio missionário, é o fato de que o culto pleno a Deus
ainda não existe. Sendo assim, o culto é a finalidade principal da Igreja.
Quando todas as tribos, raças, povos e nações se dobrarem diante do Cordeiro de
Deus, a obra missionária não mais existirá, porém o louvor e a adoração a Deus
permanecerá.
Podemos, então, concluir dizendo que a obra
missionária começa e termina com o culto prestado a Deus, pois somente no culto
genuíno e profundo podemos encontrar a motivação adequada para a Igreja assumir
sua vocação missionária.
2.2 desafios e conquistas: paradigmas de um kerigma
libertador
O conceito de confins da terra é o fundamento
da evangelização contextual da Missão Integral da Igreja. Ele elabora
estratégias e ordens de serviços a serem desenvolvidas pelo programa de missões
da comunidade local. Uma evangelização que corresponde satisfatoriamente aos
propósitos divinos é aquela que extrapola a ação físico-geográfico das missões
e inaugura em cada anúncio evangelístico o sentido cosmológico do kerigma
libertador.
Atualmente, percebe-se os conflitos e os desafios
surgidos em cada tentativa de acrescentar aos métodos uma uniformidade na
compreensão libertadora-salvífica do kerigma. Tais formulações surgem em
tempos de crise, na tentativa de esboçar e metodologizar as teorias
concernentes à ação libertadora de Cristo. Resta-nos, então, considerar as
conquistas que já anunciaram um kerigma libertador: o anúncio da própria missão
de Cristo.
A missão da Igreja deve incluir, em seu bojo de
eventos evangelísticos, a consciência de que cada cristão é um missionário em
potencial que anuncia a libertação pelos quatro cantos da Terra e que essa
libertação é trans-cósmica que a tudo penetra, move e faz convergir. Essa
concepção cosmológica dos confins da Terra é o novo desafio libertador
do kerigma a ser anunciado pela Igreja Evangelizadora para o Terceiro Milênio.
Que poder (dunamis) comunica o kerigma libertador de Jesus numa
sociedade pós-moderna? Se não reconhecermos esse novo conceito cosmológico do
anúncio de Jesus, com certeza nossa pregação será informatizada e tecnologizada
a ponto de congressos e campanhas evangelísticas serem os únicos métodos
disponíveis. Além disso, as missões atuais estão não mais se secularizando, mas
se globalizando. Será que as fronteiras geográficas não foram também já
alcançadas por ela? Enfim, o desafio está lançado: o kerigma libertador de
Jesus a partir da condição confins da terra é o que possui caráter
cosmológico.
É por isso que a esperança cristã de Atos 1:6-11 é
relevante aos nossos dias! A Ekklesia precisa viver a esperança cristã a partir
dos seguintes desafios pastorais:
a. explicitar visivelmente a fé
na restauração do conceito do reino de Deus dignificando a vida humana com
normas e diretrizes autenticamente cristãs;
b. exercitar a espiritualidade
através do caminho de um kerigma libertador que pratique a libertação da
escravidão, inclusive a da natureza;
c. enfatizar a parousia de
Cristo como a promotora da esperança cristã;
d. propor uma liturgia criativa
que esclareça a pessoa do Espírito como poder de Deus para testemunhar acerca
da própria esperança cristã;
e. redefinir o conceito de
confins da terra, superando o sentido geográfico de Atos 1:8;
f. reciclar a teologia pastoral
de modo a concretizá-la substancialmente na práxis cristã, inclusive na
educação teológica.
Os desafios estão lançados, basta cumprí-los!
III – PERSPECTIVAS DE UMA ECLESIOLOGIA
CONTEXTUALIZADA
1 Atos 1:8: Temas relevantes da Evangelização
Entende-se a Evangelização intimamente ligada à
Missão da Igreja. Aquela não é superior à essa, mas complementar. Falar de um
evangelismo eficaz hoje significa também compreender os temas relacionados de
uma eclesiologia contextualizada.
Nosso primeiro termo se refere à MISSÃO. É a tarefa
da Igreja em cumprir a vontade de Deus na terra aos homens. Envolve elementos
mais específicos (evangelização, Ação Social, Missões). É o cumprimento de uma
ordem divina no trabalho de resgatar o homem no seu todo (salvação holística).
