QUEBRANDO AS BARREIRAS DA RELIGIOSIDADE
A Palavra:
A Igreja se edifica pelo amor; segundo,
pela oração; terceiro, pelo exemplo, e finalmente chegamos onde queríamos
chegar: a Palavra.
Mas se há palavra e não há amor, oração, exemplo; estamos
desperdiçando a palavra. Então, o
que é importante é o que dissemos até aqui: o amor que nasce de um coração
puro, a oração e o exemplo. Agora
prossigamos para a Palavra.
Paulo, vez após vez, fala aqui da santa doutrina. E no capítulo 4 diz: “Se
você transmitir essas instruções aos irmãos, será um bom ministro de Cristo
Jesus, nutrido com as verdades da fé e da boa doutrina que tem seguido.
Rejeite, porém, as fábulas profanas e tolas, e exercite-se na piedade...esta é
uma palavra fiel e digna de plena aceitação...ordene e ensine estas coisas...
dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino.
Não
negligencie o dom que lhe foi dado por mensagem profética com imposição de mãos
dos presbíteros...atente bem para a sua própria vida e para a doutrina,
perseverando nesses deveres, pois, agindo assim, você salvará tanto a si mesmo
quanto aos que o ouvem”.
A Palavra de Deus chega a nós de duas maneiras: Jesus pregava e ensinava. Também curava os enfermos, mas quanto à
palavra, é dito várias vezes: “Jesus pregava e ensinava”. As duas coisas são necessárias. Vou
explicar assim: a palavra de Deus chega a nós de dois modos diferentes: como verdade
e como mandamento. Por exemplo, se eu digo “Cristo morreu por nossos pecados”.
O que é isso? Verdade ou mandamento? Verdade!
Se eu digo “Ama a teu próximo como a ti mesmo”, é um mandamento.
A verdade é, que revela a pessoa de Cristo e a obra de Cristo. A verdade afirma, o tom é afirmativo. O mandamento por sua vez tem tom
imperativo, dá ordens, revelando a vontade de Deus. Portanto, a verdade proclama e revela a Cristo, sua
pessoa e sua obra, o mandamento
revela a vontade de Deus para nós.
Para sua edificação a Igreja necessita destas duas coisas. A verdade revelando a Cristo, e o mandamento revelando a vontade de
Cristo para nós. Quando alguém proclama a verdade
exige fé. O mandamento exige
obediência.
A verdade é simples, é clara, direta.
Todos a entendem. Toca todas as áreas da vida: família, trabalho, sexo,
dinheiro, adoração, serviço, relacionamento com as pessoas, relacionamento com
Deus.
O mandamento equivale à parte moral da lei, é equivalente aos Dez
Mandamentos, porém mais aprofundados. O objetivo da verdade é fazermos como Cristo; por isso sempre diz: “como
Cristo”, ou “como eu amei a vós”,
“maridos, amem suas esposas... como
Cristo amou a Igreja”.
Tanto verdade como mandamento são palavra de Deus e revelam
a vontade de Deus para todos nós. Seu conteúdo não se impõe pela lógica ou
raciocínio, mas pela autoridade de Jesus. “Se teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer”,
é um mandamento. Obedecemos. Ele é o
Senhor.
Necessitamos conhecer a verdade e
encarná-la em nossas vidas, vive-la, e divulga-la. E, irmãos, o mais
maravilhoso é que a verdade é
eterna. A verdade é sabedoria, disciplina e prudencia. Em Mateus
5, 6 e 7, três capítulos, está a verdade
de Jesus.
E se quisermos completá-la um pouco mais, podemos agregar Efésios 4, 5 e 6. Temos assim, 80% de
toda verdade do Novo Testamento. É
uma coisa simples, mas profunda, que comunica a vontade de Deus! E se quisermos
completar um pouco mais e chegar a 90% da verdade,
podemos agregar Romanos 12, 13, 13, 15 e
16. Temos então dez capítulos do Novo Testamento e quase toda a verdade está contida aí, mandamentos que revelam a vontade de
Deus.
Mas não podemos somente dar a verdade,
temos que dar o mandamento. Não
podemos dar somente o mandamento,
temos que dar também a verdade.
Estas duas coisas têm que caminhar juntas para edificar a Igreja. Só com o mandamento, nos inflamamos, nos
entusiasmamos. Somos abençoados no momento, mas fica tudo ali, na glória do
momento, na inspiração do mandamento.
Mas temos que descer do mandamento para a verdade, para a vida prática. No mandamento há dinamismo,
há poder de Deus para nós. Na verdade
está a vontade de Deus para nossa vida prática e cotidiana. Assim se edifica a
Igreja
Para dar um exemplo, muitas vezes comparamos o mandamento com a locomotiva de um trem, e a verdade com os vagões. É muito difícil puxar os vagões sem uma
locomotiva. Mas, para que serve a locomotiva, se não para levar os vagões? O
importante é que os vagões cheguem ao destino. E assim, as verdades de Deus sem a locomotiva que é o
mandamento podem ficar muito pesados, muito incômodos, difíceis e impossíveis
de cumprir. Mas Deus mandou seu Filho. Bendito seja o Senhor! “É Cristo és vós... já não sou eu quem vive,
mas Cristo vive em mim”.
