EXERCITANDO O ESPÍRITO
Precisamos compreender mais acerca do papel do nosso próprio
espírito dentro da vida cristã. Em razão disto, quero estabelecer neste estudo
alguns conceitos sobre o espírito humano e sua importância.
ESPÍRITO, ALMA, E CORPO
O homem foi criado por Deus como um ser tripartido. Nossa
constituição é esta: espírito, alma e corpo. As Escrituras, ao mencionarem
estas três partes distintas, referem-se a elas como se tratando do nosso ser
inteiro, da nossa plenitude.
“E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o
vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis
para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23)
Atente para o termo “completamente”. Para o escritor a santificação
completa é a conservação irrepreensível das três partes. Mas as Escrituras
fazem clara distinção entre espírito e alma; de fato, ambos compõem aquilo que
chamamos de “homem interior” (2 Co 4.16), mas são distintos entre si; há um
versículo que traz mais luz acerca desta diferença, e convém observá-lo:
“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante
do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e
espírito, de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e
intenções do coração”. (Hb 4.12)
Nosso texto diz que a Palavra penetra até a DIVISÃO de alma
e espírito; logo, há divisão entre um e outro; não são a mesma coisa. Contudo,
apesar desta divisão, parece-nos que os dois estão bem próximos, juntos. Tanto,
que só a Palavra de Deus, como espada afiada que é, pode separa-los. Na prática
diária da vida cristã, a maioria dos crentes sabe muito bem quão difícil é
separar o que é alma do que é espírito, mas que são distintos, são! Isto é
inegável.
Lemos na Bíblia que o novo-nascimento é o nascer do espírito
(Jo 3.6). Isto é algo que se dá instantaneamente. Contudo, escrevendo à pessoas
que já haviam experimentado a salvação de Deus em seu espírito (Tg 1.18 e 1 Pe
1.3), Tiago e Pedro falaram da “salvação da alma” como algo que acontece
posteriormente ao novo-nascimento do espírito (Tg 1.21 e 1 Pe 1.19). Portanto,
assim como a salvação da alma acontece como um processo de restauração pela
Palavra de Deus, a regeneração do espírito acontece instantaneamente na ocasião
do novo-nascimento. Se o espírito e a alma fossem uma coisa só, certamente não
haveria esta distinção na forma como a redenção de Cristo alcança cada um.
SANTUÁRIO DE DEUS
Somos santuário de Deus, como diz o Novo Testamento: “Não
sabeis vós que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”
(1 Co 3.16)
No passado, Deus ordenou que lhe construíssem um santuário
com detalhes que Ele mesmo havia dado, e sob a direção de Moisés, o povo de
Israel o fez. Mais tarde, Salomão construiu um magnífico templo em lugar da
tenda do tabernáculo. Mas quando o povo israelita foi levado em cativeiro para
a Babilônia, o templo foi demolido e queimado, e somente depois de regresso da
nação nos dias de Esdras e Neemias é que foi reconstruído. Nas três vezes,
seguiu-se a direção inicial que o Senhor havia dado a Moisés, e a Casa do
Senhor sempre teve três ambientes distintos onde os sacerdotes serviam: o Santo
dos Santos, o Lugar Santo, e o Átrio Exterior. Logo, podemos dizer que o
santuário sempre foi tripartido.
No Novo Testamento vemos uma nova ênfase quanto ao santuário
de Deus, e ela já não tem mais nada a ver com os templos construídos. Na sua
última pregação, Estevão declarou: “Mas o Altíssimo não habita em templos
feitos por mãos de homens…” (At 7.48), e antes de tornar-se o primeiro mártir
da Igreja, depositou esta mensagem no coração de seu perseguidor, que mais
tarde viria a escrever que o santuário de Deus somos nós!
A Igreja em seu início compreendia isto. Quando Jesus bradou
na cruz “está consumado!”, o véu do templo se rasgou de alto a baixo. A partir
deste momento a presença de Deus deixou de estar restrita ao templo e o Pai
veio fazer morada em nós, os nascidos de novo.
E como santuário de Deus, também somos tripartidos, à
semelhança dos santuários do Velho Testamento que eram figura do santuário da
Nova Aliança em Jesus. Cada uma das três partes do santuário corresponde às
nossas três partes: espírito, alma e corpo. Olhando o tabernáculo pelo lado de
fora, via-se apenas dois ambientes: a parte coberta e a parte descoberta, sendo
que a parte coberta era a tenda da revelação e a parte descoberta o átrio
exterior. Mas ao entrar na tenda, percebia-se que havia ali dentro dois
ambientes totalmente distintos e separados por um véu: o Santo Lugar e o Santo
dos Santos (Hb 9.1-3).
Ou seja, olhando apenas de modo superficial, parecia um só
ambiente, mas num exame cuidadoso apareciam claramente os dois ambientes. De
forma semelhante, ao observar superficialmente o santuário de Deus hoje (que
somos nós), reconhecemos apenas duas partes: o homem interior e o homem
exterior. Mas um exame das Escrituras (e no nosso próprio íntimo) revelará que
a “tenda” do homem interior se subdivide em outras duas partes, separadas
apenas por um véu. O homem interior é composto de espírito e alma!