A missão se realiza através de pessoas. Elas são comissionadas para um trabalho
específico. Ao realizarmos o trabalho evangelísticos, atravessarmos as
barreiras culturais e desenvolvermos uma ajuda ao ser humano, estaremos
cumprindo a missão. Não basta somente cumprir um deles deve-se desenvolvê-los
harmoniosamente para sempre estarmos certos de que a Igreja tem cumprido sua
missão. Dentro da missão há uma diversidade de serviços a realizar. Deus equipa
(qualifica) pessoas de acordo com sua vontade para realização destes. Esses
serviços são os diferentes ministérios.
Dessa forma, pode-se falar em Teologia da missão que
visa elaborar as bases teóricas da missão cristã num contexto mais abrangente
de uma prática missionária. Há necessidade de fazer, criar, elaborar essa
disciplina para verificação de possíveis erros quanto aso cumprimento do mesmo.
A teologia é uma elaboração do conhecimento do mesmo. A teologia é uma
elaboração do conhecimento humano com bases nas Escrituras a partir de uma
situação concreta - elaboração essa a ser aplicada num contexto dessa mesma
realidade. Para se fazer teologia é necessário: teólogo, Bíblia e realidade. A
teologia da missão engloba esses três elementos e os faz úteis ao cumprimento
da missão
Enquanto Missão significa em um sentido mais amplo a
tarefa da Igreja, os termos EVANGELIZAÇÃO e MISSÃO visam a conscientização e a
ação prática da Eclesiologia contextualizada referente ao desempenho do seu
papel na proclamação e testemunho da expansão do reino de Deus. Em Mateus
28:19-20 entendemos o teor de Missão. De forma genérica, é, pois, a
evangelização a tarefa da Igreja.
Podemos ilustrar missão como sendo um "leque"
- cada parte que se abre é uma nova tarefa a ser cumprida. A Igreja precisa
"encarnar" sua missão. Somente depois dessa conscientização é que
poderá ocorrer um despertamento na ação missionária da Igreja. Não basta
somente dizer que "Cristo é Salvador, É necessário comprovar isso".
Boff Ilustra essa frase dando o exemplo de um indivíduo que passava fome. É
difícil cumprir a missão se pensarmos apenas no sentido de proclamação. Missão
é mais que isso. É também envolver-se na provisão das necessidades alheias.
Como pregar um Cristo libertador se o povo vive oprimido. É preciso repensar e
fazer a releitura à luz do evangelho quanto a missão da Igreja hoje, digo
melhor contextualizar.
Já MISSÕES compreendem a evangelização através das
barreiras culturais, físicas, geográficas, éticas, etc... Faz parte da missão
da Igreja . Não é ultrapassar fronteiras que resulta o cumprir da missão. A
esse trabalho damos o nome de Missões. Pois missões está implícito em missão.
E os MINISTÉRIOS são as diferentes especificações
que há na Igreja para a realização da Missão. São as chamadas diversidades de
trabalho. Há várias pessoas que têm ministérios diferentes. A missão é tudo (
Evangelização, missões, etc...) Essas subdivisões da missão são denominadas
ministérios. Quero dizer ministério de evangelista, de ensino, exortação,
etc... Na Igreja, encontramos os vários ministérios diferentes. Missão é no
sentido e significado geral, ministérios e mais particular, específico
restrito. Missão é para todos, ministérios é para um ministro.
Por último, refere-se à AÇÃO SOCIAL, que é o
atendimento às necessidades básicas do ser humano. É considerar a realidade
social e tratá-la como tal. É realizar a missão!
2 Missão enquanto Evangelização (ato proclamador da
salvação)
Encarando a Evangelização enquanto comunicação das
boas novas, diremos que a idéia de proclamar as boas novas aos que ainda não
ouviram realiza a missão. Boas para quem recebe, novas para quem ouve. Podemos
ilustrar com a idéia do arauto. Ele nos dá a notícia de primeira mão. Seria
atualmente o porta voz. Há necessidade, também de dizer que não somente o
evangelizar que restringe a missão da Igreja. É mais do que isso.
