O Padrão Bíblico de Avivamento
Qual o padrão bíblico de avivamento? Os avivamentos bíblicos oferecem alguma coordenada para a renovação da igreja evangélica no Brasil de hoje?
Estas são algumas das perguntas que procuraremos responder no decorrer desse estudo.
I - O significado bíblico do termo "Avivamento":
1.1. No Antigo Testamento: O verbo hebraico hyh (avivar) tem o significado primário de "preservar" ou "manter vivo".
Porém, "avivar" não significa somente preservar ou manter vivo, mas também purificar, corrigir e livrar do mal. Esta é uma conseqüência natural em toda vez que Deus aviva.
Na história de cada avivamento, dentro ou fora da Bíblia, lemos que Deus purifica, livra do mal e do pecado, tira a escória e as coisas que estavam impedindo o progresso da causa (1).
O verbo "avivar", em suas várias formas (2), é usado mais de 250 vezes no Antigo Testamento, das quais 55 vezes estão num grau chamado piel. Um verbo nas formas do Piel expressa uma ação ativa intensiva no hebraico.
Neste sentido, o avivamento é sempre indicado como uma obra ativa e intensiva de Deus. Alguns exemplos de sua ocorrência são as clássicas orações de Davi, como esta: "Porventura, não tornarás a vivificar-nos (3), para que em ti se regozije o teu povo?" (Sl 85.6) (4), e da clássica oração do profeta Habacuque: "Tenho ouvido, ó Senhor, as tuas declarações, e me sinto alarmado; aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos, e, no decurso dos anos, faze-a conhecida; na tua ira, lembra-te da misericórdia" (Hc 3.2).
1.2. No Novo Testamento:
Encontramos no Novo Testamento grego um conjunto de palavras que expressam o conceito básico de avivamento. São elas: 'egeíro, 'anastáso, 'anázoe e 'anakaínoo.
Outras palavras gregas comparam o avivamento ao reacender de uma chama que se apaga aos poucos (cf. 'anazopyréo em 2 Tm 1.6) ou uma planta que lança novos brotos e "floresce novamente" (cf. 'anaphállo em Fp 4.10).
II - O que não é avivamento bíblico:No Novo Testamento grego as palavras supracitadas aparecem, no contexto de avivamento, apenas sete vezes, embora a idéia básica de avivamento seja sugerida com mais freqüência. Uma possível explicação para o uso escasso dos termos, em comparação ao Antigo Testamento, é que o Novo cobre apenas uma geração, durante a qual a Igreja Cristã desfrutou, na maior parte do tempo, um grau incomum de vida espiritual.
Antes de falarmos sobre avivamento bíblico, propriamente dito, acreditamos ser de grande ajuda uma abordagem, mesmo que rápida, do que não é o padrão bíblico de avivamento.
O Rev. Hernandes Dias Lopes, em seu livro AVIVAMENTO URGENTE, apresenta sete interessantes razões sobre o que não deve ser entendido como avivamento de verdade. Sou devedor ao dileto colega por suas pertinentes observações. Transcrevo-as quase que na íntegra.
2.1. Avivamento não é um programa agendado pela igreja.
Avivamento não é ação da igreja, mas de Deus. Avivamento é obra soberana e livre do Espírito Santo. A igreja não promove e nem faz avivamento. A igreja não é agente de avivamento. A igreja não agenda e nem programa avivamento. A igreja só pode buscar o avivamento e preparar o caminho da sua chegada. A igreja não produz o vento do Espírito, ela só pode içar suas velas em direção a esse vento.
A soberania de Deus, no entanto, não anula a responsabilidade humana. O avivamento jamais virá se a igreja não preparar o caminho do Senhor (5). O avivamento jamais acontecerá se a igreja não se humilhar. Sem oração da igreja, as chuvas torrenciais de Deus não descerão. Sem busca não há encontro. Sem obediência a Deus, jamais haverá derramamento do Espírito.
Contudo, quem determina o quando e o como do avivamento é Deus. Ele é soberano. David Brainerd orou vários anos pelo avivamento entre os índios peles vermelhas no século XVIII. Aquele jovem, ajoelhado na neve, suava de molhar a camisa, em agonia de alma, em oração fervente, em favor daqueles pobres índios. Quando o seu coração parecia desalentado e já não havia prenúncios de chuva da parte de Deus, o Espírito foi poderosamente derramado e os corações se dobraram a Cristo aos milhares.
2.2. Avivamento não é mudança doutrinária.
Cometem ledo engano aqueles que querem descartar a teologia e desprezar a doutrina na busca do avivamento. Desprezar a doutrina é dinamitar os alicerces da vida cristã. Desprezar a doutrina é querer levantar um edifício sem lançar o fundamento. Desprezar a doutrina é querer por um corpo de pé e em movimento sem a estrutura óssea.
Não há vida piedosa sem doutrina. A doutrina é a base da ética. A teologia é mãe da ética.
"Assim como o homem crê no seu coração, assim ele é" (Pv 23.7). Vida sem doutrina gera misticismo e experiencialismo subjetivista. Avivamento sem doutrina é fogo de palha, é movimento emocionalista, é experiencialismo personalista e antropocentrista.
Deus tem compromisso com a verdade e a sua Palavra é a verdade e todo avivamento precisa estar fundamentado na Palavra. O avivamento precisa estar norteado pelas Escrituras e não por sonhos e visões. Precisa estar dentro das balizas da Bíblia e não dentro dos muros de revelações subjetivistas, muitas vezes feitas na carne.
