segunda-feira, 16 de março de 2015

O MUNDO VIROU VIRTUAL


O MUNDO VIROU VIRTUAL

Pessoas vem sendo consumidas por tudo isso que chamam de Tecnologias de Comunicação, se achando consumidoras, quando na verdade estão sendo consumidas. 

O tempo mais raro de uma vida tem sido consumido por teclas e telas “Touchscreen”.

Nem nas refeições as pessoas se desconectam. Antes a refeição era uma hora sagrada para reunir a família. Hoje engolimos a comida respondendo mensagens no Whatt's Up. 


A cada garfada a coisa apita e vibra. (Você deve estar falando o meu fica no modo silencioso) Respondemos e comemos. Às vezes nem comemos. A única coisa que olhamos é o prato e o celular. Chega ser indigesto ver coisas desse tipo no seio de várias famílias.

Se seu celular estiver off prepare-se... Vai ter que se explicar: a bateria acabou, a operadora falhou, estava fora de área, estava no silencioso. Não vi por isso não atendi. São coisas que parecem mentiras para o mundo "on". Sempre pronto! 


Esse é o lema dos escoteiros da selva virtual.

O que muitos ainda não perceberam é que estar 24h “on”, te abre uma série de possibilidades para receber o mundo em suas mãos. Tem mensagens que podem nos alegrar, mas tem umas que podem mudar nosso dia. 


Estamos felizes e de repente recebemos algo de ruim que altera nosso estado de ânimo. Uma palavra mal trocada, troca nosso humor. 

Somos afetados 24h por dia até na hora de dormir. E olha que tem gente que dorme com o celular do lado do travesseiro. Uma falsa companhia para as noites de insônia. 

Até no banheiro, no vaso ou no chuveiro, estamos no modo on. 

Ainda prefiro ser chamado de desatualizado ou de conservador. Velho. Antigo. Ultrapassado. Primitivo. 


Em partes estou desconectado desse mundo desconexo. Mesmo sem nexo, ainda consigo ficar mais que 3 horas lendo um livro sem parar. 

Aquilo que foi feito para aproximar os distantes tem distanciado os que estão perto.

Nossa sociedade está doente de tecnologias. 
Celulares Androides produzem pessoas Androides. 


O virtual vira o real e o real vira o virtual. 


Virtualizamos nossas presenças. Virtualizamos nossas vidas.


Vivemos das aparências. 

Aparentamos estar ligados a todos. 

As tecnologias são boas desde que saibamos usá-las.
Mas a pergunta que fica: 


É você que usa a tecnologia ou ela que te usa? 


Você em seu login já tem nome de "Usuário". 


Usuário ou viciado?


Deveria ser chamado de "Usado". 

Tenho medo de uma geração que usa um celular 3G apenas para ouvir músicas como Camaro Amarelo, etc.. (E outras banalidades) 

Tenho medo de uma geração que se desumaniza com suas próprias mãos. 

O homem cria a coisa e a coisa 'cosifica' o homem.

Ultimamente tenho visto "coisas" que ainda se autodenominam humanos.

“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”. (John Donne) 

Vivemos ilhados em meio ao mar de gente. Viramos ilhas. Pequenos arquipélagos de humanidade. Isolados no mar de gente continente. 


Contingentes de ilhas. Estamos sozinhos em nós mesmos. A morte de ninguém mais nos diminui. Todos os dias, nos vemos em sangue nos noticiários e nada nos falta. Como se todos os sinos dobrassem apenas por ti. Estamos sozinhos.

Viver em meio a essa gente "É um andar solitário entre a gente", como versou Luis de Camões. Só que não é amor. 


Apenas solidão com ilusão de presença.

*Reinaldo Marchesi - É professor universitário, mestre em Educação pela UFMT (linha: Cultura, Memória e Teoria em Educação). Pesquisa no campo da Filosofia da Educação. Leitor de Nietzsche, Foucault, Deleuze e Derrida [Os malditos da filosofia].



Nenhum comentário:

Postar um comentário