O esquema abaixo, visualiza as relações
Dessa maneira, a Igreja precisa inculturar-se
eficazmente para que algo de importante aconteça na sociedade Somente através
da realidade é que podemos atuar, agir, cumprir a missão com mais exatidão e de
forma precisa e sistemática. A igreja não pode achar-se que não está no mundo.
De fato ela está e para cumprir sua missão ela tem que partir da realidade.
Leonardo Boff nos dá um exemplo de Igreja que se
identifica com o mundo. A Teologia da Missão diz que para haver " teologia
" é necessário: "teólogo", "bíblia" e
"realidade". A Igreja tem que partir de suposições com tiros
certeiros. Se a missão cristã não é somente evangelismo, como pode, então,
cumprir sua missão diante de problemas diversos tais como: falta de
alimentação. O Brasil está com sérios problemas, a América Latina está com
sérios problemas, o mundo está afundado em problemas. Como resolvê-los se não
pensarmos de forma intrisicamente real? As hipóteses são provisórias. Somente
com um interesse profundo desejado pela Igreja que é a missão será completada.
Como pensarmos em salvação holística que é uma realidade, se não a colocarmos
aos outros sem preocuparmos com sua realidade? Realidade essa sócio-econômica,
político-ideológico, etc... Concluindo, é errado sim a Igreja ter a idéia de
enclausurar-se e não atualizar-se.. A igreja não é do mundo, mas está no mundo
e o mundo é o seu campo de Missão (Mc 16:15).
3 O CLADE III: A América latina como seguimento de
Atos 1:8
CLADE III foi o evento mais marcante sobre a
discussão da Evangelização na América Latina. De 24 de agosto a 04 de setembro
de 1992 se realizou em Quito a formulação de estratégias e consultas à
Evangelização Latino-americana.
O tema proposto é de que Todo o evangelho para
todos os povos desde a América Latina. Em outras palavras, o Evangelho
precisava se pregado para reconciliação do homem integral. Era a teologia do
Evangelho da Reconciliação, já iniciada por Deus no processo de encarnação e
exaltação de Cristo, prefigurando a reconciliação do mundo Nele para com Deus.
O resultado da reconciliação do ser humano em relação com Deus é o agente motivador
para a oração, para o serviço e para a proclamação. O Evangelho, então,
anunciado na América Latina é o de poder.
Os latino americanos, alcançados pelo testemunho
cristão, são feitos justiça de Deus. É um ato divino demonstrado pela ação
humana a tal ponto de evidenciar a evangelização pretendida em Atos 1:8. A
América Latina evidencia o seguimento de Atos, pois compreende o sentido
escatológico geográfico dos confins da terra e emana, de sua paixão pela vida,
alcançar as almas perdidas e oprimidas. A América Latina é o novo campo
missionário a ser alcançado pelo poder do Espírito, pois ela, a terra
ameríndia, é a nova criação do Senhor, que no anúncio do Evangelho
compreende a vida de Cristo que é vida no Espírito da comunhão.
Algumas conclusões acerca do congresso dá-nos
compreensão profunda e satisfatória da proposição todo o evangelho para
todos os povos desde a América Latina. Para isso, é preciso que a América
Latina passe por um processo de constantes revoluções (mudanças) nos paradigmas
de estruturação social, político, econômica e até mesmo religiosa, pois se não
houver também a evangelização das estruturas, nunca o povo conseguirá manter a
santidade e a vida transformada pela ação do Espírito. Quando faz referência ao
contexto latino é preciso o uso variado de vocabulário para satisfazer os
propósitos dessas supostas evangelizações. Digo supostas por causa dos
intelectuais de mente europeizada onde afirmam que os acontecimentos da Am
Latina são sucessões ininterruptas de evangelizações que nuca se acabam. Os
fatores diversos resumem sua exploração: subdesenvolvimento econômico, fracasso
político, problemática social, crescente nacionalismo, Insatisfação
generalizada, messianismo revolucionário e reação contra-revolucionários.
Quanto a temática da evangelização da Igreja
evangélica, no contexto latino-americano, há que considerar as raízes
históricas desde a colonização, projetos imperiais, a homogeneização cultural e
também as missões protestantes. As tentações constantes em assumir uma apatia nos
conscientiza da nossa própria situação. Quando a Igreja se aparta do mundo para
o que foi chamada como sal e luz, quando pretende viver para si, já não vale
mais para nada, senão para ser fechada fora e não freqüentada por homens.