2.3. Avivamento não é mudança litúrgica.
Muitos crentes confundem avivamento com forma de culto, com liturgia animada, com coreografia e instrumental aparatoso.Louvor não é encenação. Não é mimetismo. Não é ritualismo. Não é emocionalismo.
Não é apenas seguir formas pré-estabelecidas, como bater palmas, dizer aleluia, amém e levantar as mãos. Louvor não é pululância, gingos e dança (6). Louvor que apenas levanta as mãos para o alto, mas não as estende para o necessitado não agrada a Deus. A Bíblia ordena levantar mãos santas ao Senhor, num gesto de rendição e entrega (I Tm 2.8).
Louvor em que a pessoa apenas saltita e pula, mas não vive em santidade, é ofensa a Deus. Louvor que apenas verbaliza coisas bonitas para Deus, mas não leva Deus a sério na vida é fogo estranho diante do Senhor.Louvor que não produz mudança de vida, quebrantamento, obediência e não leva as pessoas a confiarem em Deus, não é louvor, é barulho aos ouvidos de Deus. Assim diz o Senhor: "Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas liras" (Am 5.23).
Hoje estamos vivendo a época dos shows evangélicos, dos show-men, dos animadores de programas religiosos, do "rock evangélico", das músicas badaladas por um ritmo sensual. Mais do que nunca é preciso tocar a trombeta em Sião e condenar a idéia de que precisamos imitar o mundo para atrair o mundo. A música do mundo tem entrado nas igrejas, para vergonha nossa e para derrota nossa. O louvor que agrada a Deus precisa ser em espírito e em verdade.
O louvor precisa ser bíblico, senão é fogo estranho. Davi, no Salmo 40, versículo 3, fala-nos sobre as balizas do louvor que agrada a Deus: "E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão estas coisa, temerão e confiarão no Senhor". Primeiro, vemos a origem deste cântico: "E me pôs nos lábios". Este louvor vem de Deus e não do homem.
Segundo, vemos a natureza deste cântico: "E me pôs nos lábios um novo cântico". Não é um novo de edição, mas novo de natureza. É um cântico que expressa a marca da sua nova vida, liberta do tremendal de lama (v2).
Terceiro, vemos o objetivo deste cântico: "... Um hino de louvor ao nosso Deus". Este cântico não é para entreter ou agradar o gosto e preferência das pessoas. Este cântico vem de Deus e volta para Deus. Deus é o seu alfa e o seu ômega.
Quarto, vemos o resultado deste cântico: "Muitos verão estas coisas, temerão e confiarão no Senhor". O louvor bíblico leva as pessoas a temerem a Deus, a confiarem em Deus. O verdadeiro louvor leva as pessoas a se voltarem para Deus.O louvor não é um espaço da liturgia. Louvor é a totalidade da vida. "Bendirei ao Senhor em todo o tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios" (Sl 34.1).
À luz destas coisas, é preciso dizer que avivamento não é mudança litúrgica, é mudança de vida. Avivamento não é histeria carnal, é choro pelo pecado. Deus não procura adoração. Ele procura adoradores.Todavia, é preciso dizer que, embora o avivamento não seja mudança de liturgia, todo avivamento mexe com a liturgia. O avivamento desinstala a liturgia ritualista, cerimonialista, formalista, fria e morta e põe em seu lugar uma liturgia viva, alegre, ungida, onde há liberdade do Espírito, sem abandonar a ordem e a decência.
Em épocas de avivamento, a liturgia é desingessada e o povo com alegria e liberdade do Espírito adora a Deus, em espírito e em verdade, sem regras rígidas pré-estabelecidas. Cada culto é um acontecimento singular, novo, onde há abertura para o que Deus deseja falar e fazer com o seu povo.
Hoje existem muitos cultos solenes, aparatosos, pomposos, mas estão mortos. Disse J. I. Packer no seu livro "Na Dinâmica do Espírito": "Não há nada mais solene do que um cadáver. Há cultos solenes que estão mortos". Embora o avivamento não seja mudança litúrgica, todo avivamento muda a liturgia, tornando-a bíblica, alegre, ungida, dirigida pelo Espírito de Deus. Devemos clamar como os puritanos: "Queremos liturgia pura".
2.4. Avivamento não é uma ênfase carismática unilateral.Muitas pessoas hoje estão limitando o avivamento a milagres, curas e exorcismos, sem observarem a abrangência global da doutrina pneumatológica. Este é um sério perigo. Toda vez que super-enfatizamos uma verdade em detrimento de outra, nós produzimos deformações e distorções nesta verdade.Deus pode e faz maravilhas, curas e prodígios extraordinários quando Ele quer. Ele é soberano. Ninguém pode deter a sua mão. Ninguém pode ser o conselheiro de Deus.
Ninguém pode instruir a Deus e dizer o que Ele pode e o que Ele não pode fazer. Ninguém pode obstaculá-lo nem ensinar-lhe qualquer coisa. Ele faz tudo quanto Ele quer, como quer, onde quer, quando quer, com quem quer. "Ele faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade" (Ef 1.11). Ele não obedece à agenda dos homens. Ele não se deixa pressionar. Ele é livre.Entretanto, esta não é a ênfase do avivamento. A igreja hoje está correndo mais atrás de sinais do que atrás de santidade. A igreja hoje empolga-se mais com milagres do que com vida cheia do Espírito.
A igreja hoje anseia mais as bênçãos de Deus do que o Deus das bênçãos.
CONTINUA NA PRÓXIMA MENSAGEM - PARTE 2
escrito por Josivaldo de França Pereira
Nenhum comentário:
Postar um comentário