A verdade diz que você tem que
abençoar os que lhe maldizem, perdoar os que lhe ofendem. Essa é a verdade. O mandamento diz: “já não sou eu quem vive, mas cristo vive em
mim”. Então, como vou obedecer o mandamento?
Através de Cristo que vive em mim. A verdade
sem o mandamento seria uma coisa
muito pesado, difícil de cumprir; mas só o mandamento,
sem a verdade, ficaríamos só no
entusiasmo, sem concretizar na vida prática. Por isso, Paulo põe este
equilíbrio, e mostra a Timóteo o que realmente ele tem que fazer.
A Autoridade de Deus
A
quinta coisa que encontro nesta carta é a autoridade,
a autoridade de Deus. Quero
explicar. Paulo tem uma clara visão do Reino de Deus. Ele proclama nesta carta
uma vez após outra Jesus Cristo como o Senhor. O Senhor significa a autoridade absoluta, o dono. Ele
proclama no versículo 1:17, em uma doxologia muito linda: “Portanto, ao Rei dos séculos,
imortal, invisível, ao único e sábio Deus, seja a honra e a glória pelos séculos
dos séculos. Amém”.
Ele é o
Rei. A autoridade do Rei. E no
capítulo 6 há outra doxologia tremenda. Diz: “a qual Deus fará se cumprir no
seu devido tempo. Ele é o bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos
senhores, o único que é imortal e habita em luz inacessível, a quem ninguém viu
nem pode ver. A ele sejam honra e poder para sempre. Amém”. No Império
Romano, todos os imperadores morriam, mas Paulo estava falando de Um que é
imortal, é invisível,
Os imperadores romanos eram visíveis, mas todos eles eram mortais e se foram.
Mas há um só que é soberano, Rei dos reis, e Senhor dos senhores, o único que é
imortal e habita em luz inacessível! “Ai qual seja a honra e o domínio para sempre”.
Que quer dizer para sempre? Por toda
a eternidade. Assim, ao escrever isto, Paulo tinha uma visão muito clara do
Reino de Deus, a autoridade de Deus
e o Senhorio de Jesus Cristo.
Pois Deus, que é a suprema autoridade,
deu toda a autoridade a seu Filho, o
Senhor, o Senhor. E Cristo deu autoridade
aos apóstolos. Assim, Paulo, que é apostolo, é autoridade delegada por Deus, é pai espiritual de Timóteo. E
Timóteo é seu filho espiritual.
Aqui há autoridade.
E lhe diz: “Te mandei a Éfeso, te roguei que fosses a Éfeso”. E o tom que
fala, ainda que amável e amoroso, é de autoridade,
e lhe instrui o que tem que fazer e o que não tem que fazer. “Este
mandamento, filho Timóteo, te encarrego, rejeita isso, evita aquilo”.
Está lhe dando, com autoridade do
Senhor, tudo o que ele tem que fazer e não fazer.
A Igreja se edifica pela autoridade
de Deus. Essa autoridade vem de Deus
a Cristo, de Cristo aos apóstolos e dos apóstolos, neste caso, a Timóteo, um
filho espiritual, a quem envia a Éfeso. Paulo o envia e Timóteo obedece. Alguns
dizem: “Não, não, não; eu obedeço a Deus”. Não só a Deus. Tem que obedecer a Deus e aos pais, aos
apóstolos, aos pastores. Há autoridade
na casa de Deus.
A Igreja se edifica por autoridade. Hebreus 13:17 diz: “Obedecei
a vossos pastores porque eles velam por vossas almas”. Veja em
1Tm5:20 outra exortação: “Aos que persistem em pecar repreende-os
diante de todos para que os demais também temam”. Repreende diante de
todos? Sim. A quem? Não ao que peca uma vez ou ao que peca duas vezes. Este
pode admoestar pessoalmente. Mas ao que persiste em pecar, que quer seguir
pecando, repreende-o diante de todos.
Agora, no exercício da autoridade
não pode haver prejuízos. Como diz: “Eu o exorto solenemente, diante de Deus, de Cristo
Jesus e dos anjos eleitos, a que procure observar essas instruções sem
parcialidade; e não faça nada por favoritismo. Não se precipite em impor as
mãos sobre ninguém e não participe dos pecados dos outros. Conserve-se puro.”.
No uso da autoridade
não pode haver abuso, nem prejulgamento, nem parcialidade.Tem que ser algo puro
como o senhor realmente quer. Se não há autoridade,
o ensino se perde. Se não sabe, ensina-o. Se sabe e pratica, anima-o, alegra-te
com ele. Se não pratica, admoesta-o e relembra-o. Se peca, na primeira vez
admoesta-o, na segunda repreende-o. E assim, com tudo que o senhor nos instrui.