Quanto ao imperativo da renovação é obrigação da Igreja ser consciente da hora
em tudo o que isto implica. O primeiro tipo de renovação deverá ser a
teológica. Toda reflexão teológica sã deve estar motivada, gerada e
desenvolvida por um propósito missiológico. Deverá ser cristocêntrica. O CLADE
III foi tudo isso.
IV – EVANGELIZAÇÃO E MINISTÉRIO PASTORAL
Em análise e discussão aos problemas e desafios do
ministério Pastoral é nos evidenciado o tema acima que abrange de forma ampla e
detalhada os diferentes aspectos que se relaciona à evangelização. É possível
pois enunciá-los e assemelhá-los a nossa realidade. Porém, a priori, vamos
considerar cada um desses temas teológicos fundamentais da evangelização.
1 A centralidade da Evangelização no Ministério
Pastoral: Jesus Cristo
Para realizarmos parte integrante da missão é
necessário definir os objetos de trabalho que ocupam nesse realizar.
Evangelização é a proclamação de Cristo como salvador. Há sim outras formas
mais extensas e ricas em teor literário de enunciado, restrinjo-me ao que
abrange de forma clara e objetiva a evangelização. Entendendo a evangelização
como proclamação, divulgação, anúncio, etc... consideremos os seguintes
aspectos: Qual é o centro da evangelização?
Como temática é claro e evidente que a centralidade
de toda a evangelização pela pessoa de Jesus Cristo (entenda-se pessoa como
termo referencial) porém, não se limita apenas a pessoa de Jesus. Sabemos que
alguns trechos dizem que Jesus morrei pelos nossos pecados, mas não sabemos que
esse "morrer pelos pecados" houve sacrifício, sofrimento, obediência,
enfim, houve trabalho. É a obra salvífica de Cristo.
Para evangelizar é necessário a ênfase tanto na
pessoa de Cristo como na obra salvífica. Não podemos desconsiderar uma delas.
Tornar-se-ia infrutífera e não provocaria a transformação que o indivíduo
necessita. Esses dois aspectos constituem unidade na sua proclamação visto que
sem eles o poder kerigmático é desconsiderável e não estaria cumprindo assim o
proclamar de Cristo como Salvador do mundo.
Essa centralidade possui uma base. A proclamação
sobre Jesus possui uma base. Assim como a missão constitui-se unicamente em uma
base: a unidade do Deus trinitário - Deus o Pai (resgatado), O Filho
(reconciliando) e o Espírito (buscando), a evangelização tem uma base: a
transformação. A Igreja é o instrumento para a evangelização; é a prova da
transformação. A Igreja como comunidade evangelizadora tem que possuir
"AÇÃO TRANSFORMADORA". Somente após a transformação dizemos que
ocorreu a evangelização.
Mesmo através dessa transformação nós temos que
considerar os aspectos pertinentes à ação transformadora. A Igreja é
responsável em todos os procedimentos evangelísticos que tendem a ocorrer sob
sua jurisdição. O estudar do Cristo como centro da evangelização é colocá-lo de
forma clara toda a sua trajetória enquanto Deus na História. Quero dizer que a
encarnação e Cruz, a Ressurreição e a Ascensão são argumentos insubstituíveis
em um anúncio. Entender Cristo como o centro e saber defini-lo no seu todo:
como ser divino e terreno. Cabe portanto, a Igreja preparar-se em todo o seu
departamento evangelístico capacitando-se integralmente naquele que é o centro
da Evangelização.
Tem se observado muito as altas promoções e
divulgações do reino através de cruzadas evangelísticas, contingentes , sermões
empolgativos, mas esquecem de consultar a bíblia como fonte para o entendimento
e aperfeiçoamento de evangelistas. João 1:1-11 fala do Deus que se encarnou,
nos evangelhos fala-se do seu sofrimento, morte e ascensão. São passagens que nos
permitem colocar Jesus Cristo como o autor da obra da salvação. A evangelização
tem que se responsabilizar sobre a pessoa e obra de Cristo.