O espírito corresponde ao Santo dos Santos, o lugar mais
íntimo, onde se encontrava a presença de Deus e também onde Ele falava. A alma
corresponde ao Lugar Santo, e o corpo ao Pátio, ou Átrio Exterior.
A importância de examinarmos estas figuras é compreender que
assim como o Santo dos Santos era o lugar mais importante do tabernáculo, assim
também o nosso espírito é hoje o lugar “mais importante” do santuário que somos
nós! Precisamos tomar consciência do valor do nosso espírito na vida cristã.
O LUGAR ONDE DEUS FALA
Naquela ocasião em que Deus falou com Moisés mandando-o
construir a arca, disse que o propiciatório deveria ser feito com vários
detalhes que Ele mesmo deu. E então afirmou: “ali virei a ti e falarei contigo”(Ex
25.22). Era, portanto, no Santo dos Santos, lugar da arca, que Deus falava. E
hoje, na Nova Aliança? O Senhor continua falando no lugar mais íntimo do
santuário, onde está sua santa presença, e este lugar em nós que corresponde ao
Santo dos Santos é o nosso espírito. Paulo mencionou isto ao escrever aos
irmãos de Roma:
“Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses
são filhos de Deus”. (Rm 8.14)
O Espírito Santo nos guia… Como? Dois versículos depois
desta afirmação já encontramos a resposta:
“O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos
filhos de Deus”. (Rm 8.16)
A direção do Espírito vem através de um TESTIFICAR
(testemunhar) no nosso próprio espírito; este é o lugar onde Deus fala.
“O Espírito do homem é a lâmpada do Senhor, a qual
esquadrinha todo o mais íntimo do coração”. (Pv 20.27)
O Pai Celeste tem uma lâmpada em nós: nosso espírito.
Contudo, muitos de nós, por não desenvolvermos a sensibilidade de nosso próprio
espírito, ficamos sem ouvir a voz de Deus. Muitas vezes Deus quer falar conosco
através de um testemunho interior, mas nem sequer percebemos que Ele está
querendo nos dirigir. É claro que o Senhor fala de muitas maneiras, inclusive
espetaculares, como sonhos, visões, profecia, e outras, mas a forma comum de falar
conosco é mediante o testemunho de nosso próprio espírito.
ATÉ COM JESUS
Ao se fazer homem, o Senhor Jesus esvaziou-se de sua glória
(Fl 2.5-8), bem como de alguns atributos da divindade. O Mestre não estava em
vários lugares ao mesmo tempo, pois era limitado pelo corpo. Portanto, mesmo
como Deus, viveu na terra sem lançar mão da onipresença. Também viveu sem fazer
uso da onipotência, pois precisou do poder do Espírito para fazer a obra que
fez. E ele também se limitou a crescer em sabedoria e conhecimento e quando
revelava segredos e pensamentos dos corações dos homens, precisava ouvir o
Espírito Santo, pois não se movia no atributo divino da onisciência e sim na
dependência do Espírito de Deus.
Jesus viveu nesta terra como um homem cheio do Espírito Santo,
e é por isso que podemos imitá-lo; se ele tivesse andado nesta terra como Deus
(entenda-se: usando tais atributos da divindade), jamais poderia dizer que
faríamos as mesmas obras que fez e até maiores! Mas ele dependia do Espírito
Santo… e sabe onde o Espírito falava com ele? No mesmo lugar que fala conosco:
em nosso espírito. Veja o relato do evangelho:
“Mas Jesus logo percebeu em seu espírito que eles assim
arrazoavam dentro de si, e perguntou-lhes: Por que arrozais desse modo em
vossos corações?” (Mc 2.8)
Os fariseus estavam apenas pensando, e o Espírito Santo
transmitiu uma informação ao espírito de Jesus (como homem) do que aqueles
homens cogitavam em seu íntimo, pois é exatamente assim que Deus fala com o
homem. Temos em Jesus o exemplo perfeito de uma vida no Espírito; se com ele
Deus falava assim, não espere nada diferente; algo distinto desta forma de Deus
falar pode nos ocorrer ocasionalmente, mas o dia-a-dia será marcado pelo
testemunho do Senhor em nosso espírito.
Nas vezes em que uso o termo “o Espírito Santo fala”, não me
refiro a uma voz audível. Às vezes Ele fala assim, mas na maioria das ocasiões
é apenas um testificar interior. Por exemplo, como podemos saber que somos
filhos de Deus? A Bíblia diz que é o Espírito Santo que testifica, testemunha
com nosso espírito que de fato o somos. E como se dá esta testificação?
