A força que emana da fraqueza
Existe um velho adágio que diz “a sua força é a sua fraqueza, sua fraqueza sua força”.
Antes da morte de Jesus, Judas, que permitiu à ganância traiu seu melhor amigo. Pedro, um outro apóstolo, figura de personalidade forte, negando Jesus, algo que ele admitiu jamais fazer. Pilatos, o governador romano, que para manter sua popularidade frente ao povo que governava, não teve coragem para fazer valer a sua autoridade e manter o que acreditava ser justo e verdadeiro.
Todos esses permitiram que suas forças se tornassem suas fraquezas. E a vítima de toda esta trama, Jesus, é condenado num julgamento questionável, e leva sobre si todas as fraquezas de nossa humanidade.
Na sua humildade não se rebelou, não tentou se justificar, porque sabia que a força daqueles que o condenavam havia se tornado a fraqueza deles.
Enquanto ele, na sua atitude de obediência que denotava fraqueza, sabia que sua missão era exatamente carregar sobre si a fraqueza de todo o mundo.
Na narrativa da ressurreição, encontramos força na fragilidade das mulheres que ousaram permanecer perto de Jesus o tempo todo. Às vezes temos a impressão de que as mulheres foram colocadas, pelos evangelistas, apenas para efeito das narrativas da paixão e ressurreição, e não como elementos ativos e fundamentais da estória.
No entanto foram elas que tiveram coragem de ficar ao lado de Jesus, e de manhã, no domingo foram ao túmulo, mesmo sabendo que não conseguiriam remover a pedra facilmente.
Enquanto isso, aqueles que seriam os “elementos principais” da estória estavam escondidos, amedrontados.
Enquanto homens eram mais visados, e deviam ter ciência disso. Seria melhor se esconderem ou fugirem para Emaús, do que ficarem expostos, e se sujeitarem ao mesmo destino.
Deste modo, as mulheres foram as primeiras a se lembrarem de que a morte de Cristo não era o fim, e sim, o começo da vida nova que se manifestaria através da comunidade dos primeiros cristãos e se propagaria por toda a terra.
Ambas as narrativas nos ensinam muito sobre a força ser a nossa fraqueza, e nossa fraqueza força.
Queremos viver no mundo da ilusão que criamos, onde todas as coisas têm um final "hollywoodiano".
Detestamos encarar nossas fraquezas e falhas, envelhecimento e morte; a pobreza do nosso país, ou a visita a um doente no hospital. Percebemos que o mundo perfeito com o qual sonhamos não existe e ainda o quanto a nossa vida pode ser vazia.
Apesar de tudo, devemos lembrar que não há possibilidade de encontrarmos final feliz se ficarmos escondidos e amedrontados, evitando a realidade.
O confronto com a realidade é necessário, e o reconhecimento de nossa fraqueza para que ela se torne em força; de outro modo, aquilo que achamos ser a nossa força pode nos levar ao fracasso.
Havia uma força que emana da fraqueza de um homem chamado Jesus que sempre destruiu os castelos de sonhos de muita gente; um homem que tentou mostrar aos poderosos que a força deles seria a sua destruição; que criticou as fraquezas dos fortes, e fortaleceu os fracos.
Um homem que foi odiado devido à sua coragem de apontar os pontos fracos dos que se achavam fortes, e desta forma foi morto, e da sua morte emanou a vida. A morte de Cristo foi vista pelos discípulos como o fracasso de todo um projeto de salvação da humanidade, mas eles estavam enganados.
Da morte surgiu a vida. Vida nova, que se manifesta na Igreja e através da Igreja. O Cristo ressuscitou através da coragem daquelas mulheres frágeis, e reascendeu a esperança daqueles homens cuja força havia virado fracasso. Deu a eles e elas, coragem para continuar aquilo que Ele havia começado.
Através e pela Igreja somos desafiados a encarar a realidade em que vivemos – pessoal e comunitária. Se nos acharmos fortes e ignorarmos a realidade, então seremos fracos, e vencidos pela cultura de morte que predomina em nossa sociedade.
Se encaramos nossas fraquezas, isso significará que estamos dispostos a nos tornarmos agentes de mudança e transformação, e nos surpreenderemos com os resultados.
Que o Cristo ressuscitado nos ajude a encarar as nossas fraquezas para que dela emane a força transformadora. E que assim possamos ressuscitá-lo a cada dia na nossa vida, e nos nossos atos, para que a vida sempre triunfe.
* Rev. Mário Ribas – Capelão da All Saints’ Church
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