2 A Prática eclesiástica e a Evangelização
Já disse que a Igreja tem uma responsabilidade: A de
anunciar as boas novas. Essa tarefa destinada à igreja é descrita em várias
passagens neo-testamentárias (Mt. 16:18; 28:19-20, Mc 16:15, Jo 20:21-23, Atos
1:8). Em cada ato da Igreja há uma ação evangelizadora, pois ela possui
características que são vertentes evangelizadoras. As diferentes tarefas
missionárias são executadas pela igreja. No que se refere à evangelização é
preciso tornar relevantes alguns aspectos:
1. Liturgia no culto
(litourguei) a igreja proclama publicamente o que Deus tem feito pelo mundo,
proclama a fidelidade de Deus para o seu povo. O culto constitui um canal
evangelizador, devido ao seu momento mais forte de comunhão e comunicação. Os
crentes tem que se fazer presentes nessa comunidade.
2. Diaconia - (entendida nas
suas três aplicações; ofício, dom e serviço). A comunidade está aqui para
servir a humanidade. É atender as carências materiais. Em atos 6 percebemos a
instituição dos mesmos.
3. Educação Cristã - (didaquê).
É a instrução que é dada na Igreja., Os diferentes processos de ensino são
aplicados de forma tão organizada e consciente que este ato se torna em
evangelização. As possibilidades são imensas de aplicação. As EBF's, as
programações, os estudos bíblicos, as recreações, são canais que os líderes
podem usar para tal. O denominador ou melhor o ponto comum entre a
evangelização e essas aplicações tem que possuir projetos de educação cristã e
teológica e que constituam como evangelização.
4. Justiça Paz e Amor -
(Dikaioma) para implantar o reino de justiça, se faz necessário o aproximar-se
da Igreja a realidade é o primeiro passo. Depois de apurada as injustiças tem
que servir como delatora das opressões, das injustiças. Se a igreja dissesse
que o mundo está preso ao pecado social já estaria fazendo um bem maior.
5. Assembléia dos Santos -
(eklesia) se reune para publicar a fé no Deus vivo e Verdadeiro, que
compartilha e se ajuda mutuamente.
3 O Ministério da Evangelização e a atuação do
Espírito Santo
A comunidade evangelizadora proclama a Palavra Viva
(logos) àqueles que crêem e se fazem participantes dessa nova fé. Todo o
conteúdo e substância da fé é alicerçada na Palavra de Deus. A palavra de Deus
é a revelação de toda a verdade pura e simples aos homens. Muitos confundem a
Bíblia como a Palavra de Deus. Definimos as diferenças na seguinte frase: A
palavra de Deus é a Bíblia, mas a Bíblia não é a palavra de Deus.
Como palavra viva, Cristo é anunciado na comunidade
e portanto conhecido por todos. A palavra tem seu efeito na vida do indivíduo
tanto intelectualmente como espiritualmente.
Quanto á ação do Espírito é nos facilitado dizer que
a dependência total dessa proclamação é executada mediante aquele que nos
dirigia a toda a verdade (João 14:26).
4 Evangelização e Política Diaconal: a opção
preferencial pelos pobres
Que ação possui a comunidade evangelizadora no que
diz respeito às injustiças sociais? Que eclesiologia corresponde à realidade da
pobreza no mundo?
São interrogações que têm tomado singular espaço nos
meios eclesiológicos que procuram buscar uma postura que defina suas opções. A
temática descrita em destaque leva-nos a considerar conceitos
bíblico-teológico. Em Lucas 6:20 Há o seguinte dizer de Jesus; "...
Bem-aventurado vós, os pobres (ptoikoj), porque vosso é o reino de Deus". Fazendo uma
análise sócio-histórica percebemos que naquele tempo havia muitos pobres
(financeiramente) considerados "necessitados",
"injustiçados" e "oprimidos". Cristo se coloca ao lado dos
pobres. Estes sofrem todo e qualquer tipo de sistema injustiça promovidos pelos
poderosos econômicos e politicamente. Se Cristo colocou-se ao lado dos
oprimidos, como seguidores dele, nós, a Igreja devemos nos colocar da mesma
forma ao lado dos pobres. Cristo procurou sempre atender as necessidades
daqueles que não tem e também daqueles que têm. Os pobres são aqueles que não
possuem condições básicas para a vida. Jesus faz opção pelos pobres, sempre
visitou as cidades mais pobres de Israel, conversar com os não considerados
puros (mulher samaritana), morrer como marginal, etc...
