ORGULHO ESPIRITUAL OCULTO
"Quanto ao soberbo e
presumido, zombador é o seu nome; ele procede com insolente orgulho."
A primeira e a pior causa de
erro que prevalece nos nossos dias é o orgulho espiritual. Essa é a principal
porta que o diabo usa para entrar nos corações daqueles que têm zelo pelo
avanço da causa de Cristo.
É a principal via de entrada
de fumaça venenosa que vem do abismo para escurecer a mente e desviar o juízo.
É o meio que Satanás usa
para controlar cristãos e obstruir uma obra de Deus. Até que essa doença seja
curada, em vão se aplicarão remédios para resolver quaisquer outras
enfermidades.
O orgulho é muito mais
difícil de ser discernido do que qualquer outra fonte de corrupção porque, por
sua própria natureza, leva a pessoa a ter um conceito alto demais de si
própria.
É alguma surpresa, então,
verificar que a pessoa que pensa de si acima do que deve está totalmente
inconsciente desse fato?
Ela pensa, pelo contrário,
que a opinião que tem de si está bem fundamentada e que, portanto, não é um
conceito elevado demais. Como resultado, não existe outro assunto no qual o
coração esteja mais enganado e mais difícil de ser sondado.
A própria natureza do
orgulho é criar autoconfiança e expulsar qualquer suspeita de mal em relação a
si próprio.
O orgulho toma muitas formas
e manifestações e envolve o coração como as camadas de uma cebola - ao se
arrancar uma camada, existe outra por baixo dela.
Por isto, precisamos ter a
maior vigilância imaginável sobre nossos corações com respeito a essa questão e
clamar àquele que sonda as profundezas do coração para que nos auxilie. Quem
confia em seu próprio coração é insensato.
Como o orgulho espiritual é
mascarado por natureza, geralmente não pode ser detectado por intuição imediata
como aquilo que é mesmo. É mais fácil ser identificado por seus frutos e
efeitos, alguns dos quais quero mencionar junto com os frutos opostos da
humildade cristã.
A pessoa espiritualmente
orgulhosa sente que já está cheia de luz, não necessitando assim de instrução.
Assim, terá a tendência de prontamente rejeitar a oferta de ajuda nesse
sentido. Por outro lado, a pessoa humilde é como uma pequena criança que
facilmente recebe instrução.
É cautelosa no seu conceito
de si mesma, sensível à sua grande facilidade em se desviar. Se alguém lhe
sugere que está, de fato, saindo do caminho reto, mostra pronta disposição em
examinar a questão e ouvir as advertências.
As pessoas orgulhosas tendem
a falar dos pecados dos outros: o terrível engano dos hipócritas, a falta de
vida daqueles irmãos que têm amargura, a resistência de alguns crentes à
santidade. A pura humildade cristã, porém, se cala sobre os pecados dos outros
ou, no máximo, fala a respeito deles com tristeza e compaixão.
A pessoa espiritualmente
orgulhosa critica os outros cristãos por sua falta de crescimento na graça,
enquanto o crente humilde vê tanta maldade em seu próprio coração, e se
preocupa tanto com isso, que não tem muita atenção para dar aos corações dos
outros.
Queixa-se mais de si próprio
e da sua própria frieza espiritual; sua esperança genuína é que todos os outros
tenham mais amor e gratidão a Deus do que ele.
As pessoas espiritualmente
orgulhosas falam freqüentemente de quase tudo que percebem nos outros em termos
extremamente severos e ásperos. É comum dizerem que a opinião, conduta ou
atitude de outra pessoa é do diabo ou do inferno.
Muitas vezes, sua crítica é direcionada não só
a pessoas ímpias, mas a verdadeiros filhos de Deus e a pessoas que são seus
superiores.
Os humildes, entretanto,
mesmo quando recebem extraordinárias descobertas da glória de Deus, sentem-se
esmagados pela sua própria indignidade e impureza.
Suas exortações a outros
cristãos são transmitidas de forma amorosa e humilde e, ao lidar com seus
irmãos e companheiros, eles procuram tratá-los com a mesma humildade e mansidão
com que Cristo, que está infinitamente superior a eles, os trata.
O orgulho espiritual
comumente leva as pessoas a se comportarem de modo diferente na sua aparência
exterior, a assumirem um jeito diferente de falar, de se expressar ou de agir.
Por outro lado, o cristão
humilde - mesmo sendo firme no seu dever, permanecendo sozinho no caminho do
céu ainda que o mundo inteiro o abandone - não sente prazer em ser diferente só
para ser diferente.
Não procura se colocar numa
posição onde possa ser visto e observado como uma pessoa distinta ou especial;
muito pelo contrário, dispõe-se a ser todas as coisas a todas as pessoas, a
ceder aos outros, a se adaptar aos outros e a agradá-los em tudo menos no
pecado.
Pessoas orgulhosas dão muita
atenção à oposição e a injúrias; tendem a falar dessas coisas freqüentemente
com um ar de amargura ou desprezo.
A humildade cristã, em
contraste, leva a pessoa a ser mais semelhante ao seu bendito Senhor, o qual,
quando foi maltratado não abriu sua boca, mas se entregou em silêncio àquele
que julga retamente.
Para o cristão humilde,
quanto mais clamoroso e furioso o mundo se manifestar contra ele, mais
silencioso e quieto ficará, com exceção de quando estiver no seu quarto de
oração: lá ele não ficará calado.
Outro padrão de pessoas
espiritualmente orgulhosas é comportar-se de forma a torná-las o foco de
atenção. É natural que a pessoa sob a influência do orgulho tome todo o
respeito que lhe é oferecido.
Se outros demonstram
disposição de se submeterem a ela e a cederem em deferência a ela, esta pessoa
receberá tais atitudes sem constrangimento. Na verdade, ela se habituou a
esperar tal tratamento e a formar uma má opinião de quem não lhe oferece aquilo
que pensa merecer.
Uma pessoa sob a influência
de orgulho espiritual tende mais a instruir aos outros do que a fazer
perguntas. Tal pessoa naturalmente assume ar de mestre.
O cristão eminentemente
humilde pensa que precisa de ajuda e todo o mundo, enquanto a pessoa espiritualmente
orgulhosa acha que todos precisam do que ela tem para oferecer.
A humildade cristã, sentindo
o peso da miséria dos outros, suplica e implora; o orgulho espiritual, em
contraste, ordena e adverte com autoridade.
Assim como o orgulho
espiritual leva as pessoas a assumirem muitas coisas para si mesmas, de forma
semelhante as induz a tratar os outros com negligência. Por outro lado, a pura
humildade cristã traz a disposição de honrar a todas as pessoas.
Entrar em contendas a
respeito do cristianismo por vezes é desaconselhável; no entanto, devemos tomar
muito cuidado para não nos recusarmos a discutir com pessoas carnais por as
acharmos indignas de nossa consideração.
Pelo contrário, devemos
condescender a pessoas carnais da mesma forma como Cristo condescendeu a nós -
a fim de estar presente conosco na nossa indocilidade e estupidez.
escrito por Jonathan Edwards
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