Simplesmente sabemos que somos filhos; algo em nós o diz. É uma certeza no
coração e não na mente; não se trata de ser convencido pela razão, mas de ter
uma convicção interior. Considere uma outra área de atuação do Espírito Santo,
que é trazer a revelação da Palavra de Deus a cada um de nós. Como Ele faz
isto? As Escrituras respondem:
“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de
Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente”. (1 Co 2.14)
Gosto da versão da Bíblia de Jerusalém, que em lugar da
expressão “homem natural” traduz “homem psíquico”. Ou seja, o homem não pode
compreender as coisas de Deus com seu psique, pois elas se discernem com o
espírito; é no nosso próprio espírito que o Espírito Santo ensina as coisas
espirituais, e não na nossa mente (I Co.2:15).
Percebemos mais uma vez, portanto, qual é o lugar onde Deus
fala, seja por um testificar ou por revelação da Palavra: o nosso espírito.
EXERCITANDO O ESPÍRITO
Muitos de nós já aprendemos que é possível exercitar o corpo
e até a alma (mente). Assim como exercitamos o corpo com ginástica, nossa mente
também é exercitada mediante a prática da leitura, cálculo, jogos, etc. Mas e o
espírito? Pode ser exercitado? Ora, se corpo e alma se exercitam, porque não o
espírito? Certamente que sim! Nossa dificuldade em ouvir Deus começa na
insensibilidade do nosso espírito. E a razão de nosso espírito permanecer insensível
deve-se ao fato de o usarmos muito pouco. Mas à medida em que o exercitamos,
uma nova sensibilidade surgirá.
Nas minhas experiências no sentido de ouvir Deus, percebo
que houve crescimento à medida em que o meu espírito foi sendo exercitado pela meditação
na Palavra e pela oração em línguas. Quando você está orando em línguas, é seu
espírito falando e não sua mente. E o que acontece, se por exemplo você ora
duas horas ininterruptas na linguagem do Espírito? Seu espírito terá duas horas
de exercício, de atividade intensa e você estará mais consciente dele.
O que acontece conosco se não exercitarmos o corpo? Nossos
músculos certamente atrofiarão se não houver exercício físico algum. Recordo-me
de certa ocasião na minha adolescência, em que caí de bicicleta e trinquei a
rótula do joelho esquerdo; foi necessário passar mais de um mês com a perna
imobilizada, e ao fim deste período quando o gesso foi tirado, a perna não
dobrava. Levei um bom tempo exercitando-me aos poucos para poder recuperar o
movimento e liberdade necessária para voltar às atividades físicas. Isto é
atrofia. Com nosso homem espiritual não é diferente; também existe atrofia
espiritual. Assim como a diferença entre o físico de um atleta em constante
preparo é gritante em relação ao de alguém que veio a conhecer a atrofia,
também no reino espiritual há “atletas espirituais” em constante exercício e
gozando de boa forma, e há aqueles atrofiados que nunca ouvem o Senhor em nada.
Sei que para muitos é estranho quando falamos sobre ouvir
Deus em nosso espírito, uma vez que, na prática, não possuem nenhum referencial
do que é isto. Mas nunca exercitaram seu espírito e de repente querem ser
atletas espirituais! Isto é muito difícil, pois a sensibilidade é algo que se
adquire gradualmente; a atrofia só será removida mediante fisioterapia; lenta e
progressivamente. Às vezes, alguns irmãos me perguntam como consigo memorizar
versículos e textos bíblicos, como se fosse necessário aprender alguma fórmula;
mas a verdade é que eu não me esforço para isto. Sempre investi na leitura, de
modo que tenho facilidade para memorizar o que leio, devido ao contínuo
exercício nesta área.
Há pessoas que tem grande habilidade com números e cálculos;
outros, com certos jogos e raciocínios. Mas o fato é que com tempo e prática
cada um exercita sua mente naquilo em que se dedica. Com isso quero
exemplificar que com nosso espírito não é diferente; podemos torná-lo mais
sensível e consciente através do falar em línguas.
A leitura e meditação na Palavra também tem o seu lugar no
fortalecimento do espírito, pois é o alimento espiritual indispensável para a
boa saúde e vigor. Contudo, um atleta não adquire um bom físico apenas se
alimentando e tomando vitaminas; é necessário combinar isto ao exercício.
Semelhantemente, devemos nos alimentar da Palavra, mas também devemos exercitar
nosso espírito.
Se você deseja uma vida intensa em Deus, exercite paciente e
dedicadamente seu espírito, dia após dia, mediante a meditação na Palavra e a
prática do falar em línguas e as mudanças se manifestarão. Aprendi estes
princípios há muitos anos atrás lendo os livros de Kenneth Hagin, e decidi
pratica-los. Eram-me estranhos a princípio e não foi fácil me dedicar a eles no
começo, mas perseverei e eles fizeram toda a diferença! Posso testemunhar que o
entendimento deste princípio se tornou uma revolução em minha vida, e esta é a
razão que me impulsiona a repartir este estudo com você: funciona e vai leva-lo
a um nível mais elevado no seu andar em Deus. Que o Senhor te abençoe!
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Autor: Luciano P. Subirá
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