Atualmente a Igreja Católica em seus documentos
oficiais tem se declarado como instrumento de denúncia aos governos que oprimem
os pobres. O Vaticano II e Medelim constatam em seus organismos como meios de
incentivo à manifestação de uma nova teologia. A chamada Teologia da
Libertação. Procura como instrumento educacional, instruir a todos com o
parecer dessa opção. Alguns não concordam e não aceitam, sendo assim,
consideramos apenas "opção preferencial pelos pobres". A Igreja
Evangelizadora tem que tomar posição e definir-se, Oxalá definisse como Jesus.
5 A oportunidade dos ministérios para a
Evangelização: os carismas
Devido ao fato de haver grande diversidade de dons
ministérios as oportunidades de se utilizar os mesmos são também enormes. Na
Igreja isso pode ser bastante evidenciado quando encontrarmos várias pessoas
executando diferentes ministérios. Alguns ensinam outros profetizam,
contribuem, exortam; outros ainda têm o discernimento, a sabedoria, o
ministério de socorro. Há portanto uma variedade de serviços que estão sendo
executados paulatinamente. Porém para a execução de tais serviços é necessário
uma ordenação ou melhor uma capacitação dada pela igreja para a realização dos
serviços. Ressalto que os ministérios ordenados assim chamados são o episcopo
(bispo) o diácono e o ministro. Para os demais ficam apenas a realização dos
serviços mediante o dom recebido de Deus. Atualmente as igrejas tem dado mais
ênfase nos dons de cura, línguas e expulsão de demônios - o que não permite a
manifestação dos outros. quero dizer que o espaço de outros dons mais oportunos
fica restrito.
Os dons mais oportunos são os mais elevados. A
igreja precisa de dons oportunos. A profecia é um dom oportuno. Anunciar os
desígnios de Deus em tempos de crise denota um dom (ministério) oportuno
(elevado) realizado por um ministro (profeta) O ensino é outro de suma
importância. Os dons são para a edificação do corpo da Igreja; eles tem que
complementar o corpo. Tem que ser oportunos.
V – ESPIRITUALIDADE KERIGMÁTICA EM DE ATOS 1:8
A respeito da espiritualidade na missão da Igreja, o
Pacto de Lausanne comenta:
... O pai enviou o seu Espírito para dar testemunho
do seu Filho. Sem o testemunho dele o nosso seria em vão. ..., o Espírito Santo
é um Espírito missionário, de maneira que a evangelização deve surgir
espontaneamente numa igreja cheia do Espírito. .... A evangelização mundial só
se tornará realidade quando o Espírito renovar a igreja na verdade, na
sabedoria, na fé, na santidade, no amor e no poder.
Segundo os idealidadores do pacto de Lausanne, a
igreja somente conseguirá alcançar as nações adequadamente, quando se deixar
capacitar pelo Espírito Santo. Esta capacitação, só será recebida mediante uma
profunda dependência do Espírito, tal qual Jesus era dependente Dele. Jesus
demonstra ter consciência desta dependência, ao fazer uma releitura de um
trecho de Isaías.
"O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que
me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos
cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e
apregoar o ano aceitável do Senhor" Lc. 18-19
Não poderíamos jamais utilizar-nos de outro modelo
de espiritualidade para a missão, senão o de Jesus. A espiritualidade da missão
deve estar enraizada da vida e na obra de Jesus, pois Ele tinha plena
consciência a respeito de sua missão, e de como realizá-la. Em Atos 1-611,
Lucas registra a comissão pela qual a nova comunidade deve compreender a
continuidade da missão de Jesus. O próprio Lucas nos dá um exemplo prático da
espiritualidade de Jesus relatado em seu evangelho:
A) A prática da espiritualidade em Jesus é
compreendida pela ausência de preconceitos:
1. Toca em pessoas alienadas
pela sociedade - Lucas 5:13
2. Senta à mesa com pessoas
estigmatizadas de ladrões - Lc 19:1-10
3. Possui a capacidade para
aceitar pessoas com outras ideologias - Lucas 6:15
4. Relaciona com homens de
extrema direita - Lucas 7:36
5. Respeito pelas mulheres -
Lucas 8:1-3
B) A prática de espiritualidade de Jesus é
compreendida pela ausência de esquemas (métodos de evangelização):
1. Jesus agia de acordo com a
cultura e de acordo comas situações usando o discernimento que quebra as
regras;
2. Ela agia sempre pelo amor ao
próximo e nunca em benefício de si mesmo.