Se não há autoridade o ensino se
perde.
Quando há autoridade, os irmãos
aprendem que tem que obedecer. Assim é a Igreja. È a casa de Deus e em toda
Casa, e em toda família, em toda empresa há autoridade.
Instrução pessoal
E finalmente, o sexto
ponto nesta epístola que é importante para a edificação da Igreja é a instrução pessoal ou o discipulado. Vou explicar. No capítulo
5 especialmente vê-se claramente isso. Nem todas as situações são iguais.
Paulo diz a Timóteo: “Não
repreendas ao ancião, antes exorta-o como a um pai; aos mais jovens, como a
irmão; às idosas, como a mães; às jovens, como a irmãs, com toda pureza. Honra
as verdadeiras viúvas. Mas se alguma viúva tem filhos, ou netos, aprendam estes
primeiro a ser piedosos com sua própria família...”.
O que está dizendo? Não se pode tratar igualmente todas as pessoas. Cada um é
cada um. Não se pode tratar um ancião como a um jovem; não se pode tratar um
jovem como uma moça. É necessário um trato personalizado e adequado a cada um,
segundo a graça, segundo a necessidade, segundo a pessoa, segundo a situação de
cada um.
Em seguida fala das viúvas, e você pode observar ao estudar o capítulo 5 que há
viúvas e viúvas. Há viúvas jovens, a quem ele recomenda que se casem de novo;
há viúvas mais velhas que tem um testemunho excelente, que deve-se coloca-las
na lista das irmãs que servem a igreja e precisam ser sustentadas
economicamente; há outras que não. Então, não são todos iguais. Do púlpito não
se pode conhecer a todos, desde uma grande reunião não se pode chegar a
adequadamente a todos.
Por exemplo, um dia prego sobre a verdade que é necessário trabalhar, trabalhar
materialmente, ganhar seu sustento de cada dia, e todos escutam a mesma
palavra. Mas ali há um irmão que trabalha demais, e eu estou enfatizando que
tem que trabalhar. Ele está trabalhando 14 horas por dia, e se sente confirmado
em seu trabalho material. E há outro que é folgado para o trabalho, e esse
recebe a palavra superficialmente.
Não se pode alcançar a todos
adequadamente em sua edificação. Aquele que está trabalhando demais, já está
sacrificando sua família, está descuidando da obra, quem sabe está trabalhando
demais não porque necessite mas por ambição. Este se sentirá confirmado em seu
erro. O que está faltando? A instrução
pessoal.
Precisa conhece-lo, tem que ser
pai espiritual, tem que se aproximar desse irmão com amor, com oração, com
graça, mas com firmeza e dizer: “Irmão, você está trabalhando demais; não
precisa trabalhar tanto”. A um você precisa dizer “Descansa!”, e a outro
precisa dizer “Trabalhe mais!”.
Mas quando pregamos, a palavra é geral; faz falta a instrução pessoal. A Igreja se edifica com instrução pessoal. Cada irmão precisa ser conhecido por alguém de
forma mais próxima, para instruí-lo e orienta-lo mais especificamente.
Um dia prego que o homem é o cabeça da casa e que tem que assumir a autoridade
e a responsabilidade, porque Deus o colocou como cabeça. Mas acontece que tem
um irmão que é um tirano em sua casa, um déspota com sua esposa, e depois de me
ouvir pregar diz: “Viu o que o pastor disse? Aqui eu sou a autoridade”. E minha
palavra que era palavra de Deus, a verdade,
em vez de ajuda-lo, confirmou sua tirania e seu erro. Sem a instrução pessoal não se pode edificar.
Precisa conhecer, aproximar-se e dizer: “Irmão, a Bíblia diz que seja cabeça, mas
você é um cabeção. Não exagere,
vá mais devagar. Deus lhe deu uma
esposa, escute a sua esposa as vezes. Ele lhe deu uma ajudadora idônea. Você a
está anulando, a está afastando. Não é assim irmão, não é assim”.
Precisa uma instrução pessoal.
Outro precisa ser fortalecido. Para uma irmã eu tive que dizer: “Irmã, não afrouxe, enfrente seu marido”,
porque fazia falta dizer-lhe isso. Mas não posso ensinar isso como doutrina,
era uma instrução muito particular, muito pessoal. E no capítulo 5 há muita
instrução particular, pessoal, e
sobre tudo o que disse a Timóteo.
Por isso, irmãos, precisamos da instrução
pessoal para saber em cada situação escutar, aconselhar, exortar. Alguns
necessitam ânimo, outros necessitam oração, outros apenas ser ouvidos,
compreendidos, amados. As vezes não sabemos o que dizer a pessoa, damos-lhe um
abraço, e choramos com o que chora, e já se vai consolando.
Assim, é indispensável para a edificação
da Igreja a instrução pessoal.
Cada pessoa é valiosa, cada pessoa é amada por Deus, e Ele quer chegar a cada
um com sua graça, com seu amor, com sua medida justa do que cada um precisa.
(Jorge Himitian)
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