C) A prática de espiritualidade de Jesus é
compreendida pela ausência de legalismos:
1. Jesus rompeu o legalismo,
criando o "novo"
·
Novo - povo Novo -homem
·
Novo - Mandamento Nova - lei ou nova - aliança
·
Nova - cidade Nova - Esperança
D) A prática de Espiritualidade de Jesus era movida
pela oração
1. ministério de oração de
Jesus revela o seu lado humano;
2. Ele orava quando se via na
necessidade de orar, denotando a dependência de Deus no cumprimento da missão.
Há sim outros aspectos da espiritualidade prática de
Jesus, mas entendemos que para a relevância de Atos 1:6-11 é mais quanto à
prática da Igreja em continuar a missão de Jesus do que apenas contemplá-la.
Sendo assim, falar da espiritualidade kerigmática de Atos 1:8 enquanto
continuação da missão é anunciar Cristo e seu papel libertador-salvífico como
princípios constantes da prática cristã. O evangelizar é o princípio de
espiritualidade das comunidades cristãs. A prática da espiritualidade
kerigmática é o caminho da humanidade, pois anuncia a salvação aos perdidos
e cativos.
Em Atos, portanto, a espiritualidade kerigmática é
entendida como o testemunho de Cristo, cujo modelo de espiritualidade é
semelhante ao nosso: o próximo. A partir disso, as comunidades cristãs falavam
de um relacionamento com o próximo através de Jesus. Não é a espiritualidade
que nos leva a proclamar Jesus ao próximo, mas o próprio Jesus é quem nos leva
à espiritualidade kerigmática. É por isso que todo o esforço para a criação de
qualquer tipo de espiritualidade para a pregação deve nascer com a experiência
da conversão. A comunidade de Jerusalém, por exemplo, começou a ter uma prática
evangelizadora (anúncio kerigmático) por compreender a metanóia (conversão)
como poder que testemunha a Cristo. A espiritualidade dessa comunidade só é
autêntica porque foi fruto de uma experiência de conversão a Cristo.
A espiritualidade kerigmática que surge do encontro
com Cristo varia de indivíduo para indivíduo; de circunstância para
circunstância. Daí a importância da glossolalia do capítulo 2 de Atos:
proporcionar a experiência de conversão a todos os povos. Essa experiência não
se importou com a forma (modelo), mas sim com a essência pela qual ela
motivaria outros a entenderem o chamado cristão, ou seja, ser testemunha fiel
até os confins da terra.
Assim como os cristãos primitivos tiveram sua
espiritualidade kerigmática, a Igreja moderna precisa também rever o tema da
evangelização como algo ligado à espiritualidade do cristão. Ao rever essa
situação, certamente perceberemos a essência motivadora com a qual cada
indivíduo teve na experiência de conversão. Rever essa situação é ao mesmo tempo,
traçar modelos de espiritualidade que visam conscientizar os cristãos enquanto testemunhas
de Jesus. Tais tentativas de modelos de espiritualidade podem ser:
1. O descompromisso com o
sofrimento. Mesmo sendo espirituais, nós somos movidos por nossas fraquezas
pessoais;
2. O anúncio da redenção e da
restauração, pois tal experiência altera todo o modelo de vida por meio da
conversão a Jesus;
3. A experiência de se tornar
um em Cristo, ou seja, a realidade da comunhão.
A autêntica espiritualidade segue o modelo
cristológico e prossegue como modelo eclesiológico. Ter uma espiritualidade
kerigmática é entender as estruturas eclesiásticas que nos possibilitam a
evangelização do mundo para o anúncio da fé em Cristo. Ser testemunha de Cristo
por todo o mundo é estar constantemente anunciando-o como senhor, salvador e
redentor.
Por. Wilhan José Gomes
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